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Algumas vezes o teatro, ao longo de sua história, quase teve outro destino, tal como o que foi expresso pela Lei provincial n. 685, de maio de 1872, que no seu artigo 3º, no seu parágrafo 11, projetava: concluído o “prédio que pertenceu a empresa do Theatro de Santa Izabel, para nele funcionar a assembléia e repartições provinciais [...]” (Collaço, 1985:55). Desejo que não foi concretizado, ainda bem!

Mas em dois outros momentos significativos da história da cidade e do Estado, o teatro teve outros usos que não o da representação cênica. O primeiro se deu com a Revolução Federalista de 1893, quando, no Governo do interventor, o coronel Antônio Moreira César (1894), o teatro e todos os espaços públicos da cidade serviram de prisão para “guardar” os revoltosos.15 Foi um período em que,

[...] a capital catarinense viveu dias de temor, com a população temendo sair às ruas. “O silêncio, o recolhimento, o andar soturno dos habitantes horrorizados, faziam contraste lúgubre com a algazarra e o desmando, com as petulantes maneiras e sinistras

15 Sobre este assunto ver: MEIRINHO, Jali. A República em Santa Catarina. Florianópolis: UFSC:

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ameaças dos selvagens soldados, que enchiam as ruas e praças” (Meirinho, 1982:64).

Mais um uso fora da situação cênica se deu em 1956 quando, devido ao incêndio que destruiu o belo edifício da Assembléia Legislativa de Santa Catarina, esta entidade teve “uma brevíssima passagem pelo TAC”.16

No século XX o Teatro Álvaro de Carvalho iria ter outros usos, mas na maior parte das vezes se respeitava seu caráter de espaço artístico. Assim, ele foi usado como ringue de luta livre, cinema e também salão para os bailes municipais de carnaval, “obedecendo a um costume bastante difundido em muitas cidades do Brasil até os anos de 1950/1960 de serem os bailes públicos dos festejos de Momo feitos nos teatros” (De Paula, 2009:30).

1.3.1 Bem na fita, mal na cena. Meio século de cinema

Em boa parte dos primeiros cinquenta anos do século XX, o velho casarão da Praça Pereira Oliveira esteve dividido entre ser uma casa de espetáculos e ser uma sala de exibições cinematográficas. Seguiu-se a tendência nacional de ceder espaço ao novo entretenimento que surgia no país. A dupla ocupação data do início do século XX e a esquina da Rua dos Ilhéus com a Rua Marechal Guilherme tornou-se o ponto de encontro da elite cultural florianopolitana. As funções podiam ocorrer, ainda, uma após a outra, num mesmo programa. Apresentavam-se esquetes teatrais, peças curtas, atos variados, recitais e/ou declamações e após assistia-se a um filme nesse espaço, tal como aponta o texto a seguir: “Em 1903, os jornais da Capital davam conta da exibição conjunta de um espetáculo de contorcionismo e, no cinematógrafo, da fita Paixão segundo Jesus

Cristo” (Schmitz 2205:48).

O primeiro cinema a instalar-se no TAC foi o Cine Variedades, depois foi a vez do Cine Royal, que, a partir de 1930, transformou-se em Cine Odeon. Os

16 Sobre o assunto ver: CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. Vol. 1 Notícia.

34 nomes deste teatro variaram bastante na década de 1930. Como observa Leon de Paula, o TAC foi chamado de:

Cine Variedades, Cine Paramount, Royal Cine Teatro e Cine Odeon. As mudanças do nome aconteciam em virtude de arrendatários que, ao entrarem em acordo com o proprietário do prédio (neste caso, o governo do Estado), lhes era concedido o direito de explorarem o imóvel para a diversão pública e até mudar o nome do prédio (De Paula 2007:98-99).

O espaço, quando era alugado para utilização como cinema, os seus arrendatários ainda reservavam uma pauta para os espetáculos cênicos e de variedades. Nas primeiras décadas do século XX o TAC continuou sendo um misto de cinema e teatro, mas sua administração ainda deixava percalços de descuidos na conservação do estabelecimento. Esse recinto também era utilizado pelos grupos amadores locais, mas os mesmos, na maioria das vezes, mantinham também suas atividades fora do TAC, em espaços adaptados para esse fim. Isso ocorria devido aos problemas de gerenciamento do prédio, como se percebe na seguinte informação: “Desde que, por uma rescisão de contrato existente entre o Governo do Estado e uma empresa cine-teatral, o velho TAC fechou as suas portas” (O Estado, 11 out. 1932). Ou ainda pelas diversas necessidades de reforma no edifício, ou também pelo espaço estar priorizado para a projeção de filmes, como se percebe na critica de Agenor Nunes Pires:

Não sou contrário ao cinema, mas acho que o governo do nosso Estado, que vêem (Sic) demonstrando sua grande atividade em todos os setores de sua elevada administração e que tão alto tem sabido levar a terra catarinense, podia também proporcionar a nossa população um pouco d’aquilo que todas as capitais do Brasil, gozam [...] o bom teatro. O teatro devia estar sempre a disposição das companhias e dos grupos dramáticos, sendo ocupado pelo cinema quando não existisse esses casos (Diário da

Tarde, 13 set. 1939, grifo nosso).

Os primeiros anos de 1930, a década revolucionária, foram de poucos espetáculos teatrais no TAC. Os anos se passaram e as representações se escassearam pela região, o que pode ser atribuída a reflexos das constantes reclamações das precariedades do espaço ou às mudanças políticas ocorridas no

35 país devido à implantação do Governo Vargas. Sobre isso descreve a notícia do jornal local O Estado de 8 de setembro de 1934: “A Vinda de Troupes de vulto – Líricas ou dramáticas – é que tem rareado lastimosamente. O encarecimento da vida diminuiu o número dos que podem alimentar a frequência ao teatro”.

Ao final de 1930 os jornais descreviam a interferência do sistema elétrico, que fora denotado deficiente no início do século, agindo nas atividades cênicas do TAC. O jornal Diário da Tarde, de 12 de julho de 1939, relatava às péssimas condições de conservação do espaço físico do teatro. Meses depois essas deficiências chegariam ao seu ponto máximo e desembocariam diretamente na encenação ali apresentada. O espetáculo da Companhia Nacional Ribeiro Cancela intitulava-se O Homem que Fica e o programa afirmava ser uma crítica ao antigo regime político. A imprensa salientou que a luz apagou-se quase ao final do espetáculo. Não escreveu a noticia se houve uma queda de energia ou outro tipo de incidente teria ocorrido para prejudicar arepresentação.

O Teatro Álvaro de Carvalho funcionou como cine-teatro até os anos de 1950 e nesse período, além da exibição de filmes, recebeu espetáculos de nomes consagrados nacionalmente como Procópio Ferreira, Oduvaldo Viana, Alda Garrido, Joraci Camargo, Cacilda Becker, Bibi Ferreira e Jardel Filho.