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B Nascimento ou decUnio de um militarismo.

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 192-194)

A esta intervenção "reacionária", no sentido etimológico, e em contradição com uma interpretação da crise de ,930 ligada à ascensão das classes médias, tem­ se o costume de opor a revolução liberal do Brasil, concebida como um caso paradigmático de mudança antioligárquica, isto é, democrática e industrializante, á qual as Forças Armadas levaram seu apoio. Sem nos determos por enquanto nesta caracterização discutive1 do processo brasileiro, flXemo-nos na ex.istênci� destes dois modelos urevolucionãrios" antagônicos, dos quais somente o compo­ nente militar nos ocupará aqui; deixaremos voluntariamente de lado os condicio­ namentos sócio-econômicos destas evoluções divergentes7 e examinaremos o que se passa nos palses vizinhos.

As nações sul-americanas que conhecem no inicio dos anos 30 um perlodo de instabilidade polltica marcado por intervenções militares apresentam situações menos claras que as da Argentina e do Brasil. As orientações das Forças Armadas que participam dessas intervenções nem sempre são claramente definidas. Na

A Revolução de 30 1 99 Bolívia e no Peru, onde golpes militares derrubam as autoridades estabelecidas alguns meses antes das "revoluções" de Uriburu e de Vargas, pode-se falar, como na Argentina, de um retorno à velha ordem,mas as semelhanças param aí, uma vez que nem a ditadura de Leguia nem o apagado governo de Siles Reyes foram governos populares, longe disso. Por outro lado, nem sempre é fácil perceber o

que distingue politicamente os governos derrubados dos que os substituem, separados uns dos outros apenas por matizes. Não se sabe na Boliviase Hermando Siles é afastado pelo Exército em junho de 1 930 porque seu vago nacionalismo, sua

fraqueza com relação à agitação social e à mobilização operária assustam a

oligarquia mineira, ou simplesmente porque tentou manter-se no poder por

meios ilegais. A junta militar do general Blanco Galindo reconduz à presidência, no ano seguinte, o velho partido Republicano de Daniel Salamanca, que será extermi­ nado pelo desastre do Chaco, do mesmo modo que o conjunto da classe politica oligárquicaS . No Peru, a sublevação do coronel Sanchez Cerro, que apeia Leguia do poder depois de I I anos, não se configura absolutamente comO popular, a despeito dos termos confusamente nacionalista5 da proclamação de Arequipa. O ditador derrubado, durante seu regime-a Palna Nueva -, adulara a plebe de Lima e maltratara a poderosa oligarquia em proveito de uma fração desta ligada aos invesümentos americanos. Face à inquietante ascensão de um movimento popular, revolucionário e violento, a APRA, as classes dominantes, tradicional­ mente civilistas, esquecem o seu desprezo pelos militares e dào seu apoio a Sanchez Cerro. Os massacres de Trujillo, que opõem o Exército à APRA em 1932, vào selar por um longo tempo a aliança defensiva entre os militares e a oligarquia9. Depois do assassinato de Sanchez Cerro em 1 933, o general Benavides, que o substituiu� pr�parara o retomo do civilismo conservador ao poder: o banqueiro Manuel Prado é desse modo conduzido à presidência em 1 939, ao cabo de uma paródia eleitoral. O Exército peruano aparece então nitidamente como o "cão de guarda da oligarquia"IO.

Enquanto o Peru, depois da queda de Leguia. conhece uma situação muito tumultuada, pontilhada de sublevações militares em série-de seis em seis meses-, o Chile nào lhe fica atrás na mesma época. O general Ibaii.ez, que assume a presidência em 1927 e encarna. com seus poderes ditatoriais, o espírito refonnista dos oficiais putschistas de 1 924 e 1 925, exonera-se em 1931, face a uma agitação urbana e universitária contra a qual se recusa a usar.a violência. Ao mesmo tempo, a agitação militar não pára. A Armada se subleva em Coquinho sob a direção dos suboficiais em setembro de 1931, e em junho de 1 932 um golpe de Estado, em que a aviação desempenha um papel decisivo, proclama a "República socialista", que durará 1 3 dias. A junta socialista do comodoro Grove é derrubada por uma nova junta militar, que reprime severamente o movimento operário. Dois outros

pronunciamentos

sucessivos resultam, enfim, em eleiç'ões normais, que dão a vitória Alessandri, apoiado por todos os partidos tradicionais.

O antigo chefe do liberalismo de esquerda, chamado ao poder em 1 925 por militares progressistas, vai governar desta vez à direita Sua segunda presidência

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(19.'12- 19.'15), tornada possivel pela eliminação. militar do militarismo revolucioná­ rio, é um retorno ao conservadorismol . E mais ainda: contra o perigo de um eventual ressurgimento da esquerda militar, Alessandri utiliza o contrapeso das

MilfcitIs Republicanas, uma espécie de guardas brancas paramilitares, e desmilitariza o sistema polltico chileno por muito tempo -a ponto de, a partir de sua presidência e até 1969, o Chile aparecer como urna exceção democrática e civil no panorama instável da América Latina.

O mito deliberado do exército apolltico e "profissio­

nal" , que durará quase 40 anos, nasce então para estrangular o ativismo radical dos

oficiais socializantes. No Chile, o inicio dos anos 30, longe de abrir a era militar, a conclui: O Exército não entra em cena; ele sai, e por um período relativamente longo.

Este fenômeno de desmilitarização é certamente peculiar ao Chile, mas em outros paises pode-se notar igualmente que as fonnas modernas do militarismo

não aparecem em 1 930, mas já no decênio anterior. É com efeito nos anos 20 que jovens oficiais se "pronunciam", de maneira mais ou menos romântica e espetacular, contra o statu quo no Chile, no Brasil e no Equador.No Chile, a primeira intervenção dos militares enquanto corporação tem lugar em setembro de 1924. Ela visa forçar o Congresso a votar uma série de leis sociais avançadas que aguardavam havia vários meses. Votadas as leis, os militares exigem a dissolução dos Parlamentos e provocam a salda do Presidente Alessandri do pals.

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 192-194)

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