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2.1 COOPERAÇÃO E COOPERATIVAS

2.1.2 Cooperativismo de Rochdale

Segundo a história oficial, apesar de registrar o surgimento do cooperativismo como sendo a experiência pioneira de Rochdale, tipos semelhantes de organização apareceram em tempos muito mais remotos. Rech (2000) traz exemplos de associações de trabalhadores desde o antigo Egito, onde eram conhecidas como ‘grêmios’, reunindo agricultores escravos. Na Grécia, existiram as orglonas e tiasas; os romanos tinham os ‘colégios’ e as sodalistas; e os cristãos, os ágapes. Na América, os incas tinham as ayllus; os astecas, os calpulli, formas de desenvolvimento de atividades de solidariedade e cooperação no trabalho e na vida em geral.

A ‘Society of Equitable Pioners’ foi fundada por 28 trabalhadores, depois de terem sido derrotados numa greve. Na empreitada, utilizaram-se das experiências de cooperativas anteriores e das idéias de George Jacob Holyoake. A intenção dos pioneiros era manter os ideais socialistas e as cooperativas de produção e consumo tornar-se-iam instrumentos para tal objetivo.

Os Pioneiros reuniram-se pela primeira vez, em dezembro de 1843, para discutir as possíveis soluções de seus problemas de sobrevivência. Optaram pela fundação de um armazém cooperativo, idéia defendida ardorosamente por vários deles. Durante todo o ano, fizeram economia para conseguir o capital social. Inauguraram o armazém cooperativo em 24 de Dezembro de 1844, com um capital social de 28 libras, localizado em Toad Lane Rochdale tinha em seu estoque pequena quantidade de manteiga, farinha de trigo e aveia.

Conforme Pinho (1982, p.32), os pioneiros tinham grandes planos, que foram divulgados junto com seu estatuto social:

1. Abrir um armazém para a venda de gêneros alimentícios, vestuário, etc;

2. Comprar ou construir casas para os membros que queiram ajudar-se mutuamente, a fim de melhorar as condições de sua vida doméstica e social;

3. Fabricar artigos que os associados julguem convenientes, com o objetivo de proporcionar trabalho aos membros desempregados ou subempregados ou com salários insuficientes;

4. Assim que possível, a Sociedade organizará a produção, a distribuição e a educação no seu próprio meio e com seus próprios recursos ou, em outros termos, organizará uma colônia autônoma em que todos os interesses serão comuns. A

sociedade auxiliará as demais sociedades cooperativas que desejarem fundar colônias semelhantes; e

5. Com o fim de propagar a abstinência, a Sociedade abrirá, em um dos seus locais, um estabelecimento de temperança.

Para os artesãos de Rochdale, o cooperativismo foi uma alternativa de sobrevivência frente à expansão da Revolução Industrial, impulsionada pela máquina a vapor. Vítimas que foram do capitalismo, ao formularem a cooperativa, buscaram incluir princípios que eliminassem a acumulação de lucros e poder em mãos da minoria, procurando, dessa forma, resguardar sua autonomia.

Estes princípios são a base do que existe atualmente e foram consolidados no Congresso da ACI, realizado em Manchester em 1995. Neste congresso, foi proposta a definição de valores e dos sete princípios, conforme segue:

Valores: As cooperativas se baseiam nos valores de ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, eqüidade e solidariedade. Seguindo a tradição de seus fundadores, seus membros acreditam nos valores éticos da honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação pelos demais integrantes.

Princípios:

• Livre acesso e adesão voluntária;

As cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidades como membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas e religiosas.

As cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políticas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos como representantes dos demais membros, são responsáveis perante estes. Nas cooperativas de primeiro grau os membros têm igual direito de voto (um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são também organizadas de maneira democrática.

• Participação econômica dos seus associados;

Os membros contribuem eqüitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente, propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmente, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, como condição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades: - Desenvolvimento das cooperativas, eventualmente através da criação de reservas, parte das quais, pelo menos será, indivisível. - Benefícios aos membros na proporção das suas transações com a cooperativa.

- Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros. • Autonomia e independência;

As cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, controladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organizações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo, devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.

• Educação, capacitação e informação;

As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus membros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estes possam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas cooperativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líderes de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

• Cooperação entre as cooperativas;

As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, através das estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais. • Compromisso com a comunidade.

As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

O sucesso transformou a experiência dos Pioneiros de Rochdale em símbolo, e as normas elaboradas pelos 28 tecelões são seguidas, em parte, pelas cooperativas em todo o mundo.

O pequeno edifício onde os Pioneiros iniciaram as suas operações cooperativistas de consumo tornou-se, desde 1931, o Museu da Cooperação.