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“Desde a independência de Cabo Verde, o papel de Portugal tem-se feito sentir na primeira linha dos países doadores, nos sectores da cooperação política, económica, cultural, educacional, da ciência e tecnologia, da justiça, da segurança, e da defesa, sendo o seu principal parceiro comercial, o maior investidor e o país que mais se destaca, quer em termos de ajuda económica, quer no campo das infra-estruturas estratégicas (portos e aeroportos) ” 30.

Com efeito, dados de 2001, extraídos no Relatório do CAD/OCDE indicam que o montante anual de ajuda bilateral portuguesa a Cabo Verde foi de 22 milhões de dólares.

Portanto, não é por mero acaso que se encontram na sociedade portuguesa inúmeros cidadãos cabo-verdianos a trabalhar em diferentes setores de atividade económica e social ou com ela relacionada, e, não raros casos, se encontram também a assumir cargos não menos importantes de chefia. Este fato, de per si, traduz, efetivamente, as tradicionais e frutíferas relações de amizade e cooperação cimentadas desde a independência nacional do arquipélago de Cabo Verde com Portugal, em 1975.

30 MARCHUETA, Maria Regina, A CPLP e seu Enquadramento, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

Assim, uma abordagem das áreas atrás mencionadas no âmbito dessa cooperação entre os dois países, serão a seguir desenvolvidas começando pelo setor da atividade económica.

2.1. Relações económicas

Conforme se fez menção logo na introdução deste ponto relativo à cooperação luso- cabo-verdiana, o arquipélago de Cabo Verde tem em Portugal o doador primário em quase todos os setores da atividade económica e social, relação esta criada desde a independência do país e que se vem consolidando até aos dias que correm.

Para além de Portugal, Cabo Verde recebe igualmente apoio ao seu desenvolvimento de outros países europeus, como sejam França, Espanha, Suécia, Holanda, Alemanha. Fora do continente europeu, o país recebe ainda outros apoios de países latino- americanos e asiáticos, designadamente Brasil, Cuba e China respectivamente, os quais são orientados, basicamente, para o fornecimento de produtos alimentares básicos, de água e ao financiamento do setor de habitação, das infraestruturas de comunicação e saneamento das zonas urbanas. Este conjunto de garantias apesar de assegurar o razoável bem-estar dos cabo-verdianos, traz consigo pesada dívida externa31.

Com Portugal, desde a sua independência nacional, Cabo verde assinou vários acordos, destacando-se o acordo geral de cooperação e amizade e o de arranjo monetário-cambial, cujo objetivo era a fixação da taxa de câmbio entre o escudo cabo- verdiano e o escudo português, implicando isto uma relação direta da moeda cabo- verdiana e o Euro, com efeito a partir de 2002.

“Através desse acordo, Portugal comprometeu-se a reforçar as reservas externas da divisa cabo-verdiana, ao mesmo tempo que a paridade, assim estabelecida, constituía garantia de uma maior estabilidade para a economia do país, auxiliando a regulação dos preços e assegurando condições favoráveis parta o investimento externo” 32.

Em relação a dívida de Cabo Verde para com Portugal ronda os 10% do montante total, no valor de 29,2 milhões de dólares. Já no plano social, Portugal acolhe cerca de 100 mil imigrantes cabo-verdianos, entre legais e ilegais 33.

2.2. Relações diplomáticas

As relações diplomáticas bilaterais entre Portugal e Cabo Verde, a avaliar pelas declarações oficiais tanto de altos responsáveis como de cidadãos comuns de ambos os países, que sempre sublinharam a existência de um clima salutar de relacionamento, maioritariamente diplomático, tudo leva a concluir que são boas.

Tal ponto de vista é alicerçado pelo estabelecimento de embaixadas nos territórios dos dois Estados e, os respectivos Embaixadores, a exercerem as suas actividades diplomáticas com a normalidade desejável sem, portanto, registo oficial de incidentes diplomáticos, quer dum lado, quer do outro.

31 MARCHUETA, Maria Regina, A CPLP e seu Enquadramento, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

Biblioteca Diplomática, Série A, janeiro 2003, pág. 76

32 Idem, Ibidem, pág. 76 33 Idem, Ibidem, pág. 77

2.3. Relações no âmbito da Educação e materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa

2.3.1. Relações no âmbito da Educação

Cabo Verde tem dado especial importância ao setor da Educação. Da ajuda bilateral portuguesa que recebe, reparte, “…por ordem decrescente, 20% à educação (recursos humanos) e 30% do total orçamentado, a que se seguem os sectores da administração pública, serviços de desenvolvimento e planeamento, saúde (reformas institucionais), e da área produtiva, designadamente indústria, turismo, agricultura e pescas, e construção (parceria nos mais diversos sectores e reforço da iniciativa privada) ” 34. O aplicar maior percentagem no sector da Educação, apostando, com ênfase para a formação e capacitação de recursos humanos, Cabo Verde colhe frutos que resultam na boa gestão da coisa pública, na criação de condições do bem-estar dos cabo-verdianos, pese embora com a escassez de recursos naturais no arquipélago. Resultado dessa boa política na Educação, visível se nota, também, na igualdade social entre os cidadãos, aspeto salutar para uma estabilidade política e segurança nacional.

2.3.2. Materialização de projetos de promoção e difusão da língua portuguesa Não obstante à sua natureza arquipelágica e forte dependência externa (25% do seu PNB), Cabo Verde não tem o problema de unidade nacional. Antes pelo contrário, há coesão inquebrantável entre o povo cabo-verdiano, factor fundamental para a governação equilibrada que, em última análise, só favorece a difusão da língua portuguesa.

“… Com uma única língua nacional veicular – o crioulo -, o português é, em Cabo Verde, língua de aprendizagem escolar, de manifestação artística e de expressão social,

assumindo, ao mesmo tempo, um carácter, eminentemente social, oficial” 35.

Aliás, o fato de o crioulo ser uma única língua nacional em Cabo Verde, não exclui a importância transcendental de que se reveste a língua portuguesa. Antes pelo contrário, o seu uso na aprendizagem escolar, na manifestação artística e na expressão social, constitui força motriz impulsionadora do papel comunicacional que o Português consigo transporta na vida social e cultural dos cabo-verdianos, difundindo-o no limite das fronteiras do arquipélago e fora delas.

Em síntese, o crioulo, por ser uma única língua nacional veicular em Cabo Verde, facilita a conjugação de esforços direcionados ao processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa pois, a dispersão de línguas nacionais, no interior dum Estado, como amiúde acontece em muitos países africanos, cria constrangimentos excedentários em seleccionar ou agrupar para determinar as que podem ser representativas na comunicação nacional.

2.3.3. Relações no domínio da cooperação institucional

A análise do grau de funcionalidade das relações entre Portugal e Cabo Verde no domínio da cooperação institucional, não configura tarefa fácil, dado que elas se misturam no rol das múltiplas relações que aquele primeiro país mantém com este último.

34 Idem, Ibidem, pág. 77 35 Idem, Ibidem, pág. 77

Para sustentar esta opinião, basta referir que tais relações abrangem os setores da cooperação política, económica, cultural, educacional, científica e tecnológica, da justiça, da segurança e da defesa, bem assim, das infra-estruturas estratégicas (portos e aeroportos).

Porém, num esforço tendente a apresentar uma abordagem sumária sobre a matéria em apreço, dir-se-á que Portugal, num exercício quase conjugado, presta assistência a Cabo Verde em todos os setores acima apontados, quer financeira, quer material, quer ainda formando os correspondentes recursos humanos, com vista à sua capacitação funcional.

Fala-se em exercício conjugado porque, na prática, na execução do conjunto daquelas actividades intervêm, embora de forma independente, vários países provenientes desde Europa, América Latina, a Ásia, segundo se ilustrou aquando da análise das relações económicas (em 3.2.1.).