• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.2 As Simbologias Religiosas

É neste ambiente de domínio religioso, em que o homem percebia na religião uma necessidade acima das demais, buscando com ela o encontro com Deus, com o Deus que condena que penaliza, mas um Deus que dá méritos àqueles que cumprem as

                                                                                                                         

24Seu processo encontra-se no ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO, Inquisição de Lisboa,

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

suas palavras. Os séculos XVII e XVIII foram hostis às situações impostas pela religião que condenavam os que não comungavam da mesma opinião, sendo a imagem a forma mais precisa de catequização para compreensão dos escritos bíblicos e da exaltação da fé, e a arte a sua cúmplice para divulgação desses.

Começou-se assim a tratar um paralelo em algumas simbologias religiosas criadas pelo homem através das suas interpretações das leituras bíblicas. Escolheu-se a

Via Crucis, sendo ela comum nos dois santuários (somente serão observados sete passos

da Paixão), as Fontes dos Cinco Sentidos (Braga-Portugal) por ser na opinião da redatora deste trabalho um enigma, e as esculturas dos Doze Profetas em Minas Gerais.

IV.2.1 Via Crucis

Via Crucis diz-se do caminho percorrido por Jesus Cristo até à sua crucificação.

São os passos da Paixão (sofrimento) em que há um significado distinto para cada passo percorrido.

Nas duas modalidades de Passos está subjacente a ideia de reprodução simbólica da Via Sacra original de Jerusalém, marcando os episódios mais importantes do caminho percorrido pelo Cristo em sua Paixão. Daí a própria origem do vocábulo “passo”, fixado nas línguas ibéricas para designar as estações da Via Sacra, com um duplo sentido de deslocamento: a referência aos passos originais do próprio Cristo nas diversas etapas do Calvário e os do peregrino refazendo materialmente o mesmo percurso em Jerusalém. (Oliveira 2011:15)

Para ritualizar esse processo, na Europa foram construídos inúmeros santuários da encenação dos passos imitando a Via Crucis; Peixoto (2012:7) comenta sobre esse fenômeno: “A conquista de Constantinopla, em 1453, bem como a ocupação Otomana da Palestina, nos inícios do século XVI dificultaram a deslocação dos peregrinos à Terra Santa (...)”; desde modo, tornou-se comum construir em morros a iconografia da Via

Crucis para suprir a necessidade do fiel reviver os passos da Paixão de Cristo; nestes

morros construíram-se capelas dramatizando cada cena do passo que confirmava o martírio e sofrimento de Cristo. A escolha de imagens escultóricas facilitou a compreensão desse processo, pois eram produzidas em tamanho natural fazendo com que o peregrino se sentisse parte do acontecido:

Para tanto, recorreram aos ícones, pois aumentaria a relação espiritual entre Deus e os fiéis, prática e representação pautadas nas recomendações do Concílio de Trento (1545 e 1563), que enfatizava essa experiência acreditando que as imagens

expressassem muito mais que as palavras proferidas pelos eclesiásticos. (Peixoto 2012:7)

Essas imagens produzidas nestes locais levavam os peregrinos a se deslocarem dentro de seu próprio país que,para muitos, era a exortação da fé ao sacrifício de Jesus e para outros o pagamento de promessas e penitências.

 

Figura  1  -­‐  Planta  Santuário  de  Congonhas  -­‐  Fonte  Edgard  de  Cerqueira  Falcão  

Nas figuras 1 e 2 estão representadas as plantas dos santuários de Congonhas do Campo e Braga; aí se verifica a constituição da Via Crucis na simbologia de Sacro Monte (que representa o processo até aoCalvário), e a forma da distribuição das capelas que estão em zigue-zague que, de certo modo, seria para dificultar a subida dos fiéis até o templo onde estaria o último passo da Paixão, a crucificação; Massara descreve a razão do percurso: “(...) principalmente, para tornar mais dolorosa a subida. O peregrino tinha que sentir no seu próprio corpo as dificuldades que o próprio Cristo encontrou quando percorreu os passos de sua Paixão.”(Massara 1988:25)

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

A construção de Via Crucis tornaram-se comuns em Portugal25, do século XV ao XVIII, representando da Via Dolorosa de Cristo abrigada em Capelas e com um pórtico dando início à subida. Este portal representa a entrada na cidade de Jerusalém (Massara 1988).

IV.2.2 As Capelas da Via Crucis

Para abrigar as imagens que dramatizam os Passos de Cristo foram construídas capelas em ambos os santuários.

As capelas, construções sólidas e elegantes, são um convite à ascensionalidade, com preocupações cenográficas e teológicas no interior das mesmas. Esta multiplicidade de capelas devocionais enche-se de cenários, através da pintura e imaginária, inseridos no espírito da Reforma, com uma intenção ornamental e uma linguagem catequética e pedagógica, motivando os crentes a viverem de forma intensa a sua fé. (Peixoto 2011:97)

Far-se-á, assim, a análise de sete26 passos em Braga e Congonhas. A

metodologia empregada será analítica; as análises descritas foram realizadas in loco nos dois santuários: em setembro/2012 no santuário de Congonhas do Campo e nos arquivos da Arquidiocese de Mariana, em Minas Gerais, e fevereiro/março de 2013 no santuário de Braga, no Arquivo Distrital de Braga e na Biblioteca da Universidade do Minho.

IV.2.3 O Portal

Antes das duas primeiras cenas dos Passos, em Braga há um portal imponente com o brasão de Portugal encimado por um crucifixo duplo que, segundo Lexikon (1978:70) “é a cruz patriarcal ou dos cardeais (...)”; ao seu lado dispostas simetricamente, duas fontes de água e inscrições do encomendador: “Jerusalem Sancta

Restaurada e Reedificada no anno 1753” no lado esquerdo do portal e, ao lado direito, “Pello ilustríssimo Senhor D. Rodrigo de Moura Telles arcebispo primaz.” Essas                                                                                                                          

25Ao norte de Portugal possui uma concentração maior de santuários com Via Crucis: Coimbra, Bucaço,

Peneda, Sta. Maria do Bouro, Arganil, Lamego, Porto (Matosinhos) são alguns.  

26A escolha de sete passos é pelo fato de Congonhas possuir seis capelas com sete passos representados e

inscrições justificam a cruz dupla que pertence ao alto clero que sempre deixava suas marcas, como já assinalado.

Em Congonhas do Campo, não há um portal dando início às capelas, talvez devido ao desenvolvimento urbano no entorno do santuário motivo pelo qual as duas primeiras capelas estão no pé da rua que passa logo abaixo da construção da capela da Ceia.