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As eleições de 1990 foram realizadas apenas para os cargos de governador, deputado federal e deputado estadual. O pleito desenvolveu-se em pleno ambiente democrático e foi marcado pelo alto índice de renovação de suas lideranças no Congresso, ampliando a conquista dos espaços políticos por parte dos partidos mais consolidados. No entanto, também foi fortemente influenciado pelo início dos primeiros problemas econômicos enfrentados pelo governo Collor. Dessa forma, assim como na sociedade, os discursos dos candidatos foram polarizados entre os favoráveis e os contrários ao presidente Collor. No primeiro turno os aliados de Collor se saíram razoavelmente bem, mas no segundo turno a oposição venceu em quase todos os grandes estados (MAINWARING, 2001, p. 146).

No Espírito Santo, o cenário político foi marcado pela vitória do pedetista Albuíno Azeredo (PDT) para o Governo do Estado. Segundo Zorzal (1993) este fato novo expressou a emergência de uma nova liderança no cenário político Estadual.

A ascensão do engenheiro Albuíno Azeredo, natural do Rio de Janeiro, deu-se principalmente em decorrência do racha definitivo de duas das principais lideranças do PMDB. Na verdade, o embate teve início nas negociações para as eleições de 1982, como já foi amplamente explorado neste trabalho. Max Mauro tentou desferir

golpes na administração de Camata, ao assumir o Governo em 1986 provocando a não aprovação das contas do Governo anterior, assim como o “Caso Dolargate” também já citado aqui. A situação tornou-se insustentável e foi agravada pela crise vivida pelo próprio PMDB nacionalmente.

Max Mauro migrou para o PDT seguido por algumas importantes lideranças, que receberam a alcunha de “Novo PMDB”, mediante o ingresso deste grupo no novo partido. Acompanhando o troca-troca de partidos, Gerson Camata se afastou temporariamente do PMDB, filiando-se ao PDC. Mediante a gravidade da crise o PMDB não se reorganizou a tempo para participar com candidato próprio da disputa pelo Governo do Estado.

Com a entrada no PDT, Max Mauro concordou que o seu secretário de planejamento, Albuíno Azeredo, fosse o candidato a substituí-lo. Uma eclética composição chamada “Frente Democrática” foi arquitetada reunindo lideranças de diversos partidos e posições. A campanha foi coordenada por lideranças como Adelson Salvador (PDT), Theodorico Ferraço (PTB), Renato Soares (PSB), José Eugênio Vieira e Enivaldo dos Anjos (PFL) (ZORZAL, 1993, p. 86).

Vieira (1992, p. 84) narra em detalhes na sua obra a construção desta grande aliança, envolvendo um grupo que chegou a contabilizar 43 prefeitos do Estado. Segundo o autor, o movimento teve início no ano de 1989, na região Norte, coordenada pelo prefeito de Barra de São Francisco, Enivaldo dos Anjos, com o objetivo de lançar um candidato ao governo do Estado ou a vice, na chapa do PDT de Max Mauro.

De forte bandeira municipalista, o movimento produziu um manifesto de apoio a Albuíno, pleiteando a vaga de vice a ser lançada na chapa do PDT de Max Mauro. Ainda segundo o autor, os convites foram feitos para Enivaldo dos Anjos e Theodorico Ferraço, que não aceitaram alegando compromisso com seus municípios, uma vez que os mandatos ainda contavam com mais dois anos. Abaixo, um trecho do manifesto:

Os prefeitos municipais e vereadores adiante assinados manifestam o seu mais irrestrito apoio à candidatura de Albuíno Azeredo à sucessão de Max Mauro. Não apenas o seu compromisso verbal, faz a sua candidatura uma garantia de ação subjetiva para a interiorização do desenvolvimento. Não basta haver o discurso – eventualmente sincero – voltado para o interior. É

necessário capacidade e poder de decisão, pragmatismo e comprovada capacidade gerencial. Estas características Albuíno tem em grau maior do que qualquer outro cidadão que, no uso de seus sagrados e legítimos direitos políticos, haja colocado seu nome à disposição da sociedade para disputar o Governo do Estado em outubro próximo.

Desvinculado de qualquer ortodoxia ideológica, antes que isso se transformasse quase num modismo de um mundo em processo de mudanças profundas, Albuíno já provou ser dono de um pragmatismo capaz de buscar soluções praticas onde elas se apresentam, no campo do conhecimento humano.

Jamais um plano ou uma proposta dorme nas gavetas de Albuíno Azeredo.Seu estilo gerencial prima pela modernidade na adoção de processos decisórios rápidos e de conseqüências práticas transparentes (VIEIRA, 1992, p. 54).

O candidato Albuíno Azeredo foi registrado no TRE para o governo e temporariamente o nome de Rubens Gomes (PDT) para vice. A frente consolidou o apoio ao ex-prefeito de Nova Venécia e ex-presidente da Associação dos Prefeitos e Vereadores do Espírito Santo (APREVES hoje AMUNES), Adelson Salvador, oriundo dos movimentos sociais da Igreja e com origem alinhada a posições de esquerda.

Ainda segundo Vieira (1992), as primeiras pesquisas eleitorais realizadas em maio de 1990, dos institutos Vox Populi e IBOPE indicavam 1% de intenção de voto para Albuíno contra, respectivamente, 45% e 55% para o senador José Ignácio. . A campanha, em sua fase final, desenvolvida pela jornalista Elizabeth Rodrigues, além de ressaltar a experiência do candidato na administração pública com uma gestão moderna e baseada no planejamento, passou a explorar a origem simples do candidato como um destinado à vitória: “Este é o homem feito para vencer com a força do povo” era o slogan.

O principal concorrente de Albuíno no pleito, José Ignácio, constituiu um capítulo à parte. O senador desligou-se do partido que havia fundado poucos anos antes, o PSDB, que não se alinhava ao Governo Federal, para tornar-se líder do Governo Collor no Senado, afastando as lideranças de esquerda da sua candidatura. Apesar de apresentar um discurso de independência, foi apoiado no segundo turno por Gerson Camata.

Os embates políticos promovidos pelos candidatos reduziram os debates a uma disputa de caráter pessoal. A troca de acusações entre Albuíno (PDT) e Zé Ignácio

(PST) provocou vários tumultos no último debate do primeiro turno das eleições. Os demais candidatos, Rogério Medeiros (PT) e João Calmon (PMDB), ameaçaram se retirar do debate mediante a gravidade da discussão (POLÊMICA..., 1990, p. 2).

Nas eleições de 1990, 83 milhões de brasileiros iriam votar em 257.525 seções eleitorais distribuídas em 4.491 municípios nas 27 unidades da Federação. O Espírito Santo iria contribuir com 1,4 milhões de eleitores. Aqui concorreram 386 candidatos que pleiteavam apenas 30 vagas para a Assembléia o que representava um total de 12,8 concorrentes por vaga. Já para a Câmara Federal eram 93 candidatos e 10 vagas, portanto 9,3 por vaga. Para o senado sete candidatos disputavam apenas uma única vaga (MAIS..., 1990, p. 4).

O editorial publicado no jornal A Gazeta no dia seguinte às eleições avaliou o pleito da seguinte maneira:

Um dos aspectos mais marcantes das eleições de ontem é o fato de atualizar o cenário político nacional. Com a eleição do presidente Collor, em dezembro passado, criou-se um poder renovado, oriundo do respaldo de 35 milhões de votos, enquanto persistia um poder legislativo desgastado pelo exercício do mandato desde 1986. Com o pleito de ontem estabeleceu-se o verdadeiro mapa político do país, cujos traços predominantes de parte do Executivo, foram riscados com a ascensão de Collor no poder.

Collor trouxe idéias diferentes dos seus antecessores em vez de populismo e demagogia, medidas ousadas e firmes para flexibilizar a economia e derrubar a inflação. O problema é que o Presidente em seus primeiros meses foi obrigado a governar com o Parlamento acostumado ao toma-lá-dá-cá dos tempos deSarney e teve muita dificuldade para aprovar medidas provisórias. Na maioria dos estados se prevê governadores e parlamentos do que se convencionou chamar de centro ou de direita, alinhados com Collor. Com a esquerda apenas o Rio com Brizola e o Acre (UM ..., 1990, p. 4).

Um dos fatos que chamaram atenção na eleição foi o número de votos brancos, nulos e abstenções. Um fenômeno que demonstra de forma clara o desprestígio e o pouco crédito dado pela população àqueles que durante meses de campanha pediram apoio do eleitor. Segundo pesquisa do Ibope contratada pelo jornal A Gazeta, a maioria dos capixabas, 58%, tinha pouco ou nenhum interesse nas eleições do segundo turno (CAPIXABAS...., 1990, p. 1).

Foi surpreendente a renovação Câmara Federal capixaba com cerca de 70% dos membros e de quase 90% dos integrantes da Assembléia Legislativa. Os deputados

estaduais que se elegeram já haviam sido prefeitos ou eram apoiados pelas prefeituras nas suas administrações. 56

José Ignácio entrou na disputa com 36% das intenções de voto em julho de 1990 e Albuíno com 4%, mesmo índice de Rogério Medeiros do PT. Albuíno Azeredo contou com o apoio de Max Mauro e de quase todo o secretariado, da frente de prefeitos e de vários vereadores, além dos partidos. Este apoio se manteve e foi ampliado no segundo turno com parte do PMDB, “apoio crítico do PT”, principalmente do prefeito Vitor Buaiz. José Ignácio no primeiro turno teve o apoio do senador Gerson Camata (PDC) e exibiu a imagem de vários ministros do governo Collor em seu programa eleitoral. No segundo turno sem um coordenador político eficiente passou a maior parte de sua campanha sozinho. Seus maiores apoiadores, inclusive Gerson Camata, não participaram com a mesma intensidade, e o senador eleito, Elcio Álvares, se afastou por desentendimentos com seu comitê (ESTADO..., 1990, p. 3).

A engenharia montada que unia a política tradicional ao apoio municipalista à uma estratégia de marketing garantiram a vitória de Albuíno.

Nome Votação Partido ou coligação

ALBUINO CUNHA DE AZEREDO Vice: Adelson Antonio Salvador

584.269 Frente Democrática Capixaba: PDT, PSB, PTB e PC do B JOSÉ IGNÁCIO FERREIRA

Vice: Pedro Ceolin

294.872 Frente Progressista Liberal: PST, PMN, PSC, PRP, PFL e PDS ROGÉRIO SARLO DE MEDEIROS

Vice:

127.672 Frente Popular Capixaba: PT e PCB

JOÁO DE MEDEIROS CALMON Vice:

30.042 PMDB

Abstenções 189.523

Eleitorado 1.423.211

Quadro 3. Resultado final das eleições majoritárias

Fonte: Material coletado no arquivo do Secretaria Judicial do Tribunal Regional Eleitoral, Vitória, ES.

O pleito de 1990 não foi tão bem sucedido para a consolidação do grupo político aqui estudado, uma vez que foram lançados quatro candidatos à Assembléia Estadual e nenhum obteve votos suficientes para a eleição, sendo apenas Paulo Hartung eleito para a Câmara Federal. A partir deste momento a concentração do

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projeto político acaba centrada na figura de Hartung. Segundo Lelo Coimbra, o insucesso dos demais membros do grupo foi uma conseqüência do individualismo adotado naquele pleito, que “não pensou como equipe” e dividiu o potencial eleitoral:

Foi uma eleição difícil, porque o Stan tinha três57 mandatos de vereador já exercidos, achava que ele tinha o direito de ser o candidato. Eu acabei tendo 4.800 votos, fiquei por 46 votos, ele teve 2.600, o Ricardo Santos 1.800, o Felício 1.300. Na verdade, nós erramos porque deixamos de pensar em grupo. Era para ter um ou dois estaduais. A gente perdeu a matriz partidária. A gente seguia pelo papel de cada um e todas as vezes que uma liderança principal não cumpre seu papel de ajudar a organizar o conjunto, acontece isso. O Paulo tinha que se eleger federal, então ele não tinha como me reter. Na realidade, o tempo do Stan era o Paulo. Ele é que tinha que ter progredido de 86, e ir para a Câmara Federal e Stan ter sido estadual, para liberar energia para ir para frente. Por isso eu não concordo com a reeleição (COIMBRA, 2006, informação verbal).

Paulo Hartung, da Coligação Democrática (PSDB e PL), que não apresentava candidato a governador, foi o segundo candidato mais bem votado, com 49.248, e puxou a coligação. Mas isso não foi suficiente para que os candidatos do grupo que concorreram pelo PSDB alcançassem o número de votos necessários para a eleição. Wellington Coimbra obteve 4.829 votos, Estanislau Stein 2.681, Felício Correa 1.685 e Ricardo Santos 1.280 votos58.Rita de Cássia Camata foi a candidata mais bem votada da eleição com 99.147 votos. O coeficiente eleitoral59 para deputado estadual era de 26 mil votos e para deputado federal 100 mil.

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De fato, Stein exerceu dois mandatos de vereador, porém o seu primeiro mandato foi estendido por seis anos, uma vez que as eleições de 1985 contemplaram apenas os prefeitos das capitais. O terceiro mandato de Stein viria a ocorrer em 1992.

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Material coletado no arquivo do Secretaria Judicial do Tribunal Regional Eleitoral, Vitória, ES.

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O quociente eleitoral é a unidade básica para a conquista de mandatos, seja na Câmara Federal ou na Assembléia Legislativa. Ele é definido como o quociente entre o total de votos considerados válidos, inclusive os em branco, e o total de cadeiras a serem distribuídas. A cada índice alcançado o partido ou coligação tem direito a um candidato, que serão os mais votados.

Figura 12. Material de Campanha

Fonte: Arquivo pessoal de Paulo Hartung

As bandeiras de Paulo Hartung nesta eleição ( FIGURA 11) eram a luta contra o “arrocho salarial” e o desemprego, além de defender o Parlamentarismo como modelo de gestão para o País. Outra bandeira era o combate às benesses dos deputados como a aposentadoria precoce e os aumentos salariais. Após um aumento concedido aos deputados, considerado inconstitucional por Hartung, mantido apesar da sua tentativa de anulação na justiça, Hartung passou a doar o acréscimo às instituições de caridade, como já foi citado anteriormente.

O material de campanha também enumerava seus principais projetos nos dois mandatos no legislativo estadual: o passe livre do idoso, o apoio à Ciência e Tecnologia, a CPI da Educação, a meia passagem para estudantes e a defesa do meio ambiente e do pequeno e médio produtor rural.

Paulo Hartung manteve como um de seus segmentos prioritários os idosos e aposentados e desenvolveu ferramentas de comunicação mesmo depois de tornar- se Deputado Federal. A cartilha abaixo (FIGURA 12) foi desenvolvida no início de seu mandato na Câmara Federal com explicações sobre a Previdência Social e seus benefícios previstos na Constituição de 1988.

Figura 13 – Cartilha do Aposentado. Fonte: Arquivo pessoal de Paulo Hartung

O excelente resultado da eleição para deputado federal de Paulo Hartung na capital era, finalmente, a indicação da consolidação do grupo no executivo municipal. A candidatura para prefeito, em compasso de espera desde 1985, quando Paulo Hartung recebeu o primeiro convite, podia enfim ser concretizada:

Quando eu fui candidato à deputado federal, obtive uma votação consagradora em Vitória: quase 20 mil votos dentro da cidade de Vitória. Se me recordo bem, 18 vírgula não sei quantos mil. Tava claro que eu tinha uma base, que o grupo estava enraizado dentro da cidade de Vitória (HARTUNG, 2007, informação verbal).