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3 O TERCEIRO ESPÍRITO DO CAPITALISMO DA DUALIZAÇÃO DO

8.4 O DIREITO AMBIENTAL DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO

8.4.2 As proposições teórico-filosóficas e teórico-dogmáticas para

Direitos Constitucionais Fundamentais

Para a doutrina jurídico-trabalhista clássica, o Direito do Trabalho consolidou-se para reger o trabalho livre/subordinado que, na era do Estado do Bem-Estar Social e do Pleno Emprego, abrangia a maioria da população economicamente ativa.

Atualmente, com a supremacia do trabalho clandestino, de tempo parcial, o subemprego, todos convivendo com o desemprego estrutural, entra em crise e passa a ver o seu objeto – o trabalho livre/subordinado – ser problematizado e refutado. Igualmente, porque surgem outras concepções acerca do trabalho humano, que põem em relevo o seu sentido ontológico. Daí identificam-se duas concepções teóricas que buscam redefinir os fundamentos deste ramo do direito.

A primeira foi construída por Everaldo Gaspar Lopes de Andrade, que considera refutados os fundamentos do Direito do Trabalho (ANDRADE, 2005, 2008, 2014), baseado em duas justificativas: 1) as evidências empíricas e analíticas que descartam o trabalho livre/subordinado como centro de referência da sociabilidade e como a priori da teoria social contemporânea, em geral, e do Direito do Trabalho, em particular; 2) a supremacia do sindicalismo de raiz reformista e reivindicativa, o qual voltou as costas para as lutas emancipatórias, sem as quais o Direito do Trabalho não resiste às refutações que lhe são impostas.

As evidências empíricas demonstram a supremacia, no âmbito da população economicamente ativa, do trabalho informal, clandestino que convive, repita-se, com o desemprego estrutural. Se o Direito do Trabalho nasceu para proteger a maioria deste universo, que vende a sua força de trabalho, mas hoje alcança, quando muito, a metade desta população, se encontra refutado. Refutado, igualmente, porque não conseguiu superar a aporia em que esteve historicamente envolvido – trabalho ao mesmo tempo livre e subordinado –, nem substituir ou colocar em relevo o trabalho propriamente livre. Além disso, não conseguiu vislumbrar uma contradição nos estudos sobre o Direito Sindical: privilegiar os movimentos reformistas em detrimento dos emancipatórios, sem os quais é impossível imprimir uma visão dialética para um direito que surge, se institui e se transforma a partir das lutas de classe.

Argumentos semelhantes vêm sendo apresentados por vários pesquisadores, a fim de justificar, gnosiologicamente, novos fundamentos para o Direito Individual ou Coletivo do Trabalho, sem os quais também é impossível vislumbrar uma nova concepção teórica para o Direito Ambiental do Trabalho.

Mencionada concepção enquadra o Direito do Trabalho na categoria dos Direitos Humanos Fundamentais, porém a partir do trabalho em sua dimensão ontológica, que apreende a existência humana como um todo e não como prevê a teoria organizacional conservadora, que serve para revelar apenas o seu lado sacrificial.

Para Marcuse, o trabalho é visto na sua dimensão ontológica, “isto é, um conceito que apreende o ser da própria existência humana como tal”. Ele rechaça a concepção dada pela moderna ciência do trabalho, que não englobaria os seus caracteres fundamentais, por isso revela o seu lado penoso “da caracterização como fardo”. Reivindica o aludido filósofo um trabalho libertado da alienação e da coisificação, “para que ele se torne novamente aquilo que é conforme sua essência: a realização efetiva, plena e livre do homem como um todo em seu mundo histórico” (MARCUSE, 1998, p. 10, 44). Este trabalho trata, especificamente, do Direito Ambiental do Trabalho. Descreve, criticamente, os sentidos do meio ambiente de trabalho, no contexto da doutrina clássica, ecomo ele deve ser encarado, a partir da teoria jurídico- trabalhista crítica. Estabelece um complemento teórico-dogmático aos fundamentos teórico-filosóficos de Everaldo Gaspar Lopes de Andrade, e, como tal, aproxima-se da concepção defendida por Lenio Streck (STRECK, 2014).

Este autordefende que o Direitodeve ser visto como instrumento de transformação social e superação do que chamou disfuncionalidade do Direito e das Instituições encarregadas de aplicar a lei, forjados sob o paradigma liberal-individualista.A sua tese procura apontar para a superação dos modelos aristotélico-tomista e da filosofia da consciência e recuperar a especificidade do jurídico por meio do que passou a denominar de plus normativo e qualitativo, proporcionado pelo Estado Democrático do Direito. Para ele,

O habitus não fica adstrito ao campo jurídico; penetra por todas as frestas do modo de produção do Direito. Como decorrência, a dogmática jurídica terá o seu papel definido no processo de efetivação (ou não) dos direitos em conformidade com o modo de produção do Direito vigente em nossa sociedade, que, por sua vez, será instrumentalizado/sustentado pelo respectivo campo jurídico, no interior do qual ocorre o processo de produção, circulação e consumo do discurso jurídico, que responde(rá) pela articulação de instituições e práticas no contexto das quais ocorre o processo de formulação da lei, em um primeiro momento; da produção do sentido dessa mesma lei, em um segundo momento, em momentos subsequentes, de sua

aplicação cotidiana pelos tribunais, onde estes momentos atuam dialeticamente (Idem, p. 243-344).

Várias obras recentes encontram-se afinadas com esta corrente, porbuscarem relacionar a eficácia da norma trabalhista no exercício da jurisdição ou do acesso à justiça especializada. Inúmeros autores alinham-se com as ideias de efetividade dos direitos humanos, enfatizam a eficácia da norma trabalhista no exercício da jurisdição ou o acesso à justiça especializada, analisam o processo como instrumento de realização dos direitos fundamentais (CORDEIRO; CAIXETA, 2007) ou revolvem o Princípio da Proteção, buscando novas formulações (CAVALCANTI, 2008; REIS, 2010; CARVALHO, 2013; BORBA, 2008). Há também, nessa linha, obras elaboradas como fruto das preocupações do Ministério Público do Trabalho183.

Mesmo que se possa discordar dos argumentos aqui lançados, não é aceitável a reprodução de velhas doutrinas, já que a ciência não rima com dogmas. Afinal,

Se o Direito do Trabalho veio para proteger a maioria da população economicamente ativa – como aconteceu no esplendor do Estado do Bem-Estar Social – mas, hoje, consegue proteger metade desse universo, refutado está o seu objeto – trabalho livre/subordinado -, porque deveria proteger todas as pessoas que pretendem viver de um trabalho ou de uma renda dignos, sobretudo, aqueles que exercitam o trabalho livre (ANDRADE, 2008).

No âmbito específico das relações coletivas ou sindicais e do processo como instrumento de realização dos direitos fundamentais, se torna imprescindível vencer a obsolescência da velha doutrina, para ampliar as esferas reivindicativas e jurisdicionais de proteção ao meio ambiente e à natureza.

O agronegócio 184 pratica um crime contra um patrimônio da humanidade, ao desmatar uma média de mil quilômetros por semestre, tendo destruído quase toda a mata atlântica e as reservas do semiárido. Desmatam e matam. As últimas notícias dão conta de que a nascente do Rio São Francisco está morrendo, secando, o mesmo acontecendo com os seus principais afluentes, por conta do desmatamento. E a luta coletiva dos trabalhadores tem

183

Ver: SIMÓN, 2000 (uma vez que o MAT engloba a proteção da intimidade); BRITO FILHO, 2004; JARDIM; LIRA, 2013; ANPT, 2002; MELO, 2013, dentre muitas outras.

184

Jaime Breilh fez duras críticas ao neoliberalismo e ao modelo agrícola adotado pelo agronegócio. “O sistema capitalista é incompatível com a saúde e a vida”, avalia o epidemiologista:

https://www.facebook.com/ObservatorioDoAgrotoxico/photos/a.1134747669923019.10737418 28.1114648428599610/1134747536589699/?type=3&theater. Acesso em: 20/06/2016.

total relação com isso e com um sistema econômico destrutivo, insano, que compromete os destinos da própria humanidade. Não se trata apenas de ampliar os cânones da proteção ao trabalho, mas também as lutas coletivas, emancipatórias, para além daquelas privilegiadas pelo sindicalismo reformista.

8.4.3. A reconfiguração teórico-dogmática do meio ambiente do trabalho, o