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CAPÍTULO 1 – Assistência Social: política de responsabilidade do Estado e

1.3 O SUAS em Bauru: caminhando para a operacionalização e

social

A regulamentação legal do SUAS – Sistema Único de Assistência Social se deu, no primeiro momento, através do Decreto Federal n.º 5.074, de 11 de maio de 2004, que aprova a estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e as Funções do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Mas foi pela PNAS/2004 e pela NOB/SUAS discutido nacionalmente e promulgada em 2005, criando uma organicidade interna na gestão da assistência social pública.

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Dentro da nova estrutura organizacional de 2004, a Secretaria Nacional de Assistência Social – SNAS fica com a responsabilidade, dentre outras, de coordenar a formulação e a implementação da Política Nacional de Assistência Social e do Sistema Único de Assistência Social, observando as propostas das Conferências Nacionais e as deliberações e competências do CNAS (art. 11, inciso I).

O SUAS constitui-se em um “tratado” ou um “pacto”, pautado no direito à proteção social e na ética, que não permitem deixar para traz “sobrantes de uma sociedade de mercado”, ou seja, o acesso ao direito é agora e não quando a ordem econômica e política permitir. Consolidar o SUAS exige a conjugação da vontade política e do saber fazer politicamente, teoricamente e tecnicamente. Nessa perspectiva são muitos os atores e sujeitos envolvidos na consolidação do SUAS. Tal consolidação vai do usuário, passa pelos operadores da política de assistência social, pela sociedade civil, enquanto rede complementar e também sujeitos nos espaços de controle como conselhos e fóruns, chegando até aos gestores públicos, chefes do poder Executivo e outras instâncias como Poder Legislativo, Ministério Público e Poder Judiciário.

Em Bauru, a SEBES movimentou esforços junto ao CMAS no ano de 2005 para a inclusão do município como “gestão plena’, o que significa atender a uma série de exigências:

a) atender aos requisitos previstos no art. 30 e seu parágrafo único da LOAS;

b) alocar e executar recursos financeiros próprios no Fundo de Assistência Social, como unidade orçamentária, para as ações de Proteção Social Básica e Especial, e as provisões de benefícios eventuais;

c) estruturar Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), de acordo com o porte do município, em áreas de maior vulnerabilidade social, para gerenciar e executar as ações de proteção básica no território referenciado,

d) estruturar a Secretaria Executiva nos Conselhos Municipais de Assistência Social, com profissional de nível superior;

e) manter estrutura para recepção, identificação, encaminhamento, orientação e acompanhamento dos

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beneficiários do BPC e dos Benefícios Eventuais, com equipe profissional composta por, no mínimo, um (01) profissional de serviço social;

f) apresentar Plano de Inserção e Acompanhamento de beneficiários do BPC, selecionados conforme indicadores de vulnerabilidades, contendo ações, prazos e metas a serem executadas, articulando-as às ofertas da Assistência Social e as demais políticas pertinentes, dando cumprimento ainda ao art. 24 da LOAS;

g) realizar diagnóstico de áreas de vulnerabilidade e risco, a partir de estudos e pesquisas,

h) cumprir pactos de resultados, com base em indicadores sociais comuns previamente estabelecidos; i) garantir a prioridade de acesso nos serviços da proteção social básica e/ou especial, de acordo com suas necessidades, às famílias e seus membros beneficiários do Programa de Transferência de Renda instituído pela Lei nº 10.836/04;

j) instalar e coordenar o sistema municipal de monitoramento e avaliação das ações da Assistência Social por nível de proteção básica e especial, em articulação com o sistema estadual, validado pelo federal;

k) declarar capacidade instalada na proteção social especial de alta complexidade, a ser co-financiada pela União e Estados, gradualmente, de acordo com os critérios de partilha, de transferência e disponibilidade orçamentária e financeira do FNAS;

l) os Conselhos (CMAS, CMDCA e CT) devem estar em pleno funcionamento;

m) ter como responsável pela secretaria executiva do CMAS profissional de nível superior;

n) que o gestor do fundo seja nomeado e lotada na Secretaria Municipal de Assistência Social, ou congênere;

o) elaborar e executar a política de recursos humanos, com a implantação de carreira para os servidores públicos que atuem na área da Assistência Social (NOB – 2005).

Alguns dos itens acima regulamentados pela Norma Operacional Básica/SUAS em julho de 2005 estavam em funcionamento pela SEBES (b, I, n). Entretanto outras exigências, para que o município de Bauru se tornasse gestor pleno, tiveram que ser organizadas a implantação do Centro de

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Referência da assistência Social – CRAS e Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS e, ainda, uma “secretaria executiva do CMAS

com profissional de nível superior”.

A Política Nacional de Assistência Social aprovada em 15/10/2004, pela Resolução nº.145, do CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social, traduzindo as deliberações da IV Conferência Nacional dessa política, expressa o conteúdo da assistência social, como direito de cidadania e responsabilidade do Estado. Define o SUAS por um pacto federativo entre as três instâncias do poder público, para desenvolver atribuições e competências na provisão das ações socioassistenciais.

Tendo em vista a diversidade do panorama dos mais de 5.500 municípios brasileiros, considerando as desigualdades socioterritoriais, a PNAS traz uma inovação ao considerar os municípios pelo tamanho, classificando-os da seguinte forma:

• pequeno porte 1: municípios com população até 20.000 habitantes;

• pequeno porte 2: municípios com população entre 20.001 a 50.000 habitantes;

• médio porte: municípios com população entre 50.001 a 100.000 habitantes;

• grande porte: municípios com população entre 100.001 a 900.000 habitantes;

• metrópolis: municípios com população superior a 900.000 habitantes.

Com relação à participação da sociedade civil e dos usuários da política de assistência social, objeto desta pesquisa, a política ora tratada defende a construção de uma nova agenda para os conselhos dessa política, portanto

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Uma primeira vertente é a articulação do CNAS com os conselhos nacionais das políticas sociais integrando um novo movimento neste país. Outra é a construção de uma agenda em comum dos conselhos nacional, estadual, do Distrito Federal e municipais de assistência social. Esta última tem como objetivo organizar pontos comuns e ações convergentes, resguardando as peculiariedades regionais (PNAS, 2004, p.57).

Na conformação do SUAS, os espaços privilegiados de participação da população são os conselhos e as conferências.

As conferências, por determinação legal, devem ocorrer a cada dois anos e têm o papel de avaliar a situação da assistência social, definir diretrizes e verificar os avanços ocorridos nesse período (art. 18, inciso VI, da LOAS).7

Já os conselhos de assistência social têm como principais atribuições a deliberação e fiscalização da execução da política e do seu financiamento, em consonância com as diretrizes propostas pela conferência (LOAS, art. 18).

A PNAS/2004 considera, ainda, a participação dos usuários nos conselhos de assistência social um desafio, em função da concepção de doação, caridade, favor, bondade e ajuda que tradicionalmente esteve presente nas ações dessa política, que reproduziu os usuários como dependentes.

Como resultado, esse segmento tem demonstrado baixo nível de atuação propositiva na sociedade e pouco participou das conquistas da Constituição enquanto sujeitos de direitos (PNAS/2004, p. 57).

Para tanto, ressalta a Política Nacional da Assistência Social – PNAS/2004 a necessidade de capacitação e investimentos que envolva esses atores sociais, por meio de uma metodologia que constitua em resgate de participação destes indivíduos. A publicização sobre a assistência social aos usuários é definida como prioritária para o exercício do controle social.

Para o município de Bauru atender aos requisitos da NOB/SUAS de 2005 e da PNAS/2004 não foi algo que alterou significativamente a estrutura da política de assistência social do município, isso por que já contava com uma organização nessa área consolidada – a rede de serviços é ampla, com várias

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unidades descentralizadas, há diversos programas desenvolvidos para atender situações de vulnerabilidade, há ainda uma relação estabelecida junto às entidades sociais através de convênios. Todavia, como mudanças na gestão da política de assistência social, foram implantados os CRAS, até o momento são 5 unidades, com meta para até 2008 de 8 unidades, para atendimento de proteção social básica. E, ainda, o Centro de Referência Especializada de Assistência Social – CREAS, localizado no centro do município, com vistas a atender às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos. Nesse sentido, o CREAS funciona como ‘porta de entrada’ da demanda para serviços de proteção social de média e alta complexidade.