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Noção sobre os termos “alternativo”, “complementar” e “integrativo” no campo da

1.2 A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS

1.2.1 Noção sobre os termos “alternativo”, “complementar” e “integrativo” no campo da

1.2.1 Noção sobre os termos “alternativo”, “complementar” e “integrativo” no campo da Saúde

A noção de alternativo no campo da saúde, dimensionada em Medicina Alternativa, teve seu maior desenvolvimento no determinado momento em que o modelo oficial e hegemônico de cuidado e cura passou a ser a Medicina Biomédica, modelo biomédico ou ocidental; concomitantemente, as práticas contrárias passaram a ser consideradas alternativas (39).

Seu primórdio foi marcado pelo contexto social de contracultura das décadas de 60 e 70, por grupos que buscavam criar uma sociedade alternativa. Verificou-se temporalidade com o período da Guerra Fria e da polarização de valores, crenças e práticas sociais entre blocos econômicos e políticos. Constituindo- se numa perspectiva mediada na conjunção coordenativa alternativa “ou... ou” e do verbo “ser”, sendo para a perspectiva profissional o de “ser isso ou aquilo” (39).

A noção de Medicina Complementar se constituiu a partir das afirmações do conhecimento da Física sobre as condições simultâneas entre matéria e energia, culminando com fim da polarização do bloco econômico e político; passando pela mudança de comportamento nas trocas de saberes quanto aos bens materiais e as crenças, muito atrelada ao contexto social da globalização dos anos de 1980 (39).

No conceito “complementar” a perspectiva parece ser mais inclusiva e mediada pela conjunção coordenativa aditiva “e... e” e pelo verbo “ter”, podendo o profissional “ter essa competência e aquela”. Constituiu-se um profissional híbrido que permeia ações entre os especialistas biomédicos e de outros sistemas médicos.

Neste período, nos Estados Unidos, houve a criação do National Center of

Complementary and Alternative Medicine e do National Institute of Health,

importantes referências para o tema. Ainda neste período, a OMS lançou o Programa de Medicina Tradicional (39).

No transcorrer histórico, no campo da saúde, entre o alternativo (ou SER isso ou SER aquilo) e o complementar (e TER essa e TER aquela) o pensar e agir humano projetavam criar um ambiente mais integrado, numa perspectiva crescente de pluralismo terapêutico.

Em meados da primeira década dos anos 2000, dentro do contexto da revolução científica, quando a ciência normal biomédica atravessava dificuldades na condução terapêutica e enfrentava-se a descrença do cuidado e cura alternativa e a inconclusa ação complementar, novamente o pensar humano entra e lança mão da noção de Integratividade (39).

À luz da incompletude das noções anteriores, o momento passa a ser criativo para o contexto do novo paradigma integrativo, fundindo-se no que conhecemos por Medicina Integrativa, assim

(...) unir o que há de melhor em diferentes tradições; acolher a pessoa incluindo corpo, mente, espírito e cultura; fornecer cuidado e cura, destacando a participação ativa de diferentes profissionais e do paciente; qualificar os desejos e necessidades das pessoas em tratamento como evidências fundamentais do processo de tomada de decisão (39).

O sentido da palavra integrativo indica para o uso do verbo integrar e, para não ser repetitivo no momento de utilizar um verbo, foi pensado em outro que pudesse dar uma noção de comparação como, por exemplo, de um tecido no outro, onde se pode ver a presença dos dois, mas ao mesmo tempo não se sabe ao certo qual é qual, pois ambos estão formando uma totalidade. Desta forma, chegou-se ao verbo harmonizar.

Acompanhando a linha de raciocínio apresentada para as outras noções quanto a possuir uma perspectiva mediada por conjunções, esta última é mediada pela conjunção subordinativa proporcional “à medida que” e pelo verbo “harmonizar”, onde o profissional pode “harmonizar esse, à medida que aquele”.

Num esforço final sobre a noção dos termos estudados, coube pensar sobre o termo biomédico proveniente da Medicina Biomédica, constituição cultural e contemporânea por uma narrativa ímpar. Neste contexto, atribuiu-se ao termo referido o verbo “ordenar” seguido da conjunção subordinativa condicional “sem que”, o que permite aos profissionais uma perspectiva de “ordenar isso, sem que tenha aquilo”, a partir disso, constituindo uma noção única, onipresente.

Temos no quadro abaixo uma ilustração sobre as diferentes noções discutidas até o presente momento, sendo elas: Biomédica, Alternativa, Complementar e Integrativa. Segue Quadro 1:

Quadro 1 – Noções sobre as medicinas: Biomédica, Alternativa, Complementar e Integrativa.

Medicina Perspectiva mediada

pela conjunção Verbo Perspectiva profissional pôde Biomédica Sem que Ordenar Ordenar isso, sem que tenha aquilo

Alternativa* Ou... ou Ser Ser isso ou aquilo

Complementar* E... e Ter Ter essa e aquela

Integrativa À medida que Harmonizar Harmonizar esse, à medida que aquele

Fonte: Complementado e elaborado a partir de Barros et al, 2010 (39).

A Medicina Integrativa conquistou maior representação nos debates do campo da saúde ao buscar aliança com as medicinas Alternativa e Complementar, trazendo um novo paradigma para a saúde, identificando-se com importantes temas como: integralidade do cuidado, humanização das reações, construção de evidências científicas e mudança na educação em saúde (40). Não obstante, entende-se que este movimento reforçou hegemonicamente a biomedicina por manter as demais medicinas supracitadas como modelos suplementares.

Um exemplo clássico é o modelo de acesso à Medicina Homeopática praticada na AB de Jundiaí, onde o protocolo de encaminhamento estabelece primeiro a consulta com o Médico Clínico Geral e, a partir de sua conduta, o usuário seguirá ou não para a homeopatia. Entende-se que este modelo de fluxo de encaminhamento seja passível de viés de conduta, por depender única e exclusivamente de uma compreensão médica que possui outra lógica terapêutica.

Neste sentido, por meio de revisão sistemática da literatura no Medline, no período de 1996 a 2005, comparando 36 trabalhos foi percebido diferentes definições sobre a medicina integrativa e sua relação com as medicinas alternativa e complementar (40). Definições estas, apontando para semelhanças, entre elas, compreender o humano holisticamente e, para diferenças, como a falta de evidências científicas. O que permite pensarmos, hipoteticamente, que a homeopatia pode sofrer baixa adesão por falta de conhecimento no ato médico. Até mesmo, por ter menor credibilidade entre os profissionais de saúde, como exemplo, no serviço público dos munícipios de Itumbiara e Panamá (GO) e em Araporã (MG) (41).

Barros (42), na busca de compreender ainda mais as relações e diferenças entre os modelos de Medicina Alternativa e Complementar com a Medicina Biomédica, desenvolve ao longo do seu estudo uma perspectiva quanti- qualitativa, de sintomas, causas e correlações para expressar as atuações destes núcleos de conhecimento da medicina com a saúde-cuidado-doença. Utilizando o estudo de Barros (42), adaptando-o e ampliando seus dimensionamentos para a Medicina Integrativa, apresentamos, abaixo, o Quadro 2:

Quadro 2 – Dimensionamentos sobre os modelos de cuidado. Modelo Causa/ Sintoma Qualitativo/

Quantitativo

Causa/Sintoma & Qualitativo/Quantitativo

Biomédico Detém-se mais nos sintomas que nas

causas.

Usa mais a dimensão quantitativa.

Age sobre o sintoma mais urgente, quantitativamente, e,

com isso, considera a causa menos importante. Alternativo Detém-se mais nas

causas que nos sintomas.

Usa mais a dimensão qualitativa.

Age sobre a causa mais importante, qualitativamente, e,

com isso, considera o sintoma menos urgente. Complementar Detém-se primeiro

nos sintomas, mas busca as causas

Usa igualmente as duas, mas primeiro

a dimensão quantitativa

Age sobre o sintoma mais urgente, quantitativamente, para

identificá-lo na biografia do indivíduo e buscar a causa mais

importante, qualitativamente. Integrativo Detém-se na compreensão da interação entre causas e sintomas e, sintomas e causas. Usa igualmente as duas, busca maior equilíbrio entre as dimensões quanti -

qualitativas.

Age sobre a interação do sintoma e causa mais emergente, quanti - qualitativamente, para identificá-lo na biografia do indivíduo e buscar

a causa. Fonte: Complementado e elaborado a partir de Barros, 2008 (42).

Este trilhar por terras distintas, considerando os modelos discutidos e suas diferenças e, ao mesmo tempo encontrando polarizações pareadas entre cada modelo, levou a Medicina Integrativa a um status validado, justamente, por trazer à luz de seu discurso, mais fortemente, propostas de evidências científicas, gerando melhor aceitação pela hegemonia da saúde.

Neste momento, frente ao contexto histórico apresentado sobre a PNPIC e as PIC, surgem algumas inquietações sobre a gestão das PIC dentro do cenário brasileiro, tal como ocorrem nos municípios foco de presunção do SUS.