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As mãos do ator-manipulador

No documento o Ator e Seus Duplos (páginas 122-127)

Repetir o exercício anterior até o ponto em que os atores estão com os braços erguidos. Formar grupos de, no

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Essa posição permite maior facilidade de movimento, mantendo as costas eretas.

máximo, quatro pessoas que se posicionam atrás de ante- paros, de maneira que apenas suas mãos fiquem visíveis.

Exercitar as mãos e os dedos, movendo-os separadamente. Fechar e abrir as mãos, sentindo a tensão, ou energia, que existe na palma quando fechada, que depois se expande pelos dedos quando as mãos se abrem. Observar que essa parte interna das mãos (a palma) é como um centro, e os dedos, antenas.

Como as estrelas, as mãos captam e emitem. Fechadas, escondem, prendem, interiorizam, pensam; abertas, soltam, mostram, exteriorizam, agem. Sacudir as mãos, soltando os pulsos, com as palmas voltadas uma para a outra. Nesse movimento contínuo, forma-se entre elas como que um volume, uma massa energética que se desprende do corpo e, através delas, pode ser repassada para as outras pessoas, criando-se uma energia comum.

As mãos fechadas são como um martelo, têm peso; as mãos abertas são nuvens, fumaça, borboleta. Notar que as mãos parecem ter olhos ou bocas (os dedos), um corpo (a palma da mão), ou pernas (os braços) que se movem.

Exercícios - Usando apenas as mãos, em pantomima, cada membro do grupo (colocado em círculo) descreve a seqiiência de um dia: acordar, espreguiçar, lavarse, tomar café, ler jornal, sair, trabalhar. Cada pessoa faz uma ação que continua com a próxima pessoa no círculo. As mãos, nesse exercício, expressam apenas ações. Numa outra proposta, podem representar personagens, ou parte deles, por exemplo: a crista de um galo, a boca de um pato. Ou pela forma de se mover, podem representar um velho, uma mulher sedutora, uma criança, animais violentos, selvagens, ou animais domesticados, afáveis, trans- formam-se em aves fugidias, lesmas, insetos, monstros ou

fadas. Expressam também sentimentos: raiva, ternura, prepotência, depressão, medo. Exercitar sempre os contra- rios: amor e ódio, pressa e preguiça, criança e adulto, ataque e defesa, presunção e humildade.

Sugestões de ações: uma flor que se abre, um gancho que puxa um objeto pesado, dois amantes, dois lutadores de boxe num ringue, cena de um parto, ou cenas coletivas de pessoas em protesto confrontando-se com a autoridade violenta, debutantes valsando ou uma torcida de futebol.

Nos exercícios, é importante o ator manter seu corpo flexível e relaxado, não tencionando os ombros; manter os braços sempre erguidos e os cotovelos à altura da testa do manipulador.

As mãos

Esses exercícios podem ser feitos depois, com as mãos enluvadas. Usar luvas coloridas. As luvas são como uma etapa de transição entre a mão do ator e o boneco-

perso- nagem.17

Cena de Babel-formas e transformações

Roteiro e direção de Ana Maria Amaral, montagem de 0 Casulo, 1992. Foto de Caio Mattos.

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Retomaremos esses exercícios mais adiante, no item que trata dos bonecos neutros de luva.

A estrutura de um boneco de luva é muito simples. Seu corpo é apenas um tecido (tipo camisola) que a mão do manipulador veste, sustentando a cabeça do boneco com o seu dedo indicador.

A cabeça pode ser uma simples bola de isopor ou borracha, novelos de lã, pano enrolado, ou esculpida em papel maché, em madeira, ou outro material.

Bonecos neutros são bonecos sem características de personalidade. Podem ser elaboradamente confecciona' dos para esse fim, ou ser improvisados. São ótimos para os primeiros exercícios de manipulação de luva, pois, não chamando a atenção para as características formais dos personagens, não só colocam a ênfase na ação como do- sam exageros que um boneco muito caricaturado ou tipificado provoca. Na pantomima das cenas mudas, o elemento surpresa e a emoção poética são importantes.

Vamos passar agora a coordenar ação e palavras.

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azer o inanimado falar é sempre difícil. E deve-se começar por perceber a relação que existe entre a voz e o corpo em movimento. Todo movimento começa sempre de uma pausa, o ponto zero.

Existe uma relação entre voz e corpo em movimento. Qualquer movimento que o corpo faça, começa do ponto zero, da pausa. Um simples adeus, feito com as mãos, para ser claro, inicia com o braço em repoüso, perfaz sua trajetória e retorna depois ao ponto de repouso inicial, o ponto zero. Da mesma forma as palavras, para serem com-

preensíveis, precisam ser intercaladas de pausas. A palavra acompanha os movimentos e vice-versa. E preciso atenção para não aglutiná-las. Cada frase tem seu ritmo. As pausas entre as palavras ou entre uma ideia e outra devem coincidir com uma certa imobilidade corporal dos bonecos, contrastando com momentos de fala nos quais as palavras vêm sempre acompanhadas de sutis movimentos ou gestos enfáticos, dependendo do discurso. As palavras, quando ditas pelo ator, vêm acompanhadas da energia que se exala dos poros de sua pele ou do brilho do olhar. Já no teatro do inanimado, os bonecos ou objetos, para darem ênfase às palavras, precisam alternar movimentos e pausas.

Mas esse é um problema cuja medida só é dada pela observação e pela prática. Não pretendemos aqui teorizar sobre o assunto, mas queremos ressaltar que a junção da palavra com a ação, no teatro de bonecos, é sempre complicada porque fazer falar o inanimado é uma tarefa difícil. É um trabalho de mis-en^bouche, como disse B. Cordreaux.28 E como a voz é um instrumento essencial no teatro de animação, paralelo a este nosso treinamento, é necessário que os atores-manipuladores façam um trabalho de voz com especialistas.

No documento o Ator e Seus Duplos (páginas 122-127)