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A sobrevivência exige o desenvolvimento de estratégias, e o cooperativismo foi privilegiado pelo Movimento, não apenas como viabilização econômica dos assentados, mas como meio de demonstração da potencialidade que há no cooperativismo como um transformador das relações sociais. Considerado não apenas como um modo de produção, mas como um modo de vida baseado na solidariedade, na democracia e no desenvolvimento humano integral. A gestação da Cooperativa de Produção dos Assentados de Charqueadas – COPAC – surgiu da necessidade dos assentados permanecerem na terra conquistada.

Quando chegaram ao assentamento, a área era ocupada por umas poucas árvores de eucalipto e 200 cabeça de gado, sobre as quais o Estado não tinha controle, pois o gado era de pessoas que arrendavam as terras do Estado. Encontraram uma área descoberta e tudo por construir. Além disso, no período houve uma seca muito grande. Iniciaram o assentamento com o que tinham, algumas ferramentas, as sementes vieram de doação ou empréstimo; produziram para o próprio consumo, mesmo sem recurso do Governo. Junto ao Setor de Formação e Produção do MST, organizaram um curso de 45 dias, chamado de ‘Laboratório Organizacional de Campo’, que se realizou do início de abril até meados de maio de 1991.

Organizaram aproximadamente 20 cursos, ministrados pelo MST e EMATER, entre os quais, hortigranjeiros, administração, produção de arroz, gado leiteiro, fruticultura, suinocultura, avicultura, teoria da organização, apicultura, xadrez, entre outros.

Este laboratório foi de fundamental importância para os assentados, pois vinham de outra região onde produziam outras culturas, e também para firmarem-se como grupo de trabalho. Não dividiram a terra, optaram pela divisão social do trabalho, da mão-de-obra.

Durante o curso, organizaram os setores de produção e criaram a Cooperativa de Produção Agropecuária dos Assentados de Charqueadas LTDA – COPAC. Oportunamente, elaboraram o regimento interno no qual constam os direitos e deveres de cada membro.

Dos setores organizados na época, alguns foram excluídos e outros criados conforme a necessidade e a realidade de cada momento.

Na fundação da cooperativa, estavam associadas 46 famílias; destas, 27 permanecem. As desistências foram motivadas por discordâncias no modo de trabalho coletivo, havendo várias argumentações a respeito, mas o que se percebe pelos relatos dos assentados é que o principal problema foi a cultura individualista dos assentados.

A Ata de constituição da COPAC foi lavrada em 28 de julho de 1991 e consta como objetivo desenvolver a produção agropecuária no trabalho coletivo e tomar todas as decisões da forma mais democrática possível.

O Estatuto Social em vigor foi firmado em 25 de outubro de 1996. No Capitulo III, das características e dos objetivos consta:

No artigo 4:

A cooperativa além dos princípios cooperativistas terá as seguintes características:

I – Propriedade coletiva dos meios de produção; II - Organização cooperativa do trabalho;

III – Participação nos resultados e nas sobras proporcionalmente ao aporte de trabalho quantitativo e qualitativo de cada associado;

IV – Repasse mensal aos sócios, a título de antecipação de sobras, na proporção do trabalho aportado, seja em espécie, em bens de consumo e ou em serviços;

V – Promoção social e educacional de todos os associados: VI – Educação para o trabalho dos filhos dos associados;

VII – Período de estágio para os primeiros seis (6) meses do associado que ingressar na cooperativa.

No artigo 5:

A cooperativa tem por objetivo principal proporcionar aos sócios à produção coletiva, para produzirem de forma coletiva bens e serviços para si e para terceiros, tendo em vista de melhoria das condições de vida de seus associados, através do desenvolvimento da produção agropecuária, dos serviços, da agroindústria, desenvolvendo as seguintes atividades para a consecução de seu objetivo:

I – Coordenar o planejamento coletivo da produção e organização cooperativa do trabalho;

II – Comercializar a produção e adquirir os bens necessários para a produção;

III – Implementar atividades produtivas, agro-industriais, industriais e comerciais, inclusive criando filiais para tais fins.

IV – Realizar operação de repasse de crédito e produtos para os associados;

V – Prestar serviços para associados e a terceiros;

VI – Garantir a capacitação dos associados e a assistência técnica para a cooperativa;

VII – Educação para o trabalho dos filhos dos associados; VIII – Prestação de serviço de transporte rodoviário”.

O objetivo da presente pesquisa foi conhecer as ações empreendidas pela cooperativa no sentido de fomentar a sustentabilidade do assentamento; não apenas a sustentabilidade social e econômica, mas também a ambiental. Uma vez que a cooperativa propõe-se a fomentar as dimensões social e econômica, conforme se lê no seu estatuto, e o MST propõe em seus objetivos e compromissos que esta sustentabilidade deve ser feita com a preservação da terra como principal patrimônio do assentado, buscou-se através da pesquisa de campo conhecer em que a atuação da cooperativa está de acordo com essa diretriz.

No que diz respeito à dimensão econômica, para os cooperados, foram observados como aspectos significativos para caracterizar a sustentabilidade: rendimento financeiro

individual, posse de bens, existência de assalariamento fora do assentamento e satisfação com a condição de vida atual.

Na dimensão social, foram considerados como aspectos significativos para caracterizar a sustentabilidade: adesão ao sistema cooperativista coletivista, participação nas atividades comunitárias, participação em cursos e outras atividades de formação, participação decisória, participação da mulher e existência de dificuldades com o trabalho cooperativo.

Na dimensão ambiental foram considerados como aspectos significativos para caracterizar a sustentabilidade: o entendimento demonstrado pelos assentados com questões de preservação ambiental e de agroecologia.

Em relação a COPAC, como é uma cooperativa coletivista, as questões relativas ao seu funcionamento são estreitamente entrelaçadas ao funcionamento do assentamento, não existe divisão entre cooperativa e cooperados. É a figura jurídica da COPAC que representa os assentados frente aos órgãos de fomento e instituições públicas e privadas. Portanto, no que se refere à COPAC, apresentaremos o planejamento elaborado para os próximos dois anos, no qual estão contempladas as dimensões que nos propomos a estudar.

Com base na análise documental, nas observações, no diário de campo e nas entrevistas semi-estruturadas, a análise é feita a seguir.