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2.1 COOPERAÇÃO E COOPERATIVAS

2.1.4 As Teorias Modernas sobre Cooperativismo

As tentativas atuais de elaboração teórica do cooperativismo, de acordo com Pinho (1982), procuram não somente explicar o que é, como é, mas prever, com certa margem de segurança, o que pode ser a atividade cooperativa.

A Teoria da Cooperativização Global baseia-se nos precursores utópicos. Seus defensores assumem uma atitude negativa diante da economia de mercado e da concorrência, recomendando sua substituição paulatina e pacífica pela economia cooperativa. Esse modelo não responde a várias questões sobre a maneira de se atingir a cooperativização global nem

como funcionaria a sociedade se a meta fosse alcançada. Na economia cooperativa, o indivíduo, ao invés de perseguir seus próprios objetivos, considera os objetivos de todo o povo, e continua sendo uma incógnita quem determina as metas gerais, quem as impõe e controla sua avaliação.

Na Teoria da Cooperativização Sistêmica, o sistema cooperativo é considerado um sistema cibernético que possibilita a anulação das influências ou distúrbios que vem de uma força externa, tal como acontece com o corpo humano, que também é um sistema cibernético: se um homem tropeça, surgem automaticamente reações cuja função é evitar a queda. Trata-se de tentativa teórica que é uma espécie de caixa preta, cuja estrutura e cujo desenvolvimento interno são desconhecidos, precisam ser descobertos através das reações aos estímulos nela introduzidos.

A Teoria da Cooperação Fiduciária baseia-se no homos cooperativus, sem interesses individuais, que se submete fiduciária e completamente aos interesses coletivos do grupo cooperativizado. Neste enfoque, ficam as seguintes dúvidas: como será incentivada a atitude solidária: através de prêmios e sanções ou por um processo de reeducação; quem tem autoridade para premiar, punir ou reeducar; quem tem autoridade para determinar os objetivos do comportamento solidário; e como saber se estes objetivos são os melhores.

O referencial da Teoria Cooperativa Neoclássica baseia-se em estudos economistas neoclássicos, dos quais se destacam François Albert Angers, Claude Pichette, Isaac Guelfat, Claude Vienney e Serge Koulytchizky.

A contribuição de Angers enfatiza o princípio da repartição no processo econômico cooperativo, analisa o cálculo econômico no campo cooperativo e trata de problemas de equilíbrio cooperativo e da moeda em economia cooperativa.

Para Pichette, a cooperativa não é uma mera criação de doutrinadores, mas uma realidade que merece sua própria análise, por isso rejeita a teoria da firma tradicional

capitalista por considerá-la inadequada à explicação de todas as facetas da cooperativa. Então, passa a analisar as diferenças entre a firma capitalista e a cooperativa, que resultam de suas estruturas diversas e não somente de suas respectivas filosofias ou doutrinas.

Para Guelfat, a Teoria do Bem-Estar Econômico é a que mais se aplica como base de uma teoria econômica cooperativista. Isto porque ambas buscam uma repartição de rendas que permita melhorar a situação de um certo número de indivíduos em relação à situação anterior, e não em detrimento dos outros.

O pesquisador francês Vienney apresenta um ensaio metodológico para possibilitar o estudo comparado de organizações cooperativas em funcionamento em sistemas econômicos diferentes. Conforme encontramos em Pinho (1982, p.73), o ensaio apresenta um postulado, uma hipótese central e um dispositivo de análise:

1. Postulado: as cooperativas não são organizações quaisquer. São identificadas por uma forma e regras que lhes dão especificidade institucional, mesmo quando funcionam em contextos aparentemente diferentes;

2. Hipótese central: explicação das razões pelas quais as organizações cooperativas adquiriram forma específica, para compreensão de sua reutilização em sistemas sócio-econômicos diferentes daqueles de sua origem e também para a comparação do papel que as cooperativas desempenham nesses sistemas; 3. Dispositivo de análise: é a teoria de referência que permite ligar a descrição e a explicação da formação e das transformações das cooperativas em sistemas sócio-econômicos diferentes.

Koutytchizky parte das decisões aparentemente técnicas dos cooperados para chegar à estratégia que elas contêm e que exprimem a filosofia das organizações cooperativas. E, nesse caminho, identifica os atores cooperativistas e seus objetivos próprios, os jogos cooperativos, as peculiaridades da empresa e do sistema cooperativo, propõem instrumentos de análise para apreciar outros aspectos, além do econômico e financeiro. A originalidade das

análises de Koulytchizky resulta, em grande parte, da maneira como passa, por degraus sucessivos, das preocupações da empresa às preocupações ligadas ao interesse geral e à filosofia do movimento cooperativo.

Para a Teoria de Müster ou Teoria Econômica da Cooperação, o interesse individual é que leva os indivíduos à cooperação. Entretanto, não prioriza o individuo em detrimento do coletivo, ambos são importantes na cooperativa. Esta teoria apresenta a seguinte definição de cooperativa, conforme Pinho (1982, p.75), “as cooperativas são agrupamentos de indivíduos que defendem seus interesses econômicos individuais por meio de uma empresa que eles mantêm conjuntamente”.

Neste sentido, os teóricos defendem que o êxito externo da cooperativa implica a utilização das mais modernas técnicas de organização empresarial e o êxito interno determina que os associados recebam os benefícios produzidos por este êxito econômico. Para que esta distribuição de resultados aconteça, é necessário que os associados realmente participem da organização cooperativa em todos os negócios, com pleno direito de decisão.

Na Teoria do Comportamento Cooperativo, examinam-se as motivações que levam o indivíduo a se tornar um cooperado. Analisando a situação da agricultura, Pinho (1982) mostra que o agricultor compreende a importância das cooperativas agrícolas quando perde o controle de sua produção, quando os especuladores o ameaçam ou quando deseja introduzir inovações tecnológicas. A urgência de sair dessa situação o leva a aceitar a cooperativa. A união do grupo cooperativo será maior quanto mais generalizada for a ameaça externa, ou seja, na medida em que atingir indistintamente todos os componentes do grupo. Ao aderir a uma cooperativa, o comportamento do agricultor oscila em torno de um ponto de equilíbrio: satisfazer suas necessidades preservando seu ‘status’ de produtor autônomo ou maximizar ganhos e reduzir custos com a menor perda possível de autonomia. A vantagem comparativa o

conduz ao cooperativismo, com a aceitação de limitar seu poder decisório individual, acatando a decisão das Assembléias Gerais e do colegiado dirigente.

Em suma, a opção do agricultor pela ação cooperativista, de acordo com as normas preestabelecidas, pode ser explicada, teoricamente, pela tomada de posição quanto: à forma de eliminar as tensões resultantes da não-satisfação de certas necessidades, através dos meios habituais e individuais; a maneira de anular a coerção que impede a progressão, pelo afastamento das ameaças internas e externas, com a limitação de seu poder individual de decisão.

Em relação aos países em desenvolvimento, existe a crítica sobre a utilidade do cooperativismo de inspiração européia como modelo de cooperativismo. Há a necessidade de adaptação do modelo, ajustando-o à realidade sócio-econômica e cultural de cada região.

As cooperativas nos países em desenvolvimento, para Pinho (1982), são importantes como forma de transição entre as comunidades e as complexas sociedades tecnoburocráticas, racionalmente constituídas.

A cooperativa substitui o vínculo desfeito entre a população camponesa e a sua comunidade de origem, ainda que contenha aspectos doutrinários ou utópicos. Este fato é especialmente importante diante do número de migrantes que perambulam pelo país, massas humanas que estão de passagem, vivendo em condições subumanas, no doloroso sofrimento de quem perdeu os laços comunitários e não têm condições de ingressar na sociedade tecnológica por analfabetismo ou despreparo técnico.