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Conforme atrás ficou demonstrado, foram firmados vários acordos, protocolos, convénios, cartas de intenções, programas de geminação das escolas do ensino básico, Regulamento do Protocolo com a Fundação Luso-Brasileira, entre outros, todos relativos a diversas áreas de cooperação: económica, social, cultural e técnico-científica, visando desenvolver essas áreas nos Estados-membros da CPLP.

Porém, os resultados até agora alcançados na maior parte desses acordos não atingiram metade dos objetivos inicialmente previstos. Está na origem destes constrangimentos, de entre outros, a escassez de recursos financeiros, materiais e humanos adequadamente qualificados, no caso destes últimos, para o exercício de funções tecnicamente mais exigentes, caso que se sente com maior incidência nos PALOP e em Timor-Leste. Estes constrangimentos vieram a agravar-se ainda mais com a deflagração da crise económica e financeira internacional.

Acresce a essas dificuldades a diminuta divulgação nos Estados-membros, em particular nos PALOP, caso específico de Moçambique, país do autor, quer do conjunto daqueles acordos e protocolos, quer do que seja a própria CPLP, os objetivos que esta prossegue e os princípios que a orienta.

Disso resulta que, havendo desconhecimento dos cidadãos dos Estados-membros da CPLP sobre a existência e funções desta Comunidade, dificilmente encontre apoio e adesão destes àqueles programas, de per si importantes para o desenvolvimento multissetorial, especialmente o apoio do setor económico público e privado, que muito poderia contribuir para a execução de certos programas previstos nos acordos e protocolos.

A solução alternativa do problema, recomenda que os Estados-membros com potencialidades económicas e financeiras, como o Brasil e Angola, assumam a dianteira, seguidos por Portugal, invistam nos projetos económicos, no setor empresarial e na prestação de bens e serviços que lhes proporcionem vantagens recíprocas. Em paralelo com isso, Portugal e Brasil, que possuem técnicos superiores e médios altamente qualificados, contribuam para a formação de técnicos a esses níveis e áreas da atividade económica e social nos PALOP e Timor-Leste, incorporando nesse processo os técnicos qualificados, superiores e médios destes países, existentes e previamente identificados. De entre as várias áreas prioritárias, por exemplo, podia prestar-se especial atenção à construção de infraestruras económicas e sociais, nomeadamente estradas e pontes que dêem acesso às fontes de matérias-primas e zonas potencialmente agrícolas e comerciais; da montagem de indústrias extrativas e de processamento de matérias-

primas com existência abundante; montagem dum sistema de energia eléctrica de alta potência; investimento na agro-pecuária; transportes e comunicações; transferência de tecnologias para esses setores, tanto por Portugal como pelo Brasil, acompanhado por um processo de formação quantitativa e qualitativa dos respectivos técnicos superiores e médios especializados, sem descurar os das áreas de Educação e Saúde, atividade que seria complementada por técnicos qualificados dos PALOP e Timor-Leste, previamente identificados.

Simultaneamente a este conjunto de atividades, o intercâmbio cultural entre os cidadãos dos Estados-membros, nas áreas que cada um revelasse maior preparação, nomeadamente na música, no desporto, nas artes, na culinária, no teatro, entre outras, devia ser estimulado pelos respetivos países, através, por exemplo, do envolvimento do setor empresarial privado, pois a cultura permite um conhecimento mútuo que favorece o fortalecimento de laços de amizade, e solidariedade, que são a fonte imprescindível do fortalecimento da cooperação multilateral mutuamente vantajosa e, consequentemente, de afirmação da CPLP na arena internacional.

Note-se que a transferência gradual de tecnologias para os PALOP e Timor-Leste é questão que depende da vontade política e determinação de Portugal e do Brasil.

Todavia, os PALOP e o Timor-Leste, não devem unicamente esperar pelas iniciativas de Portugal e do Brasil na transferência de tecnologias para as áreas que entendem estarem preparados para adquiri-las. Por via das relações de amizade e cooperação que mantêm com outros países do mundo, por exemplo, podem também fazê-lo. Mas, para tanto, devem apostar na formação quantitativa e qualitativa de quadros para os setores entendidos estratégicos, cujos critérios da sua composição devem, acima de tudo, obedecer os princípios da representatividade a nível nacional, sem qualquer tipo de exclusão social, nomeadamente étnica, regional, racial, religiosa, de sexo, posição social, opção político-partidária, entre outras formas de exclusão social, devendo, sim, a exclusão única aceitável, ser a competência técnico-profissional e a idoneidade.

Em última instância, a exclusão social provoca a fuga de cérebros nos nossos países, adiando indefinidamente o desenvolvimento e bem-estar dos nossos povos. Urge corrigir esta situação o mais rápido possível. Basta de misérias racionalmente evitáveis. O momento não é de palavras, mas de acção.

Finalmente, todas as relações de amizade e cooperação de que atrás se fez menção, só serão justas e duradouras se forem acompanhadas, indissociavelmente, pelos princípios rigorosos da igualdade e de vantagens reciprocamente vantajosas, pois, de outro modo, serão um fracasso total, fatal e irreversível, com grandes feridas difíceis de sanar no futuro.

Portanto, nessa luta sem fim, que envolve e envolverá gerações sobre gerações, a CPLP para vencer, precisa de união e de solidariedade perpétuas entre os seus Estados- membros.

Por isso, o slogan deve ser: “Nós, Estados-membros da CPLP, unidos, solidários, seremos uma Comunidade forte e desenvolvida, com peso na arena internacional”.

CAPÍTULO II

RELAÇÕES BILATERAIS DE COOPERAÇÃO ENTRE PORTUGAL E OS OITO ESTADOS-MEMBROS DA CPLP

1. As relações bilaterais de cooperação entre Portugal e os sete Estados-membros