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1.4 REFORMAR OU DEMOLIR???!!!

1.4.1 Outras reformas nem tão radicais

Outra reforma no teatro, não tão radical como a de 1955, se deu em 1975, sob a responsabilidade do Departamento Autônomo de Edificações, ligado ao Executivo estadual e coordenado pelo arquiteto Osmar Grubba. Tal reforma se dirigiu preferencialmente à parte interna do teatro. Com relação ao arcabouço externo ela significou apenas “troca de parte da estrutura da cobertura, que recebeu telhas de fibro-cimento” (Schmitz, 2005:55).

Na década de 1980, o Teatro Álvaro de Carvalho recebeu reformas e sua fachada externa modificou-se em alguns detalhes. Em março de 1984 o espaço foi fechado para os procedimentos de manutenção e reforma, porém as obras, devido a percalços administrativos da Fundação Catarinense de Cultura, só tiveram início em novembro daquele ano. Os arquitetos responsáveis pelas obras foram: Lilian Mendonça Simon, Edson Francisco Mendonça, Fátima Regina Althoff e Carlos Sandrini, integrante da Unidade de Patrimônio Cultural,

41 pertencentes à Fundação Catarinense de Cultura.19 A obra se estenderia de 1984

a 1986, período em que o recinto ficou fechado para as atividades teatrais. As suas atividades transferiram-se para o Teatro do Centro Integrado de Cultura, inaugurado em 1982.

Num primeiro momento os arquitetos pensaram em buscar o modelo do início do teatro, devolver-lhe a estrutura de origem. Mas “a falta de documentação que revelasse os desenhos, detalhes e materiais utilizados no passado impediram a realização desse anseio” (Schmitz, 2005:66). Também a profunda modificação realizada em 1955 dificultava qualquer possibilidade de retorno. Assim, afirma em artigo publicado a arquiteta Lilian Mendonça Simon (In. Schmitz,1994:41): “A equipe técnica responsável pelo projeto primou pela neutralidade da intervenção, buscando sempre a identificação dos novos elementos introduzidos através do uso de materiais e formas atuais”. Pela fala de Lilian somos informados de que as modificações externas foram de pequena monta:

A revisão da estrutura do telhado mostrou que as pontas das tesouras estavam apodrecidas e que o risco de colapso da cobertura era iminente. Foram executados apoios em concreto e as tesouras danificadas restauradas. As telhas de fibrocimento foram substituídas por telhas cerâmicas do tipo francesa para melhorar o conforto térmico (Simon, In. Schmitz 1994:41).

Outra intervenção na fachada foi motivo de risos e galhofas na cidade. Quando pronto, o TAC apareceu “cor-de-rosa”! A reabertura, após tanto tempo fechado, se deu com uma produção que reuniu vários grupos locais e recebeu a denominação de O teatro visto da ponte (Schmitz, 2005:67).

Por fim, assinalo mais uma intervenção, que se estendeu de março a setembro de 1989, mas que ocorreu apenas na estrutura interna da edificação, o que será abordado no próximo capítulo. Assim, encerra-se a década de 1980 com o teatro sendo novamente reformado e entregue ao público em fins de 1989.

42 1.4.2 A gerência do teatro

Para preparar a entrada nessa edificação, o que farei no próximo capítulo, desejo apresentar, mesmo que de modo breve, os diferentes encaminhamentos que se deram no processo de gerenciamento desse teatro.

Assim que o governo estadual assumiu o teatro, ele o entregou, por meio de licitação, ao responsável pelo término da sua construção, o tenente-coronel José Feliciano Alves de Brito. Essa “transferência” ocorreu em 1874, o que possibilitou o término da obra e a sua inauguração oficial em 07 de setembro de 1875. O construtor, por meio da Lei provincial no 736, de 16 de maio de 1874, ganhou o direito de usufruir do espaço e de seus dividendos até que o governo liquidasse a dívida com o empreiteiro. Alves de Brito tornou-se, de fato, o primeiro “gerenciador” do novo teatro. Como não conseguia manter o espaço e o governo não desejava recebê-lo e quitar antecipadamente sua dívida, o empresário arrendou o espaço por dois anos, a partir de 1877, para Moyses William Comsett, um fotógrafo de Desterro.20

No final de 1878 o Governo liquidou a dívida com o empresário e assumiu o teatro. Coube à administração pública, a partir daí, o arrendamento deste espaço. Em fevereiro de 1879 o poder administrativo arrendou o recinto para José de Araújo Coutinho (1851-1907) e João Gil Ribas.21 Esses arrendatários, observa Collaço (1984:64), “eram responsáveis pelas atividades desenvolvidas em seu interior, cabendo a eles organizar a vinda de companhias, bem como ceder datas para as sociedades particulares locais”. Porém, o Governo provincial toma as suas precauções administrativas:

Mantém uma pessoa como elemento de ligação, na figura do fiscal do teatro. Em 1879 é nomeado para esta função o capitão- tenente Francisco de Paula Senna Pereira da Costa. O seu objetivo era fiscalizar para a Fazenda provincial o cumprimento do contrato de arrendamento, bem como zelar pela conservação do edifício e objetos a ele pertencentes (Collaço, 1984:64).

20 O Conservador. Desterro, 13 de outubro de 1877. 21 Relatório. Desterro, Typ. da Regeneração, 1878, p. 21.

43 Portanto, o ‘fiscal do teatro’ foi a primeira pessoa encaminhada pelo governo Provincial para atuar nos “bastidores” do teatro. O fiscal fazia a ponte entre o controle do estabelecimento e a Fazenda Provincial, zelava pelo cumprimento do contrato e pelo patrimônio governamental existente no edifício. Francisco de Paula, o primeiro fiscal do teatro, ocupou o cargo até o ano de 1888. E coube à Fazenda Provincial ser o primeiro órgão do Executivo ao qual se vinculou a casa de espetáculo, recém inaugurada.

No ano de 1882 o teatro foi arrendado para Virgílio José Vilella, pelo período de três anos. Em 1884 o governo provincial criou uma comissão para agilizar os consertos e pintura do teatro, que mais uma vez estava em péssimo estado. A comissão era composta por um representante da Procuradoria Fiscal, um da Tesouraria da Fazenda e pelo Fiscal do Teatro. Essa comissão sugeriu e o governo provincial aprovou a sua transformação em Comissão Administradora do Teatro. Isso se deu em 22 de dezembro de 1885, com o Primeiro Regulamento aprovado para o teatro. Esse regulamento, segundo Collaço (1984:65), foi o que estabeleceu cargos e funções para os trabalhadores da casa de espetáculos. Através desta mesma fonte se tem conhecimento que à 7 de janeiro de 1889, um Ato Provincial aprovava um novo Regulamento para o teatro, que alterava o anterior em alguns detalhes, especialmente nas competências do Fiscal do Teatro, diminuindo-lhe sua capacidade de ação.

Após o período imperial, temos mais três pessoas que ocuparam o cargo de Fiscal do Teatro. Em 1890 foi a vez de Horácio Nunes Pires (1855-1919), renomado dramaturgo, poeta e romancista local, que permaneceu pouco tempo no cargo; logo o passou para Emílio Blum (1861-1891). O último a ocupá-lo neste período histórico foi João Custódio Dias Formiga (1838-1893) que foi nomeado pela Resolução Provincial no 44, de 6 de fevereiro de 1891. Os dois últimos foram homens influentes na política catarinense. Emílio Blum foi prefeito de Desterro, entre 1890 e 1891, Deputado Constituinte em 1890 e Deputado Federal de 1894 a 1896. E João Formiga foi duas vezes Deputado da Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina, nas legislaturas de 1886-1887 e 1888-1889.

Faço esta observação para destacar que o gerenciamento do teatro estava nas mãos da elite intelectual, política e econômica da pequena Nossa Senhora do

44 Desterro, capital da província. Com a República e a partir da intervenção federal em Desterro, devido à Revolução Federalista, encontramos o artista plástico, dramaturgo e ensaiador Joaquim Margarida exercendo, em 1894, a função de Fiscal do Teatro. Margarida ocupou a função até o ano de 1899, quando se demitiu do cargo (Collaço, 1894:71). Em 6 de março de 1900 foi nomeado para o cargo José de Araújo Coutinho, antigo arrendatário do teatro.22

A partir de 1901 o sistema administrativo do governo do estado estabeleceu novas formas de conduzir os espaços culturais. Com a Lei nº. 518 – de 04/09/1901, foi criada a Secretaria Geral dos Negócios do Estado – à qual se vinculou a Educação e o Teatro Álvaro de Carvalho. Mais tarde esse órgão passou a ser chamado de Secretaria dos Negócios do Interior e Justiça e o teatro continuou sendo a ela vinculado. Foi a partir desse período que o Teatro Álvaro de Carvalho passou a ser arrendado para as empresas de cinema. Inicialmente foi cedido ao Cine Variedades e, sem conseguirmos nesta pesquisa uma data definida, passou então a ser chamado Cine Paramount e posteriormente de Royal Cine Teatro.

A partir do ano de 1942, através do Decreto Lei nº. 658 – de 04/07/1942 se propõe nova configuração administrativa para o controle dos espaços culturais. A nomenclatura e a estrutura muda para: Secretaria da Justiça, Educação e Saúde. Mais tarde, no ano de 1949, aparece com o nome de Secretaria dos Negócios da Educação e Cultura. Em todos esses períodos o TAC continuou a ter as atividades simultâneas de cinema e teatro. Uma nova modificação administrativa só ocorreu depois da grande reforma de 1955, mais exatamente em 30/04/1956, através da Lei nº. 1663. Passou a denominar-se Secretaria de Educação e Cultura, com 4 diretorias: sendo elas – Administração, Estudos e Planejamento, Ensino e Cultura. Ao iniciar a década de 1960 o TAC ainda estava vinculado a este órgão e era seu diretor o crítico de arte Sálvio de Oliveira. Foi seu sucessor o animador cultural Murilo Pirajá Martins, que permaneceu no cargo de junho de 1961 a março de 1963. No ano de 1961 foi dado mais um passo importante para

22 José de Araújo Coutinho foi um significativo representante da política catarinense, que por três

vezes esteve na legislatura estadual, a primeira vez como Deputado no Congresso Representativo de Santa Catarina, entre 1891-1893; depois na Assembléia Legislativa de Santa Catarina, de 1894-1895 e de 1896-1897.

45 a gestão pública no que se referia à cultura. Instituiu-se, através da Lei n. 2.975 – de 18/12/1961, o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina. Esta pesquisa não conseguiu notícias dos anos seguintes e de quem administrou o TAC.

Em 1968 o ator Paulo Autran, ao término de uma apresentação no TAC, fez uma declaração criticando a sujeira e o abandono em que se encontrava o teatro. O governo estadual, na gestão de Ivo Silveira (1966-1971), respondeu rapidamente, nomeando como diretor do TAC Luis Alves da Silva, que na época servia na Diretoria da Cultura. No dia seguinte à posse do novo diretor, uma faxina geral retirou três caminhões de lixo da parte interna do teatro. Luiz Alves ficou como diretor de 1968 a 1973. Já em 1975 era diretor do TAC o jornalista Mauro Júlio Amorim. No ano de 1979 o Teatro Álvaro de Carvalho que esteve subordinada a diferentes órgãos do Estado, passou a ser gerenciado pela Fundação Catarinense de Cultura, organismo estatal criado naquele ano, e segundo o depoimento de Carlos Falcão, era diretor do TAC em 1979, Hamilton Faversani. No ano de 1980 foi instituída a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo a qual se vincula a Fundação Catarinense de Cultura. Faversani permaneceu no cargo de diretor do TAC até 1986, com a chegada de Cláudio Morais. Este era um servidor da casa e segundo seu depoimento23, trabalhou

como técnico de iluminação de 1963 até o ano de 1979. O mesmo encontrava-se afastado e retornou ao teatro para assumir como diretor. Sua saída do cargo ocorreu somente no ano de 1991, ano em que finda nosso foco de pesquisa. Quanto ao órgão governamental, ainda ocorreram mudanças em sua estrutura. Pela Lei n. 8.240, de 12/04/1991, o nome alterou-se para Secretaria da Educação, Cultura e Desporto, a qual em 1995 transformou-se em Secretaria de Estado de Educação e Desporto. Novas mudanças ocorreram no ano de 2002, com o surgimento da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Desporto. A esta Secretaria agregaram-se a Fundação Catarinense de Cultura e todos os órgãos pertencentes a ela, como o Teatro Álvaro de Carvalho e seu quadro funcional.

Conclui-se nessas escritas, um panorama sobre a história desse importante espaço cênico e sua relação com o entorno e interferência social na cidade de Florianópolis.

46 CAPÍTULO II - O TEATRO VISTO DA PONTE: iluminar os bastidores

Neste capítulo objetivo conduzir o leitor-espectador por diferentes portas de acesso ao interior do Teatro Álvaro de Carvalho. Desta forma, vamos entrar na edificação, não para ver o espetáculo, mas para perceber condições espaciais deste recinto que possibilitam a realização da obra cênica. Conhecer suas escadarias, platéia, palco, bastidores, subterrâneos e acessos internos, quase sempre não elucidadas suas necessidades e funcionalidade aos seus assistentes de eventos artísticos. Neste caminhar pelos espaços internos do teatro devo realizar uma ponte com o passado, gerar luz a diferentes momentos de transformações do seu interior, para com isso reconstruir os passos que levaram a sua configuração tal como a encontrada na década de 1980. Procuro trabalhar, também, as transformações nos equipamentos técnicos dessa casa artística.

Falar dos bastidores desse teatro, no século XIX ou em quase todo o século XX, é falar pela via negativa. As informações do que nele foi realizado ou do que foi adquirido nos chegam pelos registros da imprensa local. Nela se pode ler sobre as dificuldades enfrentadas pelas companhias ou pelos espectadores durante as representações em seu interior. Acompanha-se, nesses passos, de forma gradativa, um iluminar moroso para as atividades artísticas. As resenhas jornalísticas permitem, também, um olhar para os procedimentos administrativos dos órgãos públicos. Não existia, e ainda não existe, uma política preventiva para esses estabelecimentos. Tudo o que é realizado resulta de pressão social e da deterioração total do bem sob a responsabilidade do Estado.

2.1 AS REFORMAS INTERNAS NO TAC – configurando um palco à italiana

O teatro, ainda inacabado, foi utilizado pela primeira vez a 08 de junho de 1871 “pela Associação Bohemia Dramática Paulistana, que acomodou o melhor

47 que lhe foi possível dentro do edifício não terminado do Theatro Santa Izabel”.24

Sobre a condição desse espaço, que ainda não estava pronto para sua inauguração, encontramos a seguinte observação:

O abandono do Theatro Santa Izabel, não obstante os esforços do diretor, não oferece aos espectadores o cômodo que seria para desejar, tornando-se necessário ao menos na platéia colocar estrados ou abaixar um pouco mais os bancos inferiores (A

Regeneração, 11 jun. 1871)