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CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.7 Capela Coroação de Espinhos

Analisar exaustivamente a simbologia da coroa implicaria escrever inúmeras páginas sobre o assunto. Chevalier e Gheerbrant trazem a seguinte definição, que se tem por satisfatória, para esse símbolo:

O simbolismo da coroa fica a depender de três fatores principais. Sua colocação no alto da cabeça lhe confere um significado supereminente: ela participa não só dos valores da cabeça, cimo do corpo humano, mas dos valores que sobrepuja a própria cabeça, um dom vindo de cima; ela assinala o caráter transcendente de uma realização qualquer bem-sucedida. (Chevalier e Gheerbrant 2009:289)

Deste modo, a coroação de Cristo não recebeu esse caráter de “bem-sucedido”, antes foi uma punição. Como em todas as civilizações o atributo do rei é a coroa, e num sentido figurado Deus pode coroar a humanidade com suas bênçãos; em muitos rituais a coroa é colocada como símbolo de soberania e, lembrando os Jogos Olímpicos da Era

Antiga, os esportistas vencedores eram laureados com coroas de folhas de oliveira ou de louro.

A coroação de espinhos em Cristo foi um momento de total impiedade por parte de seus algozes, o seu corpo já estava todo torturado, só faltava à cabeça.

Pilatos tomou então Jesus, e o mandou flagelar. Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos puseram-lhe sobre a cabeça e revestiram-no com um manto de cor púrpura. Depois, aproximaram-se dele e diziam-lhe: Salve rei dos Judeus! E davam-lhe bofetadas. (Jo 15: 1-3)

As representações dessa tortura na Capela de Braga (figura 28) mostra essa ação dolorosa. No conjunto de imagens da capela estão distribuídas três esculturas, o Cristo ao centro sentado com um manto vermelho cobrindo o seu corpo. O vermelho é muitas vezes associado à vida, à paixão, ao amor, o sangue que corre nas veias quente e vivo. A cor púrpura também simboliza “o poder entre os generais e cônsules romanos.” Segundo Lurker, que acrescenta: “Na iconografia cristã, Deus Pai enquanto Criador usa frequentemente uma veste vermelha – sinal de seu poder e amor infinitos.” (Lurker 2003: 747-748)

Seguindo com a análise, ainda em Cristo, a representação de sua pele ou a cor está totalmente diferente da coloração anterior, assim também como as cores do cabelo e barba se confundem com a cor do manto. A escultura é de exímia produção, a desenvoltura corporal e facial é fascinante (figura 29), os olhos piedosos e negros, não mais azuis como na estatuária anterior, remetem-nos à dor e ao sofrimento do condenado.

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

 

Figura  28  -­‐  Capela  da  Coroação  de  Espinhos  –  Braga  –  acervo  da  autora

 

 

Figura  29  -­‐  Detalhe  Cristo  –  Capela  Coroação  de  Espinhos  –  Braga  –  acervo  da  autora

Na figura 28 existem mais dois personagens esculpidos igualmente; comparados com a escultura de Cristo, percebe-se uma estaticidade na formação corporal e os seus rostos são iguais, tanto no formato quanto nas cores, ambos estão vestindo um camisolão amarrado na cintura dando a impressão que não são soldados romanos; um aponta para Jesus e outro o açoita ou coloca a coroa em sua cabeça; mesmo o Cristo estando sentado, as três figuras estão praticamente no mesmo tamanho. A impressão que dá é que se Jesus ficar em pé a sua altura será superior à dos demais, talvez o escultor quisesse com isso ressaltar a grandiosidade do Senhor. O cenário reproduz um ambiente externo remetendo para a subida de Cristo ao Calvário.

Congonhas tem um conjunto maior de esculturas para produzir a mesma cena da Coroação de Espinhos. Este Passo da Paixão em Congonhas (figura 30) não possui uma capela exclusiva; ela participa juntamente com a capela da Flagelação e são divididas com um parapeito. O conjunto do Passo da Coroação de Espinhos está constituído de sete imagens produzidas em madeira: ao centro está Cristo e em sua volta seis soldados romanos. As esculturas produzidas possuem um apuro na sua realização no que diz respeito à feitura dos panejamentos e nos detalhes corporais. As quatro figuras de fundo indicam uma paralisia corporal, meros figurantes da cena. O posicionamento principal está na imagem do Cristo e dos dois soldados a sua frente. Cristo sentado com uma postura serena, olhos fixados para o chão, com as mãos amarradas. Diferentemente da cena de Braga, Ele está vestido com um manto de duas cores, vermelha e azul- esverdeada; na cena que é dividida na mesma capela ao fundo há um soldado que segura um manto totalmente vermelho indicando ser o manto que Cristo deveria estar usando; no corpo do Cristo de Congonhas não há ferimentos como mencionado anteriormente no Passo da Flagelação; o que vemos são sinais de vermelho imitando sangue saindo das narinas de Jesus e junto da coroa de espinhos. Os olhos de Cristo estão pintados à cor azul, como em algumas capelas de Braga, passando para o espectador a sensação de tristeza e sua boca entreaberta parece que irá balbuciar qualquer comentário. No conjunto dos soldados há dois figurantes que usam chapéus e não capacetes militares, reforçando uma vez mais a ideia de que os feitores não tinham realmente o conhecimento de como era um capacete romano. Juntamente com Jesus ao centro, estão imagens de dois soldados que dividem a cena principal; um segura em sua mão direita a inscrição INRI e o outro, por zombaria, como se conhece a história, entrega a Jesus um ramo de cana (figura 31) imitando o cetro. Esta passagem mostra o quanto o homem pode ser desumano, a coroa tão exaltada e querida pelos reis que acompanha o cetro do poder agora representada de maneira grotesca é entregue ao Senhor para desmerecer a sua situação de Messias: “Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe sobre a cabeça e na mão direita uma cana. E dobrando o joelho diante dele, o escarneciam dizendo: Salve, ó rei dos Judeus.” (Mt 27:29)

O cenário representa o pátio do Pretório de Pilatos, pintado ao fundo para dar maior veracidade à cena.

Capítulo  IV  –  Simbologias  Religiosas  

 

Figura  10  -­‐  Capela  da  Coroação  de  Espinhos    -­‐  Congonhas

 

Figura  31  -­‐  Detalhe  soldados  –  fotos  acervo  da   autora

Nesta análise não são contempladas a Capela Pretório de Pilatos, e a Capela das Quedas, pois são exclusivas do santuário do Bom Jesus do Monte de Braga.