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Um dos graves problemas que contribui negativamente para a não produção de alimentos em grandes quantidades e qualidade visando mitigar o problema da fome que afecta hoje 28 milhões de cidadãos na CPLP, reside, exactamente, na fraca mecanização da agricultura dos Estados-membros, com a excepção do Brasil e de Portugal.

A situação é preocuante ao nível dos PALOP, onde a agricultura é praticada maioritariamente com recurso a instrumentos de produção ainda arcaicos, como o

machado e a catana para o corte de árvores, a enxada e tracção animal para lavrar a terra.

Naquelas condições, torna-se praticamente impossível lavrar extensas porções de terra para produzir alimentos em quantidades suficientes, susceptíveis de satisfazer as necessidades alimentares de populações numerosas, que se multiplicam ano após ano. Por outras palavras, o número de populações aumenta consideravelmente em cada ano e, em contrapartida, a produção de alimentos não corresponde ao rítmo desse aumento A solução deste problema, na óptica do autor, passa pela reorientação das prioridades nos planos de desenvolvimento económico e social dos Estados-membros da CPLP, configurando, então, a agricultura, em paralelo com a pecuária, na lista das prioridades. Esta actividade implica, logo à partida, a concentração de esforços principais, orientados em três vetores fundamentais: 1) alocação de recursos financeiros, materiais e humanos qualificados suficientes a este setor; 2) formação de agrónomos básicos, médios e superiores, dotados de capacidades de saber fazer; 3) aquisição e introdução de meios de produção modernos, designadamente tratores com as respectivas alfaias agrícolas, caterpílares para desbravar as intensas matas que a maioria dos PALOP detêm.

Para isso, a cooperação com o Brasil, Portugal e outros países detentores das referidas tecnologias agrícolas avançadas, tanto para a sua aquisição como para a formação de agrónomos, essencialmente dos níveis médio e superior, afigura-se tarefa primordial de magnitude indispensável para os PALOP e, eventualmente, para o Timor- Leste, na perspetiva de reduzir ao máximo a fome, que assola milhões de cidadãos da nossa Comunidade.

Como dizia, e com razão, Murade Murargy, Secretário Executivo da CPLP, de que atrás se vem fazendo alusão, “temos tecnologia, caso do Brasil”.

No ponto de vista do autor, Brasil, Portugal e outros países parceiros da CPLP, possuidores de tais tecnologias agrícolas e com longa experiência neste setor, através dum acordo prévio de cooperação para esse fim, depois de formarem quadros agrónomos dos níveis médio e superior, podiam, graduamente, transferir as correspondentes tecnologias para os PALOP, incluindo Timor-Leste, processo que seria tecnicamente assistido por aqueles países aos países beneficiários, por um período que variasse entre dez a quinze anos ou mais, conforme as exigências e necessidades de progressos alcançados por cada país no preciso memento.

4.1. Formação básica, média e superior de agrónomos da CPLP

A formação básica e média de técnicos agrónomos da CPLP, num programa orientado para a conjugação de esforços comuns visando combater a fome no seio da Comunidade, decorreria dentro dos respectivos países, com o apoio de Portugal, do Brasil e doutros países, mediante um prévio acordo de cooperação reciprocamente vantajoso. Já no que toca à formação superior, decorreria simultaneamente nos países acabados de mencionar e nos respectivos países beneficiários, processo que seria acompanhado por um apoio na reabilitação, alargamento e apetrechamento das instituições agrárias básicas, médias e superiores existentes em cada país, bem assim de construção de outras novas.

A construção das novas infraestruturas obedeceria um critério regional de localização dentro do território nacional de cada Estado-membro, por exemplo, regiões Norte, Centro e Sul, por forma a abranger maior número possível de cidadãos ao nível nacional.

No caso moçambicano, esforços seriam empreendidos no apoio à reabilitação, alargamento e apetrechamento com equipamentos informáticos, laboratórios com

respectivo equipamento, construção de salas de aulas, campos desportivos, residências para professores e alunos internos, identificação de outros campos férteis para o cultivo nos Institutos Médios Agrários de Boane, na província de Maputo, de Chimoio, na província de Manica, de Tete, de Cuamba e Sanga, na província do Niassa, de Pemba, na província de Cabo Delgado. A reconversão em institutos médio e superior das antigas Escolas de Artes e Ofícios de Carapira, na Ilha de Moçambique, de Ribàué, respectivamente, ambas na província de Nampula.

Por outro lado, numa fase posterior, tornar-se-ia necessário construir novos Institutos médios e superiores no regulado de Camôco e no Posto Admnistrativo de Muite, ambos no Distrito de Mecubúri, província de Nampula. Esta necessidade é justificada pela existência de grandes extensões de terra fértil para a prática tanto de agricultura como de pecuária.

Em poucos anos, cultivando-se extensas áreas, através dum processo mecanizado, acompanhado por um sistema de irrigação e pulverização dos campos cultivados, quer naquelas duas zonas, quer noutras das províncias de Maputo, de Manica, Niassa, Cabo Delgado e Tete, atrás mencionadas, Moçambique teria resolvido o problema da fome da maioria da população ciclicamente afectada por este mal social, e teria um excedente tanto para a reserva de alimentos destinados a socorrer as populações em caso de calamidades naturais, como sejam a seca e cheias, ou para a exportação.

Diga-se, em boa verdade, Moçambique, do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico, é repleto de terras férteis para a prática de agricultura, produzindo diversos tipos de produtos alimentares que, mecanizando-a, podem produzir-se alimentos não só para a população a nível nacional, como para exportar para os países membros da CPLP e outros.

Concluindo, a CPLP, no seu esforço comum de combate à fome que afeta hoje 28 milhões de habitantes, torna-se necessário, no interior de cada Estado-membro, identificar terras aráveis para a prática de agricultura e pecuária, prioritariamente para a produção de produtos alimentares tendo em consideração os hábitos alimentares das populações de cada país, bem como a criação de animais de pequena espécie e, de certo modo, dos gados bovino e suino; identificar igualmente Técnicos e Engenheiros Agrónomos experientes, com o objetivo de realizarem uma pesquisa conjunta em cada um dos Estados-membros, visando recomendar o aproveitamento dos respectivos solos para a produção de produtos alimentres suficientes, fazerem um acompanhamento permanente desses programas em coordenação com os dirigentes que superintendem o setor de agricultura dos mesmos países.

4.1.2. Produtos alimentares a produzir na luta contra a fome na CPLP

Na luta contra a fome na CPLP, no âmbito do programa acabado de referir, os esforços dos agrónomos com os requisitos também atrás apontados, de acordo com os hábitos alimentares dos habitantes de cada Estado-membro e das características dos respetivos solos, haveriam que concentrar esforços principais na recomendação de cultivo dos seguintes produtos: arroz, milho, batata-reno, batata doce, mandioca, cereais africanos como a mapira, a mexoeira, a naxemim, marrupi, feijões, hortícolas, plantio de árvores de fruta, com ênfase para larangeiras, mangueiras, ananaseiros, tangerineiras, abacateiras, ateiras, limoeiros, incluindo coqueiros, entre outras.

Esforço paralelo, seria direcionado para a prática de pecuária, conforme atrás se referiu, criando-se aí animais de pequena espécie, nomeadamente ovelhas, cabritos, coelhos, porcos e aves, tais como perú, patos de todas espécies e galinhas, incluindo

animais de grande porte como o gado bovino, cavalo e burro, estes dois úlimos a serem usados, em alguns casos, como meio de transporte de carga.

Neste processo, à semelhança do programa de agricultura, envolver-se-iam médicos veterinários da Comunidade que, em coordenação com os médicos veterinários locais, fariam uma pesquisa visando detrminar as espécies de animais a criar, com resultados práticos e encorajadores para os camponeses, tanto para a criação para o consumo familiar, como para a venda no mercado nacional, da CPLP e noutros espaços a nível internacional.

Nos dois programas, de agricultura e de fomento pecuário, em princípio de longo prazo, os Estados-membros haveriam que adquirir sementes melhoradas do conjunto de cereais atrás mencionados, bem como de insumos agrícolas e pestecidas e vendê-los, a preços acessíveis aos camponeses.

Tendo em atenção que os camponeses muitas vezes se encontram desprovidos imediatamente de recursos financeiros para comprarem tais sementes melhoradas, insumos agrícolas e pestecidas, atribuir-se-lhes-ia em forma de crédito, que seria debitado no ato da venda dos produtos agro-pecuários durante o fim da época da campanha agrícola ou do crescimento de animais criados, respectivamente.

Tais programas, de agricultura e de pecuária, visam, basicamente, aumentar a quantidade e melhorar a qualidade dos produtos alimentares a produzir e dos animais a criar, constituindo, deste modo, uma base sustentável de alimentação das populações dos Estados-membros da Comunidade.

Para o efeito, tornar-se-ia necessário, semestral ou anualmente, elaborar-se um relatório no qual se apontariam êxitos alcançados, refletindo os resultados concretos obtidos, e constrangimentos, recomentando-se, no caso, as formas e métodos da sua supressão.

Desse modo, no entender do autor, com tal esforço comum dos Estados-membros, envolvendo cada um seus agránomos e médicos veterinários, guiados pelo princípio de “união faz a força”, venceriamos a luta contra a fome na nossa Comunidade, pese embora um trabalho reconhecidamente de difícil implementação, tendo em atenção os recursos financeiros, materiais e humanos necessários a envolver no processo, que são, à partida, escassos, e as prioridades definidas por cada Estado-membro, no ambito do seu plano estratégico de desenvolvimento económico e social.