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CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.12 Os Doze Profetas do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas – Brasil

IV.12.1 Sobre o Mestre Aleijadinho

A vida e obra de Mestre Aleijadinho foi estudada e escrita por diversos historiadores brasileiros, não havendo novidades sobre o que muito já foi dito. Na demanda de nova vida chegou ao Brasil, nascido em Portugal, Manuel Francisco Lisboa, carpinteiro, mestre-de-obras, arquiteto e pai do artista de maior expressão no território brasileiro batizado como António Francisco Lisboa, mais conhecido como Mestre Aleijadinho.

Filho de uma escrava Isabel e de seu “dono” Manuel Francisco Lisboa, nasceu em 29 de agosto de 1738, ele, Aleijadinho, nunca fora escravo, pois seu pai ao batizá-lo o libertou. Desta forma, Aleijadinho cresceu em um ambiente em que participava das obrigações de mestre de obras e arquiteto de seu pai, num ambiente familiar em que aprendeu a base da leitura e da escrita, da geometria, da matemática e da religião. Minas Gerais seria palco de rebeliões, crescimento de ordens religiosas e de um movimento importante para a História do Brasil, a Inconfidência Mineira, sendo esse o ambiente em que António Francisco Lisboa foi criado e desenvolveu o seu ofício de escultor- arquiteto:

(...) ali cresceria Aleijadinho em ambiente de intenso trabalho, seu pai envolvido em diversas tarefas de grande porte (na época, construção de pontes, obras no antigo Palácio dos Governadores, nas Igrejas de Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora da Conceição de Antonio Dias, cuja planta projetara. (Jardim 1995: 25)

                                                                                                                         

41Pedra metafórica significando que ela foi submetida a altas temperaturas abaixo da superfície da terra,

recebeu o nome de pedra sabão por ser macia e dar a sensação de sabão; no Brasil é associado ao barroco mineiro devido ao grande uso nos séculos XVII, XVIII. Nome científico: esteatita.  

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

Nesse contexto, Aleijadinho desenvolve, dentro do estilo Barroco, o refinamento da talha e o aprendizado em projetar e desenvolver plantas arquitetônicas. A arte realizada por Aleijadinho é revelada por traços marcantes que não depõem contra o seu estilo, que esse é acentuado em seus trabalhos principalmente no que diz respeito à escultura.

Marcio Jardim, em seu livro O Aleijadinho uma síntese histórica divide o aprimoramento de sua obra e a chama de “estilo Aleijadinho” em cinco fases:

• 1ª Mocidade – 1755 a 1760 – dos 25 aos 30 anos de idade;

• 2ª Maturidade inicial – 1761 a 1770 – dos 31 aos 40 anos de idade; • 3ª Maturidade média – 1771 a 1780 – dos 41 aos 50 anos de idade; • 4ª Maturidade plena – 1781 a 1790 – dos 51 aos 60 anos de idade; • 5ª Máxima – 1791 a 1812 – dos 61 aos 82 anos de idade.

E assim descreve as fases do “estilo Aleijadinho”:

Na primeira fase, os contornos dos desenhos são imprecisos, a anatomia é disforme. Na segunda fase, a característica mais marcante é a simplicidade do panejamento. Na terceira fase, o panejamento é revolto, sinuoso, a anatomia é perfeita, mais ainda não ao modelo do renascimento. A quarta fase é caracterizada pelo panejamento esvoaçante e rico pelos sinais iniciais de passagem a um novo tipo, o de dobras angulosas, grossas, típicas da fase seguinte, a quinta, que chamaremos de “fase de Congonhas”. (Jardim 1985:46)

Observando este estudo, nota-se o crescimento nas obras; observa-se também que Aleijadinho trabalhou intensamente até os 82 anos de idade (idade de seu falecimento) mesmo sofrendo de uma doença, desconhecida para a época, que o acometeu no auge de sua produção, aos 60 a nos, e que o impediu de ter um convívio social, pois era paralisante, prejudicando todo o seu corpo a ponto do Mestre ser carregado por um escravo para a sua locomoção e solicitar que amarrassem as suas ferramentas de trabalho em suas mãos: “Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo enfermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe os ferros para poder obrar.” (Jardim 1995: 33).

Sua vida pessoal era turbulenta. Homem de grandes paixões encarnava o próprio espírito barroco, entre profano e religioso. Com uma religiosidade fervorosa, fazia entusiastas leituras dos textos bíblicos e, ao mesmo tempo, cultivava um comportamento libertino, sendo visto frequentemente participando de dança

vulgares. O certo é que, com o decorrer dos anos, sua vida desregrada lhe causou um grande dano à saúde e seu corpo foi objeto de uma moléstia progressiva: seus membros foram sendo mutilados, dores fortíssimas o levavam por vezes a cortar os próprios dedos das mãos. E para prosseguir em suas obras eram-lhes atadas ferramentas no que lhe restava dos membros. (Silva 2001:55)

Este personagem lendário, conhecido como Mestre Aleijadinho, deixou um legado artístico inigualável para o Brasil, que fez dele um escultor-arquiteto de importância histórica para a arte brasileira. As inúmeras obras produzidas pelo Mestre estão concentradas em Minas Gerais, palco de sua vivência, cujas mudanças econômicas, políticas e sociais ditaram o seu modus operandi na condução de seu trabalho, fruto de um bom aprendizado e educação.

Sendo o complexo do santuário de Congonhas do Bom Jesus de Matosinhos, uma de suas obras de maior expressão que pertence à fase máxima, a produção dos Doze Profetas marca um significado que representa o esforço criativo do artista em momento em que sua doença estava no auge; esta obra foi seu último empreendimento expressivo, encontrando-se no adro dianteiro da igreja do Bom Jesus de Matosinhos.

IV.12.2 Os Doze Profetas: Teatro a Céu Aberto

A missão dos Profetas, homens extraordinários que, por iluminação, prediziam o futuro, era guiar o povo de Israel, clamando contra idolatria e a imortalidade, preparando a nova era, a vinda do Messias, o Cristo Redentor. As profecias são naturalmente obscuras, porque expressavam altíssimos mistérios. (Jardim 1985: 138)

Após os romeiros, turistas e curiosos passarem pelos Passos da Paixão, irão se deparar com uma escadaria no modelo setecentista chegando até o adro da Igreja. Lá estão belissimamente distribuídos os Doze Profetas imortalizados em pedra sabão. São Eles:

Isaías – suas profecias mostravam aos israelitas sua infidelidade e prediziam os castigos de Deus;

Jeremias – previu o triunfo dos Caldeus, a destruição de Jerusalém e da Babilônia;

Baruc – era secretário de Jeremias, de quem anotou os oráculos;

Ezequiel – o centro de suas profecias era mostrar aos judeus que Deus cumpria suas promessas e seus castigos;