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CAPÍTULO IV – SIMBOLOGIAS RELIGIOSAS

IV.8 Capela – Subida para o Calvário

Em Braga, esta capela (figura 32) é composta por um conjunto escultórico de onze imagens; é a primeira capela dos Passos em que a imagem da mulher aparece representada assim como também a figuração de crianças.

Na composição escultórica Cristo, como nas demais capelas, é o protagonista da cena. A ação é carregada de drama, acentuando a representação do estilo barroco que representa a cena de maneira real para levar o espectador a fazer parte da situação. Cristo está com a Cruz nas costas carregando o seu peso, com uma corda ao seu pescoço, como se Ele estivesse sendo arrastado como um animal para o abate.

A cruz, por sua vez, possui muitas interpretações. É “um dos símbolos mais antigos da humanidade (...) cuja presença é atestada desde a mais alta Antiguidade: no Egito, na China, em Cnossos, Creta, onde se encontrou uma cruz de mármore do séc. XV, a.C.” (Chevalier e Gheerbrant 2009: 309); já Lurker informa: “As palavras grega e latina para cruz (stauros e crux) denominam primeiramente uma mastro onde eram amarrados os condenados à morte.” (Lurker 2006:176) algum tempo depois da crucificação é que a cruz se tornará símbolo da Ressurreição que São Paulo resume na expressão ‘palavra da cruz’ (Cor 1,18). A partir do século XI é colocada uma cruz no

altar das igrejas representando o crucificado. É comum também encontrar-se em algumas literaturas a cruz associada à árvore da vida.

  A crucificação de Cristo está associada à penalização que os romanos, principalmente, faziam com seus condenados.

 

Figura  32  -­‐  Capela  Subida  para  o  Calvário  –  Braga  –  Foto  acervo  da  autora

Na figura 32 vemos o Cristo ao centro, com uma veste que esconde os seus ferimentos; o posicionamento do corpo demonstra o peso que está sobre as suas costas, seu semblante é sereno e pensativo enquanto que alguém o ajuda segurando a sua cruz. A composição escultórica possui um dinamismo na distribuição das imagens, e o local onde estão se apresenta em situação não preservada deixando a cena mais dramática. A produção das vestimentas dos soldados é de exímia produção e detalhes. Se comparadas às vestimentas dos soldados de Braga às cenas de soldados das capelas de Congonhas ver-se-á que os artistas (de Congonhas) realmente não conheciam tais uniformes para poder reproduzir na sua fidelidade.

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Figura  33–  Capela  Subida  para  o  Calvário  –  Braga  –    detalhe  -­‐  Foto  acervo  da  autora

Na figura 33 surge no conjunto de imagens, a presença de mulheres no drama; segundo as Escrituras Sagradas Jesus as chama de Filhas de Jerusalém; somente a mulher que está com o manto na mão é relacionada com Verônica31. Em Lucas (23: 27-

28), diz-se: “Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam no peito e o lamentavam. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.” Uma das mulheres que aparece em primeiro plano está com as mãos juntas e olhando diretamente para o Cristo; nesta escultura há uma auréola sobre sua cabeça, o que nos leva a interpretar ser uma pessoa santificada, Maria. Segundo Chevalier e Gheerbrant “A auréola simboliza a irradiação da luz sobrenatural, assim como a roda representa os raios do sol. Marca a difusão, a expansão para fora de si desse centro de energia espiritual.” (Chevalier e Gheerbrant 2006:100) O personagem ao fundo, que segura também a cruz, é associado a Simão, o Cirineu, o qual estava no lugar errado à hora errada; enquanto Jesus fazia o seu árduo percurso do Pretório até ao Gólgota, os soldados romanos obrigaram Simão a trabalhar.

                                                                                                                         

31A versão mais popular no ocidente conta que durante a via sacra Verônica secou o rosto do Cristo, que

estava com sangue e suor. A marca deixada no pano teria dado origem ao santo sudário. Note-se que o nome Verônica significa vera=verdadeira+icona=imagem. Disponível em

 

Figura  34  –  Capela  Subida  para  o  Calvário  –  Braga  –    detalhe  -­‐  Foto  acervo  da  autora

Na imagem do detalhe da figura 34 há outro conjunto com cinco pessoas. Os três soldados que aparecem foram esculpidos de belíssima forma; as suas indumentárias possuem um primor na feitura podendo perceber a musculatura sobre a armadura. Um dos soldados, a figura no centro da imagem 34, possui um estandarte com a inscrição SPQR, Senatus Populusque Romanus (O Senado e o Povo Romano), “emblema de poder levado pelas legiões romanas” (Oliveira 2006:95). Toda a coloração da cena é em um avermelhado escuro que, devido à má conservação do local, não permitem uma interpretação satisfatória. A figura da criança ao fundo está solta na composição sendo uma mera figuração devido à falta de movimentação na sua fisionomia; é também associada à criança que entrega os pregos para os soldados perfurarem o Cristo.

Em Congonhas do Campo esta Capela recebe a denominação de Passo da Cruz- às-Costas (figura 35). Este conjunto de esculturas possui onze imagens. Diferente da Capela com a mesma temática em Braga, no centro está a imagem de Jesus sobre uma pedra dando a entender que está subindo; a cruz às costas está sendo segurada somente por Ele; a figura de Simão, o Cirineu; não está contemplada nesta composição, assim como a imagem de Verônica com o manto (Sudário) nas mãos e a corda no pescoço; aqui faz-se alusão a este fato com a pintura de vermelho envolta do pescoço de Cristo. Os semblantes das duas mulheres são de sofrimento e com lágrimas nos olhos.

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Figura  35  –  Capela  Cruz-­‐as-­‐Costas  –  Congonhas  –  Foto  de  Nilson  Soares

Na composição cenográfica há, do lado direito, um conjunto de soldados; um deles toca uma trombeta que dá abertura ao cortejo (figura 35); a trombeta, entre os instrumentos da Antiguidade, é aquele produz um som potente para convocar o povo. Há dois soldados com pedras na mão a jogar no Cristo. A criança da frente (figura 36), vestida como criança do século XVIII e não como na época da Paixão, desentoa na composição em relação a este detalhe: ela segura em sua mão um cravo que supostamente irá ser usado na crucificação.

 

Figura  36  –  Capela  Cruz-­‐as-­‐Costas  –  Congonhas  –   Detalhe    -­‐  acervo  da  autora

 

Figura  37  –  Capela  Cruz-­‐as-­‐Costas  –  Congonhas  –   Detalhe    -­‐  acervo  da  autora

No outro conjunto escultórico (figura 37) pode-se perceber, onde estão localizadas as Filhas de Jerusalém, uma que chora com lenço no rosto e outra que

segura uma criança (não aparece na figura 37); atrás se vê um soldado que segura um estandarte vermelho com as inscrições SPQR, designando, como já dito, o poder dos romanos.

O cenário pintado ao fundo da capela representa a via Dolorosa de Cristo e o Calvário representado atrás dos soldados à direita da composição onde tem duas cruzes pintadas dando ao entender que a terceira cruz está por chegar.