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Razões subjacentes à construção da “Escala dos Significados Atribuídos ao Trabalho” e sua conceptualização

QUESTÕES ESTRUTURANTES DA INVESTIGAÇÃO E RESPECTIVA METODOLOGIA

Factor 6:Orientação para actividades recreativas (6 itens): 5, 21, 28, 37, 45 e 53.

8. Construção e desenvolvimento da Escala dos Significados Atribuídos ao Trabalho

8.1. Razões subjacentes à construção da “Escala dos Significados Atribuídos ao Trabalho” e sua conceptualização

Após uma revisão da investigação para seleccionar instrumentos que permitissem avaliar os significados atribuídos ao trabalho por parte dos pais e adolescentes, confrontamo-nos com uma forte lacuna neste domínio. Apenas se identificaram várias referências aos valores e a instrumentos para os avaliar –– os clássicos inventários de valores (Brown, 2002; Brown & Crace, 1996; Crace & Brown, 1995; Super, 1970; Super & Nevill, 1985) ––, no âmbito das perspectivas mais tradicionais e naturalistas da Psicologia Vocacional. Assim, os valores surgem como parte integrante da avaliação da trilogia mítica das características individuais –– valores, interesses e aptidões –– (Gottfredson, 1981) que configuram um perfil adequado a formações que preparariam para o exercício de determinadas profissões, mediante o ajustamento/ emparelhamento (Savickas, 1995).

Nesta perspectiva clássica da Psicologia da Orientação Vocacional, os valores surgem como um constructo eminentemente intrapsíquico e psicologizante, que fazia parte da centralidade do auto-conceito (Rokeach, 1973; 1979); ou seja, uma estrutura nuclear quase inquestionável da identidade pessoal e vocacional. Inclusive, no âmbito desta perspectiva, o que distinguia os interesses profissionais dos valores é que estes eram os princípios organizadores da acção, por isso, suportes energéticos que moviam os sujeitos a configurarem determinados interesses. A definição de Brown e Croce (1996) é reveladora da conceptualização que está subjacente aos inventários de valores: “ os valores são representações cognitivas de necessidades que, quando desenvolvidas, proporcionam princípios de comportamento, orientando as pessoas para desejos, fins e objectivos… Os valores são o maior factor motivacional, porque eles são a base da acção. Por isso, os valores servem como fundamento da autorregulação das cognições e proporcionam a base de julgamento dos recursos exteriores” (pp.11-12).

Ora, instrumentos construídos a partir desta base generativa e conceptual não eram os mais adequados para avaliarem os significados atribuídos ao trabalho num contexto sócio-cultural e histórico de grandes mobilidades. Estes são construídos contextualmente/socialmente e não intra-psiquicamente, porque os sujeitos constroem as realidades pessoais e sociais através das interacções com a sociedade, tendo em conta

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as mudanças culturais e económicas (Patton, 2000). As narrativas da identidade do self, incluindo as que têm a ver com os significados do trabalho, interagem reflexivamente com as instituições em mudança e com o trabalho pessoal, em ordem à construção e reconstrução das identidades pessoais e sociais (Giddens, 1997). No âmbito da literatura vocacional, Young e Valach (1996) enfatizavam o papel da acção individual no desenvolvimento dos significados do trabalho, sugerindo que a construção dos mesmos se processa através da actividade do sujeito na interacção com os outros, principalmente na acção conjunta com os pais.

Confrontámo-nos, na revisão da investigação, com uma escala de “The meaning of working” –– MOW–– (England, 1990), produto final de um estudo transnacional e transcultural entre sete países (EUA, Japão, Alemanha, Bélgica, Israel, Jugoslávia, Holanda) para avaliarem a centralidade do trabalho na vida das pessoas e das sociedades (England et al., 1987). A análise cuidadosa da escala “The meaning of working” (England, 1990), inclusive, alguns estudos exploratórios realizados (Parada & Coimbra, 2002), revelaram ser um instrumento que apresenta algumas inconsistências em relação às várias subescalas, tendo a ver, provavelmente, com a estrutura subjacente à construção do próprio instrumento, a que não deve estar ausente a formação dos investigadores. Saliente-se que o estudo, da qual surgiu a escala, bem como o seu autor, têm uma preocupação eminentemente sociológica na leitura que fazem da realidade do trabalho. A estrutura da escala é de natureza híbrida, combinando itens de respostas fechadas e com subescalas de tipo Likert com níveis variados, com itens de resposta aberta. Esta característica estrutural da MOW cria dificuldades e inconsistências no tratamento dos resultados.

Perante as lacunas salientadas neste domínio de investigação, decidiu-se avançar para este projecto moroso e exigente de construção de uma escala sobre os significados atribuídos ao trabalho, no âmbito deste estudo.

Em linhas genéricas,53a conceptualização que esteve subjacente à construção da Escala dos Significados Atribuídos ao Trabalho (ESAT), são os pressupostos construtivistas. Segundo esta grelha conceptual, os significados do trabalho, como todas as realidades sociais e psicológicas, são construídos socialmente através das mensagens

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Os pressupostos teóricos subjacente à construção da Escala dos Significados Atribuídos ao Trabalho (ESAT, Gonçalves & Coimbra, 2004) estão desenvolvidos no Capítulo III deste trabalho.

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tácitas ou explícitas veiculadas nos contextos de vida onde os adolescentes se inserem como, a família, a escola, a comunidade de pertença, as políticas nacionais e internacionais, possibilitando-lhes oportunidades ou inviabilizando-lhas.

Assim, o processo de construção do ESAT foi moroso e parcimonioso, seguindo os seguintes passos:

1. Num primeiro momento, fez-se um levantamento de representações espontâneas sobre os significados do trabalho a uma amostra diferenciada de 350 sujeitos (adultos, empregados, desempregados, aposentados e adolescentes) confrontando-os com esta única questão aberta: “Que ideias (representações, pensamentos e sentimentos) lhe surgem espontaneamente quando pensa em trabalho/emprego/actividade profissional? Responda à questão usando apenas palavras soltas (substantivos, adjectivos e verbos) que reflectem o que pensa e sente sobre o seu trabalho, por exemplo: chatice, criativo, transformar...” ;

2. Foram produzidas 516 palavras diferentes com uma frequência média de 7,75 palavras por sujeito. As palavras com maior frequência foram agrupadas dentro do mesmo campo semântico, definindo-se posteriormente categorias para cada grupo de palavras. Este trabalho foi analisado por quatro especialistas que deram vários contributos para a inclusão de cada palavra no respectivo campo semântico bem como para a definição das categorias, a saber: Dimensão da realização pessoal, interpessoal, emocional negativa, emocional positiva, económica do trabalho e criativa do trabalho (Gonçalves & Coimbra, 2003).

Num segundo momento, a partir da revisão da investigação e dos resultados do estudo prévio, construíram-se 60 itens, dez para cada categoria, que foram revistos e analisados por quatro especialistas para preparar a versão da ESAT para a realização do estudo piloto, a uma amostra de 450 adolescentes do 9º ano de escolaridade e do Ensino Secundário (10º e 11º anos) da Região Norte. Após a análise rigorosa das qualidades psicométricas da ESAT em termos da sua estrutura factorial e da consistência interna dos itens, chegou-se à sua versão final a ser utilizada no último estudo, tendo sido administrada a uma população 731 adolescentes dos 9º e 12º anos do Ensino Básico e Secundário da Região Norte, bem como a 685 respectivos pais.

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Depois de várias análises factoriais exploratórias, com rotação varimax, segundo o método de eixos principais (principal áxis factoring), encontrou-se a estrutura factorial mais coerente com as categorias definidas no estudo piloto e da revisão da investigação.

8.2. Estudo prévio de recolha de representações sobre os significados do trabalho na

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