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As Simbologias Religiosas do Bom Jesus do Monte de Braga e do Bom Jesus

CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV. 1 As Simbologias Religiosas do Bom Jesus do Monte de Braga e do Bom Jesus

                                                                                                                         

Em vários momentos neste capítulo se mencionou sobre a necessidade do homem interpretar símbolos; assim, consultado o Dicionário Priberam da Língua

Portuguesa para buscar entender o termo simbologia, encontrou-se a seguinte definição:

estudo acerca dos símbolos; conjunto de sistemas de símbolos.

Desde modo, entende-se que um símbolo possui atribuições e significados devido a fatos sociais, econômicos e culturais (arte, religião...) e serão interpretados à luz de cada indivíduo.

Assim, há dois santuários, chamados de “cidade-santuário”, pois se encontram em locais hoje considerados sacralizados devido a toda a sua história existencial sobre fatos que assim os tornaram conhecidos. Desta forma, estar-se-á relatando sobre algumas simbologias dos Santuários do Bom Jesus do Monte de Braga, Portugal, e Bom Jesus de Matosinhos, Brasil, em especial sobre as Capelas da Via-Crucis (em ambos), Os Doze Profetas (Congonhas), As Fontes dos Cinco Sentidos (Braga).

Há de se pensar em dois países distintos: Portugal e Brasil; Portugal já com alguns séculos de história registrada e o Brasil do século XVIII avançando historicamente. Por sua vez já foi relatado sobre a cidade de Braga, Portugal onde está situado o Santuário de Bom Jesus do Monte de Braga, assim como as suas condições na época da construção/termino do santuário do Bom Jesus, como também sobre Congonhas do Campo. Como se mencionou anteriormente o elemento “religião” deve ser comentado para compreendermos melhor a condição dos encomendadores das obras que serão analisadas.

Na história religiosa de Portugal, a diocese de Braga ocupa um lugar destacado mesmo antes da constituição do estado português. A longa série de arcebispos de Braga inclui santos canonizados como Martinho (569-579) e Frutuoso (656-689) de Dume e Braga, Rosendo (927-951) de Dume, Mondonhedo e Celanova, e Geraldo (1096-1108) de Braga.Há patriotas como D. Paio Mendes (1118-1137) e D. João Peculiar (1138- 1175), conselheiros e diplomatas do primeiro rei de Portugal; D. Gonçalo Pereira (1326- 1348) e D. Lourenço Vicente (1374-1397), lutadores nas batalhas de Salado e Aljubarrota, respetivamente; D. Rodrigo da Cunha (1627-1635), empenhado na recuperação da independência nacional, em 1640, então já transferido para Lisboa. Há pastores insignes como D. Frei Telo (1279-1292), D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1559-1581), D. Agostinho de Jesus (1588-1608) e D. Frei Caetano Brandão (1790- 1805). Há membros da Família Real como D. Fernando da Guerra (1416-1467), cardeal-rei D. Henrique (1533-1540), D. José (1741-1756) e D. Gaspar de Bragança

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

(1758-1789). Há homens de projeção pública como D. Pedro (1070-1091) o restaurador da Diocese, D. Pedro Julião (1273), futuro Papa João XXI, D. Jorge da Costa (1501- 1505) o célebre Cardeal de Alpedrinha, D. Diogo de Sousa (1505-1532) o renovador da cidade de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728) o impulsionador do Bom Jesus do Monte, o Cardeal D. Pedro Paulo da Cunha e Melo (1843-1857) o pacificador após as lutas liberais, D. Manuel Vieira de Matos (1915-1932) o resistente à Lei da Separação e reconstrutor da arquidiocese, muito abalada por esta data.

A partir do Paço Episcopal e da Sé, os arcebispos exerciam intensa atividade localmente, na arquidiocese, junto da corte e eram também homens do mundo com manifesta influência junto da Santa Sé. Em resultado da sua obra, ainda hoje Braga é conhecida como a Roma portuguesa possuindo um rito litúrgico próprio – o rito bracarense – que até hoje permanece válido, a par do rito romano, mesmo depois da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, mas de uso facultativo.

O santuário do Bom Jesus do Monte é um exemplo do papel da Igreja bracarense, dos seus arcebispos, das instituições de matriz cristã, em especial da Confraria do Bom Jesus do Monte e dos cidadãos (religiosos e leigos) que nelas exerceram atividade. Entre D. Gonçalo Pereira (1374-1397) e o atual arcebispo de Braga, foram 49 os antístites que ocuparam a cadeira primacial bracarense, muitos deles com um papel relevante na concepção, implantação, desenvolvimento e consolidação do mais belo sacro-monte português. Como é tradição em Braga, todos os prelados deixam vestígios da sua passagem, ora construindo, ora alterando, acrescentando ou modificando.23  

A religião cristã no Brasil – séculos XVI ao XIX, é uma história que vem sendo escrita juntamente com a história do Brasil desde a colonização. Os colonizadores percebendo a “fragilidade” dos que aqui estavam, implantaram o modelo de Catolicismo; mesmo porque era esse modelo também utilizado em Portugal:

Nele, a Igreja era uma instituição subordinada ao Estado e a religião oficial funcionava como instrumento de dominação social, política e cultural. A crise desse modelo é iniciada, simbolicamente, em 1759, com a expulsão dos jesuítas e com a progressiva hegemonia da nova mentalidade racionalista e iluminista. (Azevedo 2004:04)

                                                                                                                         

23 A construção deste texto beneficiou da documentação gentilmente cedida por José Carlos G. Peixoto,

vogal da Confraria do Bom Jesus do Monte, o qual possui livros e publicações abundantes sobre o Santuário do Bom Jesus do Monte.

Deve-se mencionar que a religião praticada em Minas Gerais nos séculos XVII e XVIII possuía um ecletismo devido a variação das culturas africanas e indígenas, razão pela qual o Santo Ofício de Lisboa aí praticava suas condenações aos hereges. Um caso conhecido de acusação foi o de Luzia Pinta24 que foi enviada a Lisboa para receber as punições por heresia:

No final do ano de 1742, a Inquisição de Lisboa deu início um processo inquisitorial contra Luzia Pinta, fora natural de Luanda e até então habitante do município de Sabará, nas Minas Gerais. Luzia Pinta havia sido denunciada como feiticeira, embora ainda pairassem algumas incertezas a respeito do termo que se viria a usar para descrever suas práticas rituais heterodoxas (...) Nascera muito provavelmente na última década do século XVII em Luanda, onde fora criada em uma família de escravos. (Marcussi 2009:07)

Com isso analisa-se que a persuasão inquisitorial da Igreja Lusa tinha domínio sobre os seus colonizados tentando através da religião ditar situações de poder, domínio, e, porque não, de domesticação.

No século XVIII iniciam-se, para combater a proliferação do surgimento de novas práticas religiosas, as Visitações Episcopais:

...as Visitações Episcopais (Eclesiásticas ou Diocesanas) seriam usadas como um forte instrumento de poder católico a fim de garantir a disseminação dos dogmas religiosos bem como fortalecer a instituição clerical e combater as práticas religiosas sincréticas. (Rodrigues s/d)

Em 1840 tem lugar um período chamado de romanização do Catolicismo momento esse em que a Igreja deixa de ser vinculada as ordens da Coroa Luso- brasileira para receber ordens direta do papa. Deste modo até o inicio do século XX a Igreja no Brasil passou por outras mudanças, mas ainda penalizando as demais religiões que iam se formando e mantendo a religião cristã católica oficializada dentro de seus dogmas impostos por Roma.