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AS VOZES DO ARCO-ÍRIS: MOVIMENTO LGBTQIA+

No documento DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS VOL. 1 (páginas 158-163)

GÊNERO NO CENÁRIO BRASILEIRO

2. AS VOZES DO ARCO-ÍRIS: MOVIMENTO LGBTQIA+

NO BRASIL

Para estruturar o debate acerca do movimento homossexual no Brasil, tomaremos notas de Simões e Facchinni (2009), e dividiremos por “eta-pas”. A primeira refere-se a parte inicial que ocorreu no final do período

ROGERIO BORBA DA SILVA (ORGS.)

militar, onde começaram a surgir os primeiros movimentos homossexuais, marcado pelo Grupo “Somos”, e pelo surgimento do Jornal Lampião em 1978. Na segunda etapa, ocorrem mudanças nas características do grupo da população homossexuais, quando a epidemia da AIDS eclode, resul-tando na busca de parceria com o Estado. Por sua vez, a terceira etapa é marcada pelo fortalecimento do movimento a partir da consolidação do Estado e a criação de políticas.

O movimento homossexual no Brasil no período de 1950, foi mar-cante quando cresceram os estabelecimentos voltados para esse grupo, como bares, saunas, boates principalmente nos grandes centros econô-micos, como Rio de Janeiro e São Paulo (RODRIGUES, 2007). Nesse período, era possível nas grandes cidades associações empenhadas na di-versidade e sociabilidade dos homossexuais.

A criação do Jornal Lampião da Esquina em 1978 foi um grande mar-co para o movimento, tendo mar-como fundadores Aguinaldo Silva e Antônio Mascarenhas cujo primeiros contatos deles com ativistas do movimento LGBTQIA+ internacional foram pós viagem ao exterior. O jornal tinha como principal foco trazer a homossexualidade de forma positiva, nos as-pectos culturais e políticos. (SIMÕES E FACCHINNI, 2009).

O Jornal tinha posicionamento contrário a qualquer forma de auto-ritarismo, o movimento tinha propostas pela luta de caráter igualitário da identidade sexual, reprovava qualquer categoria de hierarquia de relações afetivas e sexuais, reivindicavam pela identidade homossexual para todas as vítimas que sofriam discriminação. (SANTOS, 2007).

O Lampião surge com a proposta de criar uma consciência homos-sexual, assumir-se e ser aceito. A leitura de um trecho do editorial do número dois – que tem por título Homossexualismo que coisa é essa? – é bastante conclusiva a esse respeito: “Por essa razão a maioria dos homossexuais tem desejado ser „ normal ‐, numa ten-tativa de condicionamento dessa normalidade” ‐. Como se pode ver, o discurso é, de ser aceito e se possível dentro da normalidade (RODRIGUES, p.69, 2007).

Além do Jornal, o movimento também tem como marco a criação do primeiro grupo gay do país, denominado como SOMOS — Grupo

de Afirmação Homossexual —, constituído por intelectuais desconten-tes com o contexto de subordinação vivenciada pelos homossexuais. A primeira vez que o grupo se manifestou publicamente foi em um debate sobre minorias, realizado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, marcado pelo debate que resultou na visibili-dade e ganho de espaços e forças na socievisibili-dade, possibilitando o surgimen-to de novos grupos (FRY E MACRAE, 1985).

O I encontro brasileiro de Homossexuais, realizada em 1980, cha-mada de Ebho, contou com a participação de grupos das mais diversas regiões do país e se opôs a qualquer tipo de discriminação. A Constituição de 1988 e o Código de Ética dos jornalistas fazem oposição à Organização Mundial da Saúde, onde a homossexualidade é definida como “desvios e distúrbios sexuais”.

No período de 1981, com o fim do Jornal Lampião, vários grupos se fracionaram e outros desapareceram, enquanto outros ficaram «órfãos»

dos meios de comunicação, os quais eram o meio de divulgação das ideias.

O grupo Somos e o Jornal tiveram um papel importante na mobilização, tornando-se marcos históricos para o movimento homossexual, coope-rando para contar acerca dos primeiros anos do movimento no Brasil.

Com a redução dos grupos, no período 1981 a 1991, outras atividades se intensificaram, muitas lideranças se voltaram para a luta contra a AIDS, que estava eclodindo e sendo marcada por uma nova geração de militan-tes, no campo da política, o país vivenciada a redemocratização e a força da epidemia do HIV/AIDS se alastrava (SIMÕES E FACCHINI, 2009).

Com a epidemia da Aids, a homossexualidade ganhou visibilidade, surgindo a necessidade de políticas de prevenção, sendo essencial realizar estudos cerca do grupo, a identidade e suas práticas, e para ser entendida a sexualidade que estava sendo discutida (FACCHINI, 2005). Em 1990, a retomada do ativismo com parceria do Estado permitiu a retomada do crescimento do número de integrantes dos grupos.

O revigoramento do movimento LGBT apresenta traços distintos em relação aos períodos anteriores. Alguns desses traços, identifi-cados por Regina Facchinni na virada do século, continuam váli-dos apara pensar suas características atuais: presença marcante da mídia; ampla participação em movimentos de direitos humanos e

ROGERIO BORBA DA SILVA (ORGS.)

de resposta à epidemia da Aids; vinculação a redes e associações internacionais de defesa de direitos humanos de gays e lésbicas;

ação junto a parlamentares com proposição de projetos de lei nos níveis federal, estadual e municipal; atuação junto a agências es-tatais ligadas e prevenção de DST e Aids e promoção de direitos humanos; formulação de diversas respostas diante da exclusão das organizações religiosas; criação de redes de grupos ou associações em âmbito nacional e local; e organização de eventos de rua, como as grandes manifestações realizadas por ocasião do dia do Orgulho LBGT (SIMÕES E FACCHINNI,p.138,2009).

A reforma do Estado marca as grandes transformações do movimento em 1995, com mudanças no cenário social, político e econômico colabo-rando na execução das políticas sociais. Com a aproximação do Estado, é estabelecido um novo revigoramento fazendo com que o movimento ganhe novas características, sendo um pontapé para que outras instituições passem a dialogar com o movimento, dando maior visibilidade. Essa nova configuração, detêm outras características.

[...] presença marcante da mídia; ampla participação em movimen-tos de direimovimen-tos humanos e de respostas à epidemia da Aids; vin-culação a redes e associações internacionais de defesa de direitos humanos e de direitos de gays e lésbicas; ação junto a parlamen-tares com proposição de projetos de lei nos níveis federal, estadual e municipal; atuação junto a agências estatais ligadas a prevenção de DST e Aids e promoção de direitos humanos; formulação de diversas respostas diante da exclusão das organizações religiosas;

criação de redes de grupos ou associações em âmbito nacional e local; e organização de eventos de rua, como as grandes manifesta-ções realizadas por ocasião do dia do Orgulho LGBT (SIMÕES E FACCHINNI, p.138,2009).

Durante 1995, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), reunindo organizações e grupos no país inteiro, contando com 308 organizações afiliadas (ABGLT, 2015). Anualmen-te, congressos e eventos dos grupos LGBTQIA+ acontecem como meio de fortalecimento do movimento. O VIII Encontro Brasileiro de Gays e

Lésbicas (EBGL) aprova a inclusão do termo “travesti” para os próximos encontros. Já no X Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis, que ocorreu na cidade de Curitiba em 2001. E na cidade de Brasília no ano de 2005, aconteceu o XII Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Trans-gêneros.

O Programa Brasil sem Homofobia, Programa de Combate à Vio-lência e à Discriminação contra a população LGBT e de Promoção da Cidadania Homossexual, é lançado pelo governo federal em 2004 como respostas as reivindicações dos grupos o “o documento é composto por um programa de 53 ações, desde a articulação de políticas de promoção da cidadania homossexual, passando por políticas de saúde, educação, cultura, trabalho, justiça e segurança, incluindo também políticas para a juventude, mulheres e negros” (ROSSI, 2010). O programa tem como objetivo a promoção a cidadania à comunidade LGBTQIA+ fundamen-tada na equiparação dos direitos e no combate à violência e à discrimina-ção contra os homossexuais, respeitando a individualidade de cada grupo (BRASIL 2010).

A mudança de nomenclatura ocorreu na I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais em 2008, passando de GLBT para LGBT, resultado das reivindicações das mulheres lésbi-cas. Vale salientar que o termo “Movimento Homossexual Brasileiro”

foi utilizado até 1992, e o termo Lésbicas só passou a ser utilizado a partir de 1993 durantes os encontros, e o termo “gays e lésbicas” só a partir do Encontro realizado em 1995, além do termo bissexuais e transsexuais.

E é só em 1997, que o termo travesti entra em uso (SIMÕES e FAC-CHINNI, 2009).

A principal fonte emotiva dessas mobilizações, é o não reconheci-mento dos seus direitos e valores sociais, se tornando o monte dos con-flitos sociais, essa ausência do reconhecimento intersubjetivo e social.

(HONNETH, p.155, 2003). Desde o início da organização e das pri-meiras reivindicações do movimento a busca por esse reconhecimento.

Em consonância com Rios (2007) é necessária uma afirmação dele, com a existência de um arranjo de múltiplos fatores: a epidemia da AIDS e a questão da sexualidade, consolidação dos movimentos identitários; lutas contra a desigualdade de gênero.

ROGERIO BORBA DA SILVA (ORGS.)

[...] um direito da sexualidade deve cuidar não só da proteção de um grupo sexualmente subalterno em função do gênero e de sexo.

Outras identidades reclamam esta proteção, como ocorre com gays, lésbicas e transgêneros. Mas além: o direito da sexualidade não pode se esgotar na proteção identitária, seja de que grupo for (RIOS, p.22, 2007).

Por conseguinte, o movimento LGBTQIA+ desde sua gênese luta na busca do seu reconhecimento dos seus direitos relacionados com a dig-nidade, igualdade e acima de tudo liberdade, seu direito “democrático da sexualidade” que de acordo com Rios (2007), o alcance de todos os gêneros, sem espaços para o heterossexismo ou/e machismo.

São incontestáveis os avanços conquistados pelo movimento homos-sexuais retratados pela luta por respeito a identidade social e o reconhe-cimento como homossexuais. Tais avanços ocorrem em consequência da união, das reivindicações, do conhecimento dos pontos fundamentais para o fortalecimento do movimento. (ANDRADE, 2015).

3. ALGUMAS CONQUISTAS DO MOVIMENTO

No documento DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS VOL. 1 (páginas 158-163)