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3.2. AGENTES DA ILUMINAÇÃO NO TAC

3.3.2 Grupos e Companhias

Algumas das companhias cênicas que aportavam para apresentações no TAC, na década de 1980, tanto nacionais como internacionais, traziam em suas bagagens a efervescência dos movimentos de vanguarda iniciados em anos anteriores, tanto no sentido cênico como nos materiais de bastidores ou traquitanas, projetores de luz e elementos de cenários. Os grupos locais puderam observar, na década de 1980, os caminhos e soluções encontradas nestas representações de espetáculos. Era o aprendizado pelo outro, pelo possível de observar, o espelho inovador.

Os espetáculos do Ballet Stagium56 se encontram entre os mais citados pelos entrevistados, como exemplos de aprendizado através da observação e participação no auxílio à montagem do aparato cênico. O grupo paulista sempre trazia em sua bagagem materiais inovadores e profissionais pertencentes a uma empresa especializada em equipamentos de iluminação, a GCB, do empresário italiano radicado no Brasil, Gean Carlos Bortoloto.

De 1980 a 1987 este corpo de dança, e suas inovadoras ferramentas luminosas que acrescentavam às cenas os belos efeitos de luz, fizeram constantes apresentações por Florianópolis, sempre trazendo os seus conceituados espetáculos, tais como Serestas e Valsas Brasileiras e Coisas do

Brasil (O Estado, 13/05/1980); Estudos brasileiros n. 1 Maracatu (O Estado, 04/11/1981); Uirapuru, Mandarim Maravilhoso, Vida, Mundo em chamas, Qualquer maneira de amar vale amar e Santa Maria de Iquique (O Estado,

03/05/1983); e, Preludiando em lá menor, Canto do cisne negro, Quarteto n.17,

56 O Ballet Stagium surgiu em São Paulo no ano de 1971 e foi fundado pelos coreógrafos e

bailarinos Marika Gidali e Décio Otero; no ano de 1972 já realizavam sua primeira viagem internacional para se apresentarem em Buenos Aires, Argentina. Desenvolveram uma sólida carreira nacional e internacional. Buscaram para trabalhar com criações de espetáculos em sua companhia, coreógrafos renomados em outros países, mantendo-se atualizados com as novas tendências na dança, mas sem perder a característica de dialogar com a cultura regional do país.(Otero, 1999)

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Homenagem a Bidu Sayão, Pás de Deus e Alma brasileira (O Estado,

18/06/1987).

Sobre os equipamentos trazidos pelos grupos de dança, Conradi afirma que as equipes técnicas que aqui chegavam estavam envolvidas com profissionais da fábrica GCB de São Paulo e, desta forma, sempre em dia com as novidades do mercado. Este envolvimento, principalmente do Ballet Stagium, era motivo de expectativa pelos técnicos locais que aguardavam a passagem dos seus espetáculos para digerirem novos conhecimentos e produtos recém chegados nas grandes capitais.

O Ballet Stagium influenciou muito no nosso aprendizado em termos de afinação, porque eles eram muito... não vou dizer exigentes mas eles... gostavam de um trabalho bem feito, então com eles a gente acabou aprendendo muito em termo de afinação de luz... porque eles traziam muito refletores que não se tinham aqui tipo lâmpada PAR, na época não se tinha lâmpada PAR aqui, e eles já traziam. GCB, refletores GCB, Rack GCB diferente do Rack do teatro, mesa... que não se tinha (Conradi).

Outro técnico que declarou-se influenciado pelos equipamentos que acompanhavam o Stagium foi Euclides Helio de Souza. Ele afirmou que o Grupo sempre dispunha de materiais de ponta, ou seja, sempre com as novidades na área de iluminação e som. Helinho declarou que levou um susto ao conhecer os materiais técnicos, pois estava diante das mais recentes novidades mundiais. “aí já na base de som, uma das coisas que a mim me interessava muito, eles chegaram com caixas Bose, a gente nem conhecia, a gente nem sabia o que era aquilo”. Euclides deu seu testemunho de que a companhia de dança viajava com equipamentos da fábrica GCB de São Paulo e também outros materiais importados. Estes materiais traziam junto a necessidade de domínio técnico e tais conhecimentos ficavam, mesmo que parcialmente, com os técnicos locais, como afirmou Helinho:

[...] e a iluminação né, que eles vieram com todo o material da GCB, que era o, o que tinha de melhor no Brasil na época, e já vieram com o PCs, e com os elipsos também, eles chegaram a usar elipsos, foi a primeira vez que eu tive contato com, com esses elipsos modernos pequenos, eu não conhecia, só conhecia aqueles grandes da GCB, e aqueles elipsos pequenos eu não

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conhecia, eu nunca tinha visto, eles eram todos alemães, aqueles, aqueles elipsos, eram alemães, estavam vindo da Alemanha, eles tinham feito uma turnê e tinham conseguido comprar. Então foi assim uma coisa que realmente, dentro do conceito de iluminação para a época foi uma coisa grandiosa (Souza).

Carlos Falcão também expôs sobre a influência provocada pelos espetáculos do Ballet Stagium. Segundo alguns técnicos entrevistados, e não diretamente exposto por ele, Falcão chegou a receber um convide da companhia para circular pelo país com os espetáculos, mas devido à sua ligação com o Teatro Álvaro de Carvalho, declinou a proposta feita.

Além de Carlos Falcão outros técnicos tiveram contato com o Ballet Stagium, mesmo não tendo um vínculo direto com as atividades do TAC, Irani Apolinário, que trabalhava no Teatro do CIC, procurava estar próximo das apresentações do Stagium. Ele efetuava contato com os técnicos que acompanhavam o grupo quando da passagem dos mesmos pela cidade. Irani procurava rapidamente ver como estavam os procedimentos de montagem no TAC, já que esta proximidade com o grupo vindo de São Paulo geravam frutos nos conhecimentos de equipamentos e técnicas novas:

A gente tinha um contato direto, primeiro que o equipamento que vinha, era do Gean Carlos, a maioria dos grupos de teatro viajava com o equipamento dele, porque ele era uma pessoa que se dispunha a fazer esses refletores, e alugar para as companhias e dar manutenção ainda nesses equipamentos era, como eram, eram raros essas pessoas no país.57

Mais grupos tiveram passagem pelo Teatro Álvaro de Carvalho, entre eles está o Ballet Ruslan, Academia de Ballet da cidade de Santo André, São Paulo. Esta companhia apresentou-se na casa no dia 13 de julho de 1980 com sessão às 15 e 21 horas e com as coreografias: Concerto n.1, Romeu e Julieta, Nosso

Brasil e Ucranianas em dia de festa. Levaram a assinatura de Maria Helena

Razzett e Ruslan Gawriljuck. O grupo retornou ao TAC no ano de 1983, nos dias 16 e 17 de junho, com as coreografias: Chamas, Frutificar, Dança, Luz Divina e

Paixão Cigana. Mais uma vez estas coreografias eram assinadas pelo professor e

100 bailarino Ruslan Gawrijuck. O Cenotécnico e aprendiz de iluminação Osni Cristóvão, foi o único a citar o grupo, mesmo percebendo que os demais técnicos também presenciaram a passagem dessas apresentações pelo Teatro Álvaro de Carvalho.

Já o Ballet Cisne Negro, da capital paulista, também é citado pelos técnicos entrevistados com passagens pelo TAC. Em levantamento efetuado nos jornais locais as exibições ocorreram nos dias 17 e 18 de julho de 1982, com

Coreografias Variadas e nos dias 07 e 08 de abril de 1987 com as coreografias Homenagem, Entre Quatro paredes, Tempo de Tango e O Destino. Os relatos

não fazem referência aos aparatos de iluminação cênica, mas os nomes dos profissionais citados nos dão uma alusão sobre a qualidade das montagens. O jornal O Estado, de 07 de abril de 1987, falava sobre o grupo e os profissionais envolvidos:

Homenagem; tinha coreografia de Tindaro Silvano; Entre Quatro Paredes, versão coreográfica da obra de Jean Paul Sartre idealizada por Júlio Lopes e Tempo de Tango com coreografia de Luiz Arrieta. O Destino; idealizada por Luiz Arrieta analisa a sina dos imigrantes orientais e tinha música de Shiro Fukai, Massao Ohri, Yasuji Kyose e Kohsaku Yamada. “Destino é um espetáculo de pulsação, cores e luzes, um balé primoroso, assinado por um dos melhores coreógrafos em atividades no Brasil, conforme avalia o crítico Rui Fontana Lopez.

Sobre os grupos internacionais não houve citação de nomes específicos pelos técnicos consultados, mas na pesquisa realizada em noticias locais sobre atividade no Teatro Álvaro de Carvalho, há descrições de suas propostas de trabalho que podem ter contribuído para o aprendizado dos mesmos. No dia 18 de agosto de 1980 apresentou-se o Dance Centre Coven Garder, de Londres. Um recital de dança de Flora Ghata, professora de mímicas e danças orientais em Londres. Segundo o jornal O Estado de 17 de agosto de 1980, Flora:

Conviveu na Índia com o fotógrafo Ashvin Ghata que criou os efeitos visuais do espetáculo. A textura de seu trabalho se alimentava de dança moderna, de mímica, de improvisação, de tradição. Tudo isso acompanhado dos efeitos de som, luz e imagens criados por Ashvin Ghata.

101 Já no ano de 1982, no dia 17 de novembro, apresentaram-se no TAC os comediantes franceses Yves Riou e Philippe. O espetáculo intitulava-se Mímica e

Music-Hall, e como eles mesmos descreviam era uma “comédia sem palavras,

combinando a pantomima, as histórias em quadrinhos, o cinematográfico e o burlesco” (O Estado, 17 nov. 1982). A utilização de cinematografia em cena pode ter gerado aprendizado para os técnicos locais, pois a projeção de imagem e a iluminação em cena têm de estar muito bem integradas para não interferirem uma na outra.

No ano de 1987 o Ballet de Angel Pericet, da Espanha, apresentou-se no dia 18 de maio. O espetáculo denominava-se O Clássico e o Popular –

recordações de minha terra. O jornal local O Estado, de 28 de maio de 1987,

descreve: “Angel Pericet faz a abertura de Los Major Enamorados com iluminação sofisticada – resta saber se vai se adequar ao TAC”. No mesmo ano, no dia 16 de outubro, apresentou-se no TAC o Grupo Ecarlate, da França, com o espetáculo Grandir.

Grandir havia sido criado no ano de 1985 e já havia excursionado pela Inglaterra, Israel e Bélgica. A peça foi imaginada e é executada por três atores Babette Masson, Jean-Louis Heckel e Gilles Zepffel. Segundo a crítica esse grupo usava uma linguagem teatral contemporânea caracterizava-se sempre pela inventividade e pelo imprevisto, mudando as próprias formas dos objetos que manipulam com talento incomum (O Estado, 18 out. 1987).

Sobre grupos locais não citados pelos técnicos entrevistados, vale ressaltar conforme pesquisa realizada nos jornais, a atividade de técnicos e equipamentos que os acompanharam em apresentações no TAC. É o caso do Grupo D, Studio de dança de Florianópolis, que se apresentou nos dias 04, 05 e 06 de novembro de 1983 com o espetáculo Momentos. Eram coreografias de Jussara Terrats professora e proprietária do Studio, e da paulista Penha de Sousa que ministrara uma oficina nessa escola.

Para as apresentações o Studio de Dança trouxe de São Paulo 300 quilos de refletores por apresentar um custo mais barato que as instaladoras de Santa Catarina. Eles se somarão aos 38 refletores que o TAC tem atualmente, pois segundo a diretora, para um bom espetáculo de dança são necessários no mínimo 70 refletores. [...] E a iluminação ficará também a cargo de um paulista: Erom Loreto, um dos mais famosos iluminadores de balé, sempre convidados pelos grupos Stagium e Cisne Negro e que até o ano passado era diretor do corpo de balé. [...] O áudio-visual

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mostra ainda a solidão do TAC, tão pouco aproveitado para a dança da região, e toda a coreografia será desenvolvida sem cenário, para mostrar o esqueleto do teatro, os camarins, etc. os figurinos de todas as apresentações foram bolados por Marilda Carvalho e elaborados por Zilá Muniz (O Estado, 01 nov. 1983).

Tal procedimento com certeza foi também elemento de aprendizagem técnica para os profissionais do TAC. A vinda de equipamentos e a permanência de um iluminador para acompanhar os ensaios finais e a montagem definitiva para o espetáculo também deixou conhecimentos no corpo técnico do TAC.