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MEDIDAS PARA FOMENTAR A INCLUSÃO DE PCD NAS ORGANIZAÇÕES

No documento DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS VOL. 1 (páginas 73-80)

DA EFETIVA APLICABILIDADE DA COTA LEGAL PARA PESSOAS

4. MEDIDAS PARA FOMENTAR A INCLUSÃO DE PCD NAS ORGANIZAÇÕES

O preconceito contra PcD é uma realidade bastante antiga, sendo esse um vício da sociedade que ainda persiste. Diniz e Santos (2010) comentam que esse tipo de atitude marginaliza essas pessoas, tiram a sua liberdade, além de segregá-las através de atitudes nos quais criam barreiras para a convivência com os demais.

Hitt, Miller e Colella (2007) descrevem os estereótipos como um conjunto de informações acerca de alguém ou de um grupo de pessoas que não condiz com a realidade.

Ao ser associado às PcD, cria-se um estigma social e de caráter de-preciativo que reverbera por meio de uma visão que o reduz de forma pejorativa. De forma a descontruir essa visão, Carvalho-Freitas e Marques (2009) afirmam que ao conviver com pessoas deficientes essa visão de-preciativa pode ser alterada, promovendo uma sociedade mais igualitária, principalmente no mercado de trabalho.

Em relação ao ambiente de trabalho, um desafio que é bastante fre-quente na rotina dos PcD envolve as atitudes daqueles que compõem a organização. Maia, Camino e Camino (2011) comentam que reduzir ou eliminar as barreiras físicas não é suficiente quando as atitudes discrimina-tórias são superiores e influenciam o mercado de trabalho. Logo, o setor de Recursos Humanos (RH) tem a árdua tarefa de tomar medidas para garantir a inclusão.

Uma segunda medida que visa garantir a fomentação está relacionada ao reconhecimento de um direito social que é garantido a todos. Para Tei-xeira (2009), o sistema capitalista possui o conceito de gratificação que é fornecido a toda e qualquer pessoa que exerce uma determinada atividade e é reconhecida pelo que faz, e esse reconhecimento ocorre mediante a um emprego, sendo esse um direito social.

Diante desse direito, faz-se necessário o reconhecimento de que há uma diversidade presente nas organizações. Silveira e Hanashiro (2007) acreditam que um modelo de gestão, ainda que não haja um específico, possa contribuir para as diferenças dentro do ambiente de trabalho possam ser mitigadas, promovendo a inclusão social da minoria.

A questão salarial também é bastante pertinente quando essa temá-tica é discutida no âmbito de pessoas com deficiência. Segundo Becker (2019), a diferença de remuneração para a PCD é bastante significativa, especialmente se o empregador contratá-la para que possa exercer funções de baixo nível hierárquico, ainda que o colaborador deficiente possa con-tribuir através de um maior desempenho na sua função.

Castro e Carvalho (2016) apontam que essa discussão sobre medidas ainda é um assunto bastante delicado, uma vez que no passado o conceito de “inclusão” era percebido por gestores como uma oportunidade para explorar a pessoa com deficiência por meio do acúmulo de atividades que colocavam em risco a integridade física do colaborador. Brito e Maranhão (2020) justificam que o RH assumiu a responsabilidade de estar atento a essas situações de modo a evitar que continuem a ocorrer.

Uma outra medida que pode ser apontada está relacionada com os equipamentos para a realização das atividades. De acordo com Maia e Frei-tas (2015), pessoas com deficiência necessitam de equipamentos, como uma simples mesa com acessibilidades para o alcance dos objetivos que foram propostos a nível organizacional, mas nem todo gestor está disposto

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a investir recursos financeiros, deixando de lado a inclusão. Dessa forma, percebe-se que medidas como investimentos nos equipamentos podem ser determinantes para que ocorra a inclusão no ambiente de trabalho.

Os empecilhos físicos que podem ser encontrados nas empresas con-tribuem para que a pessoa com deficiência visualize obstáculos que o im-peça de ingressar no mercado de trabalho. Conforme Hammes e Nuer-nberg (2015), os colaboradores deficientes, diante das dificuldades em sua rotina, sentem-se desmotivados no trabalho, fazendo com que não encon-trem capacidade e autonomia para exercer suas atribuições de acordo com o seu potencial. Em síntese, as barreiras físicas impedem que o indivíduo assuma a função pelo qual foi contrato, e a ausência de confiança, por não ser acompanhada em todas as organizações, revela um cenário pouco estimulante, necessitando que medidas devam ser tomadas no sentido de mitigar tais efeitos negativos.

CONCLUSÃO

A norma do art. 93 da Lei 8.213/1991 pretende promover uma socie-dade mais justa e igualitária, bem como concretizar os fundamentos cons-titucionais da dignidade da pessoa humana, do valor social do trabalho e da proibição da discriminação.

É inegável que estamos avançando quando o assunto é inclusão, mas ainda há muito a trilhar, pois a imposição legal não deve ser o combustível para efetivação da inclusão, já que as empresas devem se empoderar do seu papel social e criar possibilidades às PcD.

Foi visto que há dificuldades em alguns momentos no cumprimento da cota legal, e para tais casos o judiciário foi justo, mas, em contrapartida, essa dificuldade não pode se tornar uma “desculpa” para o não cumpri-mento da cota legal, devendo adotar soluções alternativas para uma efetiva política corporativa de inclusão.

Pois, o objetivo da Lei de Cotas é de assegurar a igualdade de trata-mento entre pessoas com deficiência e sem deficiência através do acesso ao mercado de trabalho, mas que ainda está bem distante de ser alcança-do e, para isso, não bastam normatizações, é necessária uma mudança de cultura organizacional, incorporando a ideia de que a inclusão social é extremamente importante, além de agregar valor à empresa.

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