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CAPÍTULO 1 – Assistência Social: política de responsabilidade do Estado e

1.1 A Assistência Social em Bauru

Conforme salienta Sposati, historicamente

[...] a assistência social, na sociedade brasileira, antes de ser uma ação, um serviço, ou uma área de ação governamental, é expressão da relação de classes. Ela manifesta uma estratégia de mútua sobrevivência entre riqueza e pobreza, que vincula proprietários e despossuídos, benfeitores e auxiliados, dominantes e dominados, e, quando sob a forma de assistência social pública, governantes e governados, na manutenção dessa relação contraditória (1988, p.313).

A cidade de Bauru, fundada em 1896, surge no período da Primeira República em que a assistência social era assumida apenas pelo setor privado, principalmente pela filantropia ligada a grupos religiosos. As ações voltavam-se para o desenvolvimento de atendimento por especialidades como: asilos, orfanatos, hospícios, auxílios mútuos, direcionados, sobretudo, para crianças, idosos, mendigos, doentes mentais e imigrantes.

Assim, podem-se localizar os primórdios da assistência social no ano de 1919, após 77 anos de criação da cidade de Bauru, com a instalação da

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primeira instituição voltada para o atendimento da classe pauperizada no município, atendendo não só a realidade local, mas também a regional e, até mesmo a de outros estados, devido ao fácil acesso à Bauru pela via férrea. Nomeada Centro Espírita Amor e Caridade, esta organização social de assistência social, fundada em 1919, foi a primeira ação organizada que prestava assistência espiritual e material (JUAREZ, 1997).4

No período imperial, até 1889, prevaleceu a filantropia caritativa, marcada pela ação de ordens religiosas e pelo atendimento conjugado de órfãos, inválidos, enfermos, alienados e delinqüentes. Já na Primeira República, de 1889 a 1930, surgem as obras sociais com características de atendimento especializado, como albergues, hospedarias, hospícios, sanatórios, dispensários, asilos para idosos, mendigos e inválidos, orfanatos e internatos para crianças, sociedade de socorro mútuo.

Estando de acordo com a visão social predominante, as obras sociais estão orientadas pela segregação social da filantropia higiênica, já que as iniciativas sociais objetivavam afastar ou esconder da sociedade as seqüelas da pobreza, haja vista o crescente grau de empobrecimento da população, que é vista como “sina de incapacidade pessoal e como tal deve ser alvo da

filantropia e benemerência” (MESTRINER, 2001, p. 50).

O privilégio de desenvolver ações sociais não ficou restrito àqueles que professavam o espiritismo. A sociedade católica também teve presença na área da assistência social. Quatorze anos após a iniciativa espírita em 1933, foi criada em Bauru a Conferência do Divino Espírito Santo; em 1936 o Conselho Particular; em 1964, o Conselho Central. A instalação dessa instituição ocorreu progressivamente, já que são transmutações de uma mesma iniciativa. Pela demanda o Conselho particular depois Central, transformou-se em Conselho Metropolitano em 1989, atendendo todo o Oeste Paulista e o Estado do Mato Grosso do Sul (JUAREZ, 1997, p.23).

A Caixa Beneficente do Sanatório Aimorés foi criada em 1941, tendo como população-alvo os doentes e egressos do Hospital Lauro de Souza Lima. No mesmo ano, o Educandário Madre Clélia, dirigido pela Universidade do

4 Utilizou-se da publicação: “A trajetória da Assistência no município de Bauru”, obra com textos

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Sagrado Coração, foi criado para atender meninas órfãs e/ou abandonadas (Ibid, p. 25).

Em 1944, existia em Bauru a Comissão Municipal da Legião Brasileira de Assistência, cuja função era atender às famílias dos pracinhas, como extensão da LBA criada em 1942 por Darcy Vargas. Em 1956, o mesmo grupo criou a Sociedade Berçário Rodrigues de Abreu, cujo atendimento era voltado para crianças em creche (ibid., p.30).

O período de Vargas, de 1930 a 1945, foi marcado pela filantropia disciplinadora, pautada na necessidade de enquadramento das organizações sociais às normas técnicas (MOREIRA, 1998).

Sebastião Paiva e Roberto Previdello foram os fundadores da Sociedade Beneficente Cristã , em 1946, com base na doutrina espírita. Naquele período seu atendimento voltava-se para viúvas carentes e suas crianças. Mais tarde os mesmos fundadores implantaram, em prédio próprio, o hospital para dependentes químicos e doentes mentais, que foi fechado em 2004. Atualmente, ainda funciona o abrigo para idosos e portadores de deficiência mental e física sem retaguarda familiar, e a gestão de 220 casas cedidas para famílias em situação de pobreza. Em 1956, foi criada a Sociedade de Proteção à Maternidade e à Criança, mais conhecida como Casa da Criança, entidade com os mesmos sócios e fundadores, atendendo em regime de abrigo crianças, adolescentes e suas famílias, em situação de risco (JUAREZ, 1997, p. 29).

No mesmo ano foi criada a Casa do Garoto dos Padres Rogacionistas. Seu objetivo era a formação educacional e profissional de meninos entre 7 a 16 anos, funcionando assim até os dias atuais.

Até a década de 1950 funcionavam cerca de nove organizações sociais de assistência social, das quais quatro como instituições voltadas para o atendimento asilar e as demais desenvolviam ações aos diversos segmentos sociais, como tuberculosos, crianças hansenianos e famílias em extrema condição de pobreza.

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Quadro 1 – Tipologia de serviços socioassistenciais privados por período histórico

Caracterização

Católica Espírita Evangélica S.D. (2) S.L.R. (3)

Períodos históricos e tipos de filantropia brasileira (1) Implantação % % % % % % Primeira República: 1889 – 1930 Filantropia Higiênica Inicio séc. XX 1919 01 02% 01 10% Década de 1930 02 04% 01 12.5% 01 10% Getulismo: : 1930 – 45

Filantropia Disciplinadora Década de 1940 06 10% 04 50% 01 10% 01 08%

Década de 1950 09 16% 02 25% 04 40% 03 25% Estado Democrático Populista: 1946 – 64 Filantropia Partilhada Estado Autoritário: 1964 – 88 Filantropia de Clientela Década de 1960 09 16% 0 0 02 20% 01 33% 02 18% 04 19% Década de 1970 04 8% 01 08% 03 15% Década de 1980 08 15% 01 12.5% 02 67% 04 33% 01 5% Estado Democrático: 1988 – 99 Filantropia Democrática Década de 1990 15 29% 01 10% 01 08% 13 61% Total 55 100% 08 100% 10 100% 03 100% 12 100% 21 100%

Fonte: A trajetória da assistência social no município de Bauru; (1) Referência aos períodos extraídos de Mestriner, 2001, p.45-46. (2) S.D.: dados não localizados,

Nos anos 50 cresceram as obras filantrópicas no município (vide Quadro 1), porém faltou apoio financeiro por parte dos governos federal e estadual para o município. Para Juarez (1997), isto se deu em razão da pouca preocupação com as cidades do interior do Estado. A prefeitura, por sua vez, participava com doações de terrenos e de convênios. As instituições sobreviviam principalmente de donativos da comunidade e das festas para a arrecadação de recursos.

Conforme Mestriner (2001, p.21)

Tradicionalmente, em nosso país, o Estado tem sido o último a responder diretamente pelas atenções sociais. Neste campo, tem se prevalecido o princípio da subsidiariedade entre o estatal e o privado, em que o Estado transfere para a sociedade as responsabilidades maiores, restringindo-se à execução de ações emergenciais. Para tanto, tem utilizado da estratégia da delegação, manipulação de subsídios, subvenções e isenções por meio de mecanismo de convênios e atribuição de certificados, numa pretensa relação de parceria ou de co-produção de serviços sob o financiamento estatal. Como e Estado sempre destinou para esta área restritos recursos financeiros, que levaram a seleção de entidades sociais e pagamentos simbólicos de per capita ele estabeleceu, com o conjunto de entidades, uma atitude ambígua e discriminada de acomodação de interesses econômicos e políticos, atravessadas pelo clientelismo e o fisiologismo.

Quadro 2 - Trajetória do órgão público municipal de gestão da assistência social em Bauru

ANO NOMENCLATURA DO ÓRGÃO GESTOR MUNICIPAL

1967 DEAS – Diretoria de Educação e Assistência Social da Prefeitura 1970 Diretoria de Promoção Social

1974 CESB – Centro de Entidades Sociais de Bauru 1984 SEPROCOM – Secretaria de Projetos Comunitários 1993 SEBES – Secretaria do Bem-Estar Social

Fonte: Plano Municipal da Assistência Social/2005-08, Livro: “A trajetória da Assistência Social no Município” MUNIZ, E.

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Dessa forma, o investimento municipal segue de acordo com o interesse do gestor público, caracterizado pela política implementada por cada um respectivamente, conforme se observa no quadro abaixo os valores alocados na política de assistência social do município são bastante diferenciados.

Em Bauru as entidades enfrentavam os problemas gerados pela industrialização, urbanização e as mazelas do pós-guerra, ou seja, a pobreza. As décadas de 40 e 50 foram profundamente marcadas pelo agravamento da política econômica em função da inflação crescente desencadeada no país (JUAREZ, 1997, p.29).

Nas décadas seguintes (50/60), ocorreram mudanças significativas na estrutura produtiva, em decorrência do avanço da taxa de urbanização, proveniente da decadência da cana-de-açúcar e da pecuária, aliado à intensificação do êxodo rural.

A filantropia em Bauru, na década de 1960, começou a receber influência dos métodos e técnicas do Serviço Social, devido à implantação da Faculdade de Serviço Social de Bauru, em 1963, que passou a incluir alunos para realizarem estágios nas entidades sociais.

Em 1961, pela Lei Estadual nº. 6.055, a Secretaria de Justiça e Negócios do Interior promoveu a constituição do CIAM – Consórcios Intermunicipais de Assistência ao Menor, em diversas regiões do Estado de São Paulo. Teve como proposta o aproveitamento racional e coordenado dos recursos existentes nos municípios, a execução de um programa de obras de segmento, estimulando novos setores e apoiando iniciativas sadias. O CIAM subsidiava as entidades voltadas ao menor com recursos oriundos dos municípios, de campanhas, de convênios, do governo estadual e do Serviço de Colocação Familiar de Bauru. Em 1968, essa instituição transformou-se no Consórcio Intermunicipal de Promoção Social – CIPS, a fim de se integrar à Secretaria de Promoção Social (MUNIZ, 1997, p. 22).

Até 1967 as atividades voltadas à assistência social pública eram realizadas pelas primeiras-damas, com distribuição de cestas básicas às

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pessoas empobrecidas, principalmente em datas comemorativas como o Natal (GIL, 1997). 5

No ano de 1969, aconteceoutra transformação na história da assistência social em Bauru, com a inauguração da Primeira Divisão do Estado de São Paulo. A partir desse momento a filantropia passou a ser norteada por padrões estabelecidos, o que ocasionou o fechamento, ou reestruturação, de cerca de 50% das entidades cadastradas no órgão estadual (JUAREZ, 1997).

Para Muniz (1998), a década de 1960 foi marcada pela criação de três importantes órgãos: Faculdade de Serviço Social de Bauru, Consórcio Intermunicipal de Promoção Social e a Divisão Regional da Secretaria do Estado de Promoção Social.

A estrutura estatal emergente se propõe, a partir de 1969, à execução de um processo de modernização social, acionando o crescimento econômico acelerado, por meio de um conjunto de medidas apoiadas numa política financeira de favorecimento do capital estrangeiro e do empobrecimento compulsivo das populações assalariadas (MUNIZ, 1997, p.56).

A Prefeitura Municipal assumiu oficialmente a assistência social com a criação da Diretoria de Educação e Assistência Social – DEAS, mediante a implantação do Programa de Desenvolvimento de Comunidade, iniciado na Vila Ipiranga. Em 1968, a prefeitura contava com duas assistentes sociais em seu quadro de funcionários. Em 1970, o DEAS foi extinto e, para substituí-lo, criou- se a Diretoria de Promoção Social, que abriu mais uma vaga para o cargo de assistente social, por meio de concurso público, contudo até aquele período não havia uma verba específica no orçamento municipal destinado à Assistência Social pública (NEVES, 1997).

Desde o final de década de 60, as práticas assistenciais vinham sendo incorporadas pelas várias instâncias

5A partir de 1964 com o golpe militar, vive-se no país o Estado autoritário, ficando o poder concentrado no Executivo federal. O Legislativo e o Judiciário perdem sensivelmente seus poderes.

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governamentais, expandindo-se por toda federação. As prefeituras municipais implementam o atendimento social, como serviço complementar ao próprio gabinete do prefeito, ou junto a secretarias afinou mesmo como setor independente (MESTRINER, 2001, p.165).

Losnak (1998), analisando a prática do Serviço Social, nas décadas de 1960 e 1970, salienta que a proposta da profissão em atender aos problemas sociais de forma técnica e administrada representa uma nova historicidade dessa prática social na cidade, que, contudo, ainda dialoga com as várias tradições presentes, inclusive com a filantropia.

Em 1974, foi criado pela prefeitura o CESB – Centro de Entidades Sociais de Bauru, órgão responsável pelas políticas municipais de assistência social, que oferecia às entidades (36 até então) cooperação técnica-financeira. O CESB tinha como meta constituir um fundo financeiro único para toda a Assistência Social, diminuindo, assim, a problemática da mendicância no município. A criação de tal órgão se deu em conseqüência do processo histórico no qual o Estado participa das ações filantrópicas e o Serviço Social atua na formulação de políticas sociais nas esferas governamentais.

O CESB, conforme Losnak (1998, p.11), tinha como finalidade “planejar,

fiscalizar, coordenar e conduzir a promoção do chamado ‘bem-estar social’”. O

autor ainda demonstra que aquele foi o momento em que o poder público municipal implantou uma efetiva intervenção nas manifestações da questão social na cidade, de forma administrada, racionalizando recursos no atendimento aos pobres, otimizando o trabalho nas entidades e fiscalizando-a.

De acordo com Gil (1997), o CESB era um órgão subordinado ao gabinete do prefeito e tinha a finalidade de promover estudos e pesquisas, visando a implantar a política de serviços sociais, congregar e coordenar as entidades sociais, facilitando e promovendo a cooperação entre elas, além de distribuir subvenções e auxílios.

Contudo, para Losnak (Ibid., p.25), o CESB apesar da proposta técnica de intervenção no social, fundou-se sobre uma ambigüidade: foi dividido em duas diretorias, uma técnica, constituída por assistentes sociais e, outra, social e filantrópica, dirigida pela esposa do prefeito. Essa ambigüidade expressa a

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tensão entre as duas formas de enxergar a assistência social. Apesar de o poder público reconhecer a importância do Serviço Social para gerenciar o atendimento assistencial, ainda conservou a prática tradicional durante toda a década de 1970.

Na década de 1970, Bauru recebeu filiais de grandes estabelecimentos comerciais e financeiros, consolidando-se de vez como um dos principais pólos terciários do Estado.

No ano de 1974, as subvenções foram distribuídas por meio de decreto e a ação da assistência social revestiu-se de maior racionalidade, utilizando-se de procedimentos científicos, característica da filosofia desenvolvimentista da época, dessa forma as subvenções passam a ser distribuídas fundamentadas em critérios técnicos, por meio de indicadores previamente estipulados pela Diretoria técnica do CESB (GIL, 1997, p.75).

Nesse período, em toda América Latina, o Serviço Social se reconceitua, buscando adequar seus métodos e técnicas à realidade latino-americana e questionado seus objetivos em relação a essa realidade. (MUNIZ, 1997, p.56).

Neto (1991 apud LOSNAK, 1998, p.28), relata que na década de 1970 surgiram propostas no Serviço Social que incorporaram a análise marxista, buscando atender às organizações populares e opondo-se à ditadura militar.

Na década de 1970 o Estado vai criando um aparato burocrático pesado, consumindo mais recursos com a máquina pública, contudo exercendo maior seletividade dos usuários (MESTRINER, 2001, p. 170).

O percentual destinado à assistência social, naquele período, era de 3%, sendo dividido entre o CESB e CIPS em partes iguais.

Já na década de 1980, a cidade cresce em ritmo acelerado, amplia-se o número de núcleos habitacionais, aumenta a população carente na periferia e inúmeras entidades continuam a ser organizadas por diferentes grupos (MUNIZ, 1998, p.144).

A pobreza cresceu nos arredores da cidade, havendo a proliferação de favelas. Diante desse impasse, a COHAB e a Prefeitura apresentaram, em 1980 três projetos, um de núcleos, outro de financiamento de construção e

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ainda outro de construção em sistema de mutirão, como alternativas para enfrentar esse novo problema emergente: a favela (LOSNAK, 1998).

A realidade configurava em nível local a conjuntura política brasileira, na qual as iniciativas no campo social caracterizavam em adotar formas pontuais e emergenciais.

Nos anos 1980 e 1990, a duplicação da Rodovia Marechal Rondon e a construção da Hidrovia Tietê Paraná contribuíram para a criação de novos empregos, o que ajudou a acelerar os movimentos migratórios. (SOARES, 1995), conforme se pode constatar no quadro abaixo:

Quadro 3 – Crescimento populacional por década no município de Bauru ANO 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Populaç ão 55.47 2 65.452 92.099 131.936 186.786 259.204 316.084

Fonte: Fundação IBGE (Losnak, 1999, p.8), IBGE, 2002.

Em 1984, o CESB foi extinto após dez anos de funcionamento, para substituí-lo, criou-se a Secretaria de Projetos Comunitários – SEPROCOM. A nova secretaria incorporou as atividades do órgão extinto e surgiu com uma nova visão dos problemas sociais, devendo ser geradora de uma nova política que atendesse aos anseios populares, ou seja, um instrumento de incentivo à organização das classes populares, que levasse a ser desenvolvida uma consciência crítica, inserindo-se na história como sujeitos sociais (GIL, 1997).

A criação dessa secretaria vem ao encontro da administração municipal que propunha como pontos essenciais na gestão: maior investimento em saúde, educação e organização popular, que para a época foi considerado socialmente avançado (FILHO & PIMENTA, 1988).

No período da SEPROCOM a prioridade era organizar a população por meio de associações de bairro. Assim foram criadas 50 associações de

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moradores no município e desenvolvido um trabalho intenso de capacitação dessas lideranças (MUNIZ, 1998).

Entre as décadas de 1970 e 1980 foram criadas 12 novas organizações de assistência social no município, tais entidades aparecem com propostas diferenciadas de intervenção social, menos ligadas a grupos religiosos, que seguem a lógica “do retalhamento social [...] compondo uma prática setorizada,

fragmentada e descontínua [...] por meio de convênios [...]” (MESTRINER,

2001, p. 170).

A verba destinada à assistência social aumentou de 1,5% para 1,6% do orçamento municipal, devido à implantação de outros serviços socioassistenciais.

No Documento de Análise Crítica de Políticas Sociais do Município de Bauru, elaborado em 1987, concluiu-se que o trabalho voltado para a organização popular deveria constituir em opção geral do conjunto administrativo e não tarefa específica da SEPROCOM. Tendo em vista que:

[...] uma secretaria que cuida, por assim dizer, da organização popular, tem refletidas em si própria, as contradições de toda a sociedade. Assim, está sob pressão e não tem como esgota-la, uma vez que as contradições são emergentes e profundamente arraigadas no sistema capitalista” (GIL, 1997, p.79 apud doc. Análise Crítica de Políticas Sociais do Município de Bauru, 1987).

Diante de tal conclusão, reestruturou-se a Secretaria, criando-se uma assessoria no gabinete do prefeito para unificar a política social, ou seja, a participação e organização popular passaram aser objeto de atuação de todas as secretarias. Isso porque o desenvolvimento da comunidade era meta do governo da época (GIL, 1997, p. 73).

Para tanto, foi criado, o Núcleo de Políticas Sociais e a SEPROCOM reorganizou-se para ser co-participante daquele núcleo, bem como para dar continuidade às suas atividades, por intermédio da Diretoria de Promoção Social (Ibid., p. 77).

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De 1989 a 1992, a administração ficou a cargo de Antônio Izzo Filho, e a SEPROCOM organizou-se em três divisões: Divisão de Promoção Social, já existente, Divisão de Projetos Comunitários e Divisão de Organização da Participação Comunitária (Ibid., p. 97).

No que se refere à política de assistência social, Sposati (1991) argumenta que no final da década de 1980 essa política ganhou maior visibilidade, sendo percebida pela sua positividade, como mecanismo estratégico de acesso, pelos excluídos, a bens e serviços. Foi valorizado o reconhecimento de suas possibilidades de ação no âmbito de restituição da cidadania e, igualmente, a sua condição possível de adentrar na cultura dos subalternizados.

No ano de 1990 foi realizado um levantamento socioeconômico da população favelada, bem como suas perspectivas em relação à prefeitura. A partir dessa pesquisa, em 1992, iniciou-se o projeto de desfavelamento, oferecendo 30 casas para os moradores da favela Samburá (GIL, 1997).

Muniz (2003) refere sobre o número de pessoas que vivem nas favelas do município; em 2002 residiam nas áreas periféricas da cidade 3.800 pessoas distribuídas em quinze favelas.

A verba orçamentária voltada para a assistência social sobe para 4,32%, a maior na história do município, aumentando-se assim o valor das subvenções às entidades sociais, que contavam 55 naquele momento (Ibid., p. 79).

No inicio da década de 1990, inicia-se um processo de criação do Conselho Municipal de Assistência Social por profissionais da SEPROCOM, que em busca de uma aproximação à Carta Magna, elaborou um anteprojeto de lei, para a criação desse órgão, de acordo com Gil (1997), foi discutido com a sociedade e encaminhado ao Executivo e ao Legislativo, sendo aprovada posteriormente a Lei nº. 3.395, de 11 de outubro de 1991. Como se observa, o CMAS foi criado mesmo antes da promulgação da LOAS (1993), contudo, segundo Muniz (2003), sua atuação não foi expressiva nos seus primeiros anos. Somente em 1996 foi aprovada a lei que o adequou à LOAS.6

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No ano de 1993 é aprovada a LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social, após cinco anos da Constituição Federal de 1988, o que demonstra a resistência por parte do poder público em assumir a nova perspectiva garantida da extensão de direito à proteção social através da Assistência Social como “política de Seguridade Social, não contributiva, direito do cidadão, dever do

Estado” (art. 1º.).

Sposati (2004) salienta a respeito, que tais signos não ficaram claros e específicos não conseguindo influenciar positivamente no assumir de ‘direitos’ e ‘obrigações’ do Estado perante o cidadão. Conseqüente, à relutância promovida pelo conservadorismo, em afirmá-la enquanto política pública.