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Balanço sumário das relações bilaterais de cooperação entre Portugal e os Sete

Considerando que as relações bilaterais de amizade e cooperação de Portugal se estabelecem com todos os Estados-membros da CPLP, do balanço que delas resulta, positivo ou negativo, influencia decisivamente o rumo que esta Comunidade toma e tomará nas suas intenções de se afirmar na palestra mundial, de influenciar as grandes decisões de interesse comum que nela se tomam e, consequentemente, põe na balança o papel que Portugal desempenha no seio desta grande Comunidade intercontinental, que é a CPLP.

Assim, da análise atrás acabada de apresentar em torno dessas relações bilaterais de amizade e de cooperação entre Portugal e os sete Estados-membros da CPLP, nomeadamente Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Brasil e Timor-Leste, a avaliar pelos dados em presença, caraterizados por esforços redobrados de Portugal em manter e fortalecer cada vez mais essas relações, mediante ações concretas no apoio ao relançamento económico e social, no estreitamento de relações diplomáticas, na formação de quadros para diferentes setores da vida económica e social, no apoio à capacitação institucional dos PALOP e de Timor-Leste, na difusão da língua portuguesa nos Estados destes dois últimos, em colaboração com o Brasil; se houver vontade política, coragem, determinação e ações concertadas no conjunto dos seus membros em implementar os objetivos previstos nos Estatutos desta Comunidade, tendo em consideração a crise económica e financeira mundial que ainda continua a afetar as econmias da maior parte dos países a nível internacional, dúvidas, em nós, não cabem senão concluir que, no cômputo geral, tais relações são boas, construtivas e, grosso modo, criam esperanças em que, no futuro, alicerçarão a afirmação inequívoca da CPLP como ator de peso no plano internacional.

Todavia, entre Portugal e a Guiné-Bissau, esforços diplomáticos conjugados, baseados na compreensão, tolerância e perdão recíprocos sobre as faltas cometidas no passado por ambas as partes, devem ser empreendidos no sentido de aprofundamento e melhoria das suas relações, identificando os pontos de discórdia com vista à sua supressão e criação dum clima de confiança mútua, que conduza ao restabelecimento da amizade, da solidariedade e da cooperação sem ressentimentos, e mutuamente frutuosa, mediante diálogo permaente.

Analisadas que foram as relações bilaterais entre Portugal e os restantes sete Estados- membros da CPLP, importa, agora, abordar o papel que Portugal desempenha nesta Comunidade.

CAPÍTULO III

PODE PORTUGAL LIDERAR A CPLP IGNORANDO O PAPEL QUE O BRASIL E ANGOLA PODEM DESEMPENHAR DENTRO DA COMUNIDADE?

Liderar uma Comunidade cujos Estados-membros se encontram localizados em quatro continentes, nomeadamente em África, na América Latina, na Ásia e na Europa, como a CPLP, um e outro com alto nível de desenvolvimento económico e social, afirmando-se, inclusivamente, na cena mundial como potência económica emergente, ou potência económica regional emergente, tais sejam, respetivamente, os casos do Brasil e de Angola, não se afigura tarefa fácil. Requer, por um lado, possuir técnicos altamente qualificados em vários setores da atividade económica, social, científica e técnica, bem como quadros dirigentes competentes, dinâmicos, com elevada visão do mundo contemporâneo, corajosos e determinados na hora de tomar decisão certa e no lugar certo, com apurado sentido de responsabilidade, espírito de pronto servir a pátria, o povo e, em última análise, a própria Comunidade.

Por outro lado, requer que o Estado-membro, líder da Comunidade, tenha uma classe política forte, unida e decidida quando se trate de apreciar e decidir sobre questões políticas sensíveis nacionais e internacionais com interesse directo para a Comunidade, e todos com elevada motivação.

Ora, Portugal carrega nas suas costas essa espinhosa e complexa missão histórica de remar o barco a bom porto, liderando a CPLP, onde os seus Estados-membros se encontram geograficamente situados em quatro continentes, nomeadamente África, América Latina, Ásia e Europa, respetivamente Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Brasil, Timor-Leste e próprio Portugal.

Acresce a esses fatores a particularidade da grandeza territorial da maioria dos Estados-membros, como o Brasil, Angola, Moçambique e, de certo modo, o Timor- Leste. Todos, no seu conjunto, com culturas, níveis de desenvolvimento económico, social, cultural, científico, técnico e tecnológico diferenciados, e uma população numerosa, com necessidades diversificadas, cada vez mais crescentes a satisfazer, desde as alimentares, habitacionais, de infraestruturas económico-sociais, de entretenimento e lazer, de formação em todas áreas do saber humano, até as de desenvolvimento económico, social, cultural, científico, técnico e tecnológico. Para ilustrar o que acaba de ser dito, passemos, de seguida, a analisar, resumidamente, o número de população e o crescimento económico dos três principais países da CPLP, cujas economias são consideradas as maiores no seio desta Comunidade.

1. Brasil: tem 190 755 799 habitantes (resultados definitivos de 2010). A economia brasileira tem um mercado livre e exportador. O seu Produto Interno Bruto (PIB) é de aproximadamente 2,5 trilhões de dólares (R$ 3,674 964 trilhões), tornando-se na sétima maior economia do mundo em 2010, conforme o FMI, e o Banco Mundial, e a segunda maior do continente americano, atrás apenas dos EUA. A economia brasileira tem apresentado um crescimento consistente e, segundo o banco de investimento Goldman Sachs, ela deve tornar-se na quarta maior economia do mundo por volta de 2050.

O Brasil é membro de diversas organizações económicas, nomeadamente o Mercosul, a UNASUL, o G8+5, o G20 e o Grupo de Caims. O seu número de parceiros comerciais é na ordem de centenas, com 60% das exportações, principalmente de produtos manufaturados. Os principais parceiros comerciais do Brasil em 2008 foram: Mercosul e América Latina (25,9% do comércio), União Europeia (23,4%), Ásia (18,9%), Estados Unidos da América (14,0%) e outros (61). Conforme se pode depreender pelos dados acima ilustrados, a economia brasileira está em franco crescimento, apresenta, internamente, forte paridade de poder de compra, um elevado PIB, possui vários parceiros comerciais espalhados em diversas partes do mundo, há um equilíbrio entre o crescimento demográfico e o crescimento económico, fator este bastante salutar para a sustentabilidade económica de um país. 2. Angola: tem 15 116 000 habitantes (estimativa do governo. Angola não realiza um censo populacional há várias décadas, estava o próximo previsto para 2013). A economia angolana foi bastante afetada pela guerra prolongada, que durou quase trinta anos. Todavia, apresenta boas taxas de crescimento económico, apoiadas principalmente pelas suas exportações de petróleo. As jazidas de petróleo encontram-se localizadas em quase toda a extensão da sua costa marítima.

O setor primário é constituído por agricultura e mineração, o secundário por indústria, sendo, o terciário, constituído por transportes e construção civil.

O PIB de Angola, segundo dados de 2007, é de US$ 91 286 bilhões (62º) e, o PIB per capita no mesmo ano, foi de US$ 5 898 (90º). O crescimento do PIB em 2008 foi de 16,30% 70.

Os principais parceiros comerciais de Angola, segundo foi referido no capítulo anterior, são Brasil e Portugal.

3. Portugal: tem 10 555 853 habitantes (resultados preliminares do censo de 2011). O Fundo Monetário Internacional (FMI) previa que a economia portuguesa cresceria 1,1% em 2010. Mas, para 2011, apontava para uma travagem a fundo, com uma nova estagnação. Quer dizer, um crescimento de 0%.

Na sua análise da economia global o FMI justificava o crescimento zero com o processo de consolidação orçamental e respetivas medidas recessivas, mas também com os desequilíbrios orçamentais e de competitividade 71.

Sobre os dados demográficos e económicos das três principais economias dos Estados-membros da CPLP acabados de mencionar, designadamente Brasil, Angola e Portugal, tendo uma relação íntima com o desenvolvimento económico e social e o crescimento económico, dois aspetos que se mostrarão extremamente relevantes nas conclusões a extrair do tema em análise, convém, à partida, e por questões metodológicas, que se delimite quando tem lugar cada um destes.