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2 ANÁLISE DO SETOR LEITEIRO

Nº Municípios

2.6 Aspectos Competitivos das Cadeias Produtivas

É importante conhecer as ações sistêmicas que afetam a competitividade da cadeia produtiva como um todo e dos agentes que a integram. Somente através de uma análise sistêmica pode-se relacionar a observação macro do sistema com as medidas de regulação dos mercados, geralmente implementadas pelos órgãos governamentais (setor público), e com os mecanismos de coordenação do sistema, implementados por seus integrantes (setor privado).

Algumas referências conceituais, definidas por Staatz (1997) apud Silva & Batalha (1999, p. 20), oferecem uma base teórica necessária à compreensão da forma como a cadeia funciona e quais são as variáveis que afetam o desempenho do sistema, a saber:

• Verticalidade: é a influência exercida em um estágio pelos outros estágios do sistema;

• Orientação pela demanda: é a demanda quem gera as informações que determinam os fluxos de produtos e serviços dentro da cadeia produtiva;

• Coordenação dentro dos canais: são as relações verticais dentro dos diversos canais, tais como comercialização e distribuição;

• Competição entre canais: relaciona-se com outros canais envolvidos, no sentido de entender a competição existente entre eles e melhorar o desempenho econômico;

• Alavancagem: busca identificar pontos-chave (gargalos) e desenvolver ações no sentido de melhorar a eficiência dos participantes da cadeia.

2.6.1 Estratégia Competitiva

A competitividade não decorre apenas de variáveis adquiridas, mas de ações implementadas no sentido de se criar estratégias consistentes e sustentáveis, com poder de adaptação ao ambiente econômico com uma coordenação eficiente.

Porter (1993) define estratégias competitivas como sendo ações ofensivas e defensivas para criar uma posição defensável, de forma a enfrentar com sucesso as forças competitivas e, assim, obter retorno sobre o investimento. Portanto, a

competitividade é a capacidade de desenvolver-se em ambiente de concorrência ou de mercado, e como tal depende de relações sistêmicas. Dentre as estratégias competitivas genéricas definidas por Porter destacam-se:

Economia de escala: consiste em obter-se redução de custos pelo aumento

da escala de produção. Há o risco associado de que grandes incrementos na capacidade instalada podem romper o equilíbrio de oferta/procura, ocasionando reduções de preços (e da lucratividade por conseqüência);

Diferenciação do produto: consiste em diferenciar o produto ou o serviço

oferecido, criando algo que seja considerado único. A obtenção dessa diferenciação significa que o produto/serviço tem uma marca identificada e desenvolveu um sentimento de lealdade com o cliente, originado de vários esforços (marketing, serviço ao consumidor, conquista de mercado etc.). Ela cria uma boa proteção contra a rivalidade competitiva, tornando a empresa menos sensível a variações de preços;

Nicho de mercado ou enfoque: trata-se de uma estratégia que visa enfocar

um determinado grupo comprador, um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico. Ela repousa na premissa de que a empresa é capaz de atender um alvo estratégico estreito de forma mais efetiva do que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla;

Liderança pelo custo total: consiste em atingir a liderança pela redução do

custo total, adotando-se para isso um conjunto de políticas funcionais orientadas para este objetivo básico. Fundamenta-se na redução de custos, com controle rígido do custo e das despesas gerais. O custo baixo em relação aos concorrentes torna-se o tema central de toda a estratégia, embora fatores como a qualidade, assistência e flexibilidade não devam ser ignoradas;

Concentração: consiste na ocorrência de um processo de incorporação e

associação de empresas, em geral de nacionais com transnacionais, ao mesmo tempo em que novas e maiores plantas industriais vão sendo construídas.

Ferraz et al. (1996) destacam que a competitividade é expressa pela capacidade de implementar-se estratégias concorrências que possibilitem a inserção sustentável da cadeia produtiva no mercado. Significa dizer que os avanços

tecnológicos e as melhorias organizacionais, através de uma boa coordenação, tornam-se condições necessárias à inserção no mercado e imprescindíveis à competitividade de uma cadeia.

Portanto, uma análise estrutural é fundamental quando se quer conhecer e determinar as regras competitivas vigentes, assim como para formular as estratégias competitivas potencialmente executáveis numa cadeia produtiva.

2.6.2 Governança e Competitividade de Cadeias Produtivas

Best (1990) define estratégia como sendo a capacidade que as empresas demonstram, individualmente ou em conjunto, de alterar a seu favor características do ambiente competitivo, tais como a estrutura de mercado e os padrões de concorrência. Já Davis e Goldberg (1957) abordam a importância do papel da coordenação dos sistemas agroindustriais no ambiente competitivo.

Silva e Batalha (1999) afirmam que a competitividade de um setor corresponde à soma da competitividade dos segmentos que o compõem. Ressaltam, porém, que a competitividade dinâmica de determinados elos das cadeias agrícolas tem se desenvolvido, na prática, através da coordenação (governança) estabelecida pelos segmentos líderes, representados sejam por cooperativas, associações, empresas processadoras, ou mesmo por entidades governamentais.

Dentro de uma abordagem de coordenação de cadeias produtivas, em que cada um dos elos desenvolve sua estratégia, é necessário discutir-se a governança do conjunto da cadeia, de forma a viabilizar uma estratégia que afete todas as empresas. Surge, então, a necessidade de estabelecer-se um agente coordenador para desempenhar a função de coordenação, integração e modernização de toda a cadeia produtiva. Seu objetivo deve ser o de representar os segmentos de forma institucional, intervindo junto aos poderes públicos e privados e mantendo relacionamentos com os diversos segmentos, de forma independente, porém conjunta, imbuídos de caráter cooperativo e não competitivo, e sempre buscando a implementação de estratégias que levem ao desenvolvimento da cadeia como um todo.

A coordenação das ações, ao longo das cadeias produtivas, tem que ser uma preocupação, uma vez que os atores envolvidos nas cadeias devem executar ações

cooperativas, integradas e amistosas que auxiliem na fluidez da cadeia, evitando-se ações conflituosas e desagregadoras. Portanto, é necessário identificar quais os pontos potenciais de conflito e cooperação e, especialmente, estudar as relações contratuais, formais ou não, que surgem entre os atores.

A coordenação de um sistema produtivo será tanto melhor quanto melhor fluírem as informações do mercado entre seus segmentos constituintes, e mais rápido se resolverem os problemas distributivos típicos das relações econômicas (Farina e Zylbersztaijn, 1994).

As cadeias sujeitas a grandes transformações, provocadas, principalmente, pela abertura dos mercados, mostram-se mais competitivas quando forem mais estruturadas e coordenadas. Assim, a capacidade de organização interna da cadeia representa um fator de competitividade. Sua capacidade de articular-se, influenciar na tomada de decisões, gerar tecnologia e orientar-se para o mercado são, portanto, elementos-chave de competitividade.

Nota-se que as cadeias diferem entre si pela sua capacidade de organização, que é diretamente decorrente de sua coordenação. Neste sentido, questiona-se:

• Até que ponto as relações e decisões gerenciais que são tomadas em cada segmento comprometem a fluidez da cadeia no seu conjunto?

• Os segmentos, funcionando de maneira desarticulada, interferem na agregação de valor ao produto?

• Os segmentos têm procurado se reorganizar, buscando um incremento de sua produtividade pela utilização de processos integrados de produção e de comercialização?

• As empresas em geral, e as vinculadas ao segmento leiteiro em particular, estão se organizando segundo o conceito de cadeias produtivas?

CAPÍTULO III