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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. As PIC nos documentos oficiais da Gestão em Saúde do município

A gestão em saúde do município é influenciada por princípios e diretrizes nacionais e estaduais como parâmetro para o planejamento municipal, embora os municípios possuam autonomia para elaborar seu plano. Para isso, existem as Conferências de Saúde a cada dois anos e o Conselho Municipal de Saúde, com gestão de dois anos justificando a participação popular; o Plano Municipal de Saúde, com vigência de quatro anos e o Plano Plurianual, um instrumento orçamentário que atravessa de uma gestão a outra, garantindo a continuidade administrativa.

No que tange à Jundiaí, encontramos no portal eletrônico da prefeitura os relatórios e atas das Conferências dos anos de 2011, 2015, 2017, 2019 e o Plano Municipal de Saúde de 2018-2021.

No conteúdo dos Relatórios e Atas das Conferências e no Plano Municipal de Saúde verificamos o seguinte cenário para as PIC:

 No relatório final da 9ª Conferência Municipal de Saúde de Jundiaí, 02 de julho de 2011, estando descrita em tópico no “Eixo 1: Política de Saúde na Seguridade Social, segundo os princípios de integralidade, universalidade e equidade - Avanços e Desafios para a Garantia do Acesso e Acolhimento com Qualidade e Equidade”, sendo

11. Implantar unidade de práticas integrativas na assistência prestada às Unidades de serviços da SMS, utilizando os ativos sociais em conjunto com outras Secretarias afins. Estabelecendo parcerias com os demais serviços, Universidades ou outros equipamentos do bairro (p. 2).

Ainda no mesmo relatório, no “Eixo 3: Gestão do SUS (Financiamento; Pacto pela Saúde e Relação Público X Privado) – Avanços e Desafios para a Gestão Pública do SUS”,

30. Implantar práticas integrativas complementares no SUS com a finalidade de prevenir agravos à saúde e promover qualidade de vida (p. 8).

 No Relatório final da Plenária Municipal de Saúde de Jundiaí, de 12 e 13 de junho de 2015, estando presente no “Eixo 5: Gestão do SUS e modelos de Atenção à Saúde”,

12. Implementar as práticas integrativas e complementares na assistência prestada às Unidades de serviços da SMS, utilizando os ativos sociais em conjunto com outras Secretarias afins. Estabelecendo parcerias com os demais serviços, Universidades ou outros equipamentos do bairro (p. 7).

 Na Ata da Conferência Municipal de Jundiaí, de 13 de julho de 2017, as PIC presentes no “Eixo 1: Gestão do SUS e modelos de Atenção à Saúde”, no tópico

4. Implementar as Práticas Integrativas e Complementares (PICS) na assistência prestada às Unidades de Serviço na Unidade de Gestão da Promoção da Saúde (UGPS), utilizando os ativos sociais em conjunto com outras Unidades de Gestão afins e estabelecendo parcerias com os demais serviços, Universidades ou outros equipamentos locais.

Lembrando que foram analisados os relatórios e as atas das Conferências existentes no portal eletrônico da prefeitura, por ser um espaço público e de fácil acesso. Não compreendemos os motivos pelos quais não constam o relatório de 2013 e os Planos das gestões municipais anteriores ao vigente (2018-2021).

 Para as PIC no Plano Municipal de Saúde (PMS) 2018-2021, em vigor, temos os apontamentos

Na Atenção Básica, as Unidades de Saúde trabalham com Práticas Complementares: Lian Gong, Shantala, Massagem e Grupos de Planejamento Familiar, Terapia Comunitária, Diabéticos, Hipertensos e Gestantes (p. 24).

[No tópico que se refere ao contexto do Centro de Convivência e Geração de Renda (Cecco)]. São oferecidas práticas corporais: Lian Gong, Dança Circular, Relaxamento e Automassagem, Ginástica Artística/Rítmica, Ginástica Corporal e Ginástica Postural; Exercícios Terapêuticos Equipes NASF, Oficinas Culturais; Atividades Educativas: Oficina de Artesanato, Oficina de Arte Infanto-juvenil, Educação de Jovens e Adultos, Capacitações da Rede (p. 25).

[No tópico que se refere ao contexto das práticas realizadas na Academia da Saúde]. Oferece atividades que fazem parte do rol de Práticas Integrativas e Complementares (PIC), como ioga, meditação, alongamento, caminhada monitorada, ginástica postural e funcional (p.25).

Ainda no PMS existe uma menção às propostas aprovadas na Conferência de Saúde de 2017, havendo especificamente uma proposta para garantir e qualificar o acesso adequado, humanizado e equânime das necessidades de saúde, voltada especificamente para as PIC com metas no “Eixo 1 – Gestão do SUS e Modelos de Atenção à Saúde”, sendo a de

4. Implementar as Práticas Integrativas e Complementares (PIC) na assistência prestada às Unidades de Serviços da Unidade de Gestão de Promoção da Saúde (UGPS), utilizando os ativos sociais em conjunto com outras Unidades de Gestão afins e estabelecendo parcerias com os demais serviços, Universidades ou outros equipamentos locais).

Deste modo, houve um avanço em relação ao conteúdo no documento ao identificarmos a menção de um Indicador para quantificar o acesso às PIC, assim como meta a de

Garantir que 100% das Unidades de Atenção Básica ofereçam ações de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS).

Indicador: (Nº de unidades que oferecem PICS/total unidades) x 100

O conteúdo apresentado foi o primeiro passo para implantação e implementação das PIC a partir de um debate com o controle social, mesmo o texto sendo genérico e com poucos detalhes sobre quais as modalidades, e qual a porcentagem delas nas AB. Certamente, numa Conferência Municipal há representantes de vários movimentos, tais como: da população, de trabalhadores, de

gestores e políticos que, ao menos, entraram em contato com o tema das PIC, quer fosse no momento dos debates fechados nos temas específicos, quer fosse nos debates abertos antes das votações e, logo, no ajuste do texto da Ata.

Entretanto, as PIC não constam do relatório da última edição, a 11ª Conferência Municipal de Saúde de Jundiaí, de 12 e 13 de abril de 2019, que teve como tema central “A consolidação do SUS para a manutenção do Direito à Saúde”; ou seja, frente ao momento democrático e de confirmação de diretrizes para a saúde municipal, onde estiveram presentes os representantes da participação social, dos profissionais da saúde, da gestão em saúde e de políticos; as PIC foram desqualificadas.

Quais seriam os motivos que poderiam ser apresentados para que, em dois anos, uma política nacional pudesse perder qualificação dentro do município? Não faz parte desta pesquisa buscar minuciosamente respostas para isso, porém podemos tentar apresentar alguns indícios, sendo: desconhecimento das PIC por parte da maioria dos participantes da Conferência, homogeneização do pensamento médico centrado e medicalização.

De uma maneira geral, analisando a presença das PIC nos documentos produzidos propriamente pela gestão em saúde ou em conjunto com a participação social via Conselho Municipal de Saúde, podemos averiguar que os conteúdos dos textos possuem teores muito parecidos, parciais e incompletos entre o período de 2011 a 2017.

Entende-se que esses documentos e conteúdos sejam, a rigor, proposições para estudos e tomadas de decisão do planejamento público da gestão em saúde do município, servindo como diretriz mater dos plano central e local na condução dos orçamentos, das programações e das ações em saúde.

Algo que chama a atenção é a replicação dos conteúdos ano a ano, sem avanços, adaptações e inclusões significativas para o contexto das PNPIC. A crítica caminha no sentido de uma aparente falta de debate e ampliação do tema por parte dos profissionais, dos gestores e da população envolvidos nesse processo. Embora, em uma breve qualificação no relatório da Conferência de 2017, tenha sido incluído o “Indicador” de Saúde para as PIC, a fim de quantificar o acesso para a população

da AB. No entanto, neste período havia abaixo do corpo diretivo de gestão da AB, o cargo de Coordenação em PIC, o que poderia justificar o acréscimo do texto e a aparição das PIC nas Conferências de Saúde.

Haja vista que, no ano de 2019, as PIC não constam no corpo textual do documento instituinte, documento esse que clama participação social e que, por sinal, é gerado a partir das necessidades da população – lembrando que o termo

população inclui a todos: profissionais da saúde, gestão e povo – resumindo, somos

todos nós. No entanto, quem gere o controle social e as políticas de saúde no SUS? Sob este prisma, o campo da PNPIC não constar nos parágrafos dos documentos oficiais do Município é sobreviver na marginalidade da saúde, melhor dizendo, um retrocesso.

4.2. Dados registrados sobre realização de cuidados utilizando as PIC no