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Conceptual subjacente ao SCCI (Savickas, 2002) e a sua estrutura inicial

QUESTÕES ESTRUTURANTES DA INVESTIGAÇÃO E RESPECTIVA METODOLOGIA

Factor 6:Orientação para actividades recreativas (6 itens): 5, 21, 28, 37, 45 e 53.

7. Tradução e adaptação do Students Career Concerns Inventory (SCCI) de M Savickas (2002) à população portuguesa

7.1. Conceptual subjacente ao SCCI (Savickas, 2002) e a sua estrutura inicial

O mundo actual vive um momento histórico de viragem, sobretudo nas sociedades pós-industriais, onde se registam grandes transformações, a uma velocidade vertiginosa, nas suas culturas através da modificação do significado atribuído ao conhecimento, à ciência, à autoridade, à diversidade, às realidades psicológicas e sociais, etc. (Savickas, 1995b). É neste contexto de transição que as interrogações científicas se colocam, espelhando e procurando compreender as transformações dos fenómenos do mundo.

Segundo Savickas (2002b), cada indivíduo, neste mundo em turbulência e imprevisível vai tacteando, procurando construir o seu espaço vital, concretizado na realização e integração dos múltiplos papéis sociais, na tentativa de controlar os teatros ou cenários de existência onde estes papéis são desempenhados. Assim, os indivíduos tomam decisões possíveis sobre o seu papel profissional dentro das circunstâncias impostas por papéis sociais conferindo significado à sua vida. Para perceber o universo vocacional é importante conhecer a rede de relações que ligam o indivíduo à sociedade. Os adolescentes e jovens que, inevitavelmente, se situam num momento privilegiado do seu desenvolvimento em que predominam actividades de exploração, durante o qual a sociedade lhes vai concedendo uma moratória de construção da identidade e também da sua identidade vocacional, esperando que consigam configurar percursos vocacionais, pelo investimento na educação/formação, através da qual vão fazendo as aprendizagens progressivas de como ser e como se tornar um profissional.

É nesta fase que o auto-conceito vocacional, definido como a concepção individual de atributos de si próprio que são considerados relevantes para um papel

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profissional, se começa a transformar em identidade vocacional (Savickas, 2002b). É através da interacção entre o self e as várias experiências proporcionadas ou inviabilizadas – exploração: relação do sujeito com o mundo (Campos & Coimbra, 1991) – que se começa a delinear a identidade vocacional dos adolescentes e dos jovens. Este processo inicia-se, no entanto, desde o primeiro momento do processo de socialização já que é indiscutível o papel de contextos como a família, a comunidade e a escola na formação de estruturas pessoais que possibilitam o desenvolvimento do auto- conceito vocacional (Gonçalves, 1997).

O Students Career Concerns Inventory (SCCI) tem subajacente a teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson (1963; 1968), operacionalizada nos estatutos de identidade de James Marcia (1966), que propõem que o desenvolvimento se processa ao longo do ciclo vital através do confronto que o self estabelece com o mundo através de tarefas específicas em cada etapa do desenvolvimento. A adolescência é uma fase decisiva em que o adolescente passa por uma moratória psicossocial para realizar a integração da identidade, recapitulando e redefinindo, autonomamente, as tarefas de desenvolvimento que foram acumuladas nas etapas anteriores, implicando confiança em si próprio e nos adultos, sobretudo nos significativos. Nesta fase, o adolescente é desafiado e pressionado pela sociedade (pais, família alargada, pares, comunidade de pertença, sistema de oportunidades de educação/formação…) a tomar decisões, em todas as áreas do seu desenvolvimento, sendo uma das tarefas fundamentais a escolha de um curso que o poderá preparar para a realização de um papel profissional (identidade vocacional). É da convergência das transformações biológicas e psicológicas, no confronto com os pedidos sociais (dimensões contextuais), que se vai construindo uma identidade realizada, pela qual o adolescente adquire um sentido subjectivo de si mesmo, caracterizado pela unidade, continuidade e mutualidade, que lhe permite reconhecer-se no presente, no passado e no futuro.

A partir desta perspectiva desenvolvimental que M. Savickas constrói o Students Career Concerns Inventory (SCCI) para avaliar os processos psicológicos que estão subjacentes na resolução das tarefas vocacionais com as quais são confrontados os adolescentes e jovens; ou seja, avaliar como este grupo alvo se sente preocupado e pressionado no processo de construção da sua identidade vocacional neste contexto de grande instabilidade pessoal e social. Este instrumento original é constituído por 45

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itens que se organizam em seis dimensões, tais como foram teorizadas pelo autor (Savickas, 2002a):

1ª Desenvolvimento da Confiança Vocacional: a confiança está associada a uma representação optimista quanto à possibilidade de concretização de objectivos vocacionais no futuro;

2ª Desenvolvimento de Controlo Vocacional: após o sujeito atingir confiança relativamente ao futuro vocacional, a preocupação com a aquisição de controlo em relação a esse mesmo futuro começa a imperar. O sentimento de controlo sobre a carreira e projectos vocacionais surge associada ao desenvolvimento de responsabilidade pelo próprio futuro;

3ª Desenvolvimento de Convicções Vocacionais: o sentimento de controlo dá lugar à preocupação com o que fazer o com o futuro; daí o desenvolvimento de convicções sobre o significado e lugar do trabalho na vida da pessoa. Estas convicções permitem responsividade, a qual, por sua vez, se manifesta por intermédio da cooperação e contribuição para a sociedade através de um papel profissional;

4ª Desenvolvimento de Competência Vocacional: o facto de se possuir convicções vocacionais orientadas para a comunidade, permite que o indivíduo comece a centrar-se em hábitos de trabalho e atitudes funcionais. A competência deve ser entendida como a capacidade do indivíduo para dar resposta às expectativas da vida;

5ª Exploração do Self e das Profissões: a auto-exploração e a exploração vocacional do mundo das formações e do trabalho são processos importantes que permitem um maior envolvimento no planeamento de projectos e investimento vocacionais;

6ª Escolhas e Investimentos Vocacionais: a maturidade vocacional do indivíduo também depende da sua prontidão ou disponibilidade para fazer escolhas e investimentos.

Não se apresentam os resultados do autor, porque quando foi contactado, pessoalmente, em 2002, estava, ainda, a decorrer o estudo piloto do Students Career Concerns Inventory (SCCI) nos Estados Unidos da América, autorizando-nos, inclusive incentivando-nos, a fazer o estudo piloto em Portugal, bem como a sua adaptação, facultando-nos todos os elementos disponíveis em manuscritos pessoais que ainda não tinham sido publicados.

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7.2. Estudo piloto do Students Career Concerns Inventory (SCCI, Savickas, 2002a) na população portuguesa (Gonçalves, Crespo, Ramos, & Coimbra, 2002)

Esta tarefa de realizar um estudo de desenvolvimento do Students Career Concerns Inventory, contextualiza-se no âmbito de um Projecto Europeu: “Venezia 2”, integrado no Programa Leonardo da Vinci da UE, em que participaram seis parceiros (Luxemburgo, França, Alemanha, Irlanda do Norte, República da Irlanda e Portugal). O Centro de Desenvolvimento Vocacional da FPCE UP, através de dois docentes e a colaboração de duas recém-licenciadas em Psicologia, foi o representante de Portugal neste Projecto. Embora, o projecto “Venezia 2”47 tivesse um objectivo eminentemente de intervenção, o parceiro português procurou, no âmbito do projecto, motivar os outros parceiros a produzir saberes, para melhor se poder intervir, sobre a população alvo: adolescentes pouco escolarizados que estão no mundo do trabalho sem qualificação profissional. Para tal propôs-se fazer um estudo sobre o desenvolvimento vocacional destes jovens e competências gerais. Na fase de pesquisa sobre possíveis instrumentos para avaliar o desenvolvimento vocacional surgiu este contacto pessoal com o Professor Marck Savickas que nos sugeriu a utilização do instrumento que estava a desenvolver nesse momento. A partir daí desencadeou-se o processo de desenvolvimento do SCCI ao contexto português. Resumidamente, enunciam-se os momentos fundamentais do processo:

1º Realizou-se a tradução do instrumento para a língua portuguesa, sendo revista por quatro investigadores, denominando-se por Inventário de Desenvolvimento Vocacional para Estudantes;

2º Realizou-se a reflexão falada do SCCI a cinco sujeitos que frequentavam o 2º ano de aprendizagem, que corresponde ao 8º ano de escolaridade, de uma escola de Aprendizagem em Alternância, para aferir a adequação da linguagem ao nível de desenvolvimento do grupo alvo e à realidade sócio-cultural portuguesa;

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O objectivo prioritário do “Venezia 2” era a construção de materiais psico-pedagógicos para a aprendizagem da língua materna e da matemática para adolescentes que deixaram o sistema regular de formação antes de terminarem a escolaridade obrigatória, e entraram no mundo do trabalho sem qualquer qualificação profissional.

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3º Realizaram algumas alterações48, em função das dificuldades sentidas e alterou-se o nível do Likert de 5 para 6, porque sistematicamente os adolescentes faziam a escolha da tendência central;

4º Acordou-se no grupo de trabalho (dois docentes e dois licenciados em Psicologia) a versão final do Inventário de Desenvolvimento Vocacional para Estudantes (SCCI), para a realização do estudo piloto;

5º Realizou-se o estudo piloto durante o mês de Maio de 2002, com uma amostra de 245 adolescentes;

6º Convidaram-se os outros cinco parceiros europeus a realizarem o mesmo estudo piloto nos vários países, e a fazerem a tradução do instrumento a partir do texto inglês. Disponibilizou-se-lhes um manual de instruções pormenorizado, em língua inglesa, para a administração do SCCI, uma vez que a maioria dos parceiros, sendo professores do ensino básico e secundário, não tinham experiência de investigação. Entregou-se, também, um documento, em inglês, dos resultados do estudo piloto que tinha sido realizado em Portugal, para terem uma orientação49;

7º Realizou-se o estudo de adaptação no início do 3º trimestre do ano lectivo de 2003/2004, no âmbito deste estudo.

O processo de tradução do SCCI até chegar à versão final e o estudo piloto foi conduzido pela equipa que colaborou no projecto “Venezia 2”, colaborando na administração dos questionários, no processamento dos dados e no tratamento e discussão dos resultados50

A amostra do estudo piloto foi constituída por 245 estudantes de escolas públicas do norte de Portugal, sendo 139 sujeitos de género masculino e 105 de género feminino. Destes estudantes, 134 frequentam o 10º ano num curso tecnológico e os

48

Para dar um exemplo de alteração: o conceito “carreira”, foi alterado por “projecto vocacional”, ou “desenvolvimento vocacional”.

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O projecto do estudo piloto do SCCI nos outros Países parceiros do “Venezia 2”, apenas se ficou pela intenção; porque envolviam-se mais na construção dos meios pedagógicos para a construção do CDROM do que na investigação proposta; daí o abandono da tarefa.

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O estudo piloto do SCCI-P deu origem a um poster da equipa do projecto “Venezia 2”, Ramos, Gonçalves, Crespo & Coimbra, ”In the word of career development: The pilot study of the Student Career Concerns Inventory to the

portuguese population”, apresentado na VIII Conference of the European Association for Research on Adolescence,

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restantes 111 frequentam o 9º ano +1. As idades variam entre os 14 e os 21 anos, sendo a média de 16,43 (vide Quadro 8).

Quadro 8

Distribuição da amostra segundo o ano lectivo e a idade

Ano de Escolaridade N Amplitude de idades Média 9º + 1 111 15 - 21 16,80 10º 134 14 - 18 15,96 Total 245 14 - 21 16,43

Depois da realização de várias análises factoriais exploratórias, com rotação ortogonal varimax, segundo o método de eixos principais (principal axis factoring), seguindo a estrutura proposta por M. Savickas na conceptualização e construção da escala (seis factores), a estrutura factorial, mais coerente, da versão portuguesa do instrumento SCCI é apresentada no Quadro 9:

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Quadro 9

Factores do SCCI-P e valores alfa de Cronbach de cada subescala

Sub-escalas Exemplos Itens % variância Alfa

Cronbach

Convicções Pessoais

“Comprometer-me a atingir os meus objectivos” (item 34);

“Assumir seriamente os meus objectivos” (item 27);

12 14,70% .92

Investimento

“Ter uma ideia clara sobre o que quero na vida” (item 19);

“Decidir sobre aquilo que quero fazer na vida” (item 23);

10 13,52% .90

Cooperação Vocacional

“Preocupar-me com as neces- sidades dos outros” (item 12);

“Relacionar-me com diferentes tipos de pessoas “ (item 5);

11 12,68% .90

Exploração Vocacional

“Entrevistar pessoas em profissões que eu gosto” (item 30);

“Discutir questões acerca do meu projecto de vida com professores e psicólogos” (item 14);

5 8,72% .79

Confiança

“Esperar que tenha um bom futuro” (item 9);

“Pensar acerca de como será o meu futuro” (item 1);

5 7,32% .76

Auto- exploração

“Saber de que modo as outras pessoas me vêem” (item 29);

“Conhecer pessoas com quem gostaria de trabalhar” (item 30);

2 1.94% .50

Total da variância explicada e Alfa do SCCI-P 58,88% .96

Da leitura e análise da estrutura factorial deste estudo piloto à população portuguesa tiram-se as seguintes conclusões:

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1.embora não se confirme neste estudo, integralmente, a estrutura factorial conceptualmente proposta pelo autor, no entanto apresenta fortes semelhanças. O único factor que não aparece no estudo piloto é “Desenvolvimento e Controle Vocacional” (Factor 2 do autor), cujos itens se distribuem fundamentalmente pela subescala 1 (convicções pessoais). Registe-se, como já anteriormente foi mencionado, que, até ao momento, a SCCI ainda estava em desenvolvimento, estando a decorrer o estudo piloto no E.U.A;

2. ao realizar-se uma análise factorial exploratória dos seis factores, na tentativa de testar a hipótese do autor, verifica-se a existência de uma sexta dimensão constituída por apenas dois itens, os quais, teoricamente e na proposta do autor, pertenciam à subescala 4 (de Exploração vocacional). Como este factor não contribui significativamente para a variância explicada e tem um valor alfa baixo decidiu-se, em futuros estudos de desenvolvimento da escala, abandonar estes dois itens (29 e 30)51. Também não parece ser coerente, do ponto de vista conceptual, duas subdimensões que segmentem a exploração do mundo, da exploração de si próprio, introduzindo clivagens num processo psicológico unitário, ou seja a exploração de si próprio é indissociável da exploração do mundo e vice-versa (Campos & Coimbra, 1991);

3. pelas qualidades psicométricas do SCCI-P (versão Portuguesa), quer a nível da consistência da estrutura factorial e dos valores alfa de Cronbach de cada subescala e da totalidade da mesma quer do valor elevado da variância explicada, pode afirmar-se que se está face a um instrumento que poderá prestar um contributo importante, em futuras investigações e na intervenção psicológica, para avaliar as dimensões a que se propõe.

7.3. Estudo de adaptação do Students Career Concerns Inventory (SCCI, Savickas,

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