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É uma organização fechada eobre ei meema, ieolada devaetoe eetoree da eociedade,

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 122-126)

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partirularmente dos setores dominantes. Conseqüentemente, e tncapaz de influenciar a sociedade através do processo de treinamento e socialização de reservas. Outra é a situação representada na Figura 4. Há aí, em todos os níveis da hierarquia, relações para a frente, muito intensas a nível dos soldados, através dos Tiros de Guerra, da Escola de Instrução Militar e das Escolas de Instrução Militar Preparatória; menos intensas a nível dos graduados, substancial a nível dos oficiais através dos centros de preparação de oficiais da reserva. Acham-se igualmente intensificadas as vinrulações para trás. Embora ainda de maneira imperfeita, o recrutamento já atinge todas as camadas sociais. Elementos da classe alta já são obrigados ao serviço militar, mesmo que seja através dos CPOR. A organização penetra amplamente na sociedade e adquire sobre ela uma capacidade de controle até então inexistente.

Havia um inegável sentido militar na transformação, o que a tornava ponto consensual nas reivindicações das várias correntes militares. Desde a Primeira Guerra Mundial, e mesmo antes, com a chegada dos estagiários do Exército alemão, enraizara entre os chefes militares mais conscientes a idéia de que as guerras modernas não se dariam mais apenas entre exércitos, mas exigiriam a mobilização da nação inteira, seriam guerras totais. O sistema brasileiro os irritava e frustrava por levar às fileiras as faixas menos qualificadas da população e por impedir a formação de reservas, e conseqüentemente, impossibilitar a mobiliza­ ção geral em caso de necessidade. A Argentina era freqüentemente apontada como exemplo a seguir, mormente porque nos planos estratégicos da época ela se constituía também no inimigo mais provável e mais perigoso.

Mas a conotação politica da transfonnação não era menos imponante. Estava o Exército no centro do poder politico, dizendo-se encarnação dos interesses nacionais, acima dos interesses regionais e partidários e, no entanto, não possuia nenhuma capacidade de influenciar a população, não só em termos de preparação

militar, de disciplina dos corpos, como diria Foucault, mas também - o que era essencial para seu projeto - de disciplina das mentes. Ao se queixarem da elite civil por não lhes conceder os meios de fortalecimentos da defesa nacional e da população em geral por fugir do quartel, os militares atribuíam esses males ao civilismo e ao liberalismo das elites,

à

aversão à disciplina por parte das massas, ao pacifismo de todo,37 . Daí a grande importãncia dada à guerra pelas mentes, através da educação moral e cívica da população, da qual o Exército deveria ser o principal agente, embora pressionasse também as escolas civis para colaborar. Esta guerra incluía não só o combate ao comunismo, mas também a luta mais ampla pela transformação dos valores sociais no sentido de torná-los compaúveis com as tarefas da defésa nacional. Através do serviço militar ampliado, da formação mais extensa de oficiais da reserva, conseguia-se devolver à sociedade milhares de cidadãos doutrinados não só na rejeição ao comunismo, mas também na valorização da nação, na importância da defesa nacional, na crença, na inevitabi­

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conveniência de um governo fone que promovesse o progresso do pais. O esforço fica bem caracterizado no titulo de um artigo de Menotti del Pichia publicado na Nat;ão Annada em dezembro de

1 94 1 :

"A Pátria é hoje uma imensa caserna".

3. Fechando o Exército

à

sociedade

A abenura da sociedade ao Exército, que acabamos de ver, poderia ter como conseqüência torná-lo mais vulnerável a pressões externas, torná-lo realmente popular e democrático. O modelo totalmente profissionalizado, falando em tese, é inadequado para a defesa externa, mas eficiente na manutenção da ordem interna, o oposto acontecendo com o modelo abeno. Mas nesse problema do relaciona­ mento do Exército com o povo as correntes militares se dividiam. De um lado havia os que, como o cadete citado no início, acreditavam no Exército até mesmo como vanguarda do povo; de outro havia o grosso dos oficiais de tendência mais conservadora e mais preocupados com a integridade da organização. Estes últimos se queixavam exatamente do excesso de influência externa dentro do Exército, da introdução nele de conflitos po][ticos e sociais que vinham de fora dividindo-o em outras tantas facções, penurbando a disciplina, paralisando-o, senão mesmo destruindo-o. Daí preferir esse grupo falar no Exército não como encarnação do povo, mas como expressão da nação. Com este conceito mais abstrato, legitimava-se a ação militar sem a necessidade de ter ela que refletir interesses concretos da população ou de parte dela. Era mesmo para eles essencial, na realidade, isolar a organização, imunizá-la do contato com a política, isto é, com qualquer tipo de conflito que dividisse a população38 .

A fim de evitar que a abenura da sociedade tivesse o efeito de abrir também o Exército, várias medidas foram tomadas, agora já nào consensuais, mas fruto do domínio da coalizão vencedora. As medidas centraram-se na seleção e na formação do corpo de oficiais, pois no novo esquema eram eles os únicos verdadeiramente profissionais. Uma primeira série de disposições veio reforçar a tendência no sentido de dificultar a promoção de praças a oficiais. O Decreto

1 .351

de

7

de fevereiro de

1 8 9 1

mandava preencher metade das vagas de segundo­ tenente com praças, a outra metade com alferes-alunos, se os houvesse. Já a lei de promoções de

1 934

(decreto de 1� dejunho) só permitia a promoção de praças ao posto de segundo-tenente em casos excepcionais e se não houvesse número suficiente de aspirantes. Além disso, para promoção a postos subseqüentes, exigia o curso de fonnação de oficiais da respectiva arma ou serviço. O Decreto-lei n�

38

de 2 de dezembro de

1 937,

que regulava as promoções, não mencionava sequer essa possibilidade e não admitia mesmo a promoção por bravura de praças a oficiais, aceita ainda pela lei de

1934.

Esta última possibilidade voltou a ser admitida em

1 943

como incentivo à participação na FEB (DL. n�

5.625,

de

29

de junho de

1 943).

1 28

Seminário Internacional

Mas as iniciativas mais explícitas foram as tomadas com relação ao recruta­ mento de oficiais através da Escola Militar. Já em

1934,

na subcomissão que elaborou o anteprojeto de Constituição, Góis se queixaria do fato de que a Escola Militar atraia mais alunos pobres, levados antes por motivação econômica do que por vocação para as annas. E observava: "E é essa a razão por que se vê grande número de militares doutores, sociólogos, ginecologistas etc., que têm vocação para tudo, menos para militares; sentem horror à caserna e são tudo menos milita­ res"S9. As medidas concretas no sentido de mudar a situação vieram principal­ mente durante o Estado Novo.

O Relatório

secreto do ministro, referente ao ano de

1940,

mencionava algumas delas: só permitir o ingresso na Escola Militar a candidatos provenientes do Colégio Militar do Rio de Janeiro, das Escolas Preparatórias de Cadetes e da tropa; estabelecer exigências para ingresso em todos os estabelecimentos de ensino militares relativas à situação familiar dos candidatos com respeito à nacionalidade. religião, orientação política e condições morais. Tais dispositivos se encontram nas instruções para o concurso

à

Escola Militar do ano de

1942

e merecem ser reproduzidos. Entre as condições para aprovação, além da capacitação fisica e intelectual do candidato, exigia-se " que as condições de ambiente social e doméstico (nacionalidade, religião, orientação politica e origem, inclusive dos pais, e condições morais de ambiente de família) não colidissem com as obrigações e deveres impostos aos que se destinam à carreira das armas, não se prestem a perturbar o perfeito e espontâneo sentimento patriótico e não constituam óbice a sua completa integração na sociedade civil". As mesmas exigências foram feitas para matriculas no Colégio Militar e nas Escolas Pr�paratórias de Cadetes 40.

Nas circunstâncias da época, tais dispositivos significavam excluir do Exército os não-católicos, panicularmente os judeus. os filhos de imigrantes, os pretos, os filhos de pais não legalmente casados, e os filhos de pais cujas idéias políticas não agradassem ao regime. No que se refere à restrição aos judeus, o

RelatórW

de

1 940

julgava dispensável justificá-la, pois se tratava de raça sem noção de pátria e "não têm seus membros credenciais para o exerácio da profissão militar". A execução dessas medidas ficava a cargo dos comandantes das escolas, que podiam criar comissões secretas para investigar a vida dos candidatos. A recusa de matrícula por qualquer das razões acima não precisava ser justificada pelo comandante, que simplesmente mandava arquivar o process041 .

Embora em pane Íruto do espirito dominante no Estado Novo, as restrições não foram de todo abolidas após

1 945.

Nas instruções para concurso

à

Escola Militar em

1947,

em pleno regime constitucional, foram eliminadas apenas as referências à origem dos pais e à integração na sociedade civil. pennanecendo o resto. Expurgados os pruridos racistas e anti-semitas, ti picos do ambiente anterior à derrota nazista, permaneceu a preocupação de selecionar ao máximo o corpo de oficiais que, no dizer de um general insuspeito de colaborar com o Estado Novo, deveria constituir-se numa aristocracia inteleaual, fisica e moral42.

A Revolução de

30 129

Além desse poderoso filtro que se colocava na porta de entrada de oficiais,

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