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1.2 A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS

1.2.2 A gestão das PIC no Brasil

A princípio a temática sobre a “gestão em saúde” das PIC na AB é incipiente (43) e descompassada (44). Entretanto, encontrou-se no artigo de Sousa

et al. (44) que a PNPIC auxiliou no processo de descrição da organização de oferta

da acupuntura em 26 municípios do Departamento Regional de Saúde XIII de São Paulo, indicando que há esperança de que as diretrizes e princípios descritos em políticas públicas de saúde tenham vida nas gestões municipais; ainda que tal artigo tenha tratado de uma das modalidades das PIC mais comuns na AB (45).

A realidade das pesquisas em PIC no Brasil demonstra margear superficialmente os aspectos pertinentes à “gestão em saúde”. A metodologia das pesquisas encontradas para compor esta dissertação não anunciou nenhuma descrição direta frente a palavra-chave relacionada à “gestão em saúde” com as PIC. Fato que sugere mais atenção para um dos pontos desta dissertação.

As pesquisas encontradas buscam algumas variáveis para compreender as andanças das PIC pelo Brasil, algumas delas dizem respeito às seguintes informações: dados das regiões metropolitanas (46), grandes cidades e capitais referindo-se as regiões distritais (43, 46, 47, 48) e às fontes de dados apresentados pelo MS – Tabnet Datasusk e PMAQ-ABl; todos compondo perfis e características

k Tecnologia da Informação a serviço do SUS (Tabnet Datasus), tem por objetivo disponibilizar

informações para subsidiar análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde. Disponível em:

brasileiras. Até certo ponto, tais pesquisas podem ser consideradas de pequena amostragem sobre o assunto.

Desta forma, em 2018, o MS lança o Manual de Implantação a fim de auxiliar na instrução dos gestores municipais sobre os pontos iniciais e importantes da implantação das PIC (36). Fato que demonstra o interesse por parte desta instância de Saúde em desenvolver a gestão da PNPIC. Isto posto, investir no campo das PIC é também um movimento de consolidação do SUS.

Pensando em toda a RAS tem-se, na oferta das PIC, uma proposta transversal que pode abranger diversos pontos da rede, desenvolvendo e organizando vários elos com diferentes atores, do próprio território e de fora dele. Entende-se que as equipes da AB, como: NASF, USF, consultório de rua, saúde prisional e saúde ribeirinhas e fluviais, estando mais próximos às pessoas, suas famílias e contexto social (36), podem compartilhar saberes.

Percebeu-se na leitura do Manual uma preocupação dele ser um modelo sugestivo para a construção de um Plano de Implantação envolvendo muitos atores sociais sem se tornar, em hipótese alguma, um modelo rígido. A intenção é de colaborar com o desenvolvimento das práticas nos respectivos territórios e facilitar os passos para o cadastramento dos serviços (36).

A proposta é baseada em trabalho conjunto (população, equipes, estabelecimentos, gestores, entre outros) dispondo-se por três fases (36):

1. Levantamento dos atores responsáveis – seria um mapeamento para encontrar profissionais, capacitados ou não, que estejam dispostos a serem parceiros em atuar na assistência ou na educação permanente tanto para ensinar, quanto para desenvolver núcleos de processos de PIC;

2. Diagnóstico situacional – realizar uma pesquisa de campo a fim de identificar nas comunidades os saberes e as tradições viventes, tendo em vista futuras ações de capacitações e aprimoramentos. l Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB): tem por

objetivo incentivar os gestores e equipes de saúde a melhorem os serviços de saúde ofertados. Disponível em http://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-de-melhoria-do-acesso-e-da- qualidade-da-atencao-basica-pmaq

Ainda, realizar levantamentos sobre as vulnerabilidades e o perfil epidemiológico.

3. Análise organizacional – analisar junto ao Plano Municipal de Saúde (PMS) e à Lei de Diretrizes Orçamentárias do Município como estão os recursos financeiros e quais os planos de orçamentos para viabilizar as ofertas em PIC (etapa considerada importante).

A elaboração do Plano de desenvolvimento das PIC se baseia nas seguintes estratégias:

 Regulamentação da oferta das PIC  Capacitação de profissionais

 Apoio matricial

 Cooperação horizontal  Criação de serviços na AB

 Criação de serviços de especialidades em PIC

 Criação de serviços hospitalares e ligados às redes temáticas  Cadastro dos serviços em PIC no CNES

 Divulgação do Plano

O Manual apresenta, ainda, questões sobre as Avaliações e Monitoramentos, indicando formas para o gestor administrar essa temática. Além do mais, tem um espaço para o Financiamento das PIC e por não existir recurso financeiro específico o capítulo apresenta, sucintamente, como funciona o investimento e o custeio dentro do SUS. Ressalta também que os gestores municipais e estaduais necessitam pactuar na Comissão Intergestores Bipartite as ofertas das PIC de interesse, bem como programar o financiamento, determinando o montante designado ao custeio pactuado junto aos Conselhos de Saúde.

Acredita-se que a iniciativa do MS, de criar um Manual que expressa a veemência do tema e que, aos poucos, ajudará a alicerçar a PNPIC nos municípios, tendo em vista a ação junto aos gestores centrais e locais, também podendo contribuir como material didático para os Conselhos de Saúde possam incorporar o assunto e auxiliar na expansão das PIC. Existe um protagonismo por parte dos

gestores centrais, locais e Conselhos que possuem a responsabilidade legal de organizar e estruturar a Saúde para os munícipes.

Num cenário crescente de reconhecimento e investimento em PIC no Brasil e na América Latina, percebeu-se no quesito comunicação um avanço mediado por propostas provenientes de comunidades acadêmicas, como: o Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS)m e o Consórcio Acadêmico Brasileiro para a Saúde Integrativan, e de movimentos populares, como a Rede Nacional de Atores em PICS (RedePICS)o. Toda essa mobilização também contou com uma articulação da OPAS-OMS com a criação, dentro da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), de uma área específica para as Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI)p. Lembrando que toda essa mobilização contou com a participação do MS por meio de representantes das PIC no corpo diretivo da gestão da atenção básica nacional. Fato que parece ter pouca representação, porém de extrema importância, ainda mais por se tratar de um campo político marginalizado (25).

mhttp://observapics.fiocruz.br – é um canal para partilhar experiências e estudos com pesquisadores,

trabalhadores, gestores e usuários do SUS. Abrigado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ), com escritório físico no Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), no Recife, o ObservaPICS reúne pesquisadores e colaboradores técnicos da fundação e de outras instituições do país.

n Este consórcio foi criado em 2017 por um coletivo de brasileiros que acompanharam um modelo da

América do Norte - http://mtci.bvsalud.org/pt/criado-no-brasil-o-primeiro-consorcio-de-pesquisadores- em-saude-integrativa-da-america-latina/. Ver o sitio - https://consorciobr.mtci.bvsalud.org/

o https://www.facebook.com/groups/1664239110504672/ - é uma comunidade criada na rede social

Facebook, tendo como missão promover a articulação e a interação entre os diversos atores, estimular a cidadania e autonomia no cuidado em saúde, gerar informações e produzir notícias sobre as PIC, organizar atores e informações para o reconhecimento em PIC, monitorar e assessorar o processo de implementação da PNPIC, instituir canais de comunicação e construir um projeto para garantir a sustentabilidade da rede e sua comunicação.