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As eleições de 1986 foram um teste para os partidos, pois além de definir quem iria ocupar o governo em cada estado, tinham o objetivo de eleger a Assembléia Nacional Constituinte. O pleito de 1986 entra para a história como o passo mais importante, após as eleições de 1982, na consolidação do regime democrático. O Plano Cruzado havia congelado os preços e a taxa de câmbio determinou um

aumento geral de salários ente 8 e 16%. Como moeda o cruzado substitui o antigo cruzeiro. No curto prazo, a produção e os salários reais cresceram rapidamente, a inflação caiu de 59% para 8% ao ano de modo rápido (MAINWARING, 2001, p. 141).

A elaboração e aplicação do Plano Cruzado repercutiram positivamente na imagem do Governo, fato que foi amplamente explorado para fins eleitorais, desconsiderando o perigo iminente de desequilíbrio econômico. Com uma popularidade transitória, o PMDB elegeu 22 dos 23 governadores e conquistou maioria absoluta nas duas casas do Congresso. Ficou com 261 das 487 cadeiras da Câmara e 38 das 49 vagas do Senado. PMDB e PFL conquistaram 80% das cadeiras do Parlamento. O PDT e o PT não conseguiram repetir o desempenho de 1985. A estratégia utilizada pelo PMDB foi a manipular as medidas econômicas para fins eleitorais. Outra estratégia foi recrutar adeptos das fileiras da ex-arena/PDS. A representação do PMDB no Congresso aumentou de 224, em fevereiro de 1985, para 246 em outubro de 2006, graças à migração ocorrida de outros partidos. A representação do PFL saltou de 82 para 149 congressistas (MAINWARING, 2001, p. 142). Se por um lado essa migração promoveu a captação de líderes da ex-ARENA, impulsionando o apelo eleitoral, por outro lado provocou o enfraquecimento na coesão interna.

Em meio às mudanças políticas, a população assistia o enfraquecimento do Plano Cruzado, que foi sustentado até o último suspiro, promovendo uma queda na popularidade do presidente Sarney. No dia seguinte às eleições o governo lança o Plano Cruzado II, dando início ao mais longo período de recessão já vivida no país.

O Espírito Santo reproduziu o cenário nacional, a população votou maciçamente no PMDB apesar das turbulências internas: três eram as vertentes que conviviam no partido, duas oriundas do antigo MDB, divididos entre “moderados” e os “autênticos” e a terceira, formada pelo grupo egresso do Partido Popular. Alguns membros do PMDB chegaram a apostar em uma composição de Max Mauro, representante dos autênticos, com as outras vertentes. O deputado estadual Josmar Pereira declarou para a imprensa que “[...] a grande saída está numa composição entre Max e outros setores do partido (SUCESSÃO..., 1984, p. 10). Uma dobradinha Max Mauro-Nyder Barbosa, por exemplo, seria imbatível”. Além da união das vertentes no interior do partido, já que Nyder representava o grupo egresso do PP, pesava também nesta

composição o clientelismo regional, uma vez que Nyder também era um legítimo representante da região Norte do Estado e Max do Centro Sul.

Além dos acordos políticos, os regionais também representavam os bastidores do jogo político no estado. Nas eleições de 1982, Max Mauro, que havia perdido para Gerson Camata a disputa na indicação do partido para as eleições ao Governo do Estado por apenas cinco votos, passaria a ser peça fundamental para a eleição de Camata para o Senado. Conforme Vieira (1992, p. 93), assim como em 1982, a convenção para a candidatura do Governo de 1986 também foi acirrada. Duas chapas se apresentaram: a de Max Mauro e Sérgio Ceoto e a de José Ignácio e Nyder Barbosa. O acordo que apoiaria Max Mauro, selado na eleição de 1982, foi cumprido, porém com desgaste dos grupos internos do PMDB, mesmo das lideranças ligadas à Gerson Camata.

O ginásio esportivo do Clube Álvares Cabral em Vitória ficou lotado com o comparecimento da destacada maioria dos convencionais e assistentes, para participar ou simplesmente assistir a disputa entre Max Mauro e José Ignácio Ferreira, que contava com o apoio do Palácio Anchieta, então ocupado pelo vice-governador José Moraes, já que Camata havia renunciado para concorrer ao senado (VIEIRA, 1992, p. 93).

Com a disputa o PMDB saiu fragilizado no que diz respeito à coalizão interna. Mas o visível crescimento da candidatura Max apaziguou os ânimos e fez com que o partido se unisse pela campanha. Mas o apoio à Max somente foi possível com a mediação do empresário Camilo Cola. Assim partiram juntos para a disputa eleitoral: Max Mauro, como candidato ao Governo do Estado, Gerson Camata e Camilo Cola como candidatos às duas vagas do Senado. Na campanha eleitoral essa composição acabou resultando no slogan denominado “MACACA” (ZORZAL, 1993 p. 80).

Segundo Zorzal ( 1993 ), “o PFL se organizou durante os anos de 1985 e de 1986 com apoio de importantes lideranças do PDS, principalmente ligadas a Elcio Álvares.” As que se destacaram foram Stélio Dias, José Carlos da Fonseca, Wilson Haese, João Miguel Feu Rosa, Nilton Gomes, Pedro Ceolin, José Tasso, Dilo Binda, Heraldo Musso, Enivaldo dos Anjos, Dário Martinelli, Luiz Piassi, Ronaldo Lopes e Waldomiro Seibel.

O resultado desta organização repercutiu em um equilíbrio de forças entre PFL e PMDB locais, o que pode ser constatado com o resultado de uma pesquisa realizada pelo IBOPE divulgada no dia 11 de outubro daquele ano eleitoral (PESQUISA..., 1986, p. 3). A pesquisa indicava que Max Mauro tinha 35% de intenção de voto contra 38% de Elcio Álvares.

Como resultado final da campanha, os números foram expressivamente favoráveis ao PMDB. Assim, Max Mauro, se elegeu governador com 48% dos votos (532.713) e Gerson Camata, com uma expressiva votação de 616.225 votos, eleito Senador. A segunda vaga ficou com João Calmon que obteve 214.245 votos.50 Na Câmara Federal o PMDB elegeu sete deputados, o PFL dois e o PT apenas um. O mesmo ocorreu na Assembléia Legislativa onde o PMDB elegeu quinze deputados, o que representava 50% da bancada. O PFL com nove deputados passou a representar 30% da bancada, Já o PT com três, o PDS, o PC do B e o PDT, com um deputado de cada, constituíram os 20% restantes (ZORZAL, , p. 80).

Nome Votação Partido ou coligação

MAX FREITAS MAURO 532.713 PMDB

ELCIO ÁLVARES 334.678 PFL

ARLINDO VILLASCHI FILHO 97.279 PT, PSB

RUBENS JOSÉ VERVLOET 4.957 PDT

TOTAL DOS CANDIDATOS 969.627

Quadro 2. Resultado das eleições de 1986

Fonte: Tribunal Regional Eleitoral – Arquivos – Secretaria Judiciária

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Material coletado no arquivo do Secretaria Judicial do Tribunal Regional Eleitoral, Vitória,

Paulo Hartung contabilizava a preferência de eleitores de vários municípios do sul do estado e da Grande Vitória, mas sofria um revés causado após a saída de Gerson Camata do governo para concorrer ao senado: a perseguição da máquina administrativa contra a candidatura em função da divergência e discordâncias com o vice-governador José Moraes.

Muitos seriam os motivos que deram início ao atrito entre os políticos, mas a relação piorou quando José Moraes cogitou suceder Berredo na Prefeitura Municipal de Vitória e não recebeu apoio de Paulo Hartung. Em contrapartida, Moraes vetou o projeto de passe-livre e o que criava o Parque da Fonte Grande, criados por Hartung (O GOVERNO..., 1986, p. 2). Esta disputa se configurou mais difícil de ser conquistada. Hartung (2007) relata este momento:

Foi uma eleição diferente da primeira, porque Camata saiu do Governo para ser candidato, ficou Zé Moraes. Zé Moraes não simpatizava comigo... Evidente, nós éramos de grupos diferentes. Tínhamos posições diferentes dentro da política estadual e Zé Moraes tentou dificultar a minha eleição. Mesmo assim eu tive um ótimo desempenho eleitoral, eu repeti a primeira votação praticamente, elas foram muito parecidas e eu me reelegi deputado estadual (Informação verbal).

A estratégia política eleitoral utilizada pelo grupo na primeira eleição de 82, concentrada pelos militantes do movimento estudantil aliciando votos de porta em porta, ainda foi utilizada, porém já não havia a mesma força de um ideal a ser alcançado. Conforme depoimento abaixo, aquele era uma eleição diferente da primeira:

A primeira eleição, a garra que a militância teve na eleição do Paulo, deu a ele só o destaque de ser líder estudantil na Universidade, ele jamais se elegeria... Agora no segundo mandato, aí eu tenho que tirar o chapéu pra ele. No segundo mandato é muito fruto da sua liderança e do seu desempenho. Até porque a energia, até a idade já começa a ser diferente [...] Na verdade essa militância ta quase toda em torno do Paulo, boa parte dela, trabalha muito pra eleição dele, mas o resultado da segunda votação eu acho que é muito também desempenho dele, da condução dele. É lógico que ninguém faz campanha sozinho. A primeira foi muito do movimento... o que nós fizemos na Serra... o Paulo muito pouco foi lá. Era um trabalho nosso de forminguinha ... no segundo também teve, mais aí essa agregação imensa de votos muito superiores, acrescenta o trabalho dele, a posição dele dentro da sociedade que aprovava (COIMBRA, 2006, informação verbal).

Um mandato representativo que agregava novos eleitores e o apoio dos aliados ainda do movimento estudantil conferiu a Paulo Hartung 17.343 votos51, porém em número inferior aos 19.486 votos obtidos na primeira eleição. A “chapa do partidão” se desfez: Mirtes Bevilacqua não conseguiu se eleger, Berredo de Menezes não disputou e os vereadores eleitos em 1982 continuariam ainda por mais dois anos, já que deveriam alinhar seus mandatos a eleição municipal que viria a seguir no ano de 1988. Hartung passa a ter a sua liderança consolidada no grupo.

Figura 10. Material de campanha

Fonte: Arquivo pessoal de Paulo Hartung

O material de campanha (figura 10) do candidato Paulo Hartung apresentava o resultado do primeiro mandato.

Nestas eleições o PT começa a colher os resultados de um crescimento no Estado. O bom desempenho nas urnas na campanha de 1985 para a prefeitura municipal fez com que o médico Vitor Buaiz fosse o único representante do PT a alçar a Câmara Federal com cerca de 79 mil votos.

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Material coletado no arquivo do Secretaria Judicial do Tribunal Regional Eleitoral, Vitória,

A força eleitoral do candidato foi tamanha que a candidata Lurdinha Savignon, a suplente que assumiu seu lugar quando Buaiz viria a se eleger prefeito de Vitória, obteve pouco mais de seis mil votos. Para a Assembléia legislativa, o PT elegeu o militante das Organizações Eclesiais de Base, Cláudio Lodi Vereza, o sindicalista urbano João Carlos Coser e o sindicalista rural Ângelo Moschen (VIEIRA, 1992, p. 98).

Paulo Hartung e seu grupo, que na eleição anterior fora direcionado a apoiar o adversário de Buaiz, Hermes Laranja, pode participar da campanha compondo uma chapa “alternativa” no município de Vitória.

Na minha segunda eleição a estadual, o Vitor saiu a federal e nós fizemos um casamento de votos dentro de Vitória. A turma do PT, mesmo, não casou a eleição com Vitor. O Rogério (Medeiros) brincava muito com isso, era inclusive uma boa oportunidade, aquelas brigas de dentro do PT e o voto veio casado dentro de Vitória, porque naquela época a gente via a cédula para ver quem o eleitor votou junto com a gente. Era um tal de Vitor e Paulo Hartung, Vitor e Paulo Hartung, veio um movimento interessante (HARTUNG, 2007, informação verbal).

Enquanto isso, o embate Max e Camata continuava. Max Mauro teve participação ativa junto aos deputados na não aprovação das contas do mandato de Gerson Camata A votação secreta ocorreu no dia sete de outubro de 1987, na Assembléia Legislativa, apresentou um resultado desfavorável a Camata, somando 19 contra a aprovação e 11 votos favoráveis. Segundo a matéria era “[...] inegável que foi um fato político e de repercussões graves, para o PMDB em especial” (CONTAS..., 1987, p. 9). A não aprovação das contas de um Governador foi um episodio inédito da historia administrativa do Estado e flagrou exatamente a primeira administração peemedebista.

Paralelamente, instalou-se no Estado, com nítida inspiração do Palácio Anchieta, o chamado “Caso Dolargate”, no qual Camata era acusado de, como governador, ter pagado comissões indevidas em empréstimos externos. O Tribunal de Contas e a Justiça reconheceram a legalidade do pagamento de tais comissões arquivaram o caso (VIEIRA, 1992, p. 95).

O segundo mandato de Paulo Hartung como deputado estadual daria prioridade aos projetos voltados para idosos e aposentados, bem como benefícios para servidores e entidades de classes. No esforço na preservação do meio ambiente, já iniciada no

primeiro mandato, foi criada a lei de proibição da venda de sprays que contivessem em sua composição clorofluorcarbono (CFC), substancia danosa à atmosfera terrestre, que posteriormente seria proibida em todo o território nacional. Também seria aprovado o Projeto de Lei que declarava como preservação permanente os remanescentes da Mata Atlântica no estado.

Para os funcionários públicos, Hartung aprovou o Projeto de Lei que tornaria legal a participação remunerada das lideranças associativas durante o exercício de seus mandatos. O deputado também defendeu uma política de Ciência e tecnologia para o estado, que estabeleceu 2,5% da receita global do recolhimento de impostos para pesquisa e a formação de um Conselho Estadual de Ciência e tecnologia.

Uma das bandeiras do segundo mandato de Hartung seria a luta contra o aumento de salários dos deputados, no ano de 1989, em forma de gratificação de representação, que teria como objetivo recompor as perdas salariais da tributação do Imposto de Renda. Compactuavam com Hartung os deputados Ângelo Moschen, Perly Cipriano, João Coser e João Martins, que ofereceram uma emenda alternativa que deveria fixar o reajuste dos parlamentares capixabas com os critérios semelhantes aos funcionários públicos. A Assembléia não aprovou a emenda alternativa e Hartung passou a doar o acréscimo salarial à entidades beneficentes.

Mas sem dúvida, uma das leis de maior repercussão de sua autoria foi a de número 3.934 que estabelece a gratuidade do transporte coletivo aos idosos capixabas com mais de 65 anos. Esta lei viria a ser tornar um de seus principais alicerces nas eleições de 1990.

Os principais Projetos de Leis52 aprovados pela Assembléia durante o segundo mandato de Hartung são:

Lei nº 3.934 – Concede isenção do pagamento de tarifa às pessoas com idade superior a 65 anos;

Lei nº 3.978 – Declara de utilidade pública a Associação Capixaba de proteção ao Meio Ambiente – ACAPEMA;

Lei nº 4.030 – Declara de preservação permanente as reservas de mata atlântica existentes nos limites do Estado;

Lei nº 3.951 – Institui a obrigatoriedade de todos os integrantes da Polícia Militar do estado, inclusive do Corpo de Bombeiros;

Lei nº 3.985 – Declara de Utilidade Pública a Associação Capixaba de Idosos – ACI, de Vitória;

Lei nº 4.020 – Declara de Utilidade Pública a Casa dos Funcionários Ativos, Inativos e Pensionistas da CVRD – FUNVALE;

Lei nº 3.970 – Declara de Utilidade Pública a Sociedade Espírito Santense de Engenheiros Agrônomos;

Lei nº 4.080 – Fixa normas para fiscalização pelo Poder Legislativo de autorização para contratação de empréstimos pela CESAN e COHAB/ES;

Lei nº 4.169 – Assegura o afastamento do servidor público para ocupar cargo de direção em associações representativas, sindicatos e conselhos regionais e federais de fiscalização de profissões.