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Itália, entre e Frelimo e a Renamo, partes outrora beligerantes, devolveu a paz e sossego a todos os moçambicanos, produzindo com tranquilidade e confiança ao próximo e ao governo.

O governo moçambicano, a partir de 2004, passou a alocar dinheiro aos governos distritais, no valor de sete milhões de meticais, com vista a financiar projectos agro- pecuário, atividades comerciais de pequena escala dos camponeses nas zonas rurais. Com aquela medida económica e social o governo trouxe melhorias significativas na economia familiar de muitos camponeses, reduziu substancialmente a fome, a nudez, que se faziam sentir durante a propagação da guerra no país. Cada família passou a pagar, por si, as despesas com a sua assistência médica e medicamentosa, mandar os filhos a Escola, comprar bens caseiros de consumo, desenvolver atividade comercial que foi, gradualmente, possibilitando a criação de pequenas poupanças, enfim, a ano após ano, a vida social e económica dos camponeses foi melhorando qualitativa e quantitativamente.

Foram reconstruidas as infraestruturas sociais outrora destruidas pela guerra, designadamente escolas, primárias e secundárias, universidades públicas, estas últimas, adicionadas com as privadas, totalizam hoje 48 universidades a nível nacional, hospitais, estradas e pontes e construidas outras de raíz em todo o país. A formação de quadros básicos, médios e superiores aumentou consideravelmente durante os 20 anos de paz em Moçambique. As actividades desportivas, recreativas e de lazer incrementaram-se substancialmente com a reabilitação e construção de campos

desportivos, estabelecimentos de entretenimento e lazer, com destaque para hoteis, um pouco por todo o território nacional. Aumentou o número de construção de habitações tanto para funcionários públicos, como de famílias individualmente, por meios financeiros próprios ou por via de crédito concedido pelos bancos existentes ao nível do território nacional.

No que respeita à construção de estradas e pontes, obrigatório se torna mencionar a contrução da ponte sobre o rio Zambeze, que veio facilitar a circulação rodoviária do Rovuma ao Maputo, de pessoas e bens, levando poucos dias para chegarem aos seus destinos, comparativamente ao período antes da sua construção. Aponte-se, igualmente, a construção da Ponte da Unidade, que liga Moçambique e a República Unida da Tanzania, financiada pelos governos dos dois países, unindo os povos e Estados moçambicano e tanzaniano. A reversão da Barragem Hidroeléctrica de Cahora Bassa, do governo português para o governo moçambicano, a autorização governamental para a importação de viaturas de segunda categoria, recondicionadas, veio a possibilitar a aquisição acessível de transporte individual, tanto de carga como de passageiros pelo cidadão de rendas baixa e média. Todo este conjunto de realizações trouxe benefícios de valor inestimável para a maioria dos cidadãos moçambicanos, que vale a pena preservar a todo o custo e em todas as circunstâncias.

Todas estas realizações, melhorias consideráveis do bem-estar geral do povo moçambicano durante os 20 anos e oito meses de paz, constituem, inquestionavelmente, o fruto da manutenção dessa paz, graças às conversações pontuais entre a Frelimo e a Renamo, nos momentos críticos que ela era posta em causa, por diferendos que iam surgindo opondo as duas partes.

Esta grande capacidade de diálogo, de compreensão, de tolerância, perdão de parte a parte na resolução de grandes problemas nacionais, que é a reposiçao da paz em todo o território nacional, do Rovuma ao Maputo, do Índico ao Zumbo, hoje, mais do que nunca, é chamada a retomar o seu lugar, tudo em nome da nobre causa da construção dum Estado democrático de justiça social forte, uno e indivisível, de amor ao povo e à pátria moçambicana. Em síntese, de orgulho nacional, de sermos moçambicanos, independentemente da cor político-partidária.

Resolver por vias pacíficas um conflito, mesmo que para tanto implique sacrifício de um bem maior, não significa sinónimo de fraqueza, antes pelo contrário, é símbolo de grandeza, de clarividência política, de honra, de ser-se culto, de ser civilizado.

CAPÍTULO IV

ÊXITOS, CONSTRANGIMENTOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA CPLP NO ÂMBITO DA SEGURANÇA E DEFESA

“Em primeiro lugar que a segurança é toda a actividade que se destina a preservar os valores essenciais, o que implica a manutenção da liberdade de ação da comunidade, preparando-a para prevenir e responder a eventuais ameaças aos interesses nacionais. Em segundo lugar, que, sendo a segurança um valor de interesse vital para todos e cada um dos cidadãos, cabe a todos eles a responsabilidade de cooperar nas medidas necessárias para preservar a soberania e a independência do Estado”.

Major-General João Manuel de Melo Mariz Fernandes, no discurso proferido na Conferência Internacional subordinada ao tema “A Problemática da Defesa e Segurança dos Pequenos Estados” 77

(Cidade da Praia, 23 e 24 de outubro de 2003) A estes dois conceitos fundamentais de segurança, acresce ao da política de defesa e segurança de um Estado, que visa assegurar o normal funcionamento das instituições e a segurança dos cidadãos contra qualquer eventual agressão armada.

A esse propósito, a Constituição da República de Moçambique (CRM) no seu Art.º 265 consagra expressamente que: “A política de defesa e segurança do Estado visa defender a independência nacional, preservar a soberania e integridade do país e garantir o funcionamento normal das instituições e a segurança dos cidadãos contra qualquer agressão armada” 78.

Por seu lado, autores como Carlos Blanco de Morais, António Araújo e Alexandra Leitão, defendem que: constituindo a defesa nacional uma actividade do Estado destinada a preencher um dos seus fins mais essenciais, que é o da segurança, e constituindo as Forças Armadas um corpo administrativo especial destinado a assegurar a componente mais essencial dessa mesma defesa, que é a militar, parece evidente que qualquer alteração registada nos eixos estratégicos que comandam a política correspondente arrastará, necessariamente, alterações no Direito da defesa e das Forças Armadas.

Carlos Blanco de Morais, António Araújo e Alexandra Leitão, O Direito da Defesa Nacional e das Forças Armadas (2000: 19). Dos quatro conceitos atrás perfilados, podemos concluir que a segurança e defesa é uma actividade exclusiva do Estado que visa, em última análise, garantir o normal funcionamento das instituições e a segurança dos cidadãos contra qualquer eventual agressão armada, e que qualquer alteração registada na componente estratégica que comanda a política correspondente levará consigo, inevitavelmente, alterações no Direito da defesa e das Forças Armadas dum país.

77 FERNANDES, João Manuel de Melo Mariz (Major General, Presidente da Direção da Associação de

Auditores de Defesa Nacional de Portugal), Por uma Cultura de Segurança num Estado Democrático, discursando na Conferência Internacional, realizada na Cidade das Praia, aos 23 e 24 de outubro de 2003, subordinada ao tema A Problemática da Defesa e Segurança dos Pequenos Estados, Cabo Verde e os Grandes Temas Internacionais de Defesa e Segurança, Cidade da Praia, março de 2004, pág.45

78 Constituição da República de Moçambique, 2004, Imprensa Nacional de Moçambique, Maputo,

Partindo daqueles quatro conceitos, hoje, mais do que nunca, para os Estados- membros da CPLP, em particular Moçambique, país de origem do autor, constitui um imperativo categórico a elaboração das Grandes Opções para o Conceito Estratégico de Segurança e Defesa Nacional, tendo em atenção aos Objectivos Nacionais Permanentes – o Espaço Estratégico de Interesse Nacional.

No que tange à elaboração das referidas Grandes Opções para o Conceito Estratégico de Segurança e Defesa, na vertente dos Objetivos Nacionais Permanentes, afigura-se importante tomar em consideração a reflexão do General José Luís Pinto Ramalho, antigo Chefe do Estado-Maior (Comandante) do Exército português, que, dada a sua atualidade e relevância, se transcreve integralmente, quando sublinha que: Estes objectivos têm a ver com a garantia da independência nacional, com o assegurar da intergridade territorial, com a salvaguarda da liberdade e segurança das populações, a protecção dos seus bens e do património nacional, a garantia da liberdade de acção dos órgãos de soberania, o regular funcionamento das instituições democráticas e a possibilidade de realização das tarefas fundamentais do Estado, o contribuir para o desenvolvimento das capacidades morais e materiais da comunidade nacional, de modo a que possa prevenir ou reagir pelos meios adequados a qualquer agressão ou ameaça externa, assegurar a manutenção ou o restabelecimento da paz em condições que correspondam aos interesses nacionais; são objectivos inerentes à condição de um Estado soberano, democrático, independente, moderno e que procura a promoção social, material e moral da sua população, daí a sua aceitação e não contestação.

General José Luís Pinto Ramalho, Da História Militar e da Estratégia, Estudos de Homenagem ao General Loureiro dos Santos (2013: 27)

Quando se analisa as Grandes Opções para o Conceito Estratégico de Segurança e Defesa, na componente dos seus Objectivos Nacionais Permanentes, salta-se, logo à partida, a ideia de como garantir a segurança interna, por forma a assegurar a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, protegendo a vida dos cidadãos e seus bens e, à chegada, nos interrogamos por que normas se nortearão estas atividades.

A este respeito, seguindo a experiência e linha de pensamento de Freire Nogueira (2005: 247), nos termos da lei, segurança interna é a atividade desenvolvida pelo Estado para garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, proteger pessoas e bens, prevenir a criminalidade e contribuir para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, o regular exercício de direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pela legalidade democrática.

Portanto, todo o rol de atividades da segurança interna acabado de mencionar, que constitui tarefa do Estado, a sua implementação se concretiza em estrita observância da lei. Dito isto por outras palavras, baseia-se no princípio do respeito pela legalidade democrática.

Ainda, conjugando aqueles quatro conceitos de segurança e defesa atrás apresentados, recuando no espaço e no tempo da Guerra-Fria, e atualmente no mundo globalizado em que vivemos, em breves palavras, diríamos: “O final da Guerra-Fria a que se associa indelevelmente a queda do muro de Berlim e o consequente desmembramento da União Soviética, levando à inevitável dissolução do Pacto de Varsóvia, provocaram no pós- 1989, o “cair do pano” de uma “velha” ordem internacional. Esta ordem internacional vigente, assentava liminarmente na bipolaridade e na confrontação entre blocos, o

Leste e o Oeste, as ditas superpotências mundiais”, Estratégias de Intervenção em África, Brás Bernardino (2011: 15) 79.

Na verdade, com o fim da Guerra-Fria a humanidade respirava de alívio contando que viria, finalmente, a viver num mundo de paz duradoura, colocando no “arquivo morto” do seu subconsciente as memórias inesquecíveis do mundo bipolarizado, inerente à velha ordem económica internacional, outrora caracterizado por confrontações entre as duas então superpotências mundiais – os EUA, representando o sistema capitalista mundial e a ex-União Soviética, encabeçando o sistema socialista mundial então em ascensão.

Porém, foi sonho de pouca dura. A mudança brusca dos acontecimentos no interior do próprio sistema socialista, iniciada com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento posterior da União Soviética, provocado pela “Perestroika” de Mikhail Gorbatchov, então presidente da URSS, precipitou o princípio do fim daquele que era idealizado pelos seus defensores como um dos grandes sistemas económicos do nosso planeta, fim que acabaria por dar lugar, ao mundo globalizante que vivemos na atualidade, caraterizado por emergência de novas formas de conflito, maioritariamente intra-estatais, onde os novos atores intervêm e se sobrepõem ao Estado, passando a dominar a agenda da comunidade internacional, consubstanciando uma nova ordem económica mundial, liderada pela superpotência sobrevivente da guerra fria e do mundo bipolarizado – os EUA.

A partir da emergência daquela única superpotência do globo terrestre a liderar o mundo sob as condições da nova ordem económica internacional, começaram a consolidare-se algumas das antigas e a serem criadas novas organizações económicas, de segurança e defesa regionais e comunidades linguístico-culturais, com vista a criar-se condições de crescimento e desenvolvimento económico e social, de segurança e defesa comum, face a riscos e novas ameaças à segurança que pairam no mundo moderno, tais como o narcotráfico internacional, o tráfico de seres humanos e seus órgãos, o crime internacional organizado, o terrorismo, a pirataria marítima, entre outros males, por um lado, e, por outro, visando à luta pela afirmação cultural e linguística no plano internacional, através, nomeadamente, da difusão da sua cultura e língua, dentro e fora da sua comunidade e, em última análise, no seio das organizações internacionais e, em primeiro lugar, no da ONU, utilizando a sua língua como língua de serviço.

Estas comunidades culturais e linguísticas, via de regra, constituem-se pelo conjunto de países falantes da mesma língua, lideradas pela respetiva ex-potência coloniadora. Tais comunidades compreendem, designadamente, os países anglófonos, francófonos e lusófonos, excepto os países de expressão espanhola, outrora colonizados pela Espanha. Destas comunidades falar-se-á, de seguida, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no que tange, concretamente, às suas atividades principais, desafios, constrangimentos e perspectivas, no setor da segurança e defesa.

1. Êxitos, constrangimentos, desafios, e perspetivas da CPLP no setor da segurança