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CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.9 Capela da Crucificação

O caminho que Cristo enfrentou até o Calvário para a sua crucificação foi de intensa bestialidade dos soldados romanos. Desde o início dessa saga Jesus realmente foi conduzido com um animal, com a corda no pescoço, sendo puxado no meio de uma multidão de pessoas gritando o que intensificou o domínio psicológico dos soldados romanos que o estavam escarnecendo:

A severidade do espancamento não é detalhada nos evangelhos. Entretanto, no livro de Isaías, ele sugere que os romanos arrancaram Sua barba. (Isaías 50:8) Também é mencionado que Jesus foi espancado tão severamente que seu aspecto não parecia como "a dos filhos dos homens" i.e. como uma pessoa. "O seu aspecto estava tão desfigurado que não era o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens." As pessoas ficavam horrorizadas ao olhar para Ele (Isaías 52:13). Seu desfiguramento talvez possa explicar porque Ele não foi reconhecido facilmente em Suas aparições pós-ressurreição. (Terasaka, s/d)32

A crucificação era a punição dada pelos soldados romanos àqueles que se opunham às ordens, principalmente os mais condicionados ao sofrimento que eram os escravos. Recebiam todo tipo de humilhação, eram desnudos, flagelados e deviam carregar a sua própria cruz.

Nesta capela (figura 38) estão dispostas doze esculturas, porventura conjunto que tem a melhor execução por parte de seus autores.

                                                                                                                         

32 David Terasaka – Aspectos Médicos da crucificação de Jesus Cristo – disponível em

http://www.ibvir.net23.net/sermoes/aspectos_medicos_da_crucificacao_de_jesus-cristo.htm, não há menção ao ano no artigo. Acessado em 06/05/2013.

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

 

Figura  38  –  Capela  Crucificação  –  Braga  -­‐    Detalhe    -­‐  acervo  da  autora

Pode-se observar a riqueza de detalhes produzidos pelos escultores, o pormenor do Cristo localizado já na cruz, com as suas costelas aparentes, o rosto que demonstra cansaço e piedade, sua musculatura e panejamento produzidos na melhor entalha portuguesa, também observável nas demais esculturas que patenteiam a exuberância da função pedagógica que o Barroco tão bem exprime. As cores aparecem nas imagens com uma policromia diferente das demais capelas de Braga. No detalhe da figura 38 neste conjunto tem sete esculturas que possuem uma dramatização cíclica, pois a observação faz um movimento circular na cena buscando a finalização no Cristo.

Essa dramatização cíclica continua no outro conjunto escultórico (figura 39) em que a movimentação corporal dos representados torna a cena mais real. O corpo do soldado que está colocando o prego na mão do crucificado possui uma realística de causar impressão. Há outra representação ao fundo que está movimentando uma ferramenta em que se percebe também o realismo de tal cena. Os outros dois soldados não são meros figurantes, antes produzindo equilíbrio e harmonia na cena. Ao lado está um menino segurando os cravos na mão que entrega ao soldado; sua fisionomia demonstra total afinidade com o acontecimento como se fosse comum fazer isso, ou até mesmo de inocência infantil para tal situação. Uma imagem em primeiro plano foi produzida de forma magnífica: é o homem que está com a corda nas mãos; essa representação dá veracidade à cena dramática e produz no observador a sensação do peso do madeiro. O cenário na parede representa o Gólgota com rochedos colocados para esta representação.

 

Figura  39  –  Capela  Crucificação  –    Braga  -­‐  Detalhe    -­‐  acervo  da  autora

Outra escultura causa espanto na produção. É a imagem de uma mulher com o manto azul, lenço no rosto e auréola sobre a cabeça que leva a nominá-la de Maria, mãe de Jesus (figura 40). A sua fisionomia revela o seu sofrimento patente nos detalhes realizados na escultura com uma policromia exuberante que enfatiza a cena.

 

Figura  40  –  Capela  Crucificação  –  Braga  -­‐  Detalhe  -­‐  acervo  da  autora

Em Congonhas do Campo, há um conjunto escultórico com onze imagens que representam a Crucificação (figura 41). No centro da composição o Cristo crucificado que possui a mesma forma de representação do de Braga; Oliveira (2006:99) atenta sobre a representação de Cristo crucificado no chão: “(...) ganhou popularidade em fins da Idade Média por influência das revelações de Santa Brígida e das revelações dos

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Mistérios.”33 A imagem do pregador debruçado sobre o Cristo está inclinada e não ajoelhada; outro se encontra aos pés de Jesus com martelo e prego nas mãos.

Há também na cena duas esculturas que representam os soldados apostando a sorte; cuidadosamente, sob as mãos de um deles estão esculpidos dados para assim representar melhor a cena e o observador se remeter ao episódio. Perto desses está a escultura do Centurião com manto vermelho e capacete diferente dos demais.

Participam também desse conjunto escultórico mais duas imagens que representam os ladrões que juntamente com Cristo serão crucificados. Uma das esculturas está em pé e a produção escultórica produz no espectador uma sensação piedosa pois Aleijadinho conseguiu colocar essa expressão na madeira; a musculatura aparente, os planejamentos, fazem parte do melhor Barroco produzido pelo mestre; assim também a escultura do outro ladrão que está em primeiro plano sentado: seu olhar é furioso como se ele estivesse negando a participação na cena (figura 42). A mulher (figura 43) que se apresenta na cena está de joelhos, boca entreaberta e mãos espalmadas para cima; o seu olhar dirige-se para o céu como se estivesse se comunicando com Deus; as suas vestes são algo de incomum na cena uma vez que as mulheres usavam túnicas e mantos sobre elas e na maioria cobriam os cabelos.

                                                                                                                         

33Santa Brígida viveu no século XIV, na Suécia, onde fundou a Ordem do Santo Salvador, consagrada ao

culto à Paixão de Cristo. Suas revelações foram publicadas pela primeira vez em 1492, renovando a iconografia cristã do fim da Idade Média. (Oliveira 2006:99)  

 

O cenário possui pinturas que complementam a cena; é evidente a representação de duas cruzes ao fundo fazendo alusão aos outros dois que serão crucificados e o espaço entre elas está aguardando para ser preenchido.

 

Figura  42  –  Capela  Crucificação  –  Congonhas  -­‐   acervo  da  autora

 

Figura  43  –  Capela  Crucificação  –  Congonhas  -­‐  acervo  da   autora