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As instituições sociais e jurídicas

3. FUNDAMENTOS JUS-POLÍTICOS DO ESTADO

3.4 As instituições sociais e jurídicas

A sociedade é agrupamento de indivíduos e, é na família que temos uma das primeiras formas de organização desenvolvida pelo Ser Humano, constituída numa verdadeira instituição. Inicialmente a família, constituída por laços sanguíneos e de afeto, era constituída segundo os anseios do mais forte, patriarca ou matriarca, onde é centralizado o poder sobre os demais membros, tendo como limite deste poder o território de sua propriedade. Constitui-se a menor unidade de poder e agrupamento de indivíduos dentro de um espaço territorial delimitado. A sociedade somente subsiste com o poder institucionalizado. O poder é elemento organizador, coordenado pelas atividades particulares em vista do bem comum. Desde as tribos patriarcas até os Estados modernos, a Nação constitui a base da realidade sociológica, formada por pequenos agrupamentos, a partir da família.210

A sociedade é formada por instituições – formais ou informais, públicas ou privadas – organizadas sob o escopo de normas e regras, visam à ordenação das interações entre os indivíduos e destes com suas formas organizacionais. Essas instituições sociais têm um papel fundamental no processo de socialização dos indivíduos, 211 é fruto da evolução, da

organização e desenvolvimento do Ser Humano, elas surgem pela vontade humana. O poder político torna-se princípio de unidade social nas coletividades mais complexas, o Estado.

As instituições jurídicas são criações humanas que variam no espeço e no tempo como processo de adaptação social o direito se refaz em razão da necessidade de ordem, paz,

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Identificou-se em MAXIMILIANO, o estudo do elemento teleológico.

209

Sobre o assunto SOUZA JUNIOR, 2002, p. 17 e ss.

210

Nesse sentido, GALVÃO DE SOUZA, José Pedro. Política e Teoria do Estado. São Paulo : Saraiva, 1957, p. 32-33.

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Instituições nos acompanham desde o momento do nascimento, desde a família, casamento, as instituições organizacionais religiosas, de bairros, culturais, científicas, profissionais, educacionais, políticas – órgãos do poder e os partidos políticos, enfim, todas de alguma forma são instrumentos indispensáveis à compreensão da lógica evolutiva das partículas sociais, sendo responsáveis pela organização das interações sociais visando a satisfação das necessidades humanas. (fonte: anotações de aula do curso de Ciências Sociais – disciplina sociologia – PUC/1983)

segurança, justiça, valores que ele visa atender212. As instituições jurídicas são confirmadas

pelos institutos jurídicos, através de normas válidas e editadas por quem tem competência para tal e que compõe o ordenamento jurídico. O Estado de Direito, a fim de garantir a ordem e segurança da comunidade, do povo, lança mão de mecanismos garantidos constitucionalmente de controle e preservação das instituições políticas democráticas. As instituições jurídicas são dotadas de institutos normativos que formam um sistema sujeito às vontades humanas, submetem-se a inúmeros juízos de valores individuais e coletivos. As instituições jurídicas devem estar em consonância com a sociedade, ensina SOUZA JUNIOR, que “[...] as instituições jurídicas não podem ser isoladas no contexto sociopolítico e cultural de origem. Nem dos fundamentos axiológicos do convívio humano.” E, o Direito é um conjunto coordenado de normas jurídicas interligadas que formam um sistema normativo.

A respeito das instituições políticas TORRES concorda com LIPPMANN no que diz respeito às funções dos poderes executivo e legislativo e a desordem provocada caso esses não cumpram as finalidades a que se destinam, e destaca:

“o Executivo é o poder ativo do Estado, o poder de requerer e propor. A Assembleia legislativa é o poder de consentimento, o poder de aprovar e de criticar, de aceitar e de recusar. Os dois poderes são necessários para que haja ordem e liberdade. Mas cada qual deve ter, de maneira autêntica, sua própria natureza, imitando-se e complementando-se mutuamente. O governo deve ser capaz de se governar e os cidadãos devem ser representados para que não sejam oprimidos. A saúde do sistema depende das relações entre os dois poderes. Se algum destrói ou absorve as funções do outro, a constituição está perturbada.” [sic] 213

Na Constituição da República Federativa do Brasil, o Estado como poder Maior, é garantido e preservado por mecanismo de defesa das Instituições, na medida em que estas é que dão sustentação ao próprio Estado. Para proteção o Poder Executivo lança mãos a dois dispositivos de defesa das Instituições, inserido Constituição de 1988, o Estado de Sítio e o Estado de Defesa.

O Estado de sítio é um dos instrumentos constitucionalmente colocados à disposição do Chefe de Estado, utilizado em casos extremos para proteção da soberania, contra agressões internas e externas. No Brasil, tradicionalmente essa medida provisória, de suspensão temporária de direitos e garantias constitucionais de cada cidadão e submissão dos poderes Legislativo e Judiciário ao Poder Executivo, tem sido inserida na Constituição desde a

212

OLIVEIRA, Jorge Rubem Folena de. O direito como meio de controle social ou como instrumento de mudança social?. `PDF. In <www.senado.gov.br/biblioteca

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proclamação da República. Assim, encontramos esse instituto desde a primeira Constituição da República Brasileira, a de 1981 (artigo 80); e nas demais, na Constituição de 1934 (artigo 175), na de Constituição de 1946 (artigo 207 e 209) e na Constituição de 1967 (artigo 152). Esse instrumento, o legislador constituinte preferiu contemplar na Constituição de 1988, no Título V, “Defesa do Estado e das Instituições democráticas”, os dois institutos, nos artigos 136 a 141, do capítulo I, o Estado de Defesa214 e do Estado de Sítio215 possibilitando ao

Presidente da República lançar mão para a garantia da ordem e da segurança Nacional em face de perigos reais e iminentes contra a segurança do Estado e a ordem pública. Situações que permitem, frente à ameaça externa ou estado de guerra, por meio de Decreto de Estado de Sítio lançar mãos à suspensão das garantias constitucionais.216 Contudo, em nenhum caso

pode interferir nos direitos à vida, à integridade pessoal, à identidade pessoal e à capacidade civil.

O Estado de Defesa, previsto no artigo 136 da Constituição brasileira, a semelhança do Estado de Emergência previsto na Constituição portuguesa (art. 19) é uma espécie mais branda de Estado de Exceção, decretado para garantir a ordem pública e a paz social em locais restritos e determinados, contra a ameaça por grave e iminente instabilidade institucional ou calamidades naturais de grande proporções. Assim como o Estado de Sítio, trata-se de uma medida provisória, instituída por Decreto após apreciação do Congresso Nacional, com vigência por até 30 dias, podendo ser prorrogada por igual período.

Na Constituição do Império, de 1824, não existia um dispositivo específico de proteção do Estado, na medida em que a defesa do Estado cabia ao Imperador (artigo 102, VII, IX) que deveria previamente ouvir o Conselho de Estado em todos os negócios graves, principalmente a respeito de declaração de guerra, ajustes de paz e negociações com as “Nações Estrangeiras” (artigo 142). Assim, o Imperador como Chefe de Estado, era assessorado pelo colegiado, no caso o Conselho de Estado. A defesa do Império e segurança era entregue, sob o comando do Imperador, à Força Militar Armada de Mar e a de Terra (artigo 148). Todos os brasileiros eram obrigados a “pegar em armas, para sustentar a independência, e a integridade do Império, e defende-lo de seus inimigos externos ou

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Vide seção I, Do Estado de Defesa, artigo 136, da Constituição brasileira de 1988.

215

A respeito do Estado de Sítio, seção II, artigo 137 e seguintes, da Constituição brasileira de 1988.

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Decretado Estado de Sítio, o Presidente, respaldado pelo Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, com autorização do Congresso Nacional, tem legitimidade para tomar medidas que podem ferir a liberdade dos cidadãos, censura, etc.

internos.” (artigo 145). O Conselho de Estado no Brasil teve duração curta, foi suprimido pela Lei de 12 de outubro de 1832 e Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834.

Assim, a garantia da ordem e segurança das instituições, no Estado Democrático de Direito brasileiro, são garantidas por medidas extremas, provisórias, que podem ser decretadas emergencialmente em casos específicos, Estado de Defesa (artigo 136) e Estado de Sítio (de acordo com o artigo 137 e seguintes, todos da Constituição de 1988). E, por meio da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, as Forças Armadas foram constituídas como instituição nacional permanente e regular, sob a autoridade suprema do Presidente da República, destinada a defesa da Pátria, e à “garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”217

Instituições nacionais fortes e eficazes podem contribuir significativamente para a realização de direitos humanos e liberdades fundamentais. Essa força e eficácia de instituições de defesa desses direitos e liberdades dependem diretamente de um “mandato jurídico que lhe for conferido. Uma instituição nacional cuja lei constitutiva torna fraca ou ineficaz pode desenvolver a sua competência técnica, mas, se não forem introduzidas alterações legislativas, nunca conseguirá ultrapassar completamente as suas insuficiências estruturais.”218

As instituições não são mais que elementos de um sistema complexo que foi desenvolvido para proteção e promoção dos direitos humanos.

É no preâmbulo da Carta das Nações Unidas219

que os povos declaram-se decididos a “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra [...] a reafirmar [...] a fé nos direitos fundamentais do homem [...] [e] a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de um conceito mais amplo de liberdade”. Assim, as barbáries praticadas por alguns líderes mundiais durante a Segunda Guerra Mundial, que praticaram toda a sorte de atrocidades contra os direitos humanos, fez com que a comunidade mundial, as Nações Unidas, todos unissem forças em favor não só da vida humana, mas também da dignidade humana, para que atos semelhantes jamais se repitam. Surge uma nova fase, a inserção de valores de proteção da dignidade da pessoa humana no constitucionalismo ocidental.

Diante do que foi visto e sentido pela comunidade mundial, e para que isso nunca mais se repita, no sentido de fortalecer as instituições que garantam a dignidade de pessoa humana

217

In < www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp97.htm>, acesso em 28 de agosto, 2013.

218

In < www.dhnet.org.br/dados/colecoes/dh/mundo/dh01_instituicoes_nac_dh.pdf>, acesso em 25 de fevereiro, 2014.

219

como fundamento do Estado Democrático e de Direito, iniciou-se o que SOUZA JUNIOR denomina a “era do constitucionalismo de valores.”220

220

II

-

SEGUNDA

PARTE:

OS

VALORES

SUPREMOS

E