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As forças fragmentadas

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 108-116)

Az<vedo Amaral, 194()l Introdução

1. As forças fragmentadas

O estado de indisciplina que tomou conta do Exército após a vitória pode ser facilmente demonstrado através de uma listagem das revoltas, levantes, conspi­ rações, agitações, protestos coletivos, ou até mesmo greves, que marcaram o periodo. Por este levantamento poderemos ter também uma idéia do conteúdo das várias correntes que disputavam o predominio dentro da organização militar. Os resultados do levantamento estão no Q.uadro I.

A montagem do quadro apresentou algumas dificuldades que exigem cenos widados de interpretação. Nem sempre foi fácil distinguir claramente a natureza dos movimentos e apontar com segurança os que deles participaram. Com freqüência as informações foram tiradas de correspondências e relatórios pessoais que deixam a desejar quanto

à

precisão. No que se refere à participação, raramente um movimento se limitava a apenas um escalão hierárquico. A distinção só era mais nítida em alguns movimentos de sargentos e generais, nos extremos da hierarquia. Na maioria dos outros casos havia envolvimento de mais de um escalão, embora sem

p

re predominasse um ou outro em tennos de iniciativa e liderança. Por esta razão, e por ser a informação relevante, foi mantida a distinção. Nos casos em que se tornava diReil uma.opção, ou em que havia envolvimento, em algumas ocasiões determinante, de civis, adotou-se a classificação de participação mista. Q.uanto ao tipo de movimento, a classificação não deixou às vezes de ser também arbitrátia e empobrecedora. Mas ela nos pareceu imponante para dar uma idéia da intensidade e da gravidade da ação. A lista completa dos movi­ mentos, com a respectiva fonte de informação, é fornecida no H Apêndice referente ao Q.uadro I".

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o quadro é eloqüente. As queixas generalizadas de indisciplina e de caos na organização militar correspondiam

à

realidade dos fatos. E esta realidade era sem dúvida ainda mais grave do que demonstra o quadro, pois grande número de pequenas indisciplinas, protestos individuais, atritos dentro das unidades não aparece, assim como também não aparecem manifestações de militares de caráter mais político-partidàrio como as que se davam no Clube 3 de Outubro ou nas vàrias legiões revolucionárias. Não está também incluída a Revolução de 1932. Note-se, ainda, que dos 94 movimentos computados, apenas 19 não se referem ao Exército: seis são de militares das Forças Públicas e 1 3 da Marinha. Só este último ponto já mereceria uma análise especial, pois indica grande diferença no comportamento político da. três tipos de corporação militar, organizadas, em tese, em torno de princípios semelhantes de disciplina e hierarquia.

QUADRO I

Movimentos Milimres, 1930-1945

Panicipação Principal Out. 1930-34 1935-39 2940-45 Total Geral Ag. Pc. Rev. Tot. Ag. Pro Rev. Tot. Ag. Pc. Rev. TOl. Ag. Pr.

Generais 5 4 - 9 2 4 - 6 2 - - 2 9 8

Outros oficiais 10 3 2 15 5 2 4 1 1 2 - - 2 1 7 5

Praças 14 I 5 20 8 3 2 13 1 - - 1 23 4

Mista 3 - 3 6 8 - - 8 1 - - 1 12 -

TOTAL 32 8 10 50 23 9 6 38 6 6 6 1 1 7

Ag. = agitação; Pr. == prQ[eslO; Rev. = revolta.

Agitação inclui conspirações. Revolta inclui casos de motim. Uma greve de cadetes em 1934 foi classificada como proteslO de oficiais. Quadro organizado por Lucia Lahmeyer Lobo

Fontes: Veja apêndice para lista dos mOvimentos e fomes de informação.

Rcv. - 6 7 3 16 Tot. 1 7 28 34 15 94 :>-

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o primeiro aspecto a observar no quadro é a evolução dos números ao longo do tempo. A partir de uma média de nove movimentos por ano nos dois primeiros periodos, verifica-se uma queda brusca para apenas um na fase final. A queda teve inicio em 1 937 e acelerou-se a partir de 1939, indicando com nitidez a vitória de uma facção sobre as demais - o que lhe tinha possibilitado a esta facção impor seu controle sobre a organização a ponto de fazer dela a base do regime autoritário então implantado.

Um segundo ponto imponante, e mesmo surpreendente em face da visão comum, tenentisra, que se tem do período, é o número substancial de movimentos de oficiais generais e, mais ainda, a intensa atuação das praças. No caso dos generais, trata-se as mais das vezes de conspirações visando golpes politicos, ou de protestos em face de golpes dados por outros generais. No caso das praças, trata-se quase sempre de conspirações visando revoltas ou de revoltas levadas a efeito. Analisemos os movimentos com um pouco mais de atenção.

o envolvimento político de generais era uma longa história no Brasil, com raízes mesmo no Império civilista. Sendo a promoção de generais atribuição do Presidente da República, este tinha nas mãos um poderoso instrumento para punir ou premiar oficiais. A promoção nestes casos perdia em geral qualquer conotação de prêmio ao desempenho, para significar apenas recompensa pela lealdade poUtica. A disputa fazia-se então em torno da busca de apadrinhamento politico. Com a implantação do Exército no centro do poder, e com a quebra geral do princípio da disciplina, a disputa acirrou-se e adquiriu nova conotação, pois muitos generais passaram a ver-se como naturais candidatos

à

presidência da Repúblicaou aos postos de maior influência na organização, (orno o Ministério da Guerra e a chefia do Estado-Maior. A instabilidade política geral facilitava o jogo de poder pois permitia muitas vezes vincular a disputa pessoal, ou mesmo organizacional, a causas mais amplas que envolviam paliticas civis. Nesse último caso estavam a Revolução de 1 932 e a luta pela eliminação de Flores da Cunha em 1937. Eram freqüentes as acusações mútuas entre generais, ou de civis contra generais, de conspiração para a tomada do poder. Foram envolvidos em tais arusações dos generais Leite de Castro, Góis Monteiro, Valdomiro Lima, Eurico Dutra, Lúcio Esteves, Daltro Filho, Deschamps, Rabelo, Guedes da Fontoura, Pantaleào Teles, Mariante etc. As conspirações de generais assumiam caráter mais sério por ocasião de eleições presidenciais, como em 1934 e 1937. Falou-se também abertamente de uma conspiração de generais em 1 935, quando o Congresso

hesitava em votar o aumento de vencimentos dos militares. Em todas essas ocasiões tramava-se a tomada do poder através de um golpe da cúpula militar. Na maioria dos casos, as circunstâncias politicas externas

à

organização não favo­ reciam os conspiradores. Somente conseguiram êxito em 1 937 e 1 945, em torno do presidente no primeiro caso, contra ele no segundo.

As manifestações de generais, se indicavam a precariedade dos padrões disciplinares da organização, indicavam também a instabilidade do sistema de

A Revolução de

30

1 1 5

poder em gestação. Quebrado o antigo sistema de lealdades que prendia os generais aos presidentes, somente a criação de novos vínculos poderia evitar os freqüentes pronunciamentos. Seria umas das principais preocupações da situação vitoriosa estabelecer esses vínculos, o que foi feito pela rápida substituição da cúpula militar do velho regime, como veremos adiante.

Conflitos menos visíveis, mas mais sérios do ponto de vista da organização, eram os que envolviam as praças, particularmente os sargentos. A história dos sargentos ainda não foi escrita e não será aqui que iremos sanar esta lacuna.

É

certo, no entanto, que a história militar de

1 889 a 1945 e as análises feitas até aqui,

incluindo as nossas, padecem de fone viés em favor do oficialato em geral e dos oficiais subalternos em especial. Além de intensa participação na própria Revolução de

30,

os sargentos se salientariam em

1932

e em todas as revoltas lideradas por oficiais subalternos, particularmente as de

1 935.

Mais ainda, os sargentos, às vezes cabos e soldados. levaram adiante movimentos próprios que despertavam reação violenta de parte dos oficiais, inclusive dos tenentes refor­ mistas. Ao contrário dos generais, os movimentos típicos de sargentos eram as rebeliões de quartéis, freqüentemente violentas, com demandas às vezes radicais, embora pouco articuladas. Vejamos alguns exemplos.

Em junho de 1 93 1 rebelou-se o 25� BC de Teresina, sob o comando de cabos e soldados e alguns sargentos. Os rebelados depuseram o interventor Landri Sales e colocaram um cabo em seu lugar. Foram dominados com o auxilio da força pública. Meses depois, em outubro de

1931, r(;'oltou-se o

21 � BC de Recife, sob a liderança de sargentos e com a participação de operários. Os oficiais foram presos, o comandante e um tenente foram mortos, houve centenas de feridos. os revoltosos ocuparam os bairros de Boa Vista e Soledade. A reação das autoridades foi violenta, sob o comando do intelVentor Lima Cavalcânti. auxiliado por seu chefe de policia, tenente Bizarria Mamede, e com promessas de ajuda de tenentes interventores, como Juraci, da Bahia, Carneiro de Mendonça, do Ceará, Hercolino Cascardo, do Rio Grande do None, e com o apoio efetivo dos interventores da Paraiba, onde Ernesto Geisel comandava o 22� BC, e de Alagoas. Meses depois, outro tenente faria um relatório a Getúlio sobre a situação dos revoltosos presos em Recife e reconheceria o excesso de rigor das autoridades, informando: "Há até individuos de testículos quebrados a pontapés". O general Lúcio Esteves chegou a esboçar um decreto de lei marcial a ser apresentado ao presidente para combater os rebeldesS. Outro exemplo foi a revolta do

1 8� BC de Campo Grande, liderada

por alguns sargentos transferidos do

21� BC de Recife. Na luta resultaram um

mono e três feridos. Segundo a versão oficial os três sargentos que lideraram o movimento foram logo depois mortos. por terem resistido

à

prisão; segundo outras versões, assassinados. O comandante da Circunscrição Militar de Mato Grosso, general Klinger, afirmaria que eles tinham prestado

à

sociedade "o melhor serviço que ainda podiam dar e era o de resistirem para serem tratados em conseqüêncÍa"9.

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Seminário Inoernadional

Um movimenoo que não dhegou a explodir mae que poeeuia anidulação maie domplexa foi preparado em São Paulo e eeoendeu-ee de

1933 a 1 934.

Oe líderee inepiraram-ee noe adonoecimenooe de

3 de eetembro de 1 933 em Cuba, quando

uma revoloa de eargenooe e daboe adabou levando à queda do preeidenoe Céepedee e evenoualmente à eubida do eargento Fulgêndio Baeoieoa à dhefia do governo. Um delee, eargenoo Anoônio Luíe Baetoe, do

4? BC, dizia-ee o fuouro Fulgêndio Baoieoa

braeileiro, numa indidação da ambição do movimenoo e do grau de informação políoida de eeue dirigenoee. A revolta final, mardada para março de

1 934,

deveria donoar dom o apoio de operàrioe e previa a mone do domandanoe da Região, general Daloto Filho, e doe ofidiaie. O levanoe não ee realizou por terem eido preeoe eeue dhefee, embora pequenae exploeõee, eem maioree doneeqüêndiae. ee oenham verifidadolO .

Ae revoloae de graduadoe tinham muioo a ver dom eua eiouação denoro da organização militar. Ae queixae abrangiam ampla gama de reivindidaçõee, dom ênfaee na falta de eeoabilidade, na aueência de promoçõee, noe ealárioe baixos, na falta de aeeieoêndia eodial. Logo apóe a revolução, o dedreoo

19.507,

de

1 8 de

dezembro de

1 930, permioira aoe eargenooe dom maie de dez anoe de eerviço eervir

aoé 25 anoe eem nedeeeidade de reengajamenoo. Oe que não tinham dez anoe fidavam dependendo de repeoidoe reengajamentoe que podiam ou não eer dondedidoe, dependendo do drioério, ou do arbítrio do domandanoe, ao avaliar eua dapadidade e eua donduta. Conforme depoimenoo de um ex-eargenoo, "quando um domandanoe queria ee ver livre de um eargento, jogava ele no domporoamento regular ou mau e dhegava na hora de reengajar ele era exd\uido"l l . A eiouação piorou ainda maie em 1937, quando o minieoro Dutta baixou um avieo ordenando que oe eargenooe que não tiveeeem dez anoe de eerviço em 1 930 foeeem lidendiadoe (Avieo de 31/5/37). Eeoa orientação foi donfirmada pela Lei de Servko Militar de

1 939

que, no propóeioo de formar reeervae de graduadoe, recomendou a não­ pennanêndia de eargenooe na oropa por maie de nove anoe. Foi a famoea "lei Duora", que oanooe traneoornoe dauearia aoe eargentoe.

No que ee refere a promoçõee, a eiouação não era melhor. Deede

1930 eetavam

euepeneae devido ao grande número de domieeionamentoe havidoe durante a revolução e durante a revoloa paulieta. Somenoe em

1 938 foram elae abenae. Ouoro

ponoo negaoivo era a aeeieoêndia. Como oe eargenooe não oinham eetabilidade, fidavam a deedobeno no que ee refere à apoeenoadoria, peneão, auxl\io hoepitalar, funerário eod. Tornavam-ee aeeim vitimae de inetituooe privadoe ou eram forçadoe a driar, elee próprioe, eodiedadee benefidenoee do oipo dae que exietiam enore oe operárioe12.

Tudo ieto levava à ineaoiefação permanente dae praçae. Em carta a Oevaldo

Aranha, daoada de 1 9H, doie eargenooe do RCI de Uruguaiana ee referiam a uma "dedanoada má vonoade quanoo àe aepiraçõee doe eargenlOe do Exérdito", e

A Revolução de 30 1 1 7 afinnavam que as mazorcas e guerrilhas do Exército tinham sido alimentadas pelo incitamento intestinal dos sargentos que estavam em posição estratégica, contando com a confiança dos chefes e a amizade dos subordinados. E finalizavam: "uma classe que se revolta e que está pronta a pender para o lado que sopra o vento tem que sentir fome e sede de justiça" 1 3 . Em outro documento enviado a Osvaldo Aranha em 1 938 eram feitas queixas semelhantes e era sugerido que os sargentos podiam constituir melhor apoio para o governo do que os tenentes outubristas, pois estes faziam imposições e perturbavam a disciplina Era lembrado novamente o exemplo de Cuba, e eram cobradas promessas de Getúlio feitas no início da revolução no 7 � BC de Porto Alegre, quando muitos sargentos tinham assumido os postos dos oficiais presos! 4 . Em circular secreta de 1 933 que convocava um levante geral da classe, os sargentos pediam a pura e simples extinção dos graduados, a transformação de todos os sargentos em suboficiais, servindo sem reengajamento até completar o tempo de serviço, e o aumento de vencimentos15 . Finalmente, em manifesto intitulado " Em prol da Revolução Social. Aos Sargentos do Brasil", o problema era colocado de maneira ainda mais radical. Os sargentos, dizia o manifesto, provêm na quase totalidade da classe proletária, que é explorada pela classe burguesa, sendo, portanto, dever de consciência levantarem-se de armas em punho para combat<::r o regime. No programa�stavam incluídas a transferência de todos os oficiais para uma Delegação de Educação, onde ficariam sob observação, e a promoção de sargentos a todos os postos de oficialato, sendo privativa deles também a matrícula na Escola Militar e na Escola Naval!6.

O último documento mostra o limite a que podia chegar a rebelião de praças na conjuntura brasileira. As praças eram de fato recrutadas entre as camadas proletárias da população, diferentemente do que acontecia com os oficiais. Na medida que a rigidez das normas de promoção dentro do Exército reforçavam, ou confirmavam, a estratificação externa, e que a socialização nos princípios da disciplina nâo era suficientemente forte para superar a consciência da exploração, o conflito permanecia latente e podia explodir quando favorecido por conjunturas especiais. Quando trabalhadas por elementos do Partido Comunista as praças mais facilmente extrapolavam a dominação de que eram vítimas dentro da organização para a sociedade como um todo, alinhando-se com suadasse de origem e identificando os oficiais como inimigos, não só organizacionais como também de classe. Essa visão do problema estava claramente colocada em carta do ex-capitão

Luís Carlos Prestes, publicada no DiárW da

Noite

de 27 de março de 1 93 1 . Nela Prestes chamava de imbecil o programa revolucionário dos tenentes e apelava aos soldados e marinheiros no sentido de ajudá-lo a liquidar" esta canalha" , voltando suas armas contra os chefes "lacaios da burguesia" I 7 . Na práti� no entanto, as formulações programáticas dos movimentos de praças pennaneceram confusas e sua organização precária. A ação polftica era determinada antes pela condiçãó militar do que pela condição de classe, resultando em rebeliões de quartel com limitado apoio externo, como aliás aconteceria com os próprios movimentos dos oficiais que aderiram ao Partido Comunista.

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Mas os movimentos de praças, apesar do que foi dito, eram sempre percebidos como potencialmente disruptivos em termos organizacionais e sociais, provo·

cando fone reação negativa entre os oficiais, que também, sem dúvida, não perdiam de vista o exemplo cubano. As autoridades militares mostravam-se profudamente suspicazes em relação a qualquer movimento organizativo dos sargentos, até mesmo as sociedades beneficentes. Góis Monteiro, quando mi­ nistro, não quis sequer tomar conhecimento de uma recém-fundada Federação de Sargentos, alegando que os sargentos não eram classe, mas apenas uma categoria dentro da classe militar, e não podiam defender interesses distintos do da classe militar como um todo: "Nunca houve no Exército, e com ele é incompatível, essa idéia de classe no sentido moderno (sindical) de se contraporem umas às outras em busca de beneficios exclusivos. E é clarissima a nocividade de tais criações esdrúxulas nas classes armadas" . Os defensores naturais dos sargentos, acres­ centaria, eram seus

chefes e o próprio Exército. Dutra, como

era de se esperar, seria ainda mais rigoroso quando ministro. No aviso 398 de 6/9/37 alenava para o perigo da penetração da atividade poUtica, especialmente do comunismo, dentro do Exército através das associações beneficentes de sargentos, e procurava desarticular tais movimentos. O receio dos oficiais generais e superiores quanto à atuação dos sargentos fica ainda mais claro na atitude de B. K(inger. Infonnado, em 1 933, de que seus colegas de conspiração estavam fazendo contato com sargentos. ele reagiria com vigor, condenando a iniciativa como crime de lesa­ disciplinaiS.

Pouquíssimas foram as manifestações de oficiais superiores, razão pela qual os colocamos junto com capitães e oficiais subalternos.

Q.

uanto aos últimos, sua facção ativista, remanescente das lutas da década de 20, passou a ter uma ação mais defensiva, pois achavam-se agora nas posições de poder e enfrentavam a reação enérgica de adversários de fora e de dentro da organização. Nos três primeiros anos tentaram organizar-se a fim de dar base mais sólida de poder ao governo ditatorial para que ele pudesse implementar o programa revolucionário. Seu drama provinha do fato de que não houvera, na realidade, uma vitória militar e a estrutura do Exército pennanecera intata, inclusive em tennos de pessoal. O máximo que conseguiram foi fazer algumas alterações nos altos escalões e eliminar alguns contra-revolucionários mais conspícuos através de reformas administrativas.

Dai

terem sido forçados rapidamente a localizar sua atuação fora dos limites organizacionais, o que se deu com a criação do Clube 3 de Outubro. Com isto tinham o campo mais livre, mas ao mesmo tempo reduziam a eficácia da ação no que dizia respeito aos colegas de caserna.

Entre as tentativas iniciais de se organizarem dentro do Exército, pode-se citar o Pacto de Honra de 24 de fevereiro de 1931 -sem dúvida uma referência aos

Pactos de Sangue de 1 889-, que buscava reunir os elementos revolucionários a fim de dar apoio a Getúlio, delegando plenos poderes de representação a Góis (pelas 2�, 3� e 5� RM e pela CM de Mato Grosso), a Leite de Castro (pelas 1 � e 4� RM). e a Juarez Távora (pelas 6�, 7 � e 8� RM), e autorizando-os a desde logo se

A Revolução de 30 1 1 9 empenharem perante o presidente da República em promover a reorganização do Exército e a colocação nos postos de comando e na Comissão de Promoçoes de elementos revolucionários de confiança, e em reformar administrativamente os oficiais inidôneosl9 . Outro documento enviado a Getúlio em maio de 193 1 , assinado por Góis, Eduardo Gomes, Cascardo, Juarez e outros, reconhecia o estado de anarquia geral existente no Exército, o predominio de duas menta­ lidades antagônicas e o fracasso da tentativa de uni-lo através da colocação de Góis na chefia do Estado-Maior. Propunha, em conseqüência, a continuação da ditadura até que fosse implantado o programa revolucionáriifo . Em abril de 1 93 1 um autoproclamado Comitê Revolucionário do Rio de Janeiro lançaria uma

Proclamação

ao Exército, atacando violentamente os situacionismos estaduais,

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