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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4. Atuação na gestão das Práticas Integrativas e Complementares e perfil sócio

Jundiaí/SP

No período de abril a maio de 2019 foram entrevistadas seis gerentes de US, cujas idades variam entre 43 e 52 anos, de cor branca (cinco) e parda (uma), de religião católica (quatro) e evangélica (duas), profissão de odontologia (uma) e enfermagem (cinco). A predominância da formação em enfermagem e do sexo feminino também foi encontrada em outros estudos realizados (41, 47, 63).

A obtenção do diploma de graduação acadêmica ocorreu entre os anos de 1990 e 2001, sendo em faculdades públicas (três) e privadas (três). A pós- graduação em nível de especialização ocorreu na totalidade o que nos indica certo interesse pela continuidade da formação, corroborando os achados de Machado et

al. (48). As especializações se deram, especificamente, na saúde pública/coletiva/da

família, com conclusão entre 1993 e 2017; cinco delas realizadas em faculdades públicas. A base salarial varia entre três e onze salários mínimosx, com vínculos empregatícios pelos modelos da CLT (duas), do público estatutário (três) e misto (uma), conjugando divisão de carga horária entre o Estado e a CLT, conforme Quadro 11.

x Base de cálculo do Salário Mínimo R$ 989,00 Disponível em:

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/governo-propoe-salario-minimo-de-r-103900-para-o- ano-que-vem.shtml

Quadro 11 – Características sociodemográficas das gerentes das Unidades de Saúde pesquisadas, Jundaí-SP, 2019.

E11 E21 E31 E41 E51 E61

Idade 49 43 52 46 45 46

Gênero Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino

Cor Branca Branca Parda Branca Branca Branca

Religião Católica Evangélica Evangélica Católica Católica Católica

Renda 9 a 11 3 a 5 6 a 8 3 a 5 6 a 8 9 a 11

Formação Odontologia Enfermagem Enfermagem Enfermagem Enfermagem Enfermagem

Instituição FOP/Unicamp Unifeso/RJ FEF2 Uniban Uniban Uniban

Anos de Conclusão 30 22 30 19 21 22 Especialização a) SF 3 b) GCRS4 SF2 a) Saúde Pública b) GCRS4 Saúde Coletiva a) SFC5 b) Preceptoria c) GCRS4 Saúde Pública Instituição a) Unifesp b) Sírio-Libanês UNIFESO a) Faerp b) Sírio- Libanês Unicamp a) Unicamp b) Facamp c) Sírio-Libanês São Camilo Anos de Conclusão a) 08 b) 03 18 a) 27 b) 03 12 a) 15 b) 11 c) 03 15

Unidade de Saúde (US) USF USF UBS/EACS UBS/EACS UBS/EACS UBS/EACS

Sabe do caderno de PNPIC Sim Sim Não Não Sim Sim

Estudou sobre a PNPIC Não Não Não Não Não Não

Participou Educação

Permanente em PNPIC Não Não Não

Lian gong, ofertada

pela PMJ Não Não

Usou a PNPIC no serviço Não Sim Não Não Sim Não

Tem o caderno da PNPIC na

US Sim Sim Não Não Não sei Não

Cite alguma PIC

Acupuntura, aromaterapia, dança circular, fitoterapia,

lian gong, shantala, yoga

Acupuntura, dança

circular, lian gong ---

Acupuntura, auriculoterapia, dança circular, horta, kokedama, lian gong, relaxamento, roda de chá Auriculoterapia, lian gong Auriculoterapia, lian gong, yoga

Discutiu a PNPIC com a equipe

Reunião de equipe, matriciamentos (SM, Ortopedia, reumatologia), colegiado gerente, reunião

NASF Reunião de equipe, matriciamentos (SM, Ortopedia, reumatol), colegiado gerente, reunião NASF

Não ACS e farmacêutica

Reunião de equipe, matriciamentos SM, reunião NASF Reunião de equipe Continua

Quadro 11 – Continuação

E11 E21 E31 E41 E51 E61

Foi abordada por profissional

da equipe sobre a PIC Não lembro Não Sim

Ela mesma, caminhada, atividade física acupuntura horta

Não Não

Existe profissional com

formação em PIC no serviço Não

- Médico, lian gong, HSVP - 2 ACS, lian gong, dança circular, PMJ - Médico, acupuntura, PMJ - Farmacêutica, plantas medicinais, HSVP - Médico, acupuntura, PMJ - Farmacêutica, plantas medicinais, HSVP Não

Foi abordada por usuário

sobre as PIC Não Não Não Não

lian gong,

atividade física Não

Existe Conselho Local (CL)

na sua US Sim Não Sim Sim Sim Sim

Foi abordada pelo CL sobre

as PIC Não Não Não Não Não Não

Abordou sobre a PNPIC no

CL Arteterapia Não Não Não Não Não

Foi abordada pelo CMS Não Não Não Não Não Não

Acompanha o PMS Sim Sim Não Não Sim Sim

Concorda com 100% que as

PIC estejam nas US Sim Sim Sim Sim Sim Sim

Existe comunicação em PIC na US

Cartazes, folders, redes sociais

Cartazes, panfletos e

boca-boca Não

Cartazes e

facebook Não Cartaz

Gestão central divulga PIC

(permanente) Não sei Não sei Não Não Não Não

Há planejamento municipal

em PIC Não Sim Não Não Não Não

Existe a função de

coordenação em PIC Não sei Sim Não Não Não Sim

Existe grupo de Trabalho

sobre as PIC Não sei Não sei Não sei Não Não Sim

Obs.: 1 Ordem das entrevistadas; 2 Fundação Educacional de Fernandópolis; 3 Saúde da Família; 4 Gestão da Clínica em Regiões de Saúde; 5 Saúde da

Família e Comunidade. Fonte: Elaborado pelo autor.

Em relação a trabalhar na AB, considerando a atuação total, e especificamente em Jundiaí, as entrevistadas têm tempo mínimo de 13 e máximo 20 anos. Na função gerencial, houve de quatro a 16 anos de atuação, sendo que todas gerenciam a mesma US na qual iniciaram carreira (Quadro 12).

Quadro 12 – Perfil do tempo de serviço das gerentes na Atenção Básica e na Unidade de Saúde, Jundiaí-SP, 2019.

Variáveis E1* E2* E3* E4* E5* E6*

Vínculo empregatício CLT HCSVP + Estado CLT HCSVP Estatutária CLT HCSVP Estatutária Estatutária AB total (anos) 16 21 18 18 19 14 AB Jundiaí (anos) 17 16 18 18 14 14 Vínculo atual (anos) 17 16 18 18 07 14 Início UBS USF/EACS (anos) 17 05 06 08 07 09

* Ordem das entrevistadas. Fonte: Elaborado pelo autor.

A predominância de enfermeiras no cargo de gerência pode ter relação com a própria formação acadêmica que preconiza uma parte da carga horária com a disciplina de administração, considerando as características de administração hospitalar incidindo sobre a competência da gestão ao núcleo da enfermagem.

No que se refere à gestão das PIC em suas Unidades, encontramos quatro gerentes que conhecem o caderno da PNPIC, porém com nível básico de conhecimento, em consonância com os estudos já realizados (41, 44), e somente duas delas reconhecem a existência das PIC na US. Duas se utilizaram da política no serviço, tendo uma delas participado da Educação Permanente em formação de instrutor de lian gong fornecida pela UGPS de Jundiaí aos seus profissionais de saúde. Destaca-se um achado contraditório: durante a entrevista do Módulo 3, de

perguntas abertas, uma das gerentes relatou capacitação nível 2 em reike sendo que, anteriormente, na entrevista fechada esse tópico não apareceu, o que ela alegou foi que, durante as perguntas abertas, foi possível ficar mais à vontade ao fluir do tema.

Quanto a discutir sobre a PNPIC com a equipe, as gerentes relatam que acontece durante as reuniões de equipe (quatro), matriciamento de SM (três), matriciamentos de ortopedia e reumatologia (duas), colegiado de gerentes (duas) e reunião com o NASF (três); apontando esses como momentos que oportunizam as discussões; porém ocorrem em baixíssima frequência quando se trata das PIC. Vale ressaltar, que foi unânime a concordância de que a oferta das PIC no município deve ocorrer em todas as Unidades, caminhando conjuntamente com os estudos de Machado et al. (47). Tal corrobora com Gontijo & Nunes (41) que apontam que as PIC são importantes para o SUS.

No que tange ao conhecimento das modalidades em PIC, quando perguntadas, as gerentes citaram com maior frequência o lian gong (cinco), e também a acupuntura, a dança circular e a auriculoterapia (três), seguidas por aromaterapia, fitoterapia, horta, kokedama, shantala e yoga (uma). Notou-se que foram as PIC presentes como oferta na Unidade de referência da gerente.

Sobre a participação popular por meio do controle social exercido pelos conselhos local de saúde (CL) e municipal, cinco das unidades possuem CL, porém nenhuma gerente foi abordada por conselheiros e apenas (uma) levou o tema para a reunião do CL, especificamente a PIC denominada como arteterapia.

Quanto à remuneração, verificou-se diferença salarial entre estatutárias e terceirizadas, o que de certa forma pode ser visto como meio de beneficiar a ampliação de equipes nas USF e EACS no município pelo menor custo em recursos humanos e melhor maleabilidade no formato de contrato de trabalho; seguindo a tendência nacional de privatizações (64).

Sob o ponto de vista do trabalho cotidiano, e das relações entre colegas de diferentes contratos de trabalho, poderá se tornar complexa a relação no serviço devido às diferenças existentes tanto no valor dos salários quanto nos benefícios

recebidos em maior escala pelo grupo de estatutárias, como: férias prêmio, falta abonada, vale transporte e a maior diferença no valor do vale alimentação.

Encontramos a dominância do gênero feminino, o que pode estar relacionado ao perfil de egressos na graduação em enfermagem e ao contexto histórico profissional; da cor branca, fator que pode refletir as invisibilidades raciais sobre maiores oportunidades de cursar o ensino superior do núcleo; e ,ainda, a predominância da enfermagem, o que pode passar pelo modelo de formação que contém a administração, e também favorecer ao modelo cientifico biomédico cujo escopo da educação permanente acontece na área que atuam e com distanciamento do campo das PIC; no entanto, todas as gerentes concordam com cobertura total por meio da PNPIC em abrangência da AB.

A partir dos dados, vê-se que houve divergência no conhecimento por parte das gerentes sobre a existência de planejamento, de coordenação e de grupo de trabalho municipal em PIC. Esse cenário é um dos entraves do gerenciamento, sendo um ponto que esta pesquisa busca dirimir a partir dos sentidos atribuídos as PIC pelas gerentes, ou seja, compreender a permeabilidade das PIC no campo da gestão em saúde municipal.

Losso & Freitas (49) colocam que a gestão das PIC no SUS podem sofrer com o modelo político devido a alternância quadrienal permissivo a troca dos cargos de gestão central da saúde, o que prejudica a continuidade das ações. Ilustrando o exposto acima, o atual governo de Jundiaí, do período de 2017-2020, extinguiu do convênio terceirizado de saúde o cargo de coordenação em PIC, alegando que fora um ajuste de nomenclaturas necessário para aglutinar todos os contratos na Estratégia Saúde da Família, ou seja, um mero ajuste administrativo.

Este cargo foi viabilizado para atender a uma política pública entendida pelo governo de 2009-2012 como necessária para fortalecer e priorizar a gestão, bem como também a contratação de profissionais. Portanto, em 2017, o cargo passa a não ser mais prioridade, demonstrando a fragilidade das políticas do SUS enquanto ainda não sejam leis, mas preconizações.

Não parece que exista relação entre tal extinção do cargo com a insegurança de definição das gerentes com as PIC, porém vale destacar a

fragilidade da política com a descontinuidade da função. Devo ressaltar aqui que a administração atual contratou uma coordenadora para o NASF e que dentro de suas responsabilidades estão as pastas das PIC e do PAS.