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Relação entre ator-manipulador e boneco

No documento o Ator e Seus Duplos (páginas 111-119)

ara a

manipulação de bonecos articulados é imporei tante que se estabeleça uma relação entre o corpo do ator e o boneco.26

No caso de manipulação a três, isto é, na manipulação de um boneco com três manipuladores,

A opção e a ênfase dadas aqui aos bonecos articulados são propositais, por sua estrutura corporal ser mais semelhante à do corpo humano.

é interessante que se estabeleça antes a relação entre eles.27 Sugerimos alguns exercícios.

I. Um personagem em cena - ator^boneco + 3

manipuladores + narrador.

Esse exercício é feito com quatro atores. Um deles concentra-se para criar em seu rosto a máscara de um personagem, mantendo-se totalmente passivo, e assim transforma-se num boneco, sob o controle de três manipuladores. Um controla a cabeça, outro manipula os braços, e um terceiro, com toques na parte de trás dos joelhos, comanda as pernas.

27

Na manipulação a três, um manipulador trabalha com a cabeça do boneco, o outro com os seus braços, e um terceiro com os seus pés.

O ator como objeto, sob controle Laboratório 0 ator e seus duplos. 2000. Foto da autora.

1- Momento - Exercitar os movimentos do “boneco” até ficarem bem coordenados. Esse é um trabalho de coordenação entre o ator-boneco e os seus três manipuladores. Nenhum movimento deve ser feito sem que o foco do seu olhar esteja bem direcionado, isto é, o olhar deve indicar a intenção da ação a ser executada.14 Nesse exercício é importante que se dê a máxima atenção aos movimentos da cabeça do ator-boneco que determina a direção do seu olhar - um olhar atento, inteligente, não um olhar vidrado ou rígido. Também fundamental é a neutralidade do ator que encarna o boneco: assim como todos os manipuladores, deve manter-se neutro na cena.

22 Momento - O narrador dá indicações para os movimentos que os atores-manipuladores vão executar, e esses devem, portanto, manter-se atentos à narrativa. Os movimentos corporais seguem o foco do olhar.

2. A contracena - dois atores-bonecos +

manipuladores + narrador.

1- Momento - O narrador improvisa uma história com dois personagens. No início, dar atenção a cada um dos personagens separadamente. Enquanto um está em foco, o outro fica congelado. Criar, por meio da narração, um roteiro de interação entre os dois “bonecos”. O narrador ao mesmo tempo que narra a história também interage com o público.

22 Momento - Acrescentar diálogos à narrativa. A fala do personagem é dada pelo manipulador responsável pelos movimentos da cabeça, que lhe imprime movimentos de acordo com o ritmo das palavras e das pausas.

M Ver exercício de foco da máscara: o olhar da máscara antecede e indica a ação.

Num sistema de rodízio, todo o grupo pode participar desse exercício, alternando-se nas diferentes funções.

O ator que personifica um “boneco” sente um certo impacto, pois as ações mais simples que executa (andar, olhar, pegar um objeto qualquer, virar o rosto) não são realizadas sob o seu comando, mas por uma equipe de manipuladores que, por sua vez, é comandada por um narrador, o que exige de todos muita concentração e coordenação.

O ator passa a perceber assim a relação entre foco e ação. Em geral, os nossos movimentos corporais cotidianos são muito mecanizados, por isso, adquirir consciência da nossa estrutura física é importante, assim como perceber como se originam os nossos gestos.15

Ao concentrar-se nas ações do “boneco” que encarna, o ator como que se esvazia do seu ego, mantendo uma atitude neutra em cena, fundamental para esse trabalho de animação.

Estrutura

E importante que os atores conheçam a estrutura técnica dos bonecos que vão manipular. Para isso, a melhor maneira é através da prática, isto é, construindo-os ou ajudando a construí-los. O processo de construção de bonecos, porém, é muito complexo, requer habilidades especiais, treino e tempo. Não importa, assim, num trabalho de interpretação para atores como o que nos propomos aqui. Mas sempre é possível dar algumas noções de construção através de confecções instantâneas, simplificadas,

15

No ceatro de bonecos existe um distanciamento entre a boca do personagem e a boca do locutor, que emite as palavras, o que provoca um estranhamento.

mantendo apenas o objetivo principal, que é a observação da estrutura do corpo humano e a sua relação com as articulações do boneco.

1. Estrutura corporal e confecção simplificada. Material necessário: jornal, barbante e fita crepe. a) Pesquisa através de uma confecção instantânea Começar por projetar um desenho básico do corpo humano, observando medidas e proporções da cabeça, tronco e membros. Observar os pontos de articulações básicas: movimento de pescoço e cabeça, juntas dos joelhos, braço/antebraço, etc.

Construir um boneco de tamanho médio, com a altura aproximada de um metro, de modo a poder ser facilmente manipulado sobre uma mesa.

Trabalhar em grupos de quatro pessoas. Para formar as diferentes partes do corpo do boneco, usar jornal enrolado; para as articulações, barbante. O boneco deve ter movimentos de pescoço de maneira a poder girar a cabeça; os braços devem mover-se naturalmente; o corpo deve ter possibilidades de se curvar na cintura, de se sentar, de andar.

b) Pesquisa através de manipulação simplificada Depois dos bonecos de jornal, uma confecção improvisada do grupo, é o momento de colocar os manipuladores em contato com bonecos bem estruturados, de madeira, tecido ou outro material mais durável, para que se familiarizem com articulações mais perfeitas e exatas.

2. Manipulação com bonecos simplificados.

Com os bonecos recém-construídos, vamos agora

manipulá-los. Esse tipo de boneco requer três

manipuladores. A manipulação pode ser direta, isto é, o ator-mani-

pillador segura diretamente a cabeça, os braços, os joelhos ou os pés. No início apenas brincar com o boneco aleatoriamente, exercitando os seus movimentos básicos. Mas é importante que uma outra pessoa do grupo faça o papel de diretor. Um boneco improvisado, mesmo sem detalhes ou rosto pintado, é importante que tenha nariz, para que melhor se perceba o foco de um suposto olhar do manipulador. Ir aos poucos criando movimentos mais complexos e intencionais, como pegar objetos próximos e distantes, coçar, dar adeus, andar, sentar, ler, etc.

Manipulação

Antes de passarmos à manipulação de bonecos tecnicamente mais elaborados, é necessária uma preparação com objetos.

a) Exercício com objetos flexíveis e rígidos

Com um tecido leve e três varetinhas, definir no pano um ponto que seria a cabeça e outros dois pontos que seriam as mãos de um suposto personagem. Um só ator pode operar as três varetinhas; com um segundo manipulador, podemos acrescentar ainda as pernas. Esse personagem pode contracenar com um seu oposto, por exemplo, um bloco pesado de tijolo, manipulado por uma terceira pessoa. Ao mover as varetinhas, manter sempre claro o foco do olhar (que se localiza na suposta cabeça do boneco de tecido) e, na medida do possível, dar ao tijolo um foco pensante. Na contracena dos dois temos elementos para improvisação de uma cena. Repetir com outro tipo de material.

b) Exercício do telefone

Um ator segura um telefone e disca os números, outro ator coloca o fone no ouvido e um terceiro fala. Em

outro ponto da sala, um novo grupo de manipuladores repete o mesmo esquema. Cria-se um diálogo entre os dois grupos.

c) Exercício do livro

Ator 1, segura um livro; ator 2, lê; ator 3, vira as páginas.

d) O boneco invisível

Três atores manipulam um boneco invisível.

Essa cena deve ser ensaiada até o ponto em que os movimentos sejam tão bem coordenados que se “perceba” a

ação do boneco.

O boneco invisível

Laboratório 0 ator e seus duplos, 2000. Foto da autora.

Coordenação a três

Laboratório O ator e seus duplos, 2000. Foto da autora.

Improvisação com

No documento o Ator e Seus Duplos (páginas 111-119)