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As expectativas e aspirações profissionais

A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NA CONTRUÇÃO DE PROJECTOS VOCACIONAIS

2. As principais investigações da influência da família nos projectos vocacionais dos adolescentes, no âmbito das perspectivas contextualistas e desenvolvimentais

2.4. As expectativas e aspirações profissionais

É a partir da relação que os adolescentes estabelecem com os outros, pais, família, escola ou comunidade, explorando os mundos possíveis do trabalho e da formação, que vão construindo a sua trajectória vocacional implicando expectativas, sonhos e aspirações profissionais. Apesar da proclamada igualdade de oportunidades no discurso social explícito, parece importante não ignorar que nem todos os adolescentes e jovens têm as mesmas possibilidades de acesso às oportunidades sociais de formação e profissão de níveis mais elevados, sendo, em muitos casos, um privilégio que resulta de ter nascido num determinado contexto sociocultural, ou de pertencer a uma família com uma determinada configuração e estatuto socioeconómico e cultural. Assim, por exemplo, adolescentes e jovens provenientes de contextos socioeconómicos e culturais menos favorecidos, cujas famílias manifestam necessidades básicas de sobrevivência, estão impedidos de alargar o seu tempo de formação para entrarem muito cedo no mundo do trabalho (abandonando antecipada ou precocemente o sistema de formação), porque, para além dos constrangimentos económicos familiares salientados, as expectativas dos níveis de formação e profissão veiculadas na família e na comunidade vão no sentido da reprodução e perpetuação dos deficit’s do grupo social de pertença (Gonçalves & Coimbra, 2000).

Várias investigações foram realizadas, a partir dos anos 80, sobre o impacte dos pais na construção de aspirações e expectativas profissionais, algumas já referenciadas anteriormente na revisão investigação de Schulenberg, Vondraceck e Crouter (1984).

Wall, Covel e MacIntyre (1999) constataram que o suporte emocional, acompanhado pelos meios instrumentais para o efectivarem, garantido pelos pais em actividades de formação e de exploração vocacional, tinha uma influência positiva, quer nos rapazes quer nas raparigas, na construção de expectativas e aspirações profissionais elevadas, mobilizando-os a investirem num percurso de formação mais longo. Contudo, encontraram diferenças de género: enquanto que as raparigas, para além da influência

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da família, reconheciam como positivas as influências dos pares e dos professores, nos rapazes apenas a variável preditiva da construção das suas aspirações e expectativas era a influência da família.

Paa e MacWhirter (2000) concluíram que os adolescentes do Ensino Secundário experienciavam uma maior influência nas expectativas profissionais da figura parental do mesmo sexo. As raparigas expressavam, de forma mais acentuada do que os rapazes, que a figura materna proporcionava um feedback mais consistente do que o pai envolvendo-se, com mais frequência, em momentos de apoio e comunicação acerca dos projectos vocacionais (O’Brien, 1996; O’Brien et al., 2000; Rainey & Borders, 1997). Os rapazes reportavam que a figura do pai era a de maior influência na construção de expectativas profissionais seguida da figura materna. Contudo, quer os rapazes quer as raparigas reconheciam que os pais são mais importantes do que os pares e os professores na construção das expectativas e aspirações profissionais (Galambos & Silbereisen, 1987; Paa e MacWhirter, 2000).

Os resultados de um estudo realizado com uma amostra de adolescentes e jovens portugueses (Gonçalves, 1997) revelam um impacte diferenciado na construção de expectativas profissionais e de formação em função do nível socio-económico e cultural da família de origem. Os adolescentes provenientes de contextos familiares de nível socioeconómico e cultural médio manifestam expectativas mais elevadas em relação à construção de projectos de formação e de profissão e sentem-se mais apoiados pelos seus pais do que os de níveis mais baixos e elevados. Nos níveis elevado e baixo, por razões de natureza bem diversa, predomina a convencionalidade/conformidade ligada à reprodução do estilo de vida dominante ou à escassez de oportunidades para contrariar o determinismo da origem socio-económica.

O significado destas diferenças pode ser explicado pelo facto de o grupo de nível socio-económico médio, na cultura portuguesa, ser o de maior mobilidade social, assumindo um papel decisivo nas grandes transformações sociais e políticas. Por isso, surge como o grupo mais dinâmico, mais competitivo e com expectativas elevadas quanto ao seu protagonismo no mundo da cultura e profissional. Estas mensagens são transmitidas implícita ou explicitamente no contexto familiar e coexistem com os dispositivos necessários em termos de apoios afectivos e instrumentais para garantirem

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projectos de formação e de profissão que possam proporcionar o sucesso pessoal e familiar.

Quanto ao nível socio-económico alto tende a ser, normalmente, um grupo mais cristalizado e acomodado onde, em muitos casos, os apoios instrumentais se sobrepõem aos emocionais. Estas famílias tendem a ser contextos favoráveis à emergência de sujeitos com estatutos de identidade vocacional outorgada, favoráveis ao cumprimento do projecto vocacional da família, ou então, sujeitos em difusão.

Os sujeitos de nível socio-económico baixo têm expectativas reduzidas relativamente ao seu projecto de vida (formação, profissão), porque as mensagens veiculadas na sua família de origem e nos seus contextos de vida mais próximos vão nesse sentido e porque os constrangimentos económicos e sociais os empurram inevitavelmente para a primeira oportunidade de trabalho que lhes garante a si e aos seus a sobrevivência. Ter ou não ter expectativas elevadas em termos profissionais e de formação, em muitas situações, é um privilégio que resulta de pertencer a uma família com um determinado nível socio-económico e cultural (Gonçalves, 1997; Hoffman, Goldsmith & Hofacker, 1992).

Concluindo, os resultados das várias investigações sobre a influência da família, nomeadamente os pais, na construção de expectativas e aspirações profissionais dos adolescentes salientam o impacte de um conjunto de variáveis familiares como o nível socioeconómico e cultural dos pais, o género destes, o emprego materno ou salário do pai. Contudo, a variável mais salientada na investigação, e que parece ter maior impacte, refere-se à qualidade do suporte e apoio que as figuras significativas garantem ou não aos seus filhos nos vários momentos do seus desenvolvimento em que são confrontados com tomadas de decisão vocacionais (Whiston & Keller, 2004).

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