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Local de nascimento e idade de ingresso

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 68-73)

A homogeneidade da elite brasileira a distingue dos membros do parlamento argentino "em períodos de mudança" ( 1 889, 1 9 1 6, 1 946), estudados por Dario Cantón. em relação ao local de nascimento e à idade de ingresso no grupo. Na Câmara dos Deputados e no Senado argentinos, de 10 a 53% dos membros baviam nascido no estrangeiro nas três sessões parlamentares estudadas:

TABELA 5

Parlamento argentino: porcentagem de nascidos no estrangeiro 1 889 1 9 1 6 1946

D S D 5 D S

20 1 9 27 1 0 42

53

1"0111(': C�1l1(J1l. p. -16. V('I' 11(l\;l� l U l a ,I t it;l(,;iio ('llIllJlkl<l.

A Revolução de 30 69 Lembremos que na elite brasileira apenas 0,6% não haviam nascido no Brasil (N=641), e apenas outros 3,9% tinham ao menos um genitor nascido no estrangeiro. Os dois países experimentaram a imigração em mass� mas na

Argentina, onde a população-base era menor, o sucesso politico dos imigrantes parece ter sido muito maior.

Da mesma fonna, o grupo de Cantón alcançou suas primeiras pOSlçoes políticas importantes numa idade bastante inferior à dos brasileiros. Em 1 889, 85% dos deputados e senadores haviam obtido seus primeiros cargos nacionais com menos de 40 anos, e outros 4% haviam obtido cargos provinciais antes de 35 anos. Ponanto, pode-se dizer que ao menos 89% alcançaram níveis comparáveis aos dos brasileiros em termos de ingresso na elite (incluindo os postos de nível estadual). Essa taxa era 2,5 vezes superior à do último grupo que ingressou na elite antes dos 40 anos (35%). No parlamento de 1 9 1 6, entretanto, a taxa conjunta nacional caiu para 69%, e em 1946,

para 4 1 %, como o demonstra a tabela seguinte:

TABELA 6

Parlamento argentino: porcentagem dos que obtiveram o primeiro cargo numa idade detenninada NÍVEL 1889 1916 1946 Nacional 85 51 30 (menos de 40) Provincial 4 1 8 1 1 (menos de 35) Fonte: Cantón, p. 77

Ainda assim, até mesmo a taxa do último grupo era superior à taxa

brasileira3° .

Parentesco

As redes de parentesco extensivo observadas no Brasil não são examinadas nas outras elites latino-americanas mencionadas abaixo. Entretanto, se os brasileiros constituíram um caso único, trata-se apenas de uma questão de grau. Citando Robert Putnam, "43% dos ministros de Estado que governaram a Holanda entre 1848 e 1958 eram ligados por laços de parentesco a outros ministros; ... aproxima­ damente 1/7 dos deputados da Terceira República francesa (1870-1940) eram relacionados entre si; e ... cerca de 1/10 de todos os congressistas none-americanos entre 1 790 e 1960 tinham parentes que também trabalhavam no Congresso"Sl . Considero que o parentesco seja uma variável injustamente negligenciada na

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maioria dos esrudos de estme. Se os síderes posíticos da América Latina fossem mambém os donos das fábrtcas, das psanmações e fazendas (como no caso de São Paulo), esse fato não alteraria drasticamenme a visão que temos dos chamados conflitos " setoriais"?32

Educação

No que se refere

à

educação superior, os dados que obtive sobre as diversas elites políticas mostram que, dos membros das elites nacionais, aqueles que possuiam diplomas universitários eram super-representados em relação

à

popula­ ção total por um fator que ta de otto para um, nos Estados Unidos, a cem (ou mais) para um nos paises subdesenvolvtdos, Nosso grupo brasileiro tendia claramente ao limite exmremo dessa variação (ver tabela 7)33. No caso brastseiro, vase a pena repetir que 93% da esite minha dipsoma universitário, liderando os seguinmes grupo,sL

TABELA 7

Elites Politicas: Comparações Internacionais de Educação Universitárta (em%)

MÉXICO ARGENTINA

1 900- 1 1 1 9 1 7 -40 194-6-71 1 8 t H 1 9 1 6 1946 88 76 74

D 5 D S D S

82 80 83 8 7 66 77

TURQ.,UIA EUA GRÃ-BR. ITÁLIA ALEM. oe.

1920-57 (clt-cada de1960?)

73 88 65 76 59

Fomes: MéxicoSmith, p. 85; Argentina: Cantón, p. 38; Turquia: Frey, p. 44; EUA, Grã-Bretanha, Itália, Alemanha Ocidental: Pumam, p. 27.

Nota: Os dados relativos ao México, EUA, Grã-Bretanha, Itália e Alemanha Ocidentas referem-se

à

matricula em untversidades, e não

à

diplomação; os números relativos ao México referem-se

à

elite total de Smtth; os números da Argentina e da Turquta foram recomputados para eliminar dados não dtsponfvets. D-deputados, S=senadores. Todos os grupos são elites parlamentares nacionais, com exceção do mexicano, que incsui lideres executivos, legislativos e de partidos politicos a nivel nacional; asém de lideres de estados selecionados e de agências semi-autônomas.

Ocupação

A comparação neste caso é complicada pelo fato de que alguns autores uttlizaram uma codtficação múltipla e outros não; em todo caso, os profissionats parecem sempre predominar. O traço mais saliente aqui é a proporção relativa-

A Revolução de 30 7 1 mente alta de ocupações "econômicas" entre a liderança potitica do Brasil. O contraste é especialmente claro com a elite mexicana: os proprietários de terras nunca chegam a 496 das três elites de Smith, e os homens de negócios chegam a apenas 696, enquanto no Brasil essas proporçôes sobem a 2596 e 3496 (Smith dedica um capítulo inteiro de seu livro à falta de integração entre as elites econômica e potitica do México). Os dados franceses referem-se ao último parlamento da Monarquia de Julho: Patrick e Trevor Higonnetdescobriram que apenas 1396 dos deputados do governo de Guizot eram homens de negócios. De todos os deputados burgueses, apenas 1/10 tinha ocupaçôes ligadas aos negócios. Comen­

tam eles: "Este último total é surpreendentemente baixo para um regime que era ...

descrito por Marx e Tocqueville como uma sociedade anônima governando a maioria, com o objetivo de realizar os interesses de poucos ... a grande maioria nào tinha ligação direta com o mundo dos negócios"35.

O mais curioso de todos talvez seja o caso da elite potitica norte-americana, para a qual a tabela indica apenas 1 3% de homens de negócios e 296 de proprietários de terras. Em relação à liderança nacional dos EUA, da década de 1 790 até 1 940, Putnam observa: "A proporção de homens de negóóos (ou filhos de homens de negócios) que ingressava na elite política permaneceu relativamente pequena e essencialmente inalterada ao longo de todo o período durante o qual os Estados Unidos passaram da fase essencialmente agrícola para a fase essencial­ mente industrial"36,

o único grupo que se compara ao do Brasil é o da Argentina. Os proprietários de Cantón entre os membros dos três parlamentos argentinos variam de 24% a 4596, sendo de 3 1 % a média ponderada. Essa proporção está ainda 1/3 abaixo do total brasileiro (47%). No estudo da elite argentinadeJosé Luís de Imaz, intitulado

Los que mandam, as "equipes govesnantes" incluem os entrepreneuTS o único grupo de proprietários que ele identifica e que provalmente inclui os proprietários de terras, A proporção dos cntr/:'jJrfnf'1irS (num esquema ocupacional muI ticodifi{'ado)

varia de 8% a 1 6% para as equipe� de 1 936, 1 94 1 , 1 946 {' 195 L (' d('poi� sobe para

TABELA 8

ELITES POLiTICA$; COMPARAÇÕES INTERNACIONAIS EM PERCENTUAIS BRASIL (SÃO PAULO)· MÉXICO" ARGENTINAb CHILE'

1931-33 EUAd TURQUIAd !..!!!!1:..!.J. /889-I 9 17 1900- J J J 9 / 7-40 /946-71 1889 19/6 1946 1877-1934 1920- 19'7 PROFISSIONAIS 91 dos quais; advogado5 64 rnCdicos 9 engenheiros 1 1 educadores 27 jornalistas 28 militares 3 Proprietános 47 dos 'luais: propr. de lerras 25 homens de negócios 34 (91) (69) (7) (10) (21) (27) (3) (56) (38) (41) 45 9 ,,' 19 25 10 6 31 8 9 ,,' 12 36 2 5 " 10 9 ,,' 6 12 2 5 OS DS DS DS 77 83 75 72 58 68 '--69� medo 25 29 45 28 26 24 '---3 [ --- mcd. 72 24 23 81 69 15 , 13 FOIJüs: Brasil eSão Paulo: Love, p . 285; México'. Smith, p . 88; Argentina: Cantón, p . 40; Chile: Drake, pro 314-15; EUA: Putllam, p. 187; Turquia: Frey, p. 81);

França; Higonnel e Higonnet, p. 145. (Ver nmas para Ôlaçõe$ completas.) 05 numerm excluem os empregados dogovemo e outros gropos não-profissio­ nais e não-proprietários .

• O subconjunto São Paulo está contido no conjumo Bra.�il.

Noto.:

a) acrescemei o� professores secundários e universitários de Smith, panindo do pressuposto de que a contagem dupla é ncgligenciável. Os números refe­

rem-.�e às elises totais de Smith.

b} Nos dados e Camon, comei os profissionais que eram tambi-m proprietários em ambas as cal�rias, e emào recalculei aS percensagens para ('"liminar os dados ausentt's. O.� números são médias pondt'radas (tam bêm os contidos nas chave.�) pelo número em cada grupo, excluindo novamente as pessoas sobre a.� qllai.� nenhum dado ocupacional foi encontrado. D - deputados, .s -.�enadores.

c) Drake fornece números para cada partido separadamente, t' eu computei as percentagens para o grupo lodo. Acrescentei suas categorias de "homens de neKóeiu�" e " ind\lslriai�", tornando assim eSle um número máximo,já que ele provavelmente inclui uma certa eontagt'm dupla. Os proprietários de lt'TTa� e os homens de negócios não podem ser somados devido à contagem dupla.

d) Para essas elites foram codificadas o.::upações mutuamente exclusivas.

e} Acrescentt'i os gropo.s de "comércio" e "hancos" de Frey, e recomputf'i para omitir ocupações desconhecidas.

fj Os números representam a maioria no governo. A organizaçãodosdado.� nào pennite a inclusão da minoria, que, de qualquer maneira., continha uma percentagem menor de proprietários. Recomputei para omilÍr ocupações desconhct:ida5.

19 9 3 8 3 I I 25 9 I.· FRANÇAdf 1846-48 36 6 15 22 9 13 " '" '" " 3 ,r

o - g

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o :I e>..

A

Re\'oluc:;ào

de 30 73

Assim, podemos arriscar a afirmação de que a elite brasileira parece ter um

número muito maior de laços com o setor econômico, o que é afortiori verdade em

relação ao subconjunto de São Paulo. Esse último grupo sem dúvida se aproxima

de um "comitê executivo da classe dominante" , e poderia ser personificado

através de líderes políticos como Antônio Prado e Rodolfo Miranda, que "eram

donos de tudo" - bancos, fazendas e fábricas.

É daro que nossas descobenes têm um valor experimental: a codificação

No documento Revolução de 30: seminário internacional (páginas 68-73)

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