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ENTENDENDO AS ESSÊNCIAS SOCIOECÔNOMICAS DO BRASIL ATRAVÉS DO OLHAR DE CELSO FURTADO

No documento DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS VOL. 1 (páginas 48-51)

PARAÍBA EM FOMENTAR SOLUÇÕES A PARTIR DO PENSAMENTO

1. ENTENDENDO AS ESSÊNCIAS SOCIOECÔNOMICAS DO BRASIL ATRAVÉS DO OLHAR DE CELSO FURTADO

Celso Furtado é mais conhecido por suas contribuições à análise da dicotomia desenvolvimento-subdesenvolvimento, como explica D’Aguiar (2020). Contudo, além de sua atuação como acadêmico, Celso Furtado vivenciou distintas experiências no âmbito público que o proporcionaram aplicar suas análises sobre o Brasil, na tentativa de diminuir as disparidades entre as regiões do país e, assim, promover o desenvolvimento do país.

Assim, nas experiências como o primeiro-Ministro de Planejamento do país; como criador e coordenador da SUDENE e como Ministro da Cul-tura; Celso Furtado buscou colocar em prática suas análises teóricas.

Celso Furtado possui um expressivo quantitativo de escritos que bus-cavam trazer contribuições ao entendimento do Brasil e do Nordeste e a posição deles no contexto internacional e no cenário nacional, respec-tivamente. Celso Furtado buscou entender o Brasil a partir de um olhar interno. Sua obra mais conhecida e difundida foi Formação econômica do Brasil, publicada em 1959.

Conforme explica D’Aguiar (2020, p. 44), nessa obra, Furtado, “am-pliou a visão estruturalista, levando o enfoque histórico para a economia e o aprofundando do diálogo permanente entre as ciências sociais e a his-tória”. Nos anos subsequentes, foram surgindo diversas publicações, nas quais, Furtado passou a incorporar uma análise mais abrangente sobre o subdesenvolvimento.

No campo teórico, Celso Furtado, junto ao Raul Prebisch, desempe-nhou papel imprescindível de criador da escola estruturalista de desenvol-vimento econômico através da Cepal.

Portanto, em congruência com o pensamento Cepalino, Furtado (2013) mostra que existe uma a divisão internacional do trabalho, em

“centro industrial” e “periferia subdesenvolvida”. As regiões do centro se especializam em produtos com maior nível tecnológico e apresentam o poder de limitar e reconduzir ações das regiões periféricas, ao passo que as regiões periféricas se especializam na produção e oferta de produtos pri-mários destinados à exportação para os países do centro. Representa uma relação de dependência da periferia para com o centro.

ROGERIO BORBA DA SILVA (ORGS.)

Contudo, na relação entre centro e periferia, a dependência é uma via de mão dupla, pois o centro necessita dos recursos naturais, de mão de obra barata e do mercado consumidor da periferia. A problemática está na hierarquia existente onde a periferia se encontra em uma condição infe-rior nessas relações comerciais.

O que o autor verificou, nos anos 1960 e que ainda é atual, consiste no fato de que a crescente hegemonia das grandes empresas, na orienta-ção do processo de acumulaorienta-ção, apresentarem-se de formas distintas no centro e na periferia. No centro, existe uma tendência crescente à homo-geneização dos padrões de consumo, já na periferia emerge uma minoria privilegiada frente à maioria da população de seu país ou região.

Em outras palavras, diante da reduzida acumulação da periferia, a concentração de renda/capital é mais presente em meio às contínuas trans-ferências de excedente para países centrais, diante da necessidade para a manutenção da produção e do consumo de bens oriundos de países cên-tricos, e, portanto, que apresentam patamares maiores de acumulação.

Em síntese, para Furtado (2013), o fenômeno do subdesenvolvimen-to, presente nas regiões periféricas, não se constitui em um estágio ou etapa pela qual as economias desenvolvidas tenham, necessariamente, en-frentado; mas sim, é um processo histórico autônomo, o qual é preciso ser compreendido em cada localidade, dado que apresenta suas especificida-des de região para região.

Como explica D’Aguiar (2020), a identificação que o subdesenvolvi-mento e o desenvolvisubdesenvolvi-mento são facetas do mesmo processo da expansão do capitalismo e que o subdesenvolvimento é um fenômeno específico foi pioneira.

Entretanto, em linhas gerais, a principal característica de regiões sub-desenvolvidas é a ausência de um mercado autossuficiente. Portanto, a superação da condição de subdesenvolvido só se daria mediante a indus-trialização e o planejamento estatal.

Mesmo depois de mais de quinze anos da sua morte, as análises de Celso Furtado ainda estão presentes na atualidade, pois como bem salien-tam Sousa, Theis e Barbosa (2020), Celso Furtado é um autor clássico, que vai além do pensar, perpassando pela prática, pelo agir, quando assim o pode.

Em outras palavras, entender o pensamento de Celso Furtado é por luz sob às problemáticas que ainda persistem no país, como as caracterís-ticas do subdesenvolvimento do Brasil com suas disparidades regionais ainda tão marcantes.

Diante da compreensão do desenvolvimento a partir das bases teóri-cas da economia, da sociologia e da gestão, tendo sempre, como alicerce a perspectiva histórica dos fenômenos, Celso Furtado apresenta para a li-teratura do desenvolvimento um olhar holístico, muito antes de outros teóricos que versam dentro do eixo do desenvolvimento sustentável e do desenvolvimento integrado e sustentado7. Tal fato fica nítido quando se observa o GTDN (Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nor-deste), documento de 1958 e a Operação Nordeste, documento de 1959;

onde, após uma extensa análise da conjuntura socioeconômica e ambien-tal do Nordeste, Celso Furtado propõe ações do tipo: estratégias de convi-vência com a seca (Economia da Caatinga – aproveitando o potencial das lavoura xerófilas); deslocar a fronteira agrícola do Nordeste (plantando em regiões de clima mais ameno, como é o caso do Maranhão); capacitação para os integrantes da SUDENE; ações de produção abundante e mais barata de alimentos para os Nordestinos, com elevação de investimentos industriais na região; dentre outras.

Diante dessa compreensão, é patente que não é possível discutir sobre políticas públicas distantes do debate da construção de um projeto na-cional de desenvolvimento. Como já mencionado, para Furtado (2002, 2013): a educação gera a promoção da qualidade do fator humano.

Portanto, ao debater sobre a educação, principalmente em países sub-desenvolvidos como o Brasil, é preciso que se leve em conta os gargalos que ainda existem. É preciso conhecer a problemática do subdesenvolvimento e da dependência estrutural, para que se possa refletir sobre a construção de um projeto que leve em consideração as especificidades, dualidades e disparidades entres as regiões do Brasil, reduzindo o atraso histórico em investimentos no fator humano. Nas palavras de Furtado (1999, p.34 apud SANTOS, 2017, p.81): “[...] A miséria é a contrapartida do hiperconsu-mo praticado por uma pequena minoria em terhiperconsu-mos relativos”.

7 Vide ABRANTES, J. S. (Des)envolvimento Local em Regiões Periféricas do Capitalismo: Li-mites e Perspectivas no Caso do Estado do Amapá (1966 a 2006). 1. ed. Rio de Janeiro:

Garamond, 2014.

ROGERIO BORBA DA SILVA (ORGS.)

Portanto, considera-se que a essência do pensamento de Celso Fur-tado passa pelo reconhecimento da importância da educação: o melhora-mento da qualidade do fator humano; inclusive para buscar a superação da dependência econômica e, assim, a superação do subdesenvolvimento. De posse dessa compreensão, a seção que se segue busca trazer a apresentação dos aspectos metodológicos da pesquisa.

No documento DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS VOL. 1 (páginas 48-51)