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“A causa de Timor-Leste foi, durante anos, e continua a ser, acompanhada e sentida como um desígnio nacional, que mereceu o esforço empenhado de políticos e intelectuais, e da diplomacia portuguesa em várias instâncias e fora, a ponto de comprometer o nosso relacionamento com alguns países da Ásia e de macular a fluidez das relações bilaterais com diversos países ocidentais, sempre que a questão de Timor- Leste/Indonésia era colocada. A lembrada reacção da Austrália ao encerrar a sua

missão diplomática, em Lisboa, é disso um claro exemplo” 65.

Assinale-se que Portugal exerceu um papel de relevo em diferentes fases do processo de autodeterminação e independência do povo irmão timorense e de apoio político,

62 SECCO, Carmen Lúcia Tindó, A Literatura Brasileira e a Paixão pela Língua Portuguesa, uma Língua

de Memórias, Afetos e Rumores, in Interpenetração da Língua e Culturas de/em Língua Portuguesa na CPLP, pág.27

63 XVI Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da CPLP, Luanda, 22 de julho de 2011, pág. 8 64 MARCHUETA, Maria Regina, A CPLP e seu Enquadramento, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

Biblioteca Diplomática, Serie A, janeiro de 2003, pág. 89

65 MARCHUETA, Maria Regina, A CPLP e seu Enquadramento, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

diplomático, económico e social no pós-independência, que será analisado com pormenores logo a seguir.

Portugal desempenhou um papel fundamental no processo de reconhecimento, pela comunidade internacional, do direito do povo timorense à sua autodeterminação, que conduziria ao referendo de 30 de agosto de 1999 (Marchueta, 2003, 97).

Sobre o assunto em análise, refira-se que, paralelamente aos esforços empreendidos por Portugal pela causa do povo do Timor-Leste, Moçambique, por vários anos, também, assumiu um papel de extrema relevância. Durante a luta contra a ocupação indonésia, o Estado moçambicano, então dirigido pelo Marechal da República, Samora Moisés Machel, acolheu, acomodou, deu apoio moral, material e logístico a centenas de combatentes da FRETLIN e de numerosos refugiados timorenses, que foram estudando em diferentes escolas primárias, secundárias e universitárias do solo pátrio moçambicano. Exemplo disso clarividente, é de Mary Alcatiri, um dos combatentes e alto responsável da FRETLIN, que se formou em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), em Maputo, onde o autor também se formou. O apoio de Moçambique à causa do povo timorense, continuado pelos sucessores do falecido Presidente Samora Machel, custou caro ao país, levando a rivalidades com países ocidentais, com a Indonésia em particular, incluindo a Austrália, situação que, nos dias que correm, ficou ultrapassada, graças a um sistemático e intenso trabalho diplomático realizado pelo governo moçambicano e de compreensão das partes interessadas no processo, conforme constatam altos dirigentes do governo moçambicano e de notícias veiculadas pelos media.

No processo do referendo que conduziria à independência de Timor-Leste, Moçambique participou com uma delegação de alto nível. Ao nível interno, quer na sociedade, quer nas Universidades moçambicanas, foram organizadas grandiosas manifestações em apoio a esse processo, onde o autor tomou parte, quando então estudante do 2.º Ano do curso de Direito, na Faculdade de Direito da UEM. Já no período de transição à independência, a pasta do Ministério da Justiça foi ocupada por uma jurista moçambicana.

Depois da independência de Timor-Leste, resta-nos agora, nas breves linhas que se seguem, fazer uma abordagem sumária das relações bilaterais de cooperação nos vários domínios entre Portugal e aquele primeiro país asiático recém-independente de Língua Portuguesa, começando pela área económica.

7.1. Relações económicas

No capítulo das relações bilaterais de cooperação económica entre Portugal e o jovem Estado de Timor-Leste, destaca-se a contribuição portuguesa com um montante no valor de 15 milhões de dólares para os diversos fundos das Nações Unidas, tendo despendido 5,870 milhões de contos para os programas e projetos de cooperação bilateral, agrupados em cinco áreas específicas: apoio ao sistema educativo (1 360 000), assistência humanitária e saúde (600 000), apoio à estruturação do futuro Estado e reforço da sociedade civil (950 000), construção e reabilitação de edifícios (1 010 000), e apoio ao desenvolvimento económico (1 950 000). No total, segundo o Programa Indicativo da Cooperação Portuguesa para Apoio à Transição de Timor-Leste-2000, as despesas previstas para o ano 2000 ascenderam a 15 006 000 contos. A este montante, acresce ainda a contribuição portuguesa com os donativos da sociedade civil, recolhidos

pelo Fundo de Solidariedade Portugal-Timor, num montante estimado em um milhão de contos, destinados a acções de apoio social e humanitário.66

7.2. Relações diplomáticas

Na página das relações diplomáticas bilaterais entre Portugal e o novo Estado de Timor-Leste, analisando o que ficou atrás plasmado, dúvidas não teremos em concluir que entre os dois Estados existem e existirão boas e reforçadas relações diplomáticas. Reforça esta posição a particularidade da referência oficial portuguesa nesse sentido de que: “As outras opções preferenciais recaem sobre o apoio à construção de estruturas políticas e administrativas…” 67.

7.3. Relações no âmbito da Educação e materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa

7.4. Relações no âmbito da Educação

As relações bilaterais no âmbito da Educação entre Portugal e o Timor-Leste centram-se, fundamentalmente, nas áreas da educação e difusão da língua portuguesa, do apoio institucional ao novo Estado e da estruturação de uma sociedade civil organizada e funcional, em coordenação com a UNTAET e em obediência ao princípio da complementaridade.

Nesse sentido, encontramos expressa a posição oficial portuguesa de que: “A principal prioridade da cooperação bilateral com Timor-Leste recai sobre a educação e a implantação da língua portuguesa, enquanto fatores estruturantes do novo Estado. Nela, assumem particular relevo das escolas, das instituições religiosas e da comunicação social, e o regular funcionamento do sistema educativo de Timor-Leste. As outras opções preferenciais recaem sobre o apoio à construção de estruturas políticas e administrativas e ao desenvolvimento económico, social e cultural, em colaboração com os demais países doadores e organizações internacionais presentes no território” 68.

7.5. Materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa

Conforme atrás ficou claramente patente, a par da Educação, a reimplantação do projeto de difusão da língua portuguesa em Timor-Leste, configura como uma das prioridades da agenda política externa portuguesa. Daí assistir-se hoje os media portugueses a cobrirem programas de ensino nas escolas timorenses, com professores portugueses a lecionarem, em estreita colaboração com professores locais, formados ou conhecedores da língua portuguesa.

Portanto, a ter êxito tal projeto no território timorense, o que, aliás, é um fato praticamente consumado, a CPLP contará com mais um membro efetivamente falante da língua de Camões, circunstância esta que, de per si, constituirá um avanço significativo nas estatísticas internacionais da população mundial que fala esta língua latina.

66 Idem, Ibidem, pág. 99 67 Idem, Ibidem, pág. 99 68 Idem, Ibidem, pág. 99

7.6. Relações no domínio da cooperação institucional

As relações bilaterais no domínio da cooperação institucional entre Portugal e o Timor-Leste, à semelhança dos outros setores essenciais de que atrás se fez menção, o da cooperação institucional, logicamente, beneficia do mesmo grau de prioridade, atendendo o interesse particular luso por este território recém-independente da Ásia. Aliás, essa posição vem claramente confirmada de forma categórica e expressa, quando Portugal reafirma que: “Privilegiadas as acções de carácter multilateral, a cooperação bilateral portuguesa com Timor-Leste centra-se, essencialmente, nas

áreas…, do apoio institucional ao novo Estado…” 69.

8. Balanço sumário das relações bilaterais de cooperação entre Portugal e os Sete