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Enfrentar e vencer a dura batalha da competitividade desenfreada do mundo globalizado e cada vez mais globalizante que vivemos hoje, exige união entre os Estados e povos, bem como no interior destes e, no caso particular das forças de segurança e da defesa da CPLP, para além da união que é fator indispensável para o êxito nessa batalha, exige-se, inadiavelmente, também, que a sua composição seja representativa a nível nacional, sendo multiétnicas, multirraciais, multiregionais, multirreligiosas, com a observância rigorosa da unidade na diferença, isto é, respeito recíproco pelas diferenças, preservando os valores positivos que alicercem essa unidade.

As diferenças são uma riqueza humana que deve ser valorizada e sabiamente explorada para o bem comum. Esse é o esforço civilizadamente exigido a todos os governos da CPLP, que deve constar eternamente nas suas agendas de governação, sob pena de não o fazendo, incorrer no risco de perpetuar os conflitos sociais que adiam ciclicamente o desenvolvimento económico e social, cultural, científico, técnico e tecnológico dos nossos Estados e povos, pois os grupos socialmente excluídos sempre lutam para impor a igualdade, a justiça e, em última instância, se verem valorizados.

98 Drª Amélia Mingas (Diretora Executiva do IILP), Principais Eixos de Intervenção Atuais da CPLP, in

Pensar, Comunicar, Atuar em Língua Portuguesa, 10 Anos da CPLP, Lisboa, pág. 81

99 VIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, XV Reunião Ordinária do Conselho de

Aliás, África é exemplo fértil de conflitos sociais resultantes, sobretudo, da exclusão étnica, regional e religiosa, praticada pelas lideranças que dirigem os destinos dos seus próprios países. Esta dura e crua realidade a sua ocorrência não se exclui no interior dos Estados-membros da CPLP. Basta recordarmo-nos do cíclico problema étnico, associado ao narcotráfico que ganha proporções cada vez maiores à medida que o tempo passa e afeta a reconciliação nacional e a restauração da democracia que proporcione um crescimento e desenvolvimento económico e social da República da Guiné-Bisssau. É um desafio que se coloca não apenas a Guiné-Bisssau, na sua qualidade de Estado visado, como, também, para os demais líderes da CPLP e da comunidade internacional em geral, no sentido de envidar esforços conjugados para se alcançar uma paz duradoura que passa, necessariamente, pela formação dum governo de unidade nacional, onde estejam representadas todas as etnias, regiões e religiões do país, incluindo as da diáspora.

Em relação a Moçambique, país cujo processo de pacificação teve a mediação da Comunidade de Santo Egídio, Itália e da ONU, é considerado pela comunidade internacional como exemplo a seguir no mundo, mas, hoje, com a descoberta de gás natural em grandes quantidades industriais jamais imaginadas, ocupando o 4º lugar a nível mundial, e o petróleo, também em grandes quantidades, ambos na Bacia do Rovuma, no Norte de Moçambique, começa a preocupar o governo moçambicano quanto a manutenção, no futuro, da unidade nacional e da estabilidade política, tendo em linha de conta que as superpotências mundiais, as potências e as potências mundiais emergentes na atualidade procuram avidamente esses recursos. E, sobretudo aquelas primeiras, quando penetram num país onde esses recursos se encontram localizados, ao a analisarem a política interna e externa desse país se concluirem que o governo do dia não defende os seus interesses vitais, aplicam, para acomodar os seus interesses, a velha fórmula: “dividir para reinar”, criando, a partir daí, instabilidade política no interior do Estado visado, ou invadindo-o, culminando com o seu derrube, ou instaurando um “governo satélite” que defenda os seus interesses.

A solução do tão delicado problema passa por duas vias importantes:

1ª. Aceitar a cooperação assente numa base de vantagens reciprocas, quer com as superpotências mundiais, quer com as potências e com as potências mundiais emergentes. Simultaneamente, os acordos de cooperação dai resultantes, devem estabelecer cláusulas de formação de técnicos médios e superiores nacionais nas áreas de exploração dos recursos em questão e, finalmente, os projetos devem incluir investimento complementar nos setores da agricultura, pecuária, vias de acesso, escolas e hospitais, bem como estabelecimentos comerciais, instalação de rede de energia elétrica, àgua potável, nos locais onde esses projetos se desenvolvem.

2ª As políticas de distribuição da riqueza derivada da exploração de tais recursos devem obedecer o princípioo da equidade para todos os cidadãos do país. Para assegurar um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e social sustentado e a defesa da soberania, independência e integridade territorial, haverá que se destinar uma parte dos recursos para o desenvolvimento económico e social, outra para a reforma do setor da segurança e defesa.

No caso da CPLP, as duas soluções acabadas de apresentar, são válidas pois, garantir com eficácia a defesa da soberania, da independência e da integridade territorial, não se afigura tarefa fácil mas, em face dos desafios que o mundo contemporâneo coloca hoje aos Estados, as lideranças africanas, em particular as da CPLP, não lhes restam outras alternativas se não seguir esse imperativo categórico social, quer queiram, quer não, sob pena de não o fazendo, não mais continuar a

governar porque, nesse momento, serão os outros que melhor souberem conjugar essa exigência inerente das sociedades do mundo dos nossos dias.

Hoje, a profissionalização das Forças Armadas para os PALOP e Timor-Leste, a sua uniformização doutrinária, com vista a norteá-las para a doutrina da NATO, adaptando-a à realidade das suas experiências militares e sócio-cultural, tendo em conta que muitos destes países, num passado recente seguiam a orientação da Escola do extinto Pacto de Varsóvia; o reequipamento e a reorganização do seu sistema logístico que assegure uma assistência multifacetada às tropas; constitui um dos grandes desafios que cada Estado-membro, individualmente, deve virar as suas atenções e, coletivamente, responder com as solicitações simultâneas da CPLP, da Sub-região onde estão inseridos, da região e da ONU, no âmbito das Operações de Apoio à Paz e Humanitárias, missões que são cada vez mais complexas e exigentes, como o oferecer salários compatíveis com os sacrifícios consentidos, o proporcionar instalações de funcionamento adequadas às necessidades de defesa, entre outras importantes exigências que não cabem mencionar num trabalho cujas páginas estão previamente determinadas.

Reconhecendo a eficácia da defesa dos interesses dos Estados num quadro multilateral e de ação coletiva, tendo em atenção, por um lado, a complexidade de riscos e ameaças que correm e, por outro, a escassez de recursos, Jorge Sampaio, antigo Presidente de Portugal, discursando no Instituto de Defesa Nacional (IDN) de Portugal, referia: “Tenho obrigação de saber que não é fácil, para quem tem como primeiro dever a defesa dos interesses nacionais, reconhecer que esses interesses só se

podem, hoje, defender eficazmente num quadro multilateral e de ação coletiva” 100.

Portanto, tudo isto requer a conjugação de sinergias multissetoriais ao nível nacional, regional e internacional, usando racionalmente os recursos disponíveis, atendendo simultaneamente as necessidades de desenvolvimento económico e social sustentável e as da segurança e defesa, em moldes a que cumpram a sua missão tradicional de defesa da soberania, da independência e da integridade territorial, aperfeiçoando permanentemente a máquina governativa, por forma a corresponder as exigências da evolução das sociedades modernas, quer no plano interno, quer no plano internacional.