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CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.12 Os Doze Profetas do Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas – Brasil

IV.12.2 Os Doze Profetas: Teatro a Céu Aberto

grande dano à saúde e seu corpo foi objeto de uma moléstia progressiva: seus membros foram sendo mutilados, dores fortíssimas o levavam por vezes a cortar os próprios dedos das mãos. E para prosseguir em suas obras eram-lhes atadas ferramentas no que lhe restava dos membros. (Silva 2001:55)

Este personagem lendário, conhecido como Mestre Aleijadinho, deixou um legado artístico inigualável para o Brasil, que fez dele um escultor-arquiteto de importância histórica para a arte brasileira. As inúmeras obras produzidas pelo Mestre estão concentradas em Minas Gerais, palco de sua vivência, cujas mudanças econômicas, políticas e sociais ditaram o seu modus operandi na condução de seu trabalho, fruto de um bom aprendizado e educação.

Sendo o complexo do santuário de Congonhas do Bom Jesus de Matosinhos, uma de suas obras de maior expressão que pertence à fase máxima, a produção dos Doze Profetas marca um significado que representa o esforço criativo do artista em momento em que sua doença estava no auge; esta obra foi seu último empreendimento expressivo, encontrando-se no adro dianteiro da igreja do Bom Jesus de Matosinhos.

IV.12.2 Os Doze Profetas: Teatro a Céu Aberto

A missão dos Profetas, homens extraordinários que, por iluminação, prediziam o futuro, era guiar o povo de Israel, clamando contra idolatria e a imortalidade, preparando a nova era, a vinda do Messias, o Cristo Redentor. As profecias são naturalmente obscuras, porque expressavam altíssimos mistérios. (Jardim 1985: 138)

Após os romeiros, turistas e curiosos passarem pelos Passos da Paixão, irão se deparar com uma escadaria no modelo setecentista chegando até o adro da Igreja. Lá estão belissimamente distribuídos os Doze Profetas imortalizados em pedra sabão. São Eles:

Isaías – suas profecias mostravam aos israelitas sua infidelidade e prediziam os castigos de Deus;

Jeremias – previu o triunfo dos Caldeus, a destruição de Jerusalém e da Babilônia;

Baruc – era secretário de Jeremias, de quem anotou os oráculos;

Ezequiel – o centro de suas profecias era mostrar aos judeus que Deus cumpria suas promessas e seus castigos;

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Daniel – conseguiu que a cidade de Jerusalém fosse reconstruída;

Oséias – escolhido por Deus para anunciar os castigos aos reinos de Judá e de Israel e a felicidade no reino de Messias;

Jonas – foi castigado por Deus e jogado ao mar por desrespeitar uma ordem; Joel – Expôs à Judéia quais os males que trariam à terra a lagarta, o gafanhoto, o brugo, e a alforra.

Amós – exercia seus ministérios em Betel, centro de idolatria em Israel; Nahum – profetizou a destruição de Nínive e da Assíria;

Abdias – o mais antigo dos Profetas. Previu a ruína da idolatria e o estabelecimento do reino divino;

Habacuc – previu a destruição de Judá pelos Caldeus;

A localização das esculturas dá a impressão de que elas estão à espera dos crentes; no início da escadaria, para adentrar no pátio, há dois profetas recepcionando o espectador, a movimentação corporal de cada escultura nos remete a uma cena teatral: cabeças, braços, olhos, roupagem detalhadas fazem uma representação como se quisessem comunicar algo, dando a impressão que elas vão sair andando, dançando pelo adro da igreja, e o vento balançando as suas roupas, a pedra dura se tornando maleável; o sol ofusca a visão dos profetas, e dois deles apontam para céu e parecem dizer:

“Olhe! Lá está o Senhor!”

O lugar de honra na entrada da escadaria é partilhado pelos profetas maiores: Isaías e Jeremias. Este é uma figura curta e atarracada, onde talvez mais do que em qualquer outra se sinta a falta de altura, uma vez que a força real da imagem só é captada quando isolamos a cabeça, onde, acima do nariz aquilino e dois lábios fortemente apertados, os olhos parecem queimar com intensidade terrível. É o rosto de um homem preocupado com a denúncia do pecado, de um fanático antegozando secretamente suas próprias profecias de Ruína iminente. (Smith 1973:63)

Nas mãos, cada Profeta tem a representação de um papiro com inscrições em latim; a citação é longa, mas necessária:

Cada profeta esculpido sustenta uma placa, com inscrição em latim, que o Pe. José Tobias Zico traduziu para o vernáculo. Em Isaías (primeiro dos quatro grandes profetas), lê-se: “Enquanto os serafins celebravam o Senhor, um deles aproxima uma brasa dos meus lábios, por meio de pinças”. Em Jeremias (um dos grandes profetas): “Eu choro o desastre da Judéia e a ruína de Jerusalém. Peço que eles voltem ao seu Senhor”. Em Baruc (um dos profetas menores): Eu anuncio a encarnação de Cristo e o fim do mundo e aviso os bons”. Em Ezequiel (um dos grandes profetas): “ Descrevo os quatro animais, no meio das chamas, as terríveis

rodas e o etéreo trono”. Em Daniel (grande profeta): “Encerrado por ordem do rei na cova dos leões, estou são e salvo, pela proteção de Deus”,Em Oséias (profeta menor): “Recebe a adúltera, disse-me o Senhor; isto eu faço. Ela se torna esposa, concebe e tem muitos filhos”. Em Jonas (profeta menor): “Engolido pelo monstro, passo três dias e três noites, no ventre do peixe, depois, chego a Nínive”. Em Joel (profeta menor); “ À Judéia eu explico quanto mal hão de trazer à terra a lagarta, o gafanhoto, o besouro e o fungo”. Em Amós (profeta menor): “ No começo, simples pastor, depois, profeta. Invisto contra as vacas gordas e os líderes”. Em Naum (profeta menor): “Persigo Nínive e digo: haja castigo contra a relapsa Assíria, que deve ser destruída totalmente”. Em Abdias (profeta menor): “ Acuso as nações e a vós, povos da Iduméia. Anuncio-vos triste ruína”. Em Abacuc (profeta menor): “Eu te acuso, Babilônia, a ti, tirano da Caldéia, mas a ti, ó Deus, que me sustenta, eu canto em salmos” (Mucci 2007:40)

Lourival Gomes Machado comenta sobre o que o visitante deve esperar de Congonhas:

(...) depois de recolher-lhes a atmosfera de comunicação mística, de capela em capela, detendo-se diante de cada um dos quadros da Paixão, até alcançar a esplanada em que, do Novo Testamento de talha, passará à pedra-sabão de um Velho Testamento resumido no ímpeto divinatório dos Profetas. Eis a Bíblia que se deve saber inteira, antes de entrar na igreja onde a arte dos homens continua a render culto a Deus.(apud Falcão 1961:134)

Disposição dos Profetas no adro da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas:

 

Figura  –  58  -­‐  Planta  do  Adro  dos  Profetas  -­‐  1  -­‐  Isaías;  2  -­‐  Jeremias;  3  -­‐  Baruc;  4  -­‐  Ezequiel;  5  -­‐  Daniel;  6  -­‐  Oséias;  7  -­‐   Jonas;  8  -­‐  Joel;  9  -­‐  Amós;  10  -­‐  Naum,  11;  Abdias;  12  -­‐  Habacuc  (fonte:    BARDI,  P.  M.  in  História  da  Arte  Brasileira,  

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Figura  59  -­‐  Santuário  do  Bom  Jesus  de  Matosinhos  -­‐  Congonhas  -­‐  vista  Adro  dos  Profetas  –  fonte  GGurgel  in   Google  images  

No Santuário do Bom Jesus do Monte de Braga, à frente do Templo há estão distribuídas sete imagens: Anás, Caifás, Herodes, Pilatos, José de Arimateia, Centurião, Nicodemos. Esta disposição é interessante, pois todos participaram de 2 em 2 em algum episódio do julgamento e sepultamento de Cristo, uns na caminhada de Cristo até o Calvário e outros já no Calvário. Estas esculturas estão distribuídas simetricamente no adro do templo não possuindo muita movimentação cenográfica; os pedestais onde estão confundem-se com a própria escultura devido às alegorias nelas colocadas. Infelizmente as esculturas se encontram em mau estado de preservação com as fisionomias da estatuária se definhando entre limos e fungos.

Os Profetas de Congonhas estão dispostos em zigue-zague estando sobre os parapeitos da escadaria convidando as pessoas a adentrarem na praça da igreja, após os Passos de Cristo; estão lá, quais sentinelas, vigilantes, guardas da basílica, onde produzem uma mensagem divina com suas mensagens esculpidas em latim42. Nesta disposição existe uma separação entre mensagens boas e mensagens ruins: “as mensagens que se acham à direita dirigem-se aos bons, e as dos da esquerda aos maus.”. (Falcão 1961:146)

Habitualmente, o Profeta é um anunciador. No caso da escolha dos feitores da época escolher os profetas bíblicos para ladear a Igreja é interessante, pois os profetas anunciavam a vinda do Messias; em Braga as imagens dispostas no adro da Igreja

                                                                                                                         

42“Essas inscrições não repetem com fidelidade os versículos bíblicos; dizem apenas o sentido do capítulo

dizem respeito às figuras que participaram diretamente na paixão e crucificação de Cristo.

Nas diversas culturas que o mundo conheceu, a palavra profeta pode ter muitas interpretações: xamã, adivinhos, mago, vidente, feiticeiro, bruxo; assim os profetas aparecem em locais com nomes diferentes em que normalmente eram anunciadores da vontade dos deuses (deus); Dias considera que “(...) o profetismo bíblico se afirmou como fenômeno singular e extraordinário, não é um país nem um povo isolado (...) a sua história tem que ser integrada no contexto histórico-cultural.” (Dias 2006:60); Os profetas bíblicos, em Congonhas, estão diretamente ligados com os interesses do catolicismo predominante no século XVIII, pois para o povo de Deus, consultar um profeta era procurar junto dele uma palavra eficaz (Dias 2006) e esta palavra de Deus que invade o profeta é impulsionada a reproduzir ao povo que este muitas vezes interpreta de modo coloquial, direcionando as suas vivências, porque “O profeta é, por conseguinte e antes de mais, um arauto, um pregador e não propriamente um escritor. A sua mensagem é doutrina e interpretação.” (Dias 2006:66)

Deste modo, a produção dos profetas no adro da igreja de Congonhas induzia o romeiro, que percorria os Passos da Paixão, à interpretação dos anúncios dos textos que se encontram nas cartelas que cada profeta segura, à reflexão sobre as escrituras sagradas. As escritas nas cartelas estão todas em latim; como poderia o homem comum dos séculos XVIII/XIX interpretar tais escritas em um período de maioria iletrada? As imagens artísticas do Barroco possuem um poder pedagógico/didático obtida pela representação do movimento da imagem. Essa é a convicção de Myriam Oliveira que diz: “As imagens concebidas para participar de cenas escultóricas só podem ser aprendidas na totalidade de sua intenção estética e iconográfica no âmbito da ação.” (Oliveira 2008:17) Desta maneira, as esculturas usadas em ritual católico possuem um poder de indicar ao observador a ação produzida no local onde se encontra levando assim a uma energia espiritual. Convém, então, pensar, no caso da produção dos Profetas em Congonhas, serem eles anunciadores da palavra de Deus, um guia espiritual do povo de Deus. Segundo Dias “os profetas clássicos aparecem em momentos críticos da vida nacional, ousados e atrevidos, não violentos, mas ameaçadores e prontos para o risco da morte” (Dias 2006:70); ora, em Minas Gerais o momento nacional estava em modificações devido às mudanças históricas: Inconfidência, a corrida pelo ouro, a religião se fortalecendo, crescimento de ordens religiosas, escravidão; assim, os profetas lá eternizados por Aleijadinho faziam o povo repensar, analisar a sua existência e como

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essas mudanças culturais e políticas lhe poderiam ser aplicadas. Enfim, são evidentes as funções, significados e valores que a representação imagética exercia na vida diária da população e, assim, somente com o espírito de fé se compreenderá o verdadeiro sentido da arte em Congonhas.

     

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conhecer o patrimônio histórico de seu país deveria ser quase obrigatório. Quiçá não em sua totalidade, uma vez que em se tratando do Brasil onde sua geografia rompe os milhares de quilômetros, no entanto, “alguns” de relevância, como os patrimônios tombados pela UNESCO. Na lista da UNESCO, atualmente o Brasil conta com nove cidades históricas do período da colonização as quais possuem nas suas feituras arquitetônicas e ornamentais o estilo Barroco.

Com a chegada dos portugueses em 1500, além do processo da vinda de novos personagens ao Brasil há também o acréscimo de um novo elemento: a religião Cristã; assim a partir de 1503 na cidade de Porto Seguro foi construída a primeira Igreja em solo brasileiro para devoção a São Francisco Outeiro, que atualmente se encontra em total ruína. Mais a frente, em 1526, construída também em Porto Seguro a Igreja de Nossa Senhora dos Passos, hoje Museu de Arte Sacra, a qual possui uma imagem do Senhor dos Passos incrustada de rubi datada de 1585. A partir dessas datas percebe-se que as necessidades começam a se modificar em solo brasileiro no momento em que a religião dá início ao seu fortalecimento ainda mais, com a chegada dos padres Jesuítas em meados do século XVI.

Assim sendo, o trabalho iniciou com as pesquisas ao “Culto ao Bom Jesus de Matosinhos”, personagem principal dessa saga, sendo a devoção por ele que uniu, entre outras, estes dois locais. Entre lendas e milagres o culto do Bom Jesus atravessou o Atlântico aportando na Terra Brazilis; não houve imagem no mar como aconteceu em Portugal, mas a sua devoção chegou por ele com os imigrantes portugueses e devotos. O Bom Jesus enalteceu a relação entre Brasil e Portugal, sendo que no Brasil, hoje, há registro pelo IBGE não de um ou dois locais, mas vinte e três cidades que recebem o seu nome na certidão de nascimento, sendo em Congonhas e no Bom Jesus da Lapa, na Bahia, a maior concentração da fé no Brasil sobre a devoção ao Bom Jesus.

O Brasil e Portugal, do século XVIII, serão unidos não só pela necessidade de uma vida melhor ou pela busca do ouro, mas também, pela fé arraigada no Senhor de Bouças e a disseminação do cristianismo em território brasileiro e, em momento de transformações históricas e religiosas, pelo culto ao Bom Jesus que foi um dos propulsores para o aumento da religiosidade no Brasil. A figura do português Feliciano

Considerações  Finais  

Mendes com certeza contribuiu para tornar a devoção ao Bom Jesus mais intensa e concreta; através de seu pedido de cura e cumprindo a sua promessa realizou em solo brasileiro o sacro-monte mais conhecido das Américas, tendo sido a sua fervorosa devoção que monitorou a construção do santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas. Atestou-se a sua importância para tal não só nos registros dos arquivos do santuário como também nos arquivos da Arquidiocese de Mariana. Feliciano quisera glorificar a sua devoção ao Bom Jesus e este deveria ser o centro de tudo, “ ...entretanto teve seu desejo a mais completa realização, o seu Bom Jesus é realmente o centro, para qual tudo, dentro e fora da igreja, se converge. Somente com espírito de fé se compreenderá isso.” (Falcão 1961:136)

Por outro lado, essa fé foi subsidiada pela arte e esta, por sua vez, irá produzir uma quantidade significativa de imagens votivas, construções e esculturas patenteadas pelo Concílio de Trento que atestou a feitura para aumentar a devoção e com isso catequizar os fiéis enaltecendo ainda mais o poder da Cristandade. Deste modo, a construção de igrejas começa a se alastrar na geografia brasileira, surgindo novos empreiteiros para essas produções. A chegada dos imigrantes portugueses estava no auge nos séculos XVII e XVIII, mudando a paisagem cultural brasileira por um efeito de miscigenação, formando novas identidades, entre as quais ainda não se consegue conceituar uma originalmente brasileira. Assim, esses aventureiros por conta dos modismos em Portugal começam a produzir em solo brasileiro o estilo denominado Barroco. A produção desse novo estilo irá alterar as construções dando um caráter regional conforme aonde ele ia sendo inserido. O Barroco tão exaltado em Portugal, conhecido como sendo o movimento de agrado nacional, receberá no Brasil as modificações territoriais que foram utilizadas na formação de cidades como Ouro Preto, Mariana, Diamantina, São João Del Rei, entre outras mais, colocando Minas Gerais na rota obrigatória para quem quer conhecer o Barroco no Brasil, sendo essa a primeira grande manifestação artística do país. O Barroco, por sua vez, foi o estilo escolhido pela instituição da Igreja para promover a fé; o Barroco é contraste, movimento, é emoção, exuberância das formas, das volutas, dos arabescos, é didático e pedagógico; em suma, cumpre com as necessidades da Igreja neste momento de transformação no território brasileiro promovido pela coroa lusa. Com o Mestre Aleijadinho, que recebeu ensinamentos advindos de seu pai o português Manoel Francisco Lisboa, construtor do estilo Barroco, a produção de imagens votivas recebeu uma expressão emotiva singular

e é no Santuário de Congonhas que aparece a sua máxima expressão e qualidade na confecção das esculturas presentes nos Passos da Paixão e dos Doze Profetas.

Os dois santuários pesquisados possuem, segundo historiadores,43 algumas semelhanças na sua produção; também o fato do fundador do Bom Jesus em Congonhas ter sido português torna inevitável relacionar os locais com algumas unicidades: a construção das capelas em zigue-zague com as cenas da Paixão, o adro com esculturas e o templo que abriga a imagem do Bom Jesus. Este rol de imagens que estão abrigadas nas Capelas dos Passos possui aspectos relevantes carregados de significados que podem ser analisados não só na sua arquitetura ou nos personagens enquanto grupo escultórico, como também individualmente num sentido psicológico. Os estudos científicos comprovam a utilização dos símbolos inseridos na realidade, sendo, muitas vezes, a imagem, a representação desses. Especialistas buscam também a compreensão devido à dominação que estas imagens simbólicas ativam no cotidiano devido ao seu poder de ensinar didaticamente. Analisando as Capelas dos Passos, em especial de sete passos, é inteiramente impossível desassociar o olhar do passado com o contemporâneo. O homem que presenciou as Capelas nos séculos XVIII e XIX foi um homem inserido dentro de necessidades diferentes onde a religião era, de fato, a propulsora da criação das mais variadas simbologias para que ele compreendesse as Escrituras Sagradas de forma eficaz. O que se encontra enquanto símbolos nas capelas está além das nossas faculdades interpretativas, porque o olhar de quem pesquisa é diferente de quem busca o espiritual; Chevalier e Gheerbrant o afirmam: “Os símbolos estão no centro, constituem o cerne dessa vida imaginativa. Revelam os segredos do inconsciente, conduzem às mais recônditas molas da ação, abrem o espírito para o desconhecido e o infinito.” (Chevalier e Gheerbrant 2009:12) Os grupos escultóricos das capelas possuem representações de personagens das Escrituras Sagradas levando o crente a acreditar que foram pessoas reais que aproximaram da ação e esta, diretamente, induz o espectador a interpretar as cenas. Esse ato de comunicação produz uma mudança de comportamento no indivíduo que é instigado a se inserir no cenário e fazer parte da angústia, agonia, sofrimento ali representados e personificados em estruturas de madeira e pedra. O valor simbólico que cada imagem possui daria para realizar uma leitura individual, pois elas possuem particularidades aonde links vão se abrindo e leques de possibilidades de interpretações iniciam, pois a percepção do símbolo é iminentemente pessoal; daí a

                                                                                                                         

43Myriam R. Oliveira, Edgard C. Falcão, John Bury, Robert C. Smith, Germain Bazin, José Carlos G.

Considerações  Finais  

razão em centrar este estudo no que particularmente interessa, isto é, na arte, na religião, literatura, psicologia, entre outras. As variações simbólicas encontradas foram vastas em que devaneios permeavam o sagrado e o profano, mesmo porque as reações estão condicionadas à cultura de cada um, a qual, por sua vez, conduz a diferentes momentos históricos. Sobre as simbologias encontradas nas Capelas dos Passos, tanto em Braga quanto em Congonhas, são visíveis as diferenças culturais e a mundivivência de cada local, na linha de pensamento de Eliade (1992) que ressalta o fato das diferenças nas experiências religiosas permearem as distinções econômicas, culturais e sociais, em outras palavras, as diferenças históricas; deste modo o que se vê são os símbolos religiosos nestes ambientes culturalmente diferentes impregnados de comunicação na tentativa de fazer com que o romeiro participe do sofrimento do Cristo, fato que revela os conhecimentos bíblicos de seus feitores expostos nas feições carregadas das expressões, na desenvoltura corporal, na forma como as mãos são posicionadas, nos elementos expostos em cada escultura na cena. Portanto, é impossível desvincular o poder didático pedagógico que as imagens inseridas nas Capelas dos Passos possuem; as simbologias ali utilizadas são uma leitura didática da Bíblia e a sua interpretação transformada em uma realidade escultórica transmitindo ao crente as mais íntimas vivências.

Em outro momento foram abordadas as Fontes dos Cinco Sentidos. A escolha