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2.2 DE ONDE SE VÊ A CENA

2.2.3 Bastidores da Luz – Equipamentos e Espaço Técnico

2.2.3.3 As Ferramentas de Iluminação

Como os primeiros aparelhos de projeção de luminosidade foram fabricados na Europa e Estados Unidos, é comum eles serem chamados de Spot- light: “Denominação inglesa (pronuncia-se: spot-láite) de um pequeno projetor, de luz muito intensa e concentrada, usado para fazer incidir claridade maior sobre determinados detalhes da cena. Também se diz apenas spot” (Campos, 1989:92). Essa caixa, normalmente retangular, de emissão de luminosidade, possui internamente sua lâmpada e seu sistema como descrito anteriormente. Tal lâmpada, quando observada dentro do equipamento, emite luz para todos os lados, e a textura preta das paredes internas faz com que a luz emitida nessas direções seja absorvida e não rebatida de volta ou em ângulo desproporcional ao da luz da lâmpada. Esse equipamento, no formato com abertura em um dos lados, permite direcionar ou projetar esta luz para o objeto da cena desejado. Com a finalidade de auxiliar a luminosidade, implantou-se um sistema rebatedor atrás da lâmpada também chamado de “parabólica”, fazendo com que a luz direcionada para o fundo do equipamento seja refletida na direção da abertura principal ou lado em que se encontra a lente de ampliação. Talvez o fato de aproveitar a luminosidade para complementar à intensidade de luz do aparelho através do reflexo, tenha gerado no Brasil outro nome para o aparelho descrito anteriormente como ‘Spot’, pois passou a ser conhecido com o nome de Refletor. Sobre o entendimento do nome atribuído a esse equipamento, podemos refletir utilizando as anotações encontradas no Glossário de Termos Técnicos do

Espetáculo. Nele encontram-se as especificações para os nomes: Refletor e

Projetor. Refletor: “Equipamento de iluminação cujo cone de luz se abre ou se fecha pelo deslocamento da lâmpada em relação ao foco de um espelho côncavo, e não de uma lente como no projetor” (Campos, 1989:86).

77 Talvez compreendendo o significado real da ferramenta e de que os variados modelos apresentam diferentes formas da sua composição refletora interna ou espelho côncavo, e que em sua maioria não apresentam mais a característica de mobilidade da lâmpada em relação ao refletor, pois ele acompanha os movimentos da lâmpada, esta ferramenta de luz passa gradativamente, nos dias atuais, a chamar-se Projetor de luz. Esta mudança de nome encontra sentido no formato da ferramenta luminosa, pois a reflexão interna contribui na luminosidade, mas o aparelho em seu formato com abertura em apenas uma extremidade tem a função de “Projetar” a luz ou facho de luz para determinada direção e, através dos reguladores de tamanhos, projetá-la com determinado ângulo, tamanho e intensidade para compor a idéia ou atmosfera da cena. Essa determinação pode ser reforçada com a definição encontrada no

Glossário de Termos Técnicos do Espetáculo para Projetor:

Aparelho de iluminação provido de lente especial, da qual a lâmpada pode aproximar-se ou distanciar-se de modo a projetar um cone de luz mais aberto ou mais fechado; ao projetor é possível adaptar-se um disco de filtros coloridos (disco de cores). Dá-se às vezes ao projetor o nome inadequado de: refletor (Campos, 1989:82).

Os modelos encontrados no Teatro Álvaro de carvalho na década de 1980 eram: O “PC” no formato arredondado e, devido às frestas de ventilação interna dava a impressão de ser um grande sapo malhado de casca grossa, portanto na época e até os dias atuais este modelo arredondado é chamado de “sapão”. Nessa década o mesmo modelo, segundo o depoimento dos técnicos, era encontrado com lâmpadas de 500 e 1000 watz. Os modelos ‘elipsoidal’ “possuem ajustes de focos tipo “zoom”, diafragma circular ajustável (íris), obturadores “facas” que possibilitam recortes quadrados, retangulares, triangulares, etc” (Camargo, 2000:162). Essa ferramenta também permite a inserção de desenhos denominados como gobos, para projeção de efeitos figurativos na cena. Tem essa denominação por projetar uma luz na forma elíptica, permitindo um ponto focal mais concentrado entre a lâmpada e a lente que possui ajuste regulável, aumentando ou diminuindo o tamanho do facho luminoso. Essa ferramenta só foi usada no Teatro Álvaro de Carvalho no final da década de 1980, vindo na bagagem de grupos de teatro e dança, sendo com mais frequência através do

78 Ballet Stagium de São Paulo. Outra ferramenta de iluminação que fez parte dos espetáculos, no TAC, foi o PAR: Designação vinda do termo Parabolic Aluminized Refletor. Seu nome sempre foi confundido da composição em duas a duas. Quando chegou ao Brasil era composto somente por lâmpadas em 110 volts. Quando levados onde a rede elétrica apresentava característica de 220 volts tinham de ser ligados em série, dois a dois, daí a confusão do nome. O nome real vem da abreviação do sistema interno auxiliador da lâmpada na projeção de luz, a Parabólica que tem composição em Alumínio Refletor. O que se assemelha a um farol de automóvel, mais especificamente da marca Volkswagem popularmente chamado de fusca. Os primeiros a entrarem no TAC foram do modelo PAR 64.

Todos estes equipamentos emissores de luz não terão regulagem de intensidade na luminosidade se não forem conectados a dois sistemas fundamentais na geração da luz de cena e posicionados de forma oculta à visão do espectador, o modulador de potência e a mesa comando de iluminação. O modulador de potência fica localizado próximo à caixa de energia elétrica e permite a passagem de toda a corrente elétrica, distribuindo-a individualmente para os projetores. Esta ferramenta obedece ao comando emitido pela mesa e, através da ação do operador ou programação digital, aciona a intensidade de luz da ferramenta desejada na cena. Tem o formato de uma caixa retangular onde fica o sistema de “dimmer” controlador individual da corrente elétrica. Estes “dimmers” possuem distribuição de tomadas, duas a duas ou quatro a quatro, onde podem ser plugadas a fiação vinda diretamente dos projetores de luz. A quantidade de “dimmer” está definida pela quantidade de comunicação de canal do modulador com a mesa comando, 06 ou 12 canais. Pode ser conectado mais de um projetor por canal, mas nos sistemas digitalizados as mesas comandos de sinal podem se comunicar se programadas previamente com vários “dimmer” ao mesmo tempo, e acionarem quantos projetores de luz forem agregados ao canal da mesa e não somente os que forem conectados ao canal do Modulador de potência também conhecido como RACK.

No início da década de 1980 o Teatro Álvaro de Carvalho possuía somente projetores de iluminação modelo PC antigo, arredondados ou conhecidos como “sapão”; dentre os dados levantados nesta pesquisa não se conseguiu definir

79 quantidade de projetores existentes no início da década de 1980, no TAC. Os técnicos entrevistados que trabalharam no local, na década pesquisada, afirmaram que existiam tais equipamentos, sendo que outros modelos só apareciam quando grupos de teatro ou companhias de dança das grandes capitais vinham se apresentar e traziam estes materiais complementares. Ou, como foi o caso do Grupo de Teatro Armação, em 1982, que alugou equipamentos complementares para realizar o espetáculo Zumbi. Uma das grandes novidades trazidas para este espetáculo foram os projetores de luz PAR 64. Sua potência de luminosidade causou impacto, pois possuía um brilho mais intenso que os dos PCs. O diretor do espetáculo, Oraci Gemba, que já havia trabalhado na direção do Teatro Guairá, em Curitiba, e também dirigido vários trabalhos naquela casa, trouxe sua bagagem de conhecimento de equipamento para mostrar seu trabalho no Teatro Álvaro de Carvalho juntamente com o iluminador que trabalhava com ele em Curitiba, Beto Bruel, que era dono da empresa Tamanduá. Os equipamentos da empresa complementaram a carência do TAC e as necessidades do espetáculo.

Segundo o depoimento de Carlos Falcão35, que trabalhava no TAC e que

foi o responsável local pela iluminação do espetáculo, juntamente com os projetores PAR 64, também vieram de Curitiba, fiação complementar para instalar a quantidade de projetores de luz e uma mesa a mais, ficando o espetáculo com duas mesas de iluminação devido ao número de projetores e divisão de cenas a serem iluminadas. Já Euclides “Helinho” de Sousa36 afirmou em entrevista que as

lâmpadas que existiam nos projetores de iluminação “não eram a lâmpadas PAR de hoje né, então a luz era uma luz branca, branca, tanto era verdade que a luz era tão branca que todos os artistas tinha que carregar na maquiagem, na época, por isso, porque a luz era muito branca”. Euclides afirmou que era lâmpada modelo semelhante à lâmpada de projetor de slides e tinham pouco tempo de vida útil, pois queimavam rápido demais. Eram feitas para voltagem de 110 e tinham que ser ligadas duas a duas, pois a energia elétrica do Teatro Álvaro de Carvalho era de 220 volts. Na crítica emitida, no jornal O Estado, no dia 15 de agosto de 1982, pelo jornalista e diretor de teatro Mario Alves Neto, pode-se notar

35 Carlos Falcão. Entrevista Op. Cit.

80 o impacto causado pelo grande número de equipamento usado e luz nova, como os projetores PAR, e também confirmar a não existência de muitos aparelhos emissores de luz no TAC.

O cenário foi um perfeito ponto de apoio, mas a luz quis ser estrela, então não ajudou. Ela estava mais para o Guaíra do que para o TAC. O nosso Falcão, com seus poucos refletores, faria uma luz realmente para apoiar e valorizar ainda mais o trabalho do Armação.(O Estado 15 de agosto de 1982)

As lâmpadas PAR também foram trazidas a Florianópolis e ao Teatro Álvaro de Carvalho pela Companhia de Dança Ballet Stagium, conforme afirmação do entrevistado, Renato Conradi37 “ [...] porque eles traziam muitos

refletores que não se tinham aqui tipo lâmpada PAR, na época não se tinha lâmpada PAR aqui e eles já traziam [...] ”, segundo o depoimento dos entrevistados nesta pesquisa, esse grupo de São Paulo sempre trazia equipamento de iluminação em suas temporadas na região.

Quanto aos equipamentos existentes no TAC, na década de oitenta, os dados levantados apontam poucas definições de quantidade de aparelhos projetores de luz existentes no espaço. Em 1984, com o fechamento da casa para reforma, todo o equipamento de iluminação do TAC foi transferido para o teatro do Centro Integrado de Cultura, que iniciava suas atividades. As notícias anunciavam a compra de novos materiais de iluminação, mas não foi possível definir números dessa aquisição. O TAC somente reabriu para atividades cênicas em 31 de março de 1986, e sobre esses materiais as notícias não são esclarecedoras.

Um ano após a reabertura do espaço a polêmica se mantinha sobre a necessidade de equipamento de iluminação. Segundo Vera Collaço, no depoimento do jornal acima citado: “Após muito corre-corre vai ser colocado no TAC uma vara com 10 ou 15 refletores, uma mesa de luz trazida do CIC, mais ou menos umas 35 lâmpadas vindas de São Paulo, um tape-deck e as cadeiras já estão sendo consertadas”.

81 Em 15 de março de 1987 o diretor do TAC, Hamilton Roberto Faversani, trouxe a público, no jornal O Estado, o fato de que havia um projeto aprovado com verba do INACEN para aquisição de uma mesa de comando de 24 canais, quatro

Racks, dois multicabos de canais de 33 metros, e 70 refletores. O diretor afirmava

que a Fundação Catarinense de Cultura havia recebido verba de cinquenta milhões e comprado 70 lâmpadas alógenas que não serviam para uso nos equipamentos de iluminação do TAC. O Diretor relatou que o TAC havia recebido 25 refletores comprados com a verba do projeto e que 40 lâmpadas incandescentes haviam sido compradas, mas que o teatro só recebera 10 até a data da publicação do fato no jornal. Sobre esse fato o diretor da Fundação Catarinense de Cultura, Senhor Augusto Parcias, esclareceu dizendo:

A compra do material de iluminação do TAC ocorreu com absoluta lisura e regularidade, sendo as lâmpadas adquiridas na instaladora Santa Rita, de Florianópolis, e que na licitação para os refletores apenas uma empresa de São Paulo cotou preço, ainda assim muito elevados, diante disso, diz Parcias, ‘a comissão de licitação optou no sentido de deixar pra outra oportunidade a compra de refletores, numa concorrência de que participassem no mínimo três licitantes (O

Estado, 06 abr 1987).

Parcias complementou que a aquisição de equipamentos com dinheiro do INACEN foi feita conjuntamente, em São Paulo, pelo sr. Hamilton Faversani e o chefe do setor de compras da Fundação. Mesmo com todos estes apontamentos não se consegue, através destas notícias, se definir um número exato de equipamentos de iluminação ou modelo de projetores de luz existentes no TAC. Somente em um relato divulgado no jornal O Estado, em 20 de maio de 1987, onde aponta a substituição do diretor da casa, é que números mais exatos são descritos “No mais, a iluminação ‘atende perfeitamente as necessidades’, com os 50 refletores disponíveis”. Não se aponta dados sobre modelos dos mesmos, tipo de mesa de iluminação ou moduladores “Rack” de potência.

Algumas companhias cênicas que vinham dos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo e que objetivavam uma boa iluminação em seus espetáculos, traziam equipamentos complementares, como foi o caso citado pelos técnicos entrevistados que trabalhavam no TAC. As companhias, além dos

82 refletores PAR, traziam refletores GCB, moduladores Rack de potência diferente dos existentes no teatro, e mesas de iluminação. Segundo depoimentos de Euclides Helio de Souza e Daniel Lins38 existia na casa, na década de oitenta, refletores de iluminação da marca GCB de São Paulo. Estes refletores eram de mil e de quinhentos watts, os mesmos descreveram que os de mil eram usados para a iluminação vinda de frente ou geral, e os de quinhentos se usava na posição de contra luz ou projetores de luz posicionados nas varas atrás da cena.

Sobre a aquisição de equipamentos de iluminação, tanto Carlos Falcão Lins como Daniel Lins afirmaram que não houve aquisição de material novo na década de oitenta, somente lâmpadas para os já existentes. Segundo Daniel Lins, em seu depoimento “[...] em oitenta, o único equipamento que eles compraram lá, eles compraram um canhão de dois mil que esse aí, na época até era novidade”. Salvo estes apontamentos, não se encontram mais informações sofre aquisição ou reposição de equipamentos de iluminação cênica na década de 1980, no TAC.

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CAPÍTULO III - A LUZ DO APRENDIZADO

: Bastidores do

Conhecimento

Neste capítulo, analiso os profissionais técnicos, com apontamento específico na área de iluminação, que atuaram nos bastidores do Teatro Álvaro de Carvalho na década de 1980. Normalmente, (tirar vírgula) esses profissionais são, em sua grande maioria, invisíveis para o espectador que frequenta uma casa de espetáculos, mas, é nas habilidades técnicas que está em jogo a boa construção da cena final. Este capítulo, portanto, se volta para o corpo técnico que sustenta os bastidores teatrais. O foco central dessa abordagem é de como se deu a apropriação e disseminação do conhecimento técnico de iluminação, na década de 1980, no Teatro Álvaro de Carvalho. Um dos elementos centrais deste capítulo é a figura do iluminador Carlos Falcão, onde procurei acrescentar dados e argumentos, enfatizando a sua pessoa como chave no processo de ramificação do aprendizado da iluminação e disseminarão desse conhecimento em Florianópolis, bem como no Estado de Santa Catarina, ao longo da década citada. 3.1 PINCELADAS DE DEFINIÇÕES

Apresento como conjunto significativo para este trabalho as definições compostas pelas palavras “corpo técnico”. Desdobrando os termos deste conjunto temos “Corpo: Grupo de pessoas consideradas como unidade ou como conjunto organizado” (Aurélio, 1993:148). Ainda do mesmo dicionário complemento o sentido com a palavra “Corporação” que ele define como sendo uma “associação de pessoas da mesma profissão ou outra atividade, sujeita à mesma regra e com os mesmos deveres ou direitos” (Aurélio, 1993:148). Seguindo esta lógica percebe-se que a palavra “técnica” implica em uma arte, um ofício, podendo referir-se a um conjunto de processos de pessoas de uma mesma arte ou ciência.

Para os fins deste trabalho estou lidando com um “corpo técnico” da cena ou para a cena, ou seja, estou pensando num conjunto composto por pessoas que desenvolvem atividades afins, orgânicas num processo que se constitui no espetáculo, na ação cênica em seu corpo completo e não somente a cena visível ao espectador; então estou pensando em um conjunto de pessoas com uma arte

84 específica ou ciência técnica com benefício direto na sensibilidade de interpretação que o espectador fará sobre todo o espetáculo artístico.

A aprendizagem das funções técnicas, no teatro brasileiro, não ocorria e, ainda em sua maioria, não ocorre através de ensino acadêmico. A bibliografia, no Brasil, sobre estas atividades, ainda são escassas. O conhecimento era, e ainda o é, adquirido devido a um interesse pessoal e longo acompanhamento da atividade em uma dedicação de tempo, paciência e atenção, como um pupilo que segue os ensinamentos de um mestre.

A preservação e divulgação de vocábulos, notadamente daqueles mais diferentes ligados ao artesanato do palco, fazia-se basicamente por transmissão oral, no pequeno grupo de especialistas que detinham quase a sua exclusividade (Campos, 1989:05). Ao falarmos do corpo técnico do palco, ou da cena de um espetáculo, estamos falando de maquinistas, iluminadores, sonoplastas, cenógrafos, carpinteiros, pintores de cenários, eletricistas, operadores de luz, som e vídeo, etc. Mas, os profissionais enfatizados nesta pesquisa são os encarregados pelo bom êxito da área de iluminação, que permite ao espectador ver de forma bem clara ou em penumbras os fatos narrados através das cenas. Descrevo a seguir as funções de forma distinta, mas a mesma pessoa pode executá-las num espetáculo: o técnico eletricista, o operador dos comandos de luminosidade e o iluminador. Essas descrições se fazem necessárias para entendermos também o processo de aprendizagem das mesmas, no Teatro Álvaro de Carvalho.