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3. A MÁSCARA DA INCLUSÃO

3.6 AS POSSIBILIDADES DA INCLUSÃO: UM NOVO PARADIGMA

Permito-me iniciar este tema, trazendo a fala da professora responsável pelos atendimentos na sala de recursos que a escola pesquisada oferece. Neste espaço são atendidas crianças que apresentam dificuldades mentais e também aquelas as quais aponto na pesquisa que são normais e apresentam dificuldades de aprendizagem. O atendimento ocorre em horário extra classe, sob forma de atendimento individualizado e seqüencial, semelhante à sessões de terapia e por isso, o número de alunos beneficiados é reduzido. Embora a maioria dos alunos em Progressão Parcial não se beneficiam com esse atendimento, solicitei à professora que executa esta atividade que fizesse um relato oral (o qual foi gravado), sobre a sua visão a respeito da questão inclusão escolar na escola pesquisada, uma vez que ela também é personagem no palco dessa pesquisa:

A inclusão é possível, porém, nós, profissionais da educação, devemos ter uma nova visão sobre a escola e o que é realmente a inclusão. Quando se fala em inclusão as pessoas pensam em que incluir seria apenas em relação às crianças deficientes, mas não é isso, temos que ter o seguinte pensamento: devemos incluir a todos na escola, o negro, o gordo, os que têm dificuldade de aprendizagem e não só os deficientes, porque hoje a escola não está mais dando conta, nem sabendo lidar com os alunos ditos “normais”, quando se enfrenta uma dificuldade de aprendizagem logo dizem que é caso para psicóloga, Apae, que é deficiente. Não se leva em conta toda a história do aluno, sua vivencia familiar, o contexto de onde ele vem e muitas vezes os profes rotulam esse aluno, o que dificulta mais ainda sua aprendizagem.

A professora indica a necessidade de uma investigação aprofundada acerca das dificuldades que o aluno apresenta e das causas originárias para que então se construa uma resposta, ou diagnóstico, para cada um. Do mesmo modo que um médico não pode usar o mesmo diagnóstico para cada paciente, nós, professores, não podemos avaliar os alunos da mesma forma. Do mesmo modo, a fala da professora aponta para a importância de se ter “uma nova visão” sobre a escola e a educação, ou seja, anuncia o esgotamento do modelo paradigmático que institui a escola, expressando sua convicção de que a inclusão requer uma nova escola.

Discute-se muito sobre a inclusão de todos nesse ambiente, mas precisamos mudar toda estrutura da escola, não só o profissional pensar numa proposta político pedagógica inovadora que estimule a diversidade encontrada em sala de aula. Temos que levar em conta as múltiplas inteligências do aluno, ele pode ser bom em matemática e péssimo em português, ter a letra feia, mas não é isso que vai determinar se será um bom profissional, uma pessoa bem sucedida na vida, pode se destacar em outras áreas, nas artes, na música, ou outra. Temos que mudar a forma de avaliar, a mesma não deve ser vista como forma de medir o grau de inteligência do aluno e sim deve ver o que tem de bom e de ruim, buscando melhorar. Sempre digo aos meus alunos quando eles se chamam de burro, que ‘ninguém é burro’, cada um tem uma forma diferente de aprender, e nós professores muitas vezes não sabemos como avaliar isso.

Sei que a escola estigmatiza e classifica muito os alunos, isso precisa mudar urgentemente, quando falo isso não é pra criticar, pois faço parte desse grupo de profes. Nós devemos a cada dia rever nossa prática, nos questionar: Como foi minha aula hoje? Tava legal? Teve aproveitamento? Os alunos se envolveram? Gostaram? Participaram da aula? Ou foi simplesmente mais uma aula que eu dei por dar? Os profes têm que se avaliar e não só avaliar os alunos. Sei que há professores maravilhosos, que usam atividades diversificadas e também há aqueles que só dão a aula para passar mais um dia letivo.

Percebo na fala da professora, que há reconhecimento dos problemas escolares e que, na sua opinião, mesmo que implicitamente, o problema da exclusão está relacionado à prática pedagógica. Como nos diz Sanches (1996).

Sendo assim, as metodologias de ensino teriam como ponto central a criança/jovem e, da análise dos seus saberes e necessidades, resultaria o estabelecimento do programa a desenvolver, programa integrador das aprendizagens já realizadas e a realizar. Só partindo do aluno se pode chegar ao aluno e a todos os alunos, numa perspectiva de Educação para Todos, numa Escola Inclusiva, onde qualidade e sucesso educativos sejam um componente exigida e a exigir a todos os intervenientes educativos (SANCHES, 1996, p. 27).

Assim, fazendo um levantamento do perfil individual e coletivo das aprendizagens, é que o professor poderá construir o perfil de intervenção pedagógica que irá adotar com sua turma. Sei que não é fácil, que os resultados demoram a aparecer, porém, o quadro negativo nos resultados da aprendizagem que vimos através desta pesquisa, não diferem da educação escolar como um todo. Vencer o desinteresse demonstrado pela sociedade frente à educação é desafio, também, diário dos professores, há que se fazer muito esforço para manter o entusiasmo necessário para responder as exigências do contexto escolar, como revela ainda a fala da professora da sala de recursos:

Preocupa-me muito, que conversando com eles (alunos), trabalhando por um tempo mais longo, usando muito o lúdico, métodos diferenciados em aula, diferente daquela rotineira que eles relatam da aula regular de copiar do quadro todo dia, escrever e responder, em que não se usa muito o lúdico, o que percebo é que aqui o aluno faz, vem feliz para o atendimento e lá na sala de aula ele não consegue.

O aluno não entendeu e a profe manda para a sala de recursos, pois tem ‘problema de aprendizagem, porém às vezes penso que pode ser problema de ensinagem’. Por isso que digo que nos profes temos que rever a nossa prática, trocar idéias, planejar, discutir, ver como variar o trabalho. A escola é muito conteudista, acredita que o que vale é cumprir o dia letivo e a carga horária e trabalhar conteúdos. Só que vivemos numa sociedade em que saber ler e escrever é muito pouco. Nosso aluno tem que ter uma leitura de mundo para saber viver e conviver nesse mundo que esta aí, precisamos preparar o aluno para a vida. Ao falar em inclusão não posso deixar de falar em família, pois, lá também deve haver inclusão, hoje ela deixa muito do seu papel para a escola, os pais não se responsabilizam, não impõe limites, enfrentamos muitos problemas de crianças indisciplinadas, temos que fazer um trabalho unindo família e escola para ter sucesso. Costumo dizer que crianças são como borboletas, umas voam logo, outras demoram mais para voar, mas todas conseguem voar dentro de suas limitações. Assim afirmo que cada criança aprende, e os profes precisam respeitar essa diversidade, acredito na inclusão, mas também creio que ela está longe de acontecer, para isso deve haver mudança de paradigma, comportamento, pensamento, e não são todas as pessoas que estão abertas a mudanças, elas resistem e se negam.

Encerro essa entrevista dizendo que inclusão é possível, mas precisamos mudar nossos paradigmas.