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2 A FOLIA DE REIS

15. ou e ai (dits.) – a) Acentuado ou não, contrai-se o primeiro em ô: pôco,

2.6.10 As Vozes da Folia, alguns encargos e funções

As denominações de Mestre e Contramestre que aparecem na Folia de Reis dos Prudêncio, também aparecem em algumas danças dramáticas apontadas por Andrade (1989). A formação estrutural espacial da Folia dos Prudêncio com suas respectivas vozes acontece sempre por duplas em fila, em que se assemelham as Quadrilhas e a Chegança de Marujos.

Na Folia dos Prudêncio, além da distribuição das vozes, temos alguns cargos como o de Capitão18 (também chamado de Encarregado), Tesoureiro e Bandeireira. O Embaixador além de ser uma voz específica, como dito anteriormente, é quem tira os versos, com a função de ser responsável pela “embaixada”, acumula o cargo de líder do grupo. É ele quem dá as diretrizes da folia, os outros foliões respeitam suas decisões e apelos. O Capitão é aquela pessoa que toma conta da ordem interna da Folia, bem como durante o ano organiza todo o trajeto do Giro. O Tesoureiro é aquele que arrecada os donativos da Folia e a (o) Bandeireira(o)19 é aquela ou aquele que carrega a Bandeira durante os dias de Giro.

A estrutura espacial da Folia dos Prudêncio é sempre a mesma, assim como na maioria das Folias de Reis:

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As quantidades foram: 120 kg de arroz; 72 kg de feijão; 4 bois; 5 porcos; 60 kg de frango; 80 maços de alface; 100 garrafões de vinho; 120 kg de batata; 60 kg de cenoura; 40 kg de tomate; 14 fardos de refrigerante de 2 litros; 18 caixas de óleo - 20 lit. cada caixa; 6 vinagres; 7 sacos de milho de 60 kg; 20 caixas de creme de leite; 10kg de farinha de milho; 120 kg de cebola e 30 kg de alho.

18Em outras Companhias de Reis, Capitão pode ser o nome dado ao Embaixador ou Mestre.

19 Algumas Companhias tratam o Alferes como Bandeireiro, ou seja, aquele que carrega e guarda a Bandeira,

como por exemplo, na Folia de Reis do Mestre Marinho da cidade de São José do Barreiro-SP, na região do Vale do Paraíba.

Figura 4- Posicionamento das vozes dentro da disposição espacial da Folia de Reis dos Prudêncio

Moreyra (1983) cita a existência de uma hierarquia dentro da Folia e funções como o “Regente”, que é nomeado pelo Embaixador podendo mudar de ano para ano. Na Folia dos Prudêncio essa função equivale a de Capitão, que a partir do momento que aceita tal função, essa torna-se vitalícia. O que em Brandão (1977) equivale ao Folião do Ano, Moreyra nomeia de Alferes da Bandeira, aquele que carrega a Bandeira pelos dias de peregrinação, que “(...) é uma figura calcada diretamente na procissão portuguesa, ligado que está ao alferes da Cidade – que carregava a bandeira na procissão do Anjo Custódio.” (MOREYRA, 1983, p.150)

Bandeira

Palhaço Palhaço

Cavaquinho Embaixador Ajudante viola/violão

Bandolim/ acordeom Mestre Contramestre

Violino Caceteiro violão/viola

Violão/viola Contra-tala Violão Tala Tipe violão Violão Requinta Caixa Pandeiro Pandeiro

Sobre a disposição e organização da Folia nas descrições de Araujo (1949), aparece como um grupo de mais ou menos quinze pessoas e que o Alferes é o “chefe” da Folia:

Nesse grupo há pretos, mulatos, brancos, todos moradores da cidade. Dada a organização da Folia de Reis de Música, que tem apenas um chefe e todos os demais componentes são tocadores de instrumentos ou apenas cantores, qualquer pessoa pode segui-los, contanto que faça silêncio e respeite ao “Alferes”, que é o chefe da Folia. (ARAUJO, 1949, p.418)

Porto (1982) divide em três grupos os componentes da Folia: Bandeireiro (um dos poucos autores que não dá o nome de Alferes para quem carrega a Bandeira), palhaços e coro. “O Bandeireiro é quem carrega a bandeira e muitas vezes é quem recebe os donativos, como também pode acontecer de ser uma outra pessoa encarregada de recolher o dinheiro ou doações”. (PORTO, 1982, p.19)

Em Canesin e Silva aparecem algumas funções que iremos comparar nominalmente com as atuantes na Companhia dos Prudêncio. As autoras descrevem as funções de Mestre ou Guia (que corresponde ao Embaixador); Contra-Guia (corresponde ao Respondedor ou Ajudante); Gerente (corresponde ao Capitão); Procurador (corresponde ao Gerente); Alferes da Bandeira ou Folião do Ano (corresponde ao Bandeireiro (a)); Festeiro (mesma função); Músicos (corresponde a Tocadores); Frangueiros; Leitoeiros; Carguereiro (corresponde ao Tesoureiro e Recolhedor de Prendas). (CANESIN; SILVA, 1983, p.22)

2.6.11 O Embaixador

Essa é uma das funções mais importantes na Folia. É ele quem comanda o grupo, fazendo os versos cantados para os outros demais cantadores cantarem, alguns desses são improvisados e outros são versos pertencentes ao repertório comum da Folia, usados de forma dependente à ocasião. A Folia dos Prudêncio está em sua 6ª geração de Embaixadores. A nomenclatura, como também a função do Embaixador, nos remetem às embaixadas de guerra, como a pessoa que vai levar um comunicado para alguém, falar em nome de alguém, carregar uma mensagem. O Embaixador é o responsável por levar a Boa Nova para todos, que Jesus nasceu. Ele tem que ser conhecedor de toda a “profecia”, desde a Anunciação do Anjo Gabriel

à Maria, de que ela seria mãe do Salvador do mundo, até a chegada dos Reis Magos no Presépio, onde estava Jesus recém-nascido.

Cada Embaixador tem sua posição de cantar (em primeira voz - mais aguda ou segunda voz - mais grave) definida pela extensão vocal da linha melódica que consegue executar, podendo “embaixar” em primeira ou segunda voz.

2.6.12 Os Instrumentos

Os instrumentos que compõem a Folia dos Prudêncio são: viola caipira, violino, violão, cavaquinho, bandolim, pandeiro, caixa, e em alguns anos faziam o uso do acordeom. A quantidade varia de ano para ano. Assim como a Bandeira, são enfeitados com fitas de cetim, e as cores seguem o gosto do próprio festeiro. A utilização das fitas tem a função de identificar os foliões e os instrumentos, sinalizando que pertencem a uma Folia de Reis e estão a serviço dos Reis Magos.

Nas Folias do Sudeste, muito raramente aparecem instrumentos de sopro, sendo possível achar nas descrições de Guilherme Porto (1982) um clarinete na formação instrumental da Folia. Sabe-se que em várias cidades do interior, tanto no estado de São Paulo como nos demais estados, havia bandas de música em que o instrumental de sopro predominava. O campo era muito presente nas cidades pequenas, no entanto a probabilidade deste intercâmbio instrumental acontecer era grande e bem possível de se instaurar dentro das Folias. Porto em sua descrição acrescenta uma coisa curiosa, que, “os violinos têm que ter corda de tripa de mico, que é material bastante raro”. (PORTO, 1982, p.55)

Brandão (1981) descreve o instrumental da Companhia dos Três Reis Santos da Vila Vicentina, que é o mesmo da Companhia do Prudêncio, violões, violas, cavaquinhos, sanfona, pandeiro e caixas. Há um revezamento entre os cantadores nos dias de Giro. Brandão assim descreve a atuação dos cantadores, nomeando também as suas vozes:

Os cantores, também instrumentistas, fora dois ou três outros, são o mestre (o que propõe e sola os versos), contramestre e contralto (os que respondem, junto com o mestre, a repetição do 2º verso), contraltinho, tiple e contratiple

(os que dão a resposta aos versos e prolongam, segundo o tipo de cantoria, os longos gritos finos do final dos versos). (...) “No «pouso da janta» os compromissos são sempre maiores. Ali se come e dorme. Em outros lugares de Minas e Goiás, ali se pode dançar catira por uma noite inteira. A cantoria de pedido de pouso e de guarda dos instrumentos é feita logo na chegada, como no pouso do almoço. Mas as cerimônias religiosas das outras cantorias são feitas sempre na manhã do dia seguinte, depois do café. Os instrumentos são devolvidos aos seus donos. A bandeira é tirada da parede acima do altar e, de novo, colocada nas mãos do dono da casa ou de sua esposa. A Companhia se perfila e «o povo da casa» se amontoa em volta dos donos e da bandeira. Os foliões cantam uma longa sequência de agradecimentos, nomeando serviços, pessoas e tipos de bênçãos. Depois, faz os pedidos de praxe e responde pelas ofertas recebidas. (BRANDÃO, 1981, p.30)

Da descrição instrumental e vocal em Araujo (1949), temos:

Chegam silenciosos. O grupo é pequeno, dois ou três acompanhantes, além dos membros da folia. Ao aproximar-se da casa vão afinando as violas, que estão “temperadas” na afinação “dos 4 pontos” ou “oitavada”, pigarreiam, e as violas dão a introdução, cantam em dueto “Mestre” e “Contra-mestre”. Ao finalizarem os versos da quadrinha cantada, entram em dueto “contrato” e “tipe”, cantando um “ãhn” prolongado, que nos dá a impressão de “Amen”. A caixa ao ser tocada afigura-se-nos o rítmo de música oriental, e o pandeiro não é batido no couro, mas o polegar desliza sobre ele, a fim de que os guizos produzam um som de castanholas, reforçando talvez a impressão que dá de música oriental, mourisca. A música de saudação da chegada e agradecimento de ofertas é cabocla, porém a que é cantada frente ao Presépio é um misto de música sacra e cabocla. (ARAUJO, 1949, p.432)

Quando fala do instrumento de percussão, Araujo cita “cambito” para tocar caixa, nome também usado para as baquetas dos instrumentos de percussão da região de Cajuru-SP. “A membrana é percutida por meio de dois pauzinhos que são chamados “cambitos”. Nos cambitos há uma cabeça, que é extremidade arredondada, e o corpo, um bastonete de mais ou menos 20 a 30 centímetros de comprimento.” (ARAUJO, 1949, p.463)

A descrição do instrumental feita por Porto (1982) mostra o uso específico de instrumentos de cordas em número par; apontando a exclusão de instrumentos de sopros, com exceção do clarinete, com o argumento de que instrumentos de sopros cobrem a cantoria. Os instrumentos também são enfeitados com fitas coloridas, as cores são escolhidas pelo Mestre. O autor classifica os instrumentos em Básicos e Tolerados: “Nos básicos estão a viola que é o instrumento principal, a sanfona, caixa (que acredito que seja um tipo de bumbo, assim como na Folia dos Prudêncio), adufe ou pandeiro.Nos tolerados estão: violino,bandolim, violão,

cavaquinho, reco-reco e clarineta. A respeito do clarinete, que ele chama de clarineta, afirma que “algumas folias estão admitindo esse instrumento, pela suavidade do seu som, não obstante a exclusão sistemática dos instrumentos de sopro.” (PORTO, 1982, p.24). Ele descreve a seguinte disposição da Folia: o mestre vai a frente com a viola, formam duas filas que são puxadas pelos dois palhaços, depois vem a sanfona e seguem os outros instrumentos finalizando com as caixas. (PORTO, 1982, p.25)

Castro e Couto (1960) designam a palavra “músico” para os foliões. Em nosso trabalho optamos por “cantadores e tocadores”, que é o modo como eles mesmos se nomeiam, sendo os foliões que tocam e cantam. As autoras listam os instrumentos das Folias tendo a sanfona como o principal deles, mas no caso das Folias de São Paulo e Minas, a viola ocupa esse lugar, sendo difícil dizer qual é mais importante, pois cada um tem uma função específica dentro das toadas cantadas. A viola normalmente fica para o Embaixador, o violão funciona como um instrumento de base harmônica para a viola, mas que muitas vezes pode realizar ponteados de forma a ornamentar o contraponto instrumental, tanto o cavaquinho quanto o bandolim, são instrumentos que fazem as introduções e arremates das toadas como contrapontos da melodia da Toada. A sanfona e o violino cumprem o mesmo papel que o cavaquinho e o bandolim. Os instrumentos de percussão têm seus papéis definidos, sendo que o pandeiro além de seu típico trinado, faz todo o preenchimento rítmico em relação a batida da caixa, que aparece na maioria das vezes marcando os compassos.

Castro e Couto citam ainda instrumentos como: reco-reco, caixa ré, banjo, cabaça, tarol (tipo de caixa clara um pouco mais aguda), triângulo, chocalho, e falam da influência do instrumental do candomblé no instrumental da Folia. Na disposição do grupo os instrumentos de percussão sempre se posicionam ao fundo. Dentro desta formação dispositiva, em algumas folias aparecem figurantes que representam os Três Reis Magos.As autoras quando falam da hierarquia dos instrumentos, citam o bumbo, que no caso na Companhia dos Prudêncio é chamado de caixa, aparece como um instrumento indispensável à Folia, e realmente é, pois faz a marcação da base rítmica. Completam informando que os instrumentos da Folia pertencem ao mestre, e só podem ser usados durante a jornada (CASTRO; COUTO, 1960, p.24), diferente da dos Prudêncio, onde os instrumentos pertencem a cada Folião, podendo ser usados quando desejarem. Cada instrumento tem o seu papel, e se falta algum, de certa forma descaracteriza a Folia, pois essa base instrumental é característica do estilo.

2.6.13 A viola

A viola como dito anteriormente é um dos instrumentos mais característicos da cultura caipira. Na Folia ela toma lugar de destaque ficando na responsabilidade do Embaixador. Ivan Vilela, professor de viola brasileira (nome também dado a viola caipira), um dos grandes violeiros e estudiosos da música caipira da atualidade chama a atenção para as inúmeras afinações do instrumento, e que há vinte maneiras de se afinar a viola no Brasil. As afinações apresentam nomes distintos como: Paraguaçu, Boiadeira, Meia-Guitarra, Natural, Cebolinha, Rio Acima, Rio Abaixo, Cebolão. A última muito usada na Folia, a afinação Cebolão aparece em Ré (na tonalidade de Ré maior), e as cordas de baixo para cima ou das mais finas para as mais grossas são: primas (1ºpar), requintas (2º par), turina e contraturina (3º par), toeira e contratoeira (4º par), canotilho e contracanotilho (5º par), com os seguintes intervalos 4ª justa, 3ª menor, 3ª menor, 4ª justa. (VILELA, 2015, p. 50)

Araujo (1949) descreve uma afinação de viola com a sequência lá-ré-sol-si-mi (4ª justa, 4ª justa, 3ª maior, 4ª justa), que aparece nas descrições de afinações apontadas por Vilela contando de cima para baixo, como a afinação denominada “natural”:

A viola estava afinada nos “quatro pontos” (lá-ré-sol-si-mi). A única diferença do encordamento usado no centro do nosso Estado, é que ao lado da prima há uma tuêra. O lá, uma corda amarela e o canotilho; o ré, uma corda branca e a tuêra; o sol, uma corda branca e a turina; o si, duas cordas amarelas, requinta; o mi, uma corda branca (prima) e uma tuêra. As cordas brancas são de número 9 e as cordas amarelas são de número 10. (ARAUJO, 1949, p.463)

2.6.14 As Vozes

Dentro da particularidade da cantoria, as vozes da Folia dos Prudêncio, do grave ao agudo, são nomeadas da seguinte forma: Embaixador, Ajudante, Mestre, Contramestre, Cacetero, Tala, Contra-tala, Tipe e Requinta, muito semelhantes às nomeações das demais

Folias que atuam na região de Cajuru. Cada voz tem uma particularidade na linha melódica que executa, respeitando uma extensão de notas específicas.

Ao tratar as vozes da Folia, Yara Moreyra cita Mário de Andrade20, quando fala sobre o canto coral do povo e ressalta seu caráter embrionário pontuando a execução musical que se dá como “uma simples repetição acompanhante em uníssono, oitava ou falso bordão de terças e sextas”:

A organização vocal das Folias é curiosa por seu caráter polifônico e como sobrevivência de antigas práticas. (...) A adaptação destas formas à nossa realidade provavelmente se deve a seu caráter de composição que dispensa a escrita, um contraponto improvisado e de extrema simplicidade – sistema que também é encontrado na canção alentejana e, com maior complexidade, nas canções do Minho. E em todos os casos é preciso pensar na influência da música religiosa, em resquícios de um repertório tão fortemente inculcado no povo durante séculos. Há uma certa dificuldade no estabelecimento de um sistema de classificação vocal das Folias. Os nomes das vozes variam de região para região, as vozes e cargos da Folia se interpenetram e, finalmente, é difícil dissociar vozes de construção musical. Apesar disso, há normas para tudo, nada é realizado de maneira aleatória. As Folias que tem as suas cantorias executadas em forma de canto/solo e resposta/coral apresentam, através de inúmeras variantes, uma linha de procedimento relativamente homogênea. Na Folia de Reis da Colônia Santa Marta, em Goiânia, evidentemente constituída por elementos de regiões diferentes, há o Embaixador (solo), Capitão e cinco vozes de “responsa”. Nesta Folia as mulheres podem participar da resposta coral 61, o que geralmente ocorre em Folias maranhenses ou baianas. As vozes da Folia de Reis de Bebedouro, São Paulo, são Mestre, Contramestre, Ajudante, Caceteiro, Tala, Contratala e Tipe. O Mestre (“voz mais grave”) tira o verso e recebe a resposta das três vozes seguintes. As outras entram no final (“cada uma numa altura, vai subindo”), e os informantes explicam que, quando entra a Tala (quarta voz), o Caceteiro (terceira voz) “baixa o tom e a Tala entra na voz que ele fazia”. Esclarecem também que, quando eram rapazinhos, com a voz “fininha”, cantavam Tipe e Contratala. Agora, homens feitos, cantam “de Tala prá baixo. (MOREYRA, 1983, p.152-153)

A autora faz um apanhado das denominações e descrições das vozes da Folia, em que mostra possíveis origens nas denominações e usos dessas vozes em sua polifonia vocal:

Também é interessante observar, na classificação das vozes da Folia, a permanência de denominações arcaicas. Quase sempre deturpados, estes nomes conservam (de maneira geral) os significados originais. A Requinta, (Contratala, Tipe, todas explicadas pelo emprego de vozes femininas na Folia da Colonia Santa Marta) além de conotações instrumentais,

20 ANDRADE, Mário de. Música Brasileira. In Revista Brasileira de Folclore, ano V, n.20, MEC, Rio de

corresponde à Requinta de grupos corais do Minho. Lá, porém, é Requinta ou Guincho, sendo que o último definiria perfeitamente o “longo e fino grito” dado pelas vozes mais agudas nas Folias. Contrato e Tipe encontram equivalência na música vocal renascentista, onde a classificação Contra (Contra Alto, Medius Cantus) é para uma voz intermediária, e Triplum (Triple, Treble, Tipre, Tiple) é para a voz mais aguda. Igualmente pode-se pensar na relação entre Tala e Taille – originalmente o nome francês para a voz tenor. Em resumo, é um sistema coral. Antes original que embrionário. Pode até ser embrionário, mas em relação ao sistema coral vigente – com o qual nada tem a ver. (MOREYRA, 1983, p.154)

Ainda, no trecho em que Moreyra dedica seu estudo para compreender as vozes, fala sobre a maneira mineira de cantar: “a maneira de cantar denominada Mineira é um contraponto simples e intuitivo, realizado com muita habilidade. O interessante que desperta está, é evidente, nas soluções encontradas pelo músico ao procurar cantar em coro.” (MOREYRA, 1983, p.183). No entanto, acreditamos que o contraponto da Toada Mineira não aconteça de maneira simples, pois no que diz respeito ao contraponto das linhas melódicas executadas pelas vozes, que no caso da Folia dos Prudêncio é realizada por sete vozes diferenciando-se do relato da autora que aponta para seis vozes, há complexas mudanças intervalares que obedecem a um tipo de extensão de alturas de notas, causando cruzamento entre as vozes se comparado com a distribuição convencional de coro fixado pela música ocidental.

A autora afirma também que é um canto responsorial feito pelo Embaixador e pela Resposta (como é chamado o grupo de cantadores da Folia sem incluir o Embaixador), no sistema mineiro, ou melhor, dentro das normas do sistema mineiro a voz Embaixador não aceita “dueto”. Já na cantoria da Folia dos Prudêncio tal afirmação não se confirma sendo que em todas as Toadas inclusive as mineiras, apresentam um dueto entre o Embaixador e Ajudante, acontecendo ao termino dos versos antes da entrada da resposta (coro). Na transcrição de Moreyra, as vozes são organizadas e nomeadas em uma grade de baixo para cima, na seguinte ordem: 2ª voz, 1ª voz, 3ª voz, 4ª voz, 5ª voz e 6ª voz, aparecendo nomeadas apenas Requinta e Contrato (MOREYRA, 1983, p. 183).

Porto (1982) ao definir a parte coral da Folia e as distintas funções que estão interligadas à nomeação das vozes, se trata de um grupo comumente formado por seis pessoas, que muitas vezes além de cantar, também tocam. De maneira a constituir uma forma básica para as Folias do sul de Minas Gerais relatadas em seu trabalho, ele diz que:

MESTRE. É o personagem mais importante da folia. Dele depende quase tudo, desde o estabelecimento do trajeto e horário até os enfeites dos instrumentos. É o organizador. A ele compete coordenar a preparação e a execução de tudo. É chamado, em alguns lugares, de “Embaixador”. Uma das suas mais importantes tarefas é improvisar os versos a serem cantados. Os demais membros da Companhia têm para com ele uma atitude de respeito e carinho, pois foram por ele iniciados na folia. CONTRAMESTRE. Chamado também “Respondedor”. Sua função é comandar o coro. Corresponde a 2ª voz. CONTRATO. Faz o dueto com a 2ª voz. É chamado de “Ajudante de Respondedor”. TIPE. Faz a 3ª voz. CONTRATIPE. Equivale ao tenor. REQUINTA OU TURINA. “Sopranino”. Voz mais característica de uma folia. Entra em resposta ao último verso de uma estrofe. É uma voz de falsete, que sobressai numa dilatação extraordinária de uma messa di voce, lembrando os castrati,comuns nos grandes coros, do século XVI ao princípio do século XIX. No Rio de Janeiro, o Requinta é também chamado de “Tripa”. (PORTO, 1982, p.19)

Já Araujo (1949) descreve as funções e as vozes da Folia de Reis de Caixa apresentando uma quantidade menor de cantadores:

A Folia de Reis de Caixa, grupo que percorre somente os sítios, fazendas e rocio, (vem cantar em algumas casas na cidade quando convidada, e, como