• Nenhum resultado encontrado

Figura 4 – Delimitação de uma cadeia agroindustrial leiteira genérica Fonte: Jank et al (1999) Adaptado por Zoccal, R – Embrapa Gado de Leite (2000)

4.2.4 Coleta, Transporte e Distribuição de Matéria-Prima e Produtos Lácteos.

4.2.4.2 Transporte e Distribuição de Produtos Processados

O segmento de transporte e distribuição de produtos processados é de grande importância para o desenvolvimento da cadeia agroindustrial do leite, pois tem a responsabilidade de garantir que a qualidade dos produtos seja preservada no transporte para o centro da distribuição ou para os mercados atacadista e varejista.

Em decorrência do crescimento e do aumento do poder de negociação dos hiper e supermercados na distribuição de lácteos, em detrimento do pequeno varejo, o perfil de concorrência do mercado final de lácteos está passando por profundas alterações. Pode-se definir os seguintes canais de distribuição:

a) Padarias e pequeno varejo: constituído de pequenas empresas que

atuam na distribuição de produtos lácteos, especialmente dos leites pasteurizados de tipo B e C e dos queijos fatiados sem marca. Entretanto, eles vêm perdendo importância relativa na distribuição de leite fluido devido ao crescimento do consumo do leite longa vida.

Esse tipo de estabelecimento comercial ainda tem uma grande importância na distribuição de determinados produtos lácteos, particularmente aqueles provenientes de mini-usinas e cooperativas de produtores de leite.

Embora estejam perdendo espaço na distribuição global, as padarias e o pequeno varejo podem adotar uma estratégia de diversificação de produtos e de melhoria de sua competência para fornecer um atendimento diferenciado para a clientela local, ou seja, transformar-se em um comércio de grande conveniência (Jank e Galan, 1999).

b) Grandes superfícies de vendas (hiper e supermercados): nos últimos

anos, os hiper e supermercados aumentaram significativamente sua participação na distribuição de derivados lácteos, principalmente devido ao crescimento no consumo de leite longa vida. Eles operam com margens reduzidas de comercialização, elevado giro de vendas, prazos dilatados de pagamento, impondo ainda exigência de entregas just-in-time. Agindo desta forma, eles acabam pressionando negativamente as margens de lucro dos laticínios.

Os supermercados são os que mais crescem em termos de importância na venda de produtos lácteos. Na década de 90, com o crescimento das vendas do leite longa vida (UHT - Ultra High Temperature), os supermercados despontaram como os grandes vendedores de leite fluido, substituindo em grande parte as padarias (Gomes et al., 2001).

c) Venda direta ao consumidor: ela é normalmente efetuada, por

produtores, intermediários e pequenos laticínios que comercializam, via de regra, o leite in natura (cru) e os queijos sem marca diretamente ao consumidor, à margem da legislação.

A venda informal é o braço comercial de muitos produtores não- especializados. Ela também é utilizada por laticínios clandestinos e “queijeiros”, que vendem produtos sem marca (Gomes et al., 2001).

Entretanto, este também é o canal de distribuição do leite tipo A que, segundo a legislação, deve obrigatoriamente ser industrializado na propriedade rural e, em seguida, ser entregue na forma integral para varejista ou diretamente ao consumidor final (sistema porta-a-porta). Este último produto é tido como o leite fluido de melhor qualidade disponível no mercado brasileiro (Jank e Galan, 1999).

Relativamente ao transporte e à manutenção de produtos processados, os produtos lácteos são divididos em dois grandes grupos:

a) Linha fria: constituída de produtos que têm necessidade de resfriamento

para transporte e manutenção nos pontos de comercialização. Por serem predominantemente de caráter regional, eles são menos afetados pela entrada de produtos similares importados no mercado nacional.

Devido às especificidades da matéria-prima e à exigência de gestão adequada da cadeia de frio, o abastecimento é de caráter regional, havendo necessidade de relativa proximidade entre as bacias produtoras de leite, a unidade industrial e o mercado consumidor. Dentre eles, destacam-se os leites pasteurizados (tipos A,B e C), os iogurtes, as bebidas lácteas, o petit-suisse e alguns tipos de queijos de massa mole e semidura, como minas frescal e meia-cura (Jank e Galan, 1999).

b) Linha seca: constituída de produtos que não têm necessidade de

resfriamento para transporte, estocagem e manutenção nos pontos de comercialização.

Devido a esta característica, estes produtos são comercializados em cadeias de abrangência nacional e, em alguns casos, internacional. Dentre eles, se destacam o leite esterilizado (longa vida), o leite em pó e alguns queijos de massa dura, como o provolone e o parmesão (Jank e Galan, 1999).

Finalmente, um estudo realizado por Ranaldi e Brandão (1999) – (pesquisadores do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite – PNQ), mostrou que ainda há muitas perdas no processo de coleta e distribuição de insumos e produtos lácteos, das quais destacam-se:

- Perdas no transporte: estima-se que 16 bilhões de litros de leite/por ano (80% do total) são transportados em latões, utilizando-se para isso 36.530 caminhões. Na coleta a granel, cada caminhão pode transportar, em média, 5.000 litros por vez, podendo realizar pelo menos duas viagens por dia. Assim, para transportar a mesma quantidade de leite seriam necessários apenas 4.380 caminhões. O transporte integral do leite a granel proporcionaria uma economia de 50% (de 12% do custo do leite, para 6%), ou seja, uma economia de R$ 221 milhões por ano, o suficiente para comprar 40 mil tanques de resfriamento por expansão de 500 litros.

- Perdas no mercado distribuidor: por causa da má qualidade da matéria-prima, os produtos lácteos brasileiros têm um tempo de prateleira bastante curto, quando comparados com similares de países desenvolvidos.

4.2.5 Mercado

Segundo Bressan (1999), o mercado é, por excelência, o mecanismo articulado socialmente para transações de bens e serviços entre agentes econômicos, e entre estes e os consumidores finais. Refere-se, também, a espaços concretos ou virtuais, onde esses mecanismos ocorrem em um dado tempo. As transações são as atividades que envolvem os sistemas de troca de produtos (bens e serviços), definindo sua forma (monetária, permuta, doação), e podendo surgir de maneira consensual e amistosa, ou a partir de um processo social (coercitivo e conflituoso).

O mercado brasileiro de leite tornou-se muito mais volátil, seja pelo aumento da produção, seja pelo aumento das importações. As quantidades ofertadas de produtos lácteos superam, em várias oportunidades, as quantidades procuradas, criando problemas em todos os segmentos. Além disso, é comum a ocorrência de aumentos ou estabilização de preços no varejo que nem sempre são refletidos nos preços recebidos pelos produtores.

Entretanto, sem o desenvolvimento econômico sustentável e sem uma distribuição de renda que possibilite à população maior acesso aos produtos alimentícios, e particularmente leite e derivados, o crescimento do mercado interno será cada vez mais limitado. Um dos desafios do segmento de laticínios deve ser a luta por mudanças que levem efetivamente à criação de um amplo mercado interno. Para atenuar essas dificuldades internas, deverão também ser definidas políticas públicas que possibilitem a inserção do país no mercado internacional, uma vez que, havendo continuidade política e estabilidade de preços, produtores de leite e empresas de laticínios estarão em condições de produzir excedentes exportáveis, com qualidade e a preços compatíveis.

Essa busca do mercado externo para exportar parte da produção de leite e derivados deverá ser fator determinante para a melhoria da qualidade dos produtos no mercado interno, e deverá melhorar o desempenho econômico do setor leiteiro como um todo.

A exemplo do que ocorreu com outras cadeias produtivas, para cumprir as exigências externas será necessário acelerar o processo de modernização da cadeia leiteira, que hoje já compete em boas condições no mercado internacional. Os países mais desenvolvidos são mais competitivos, seja pelo processo tecnológico, seja por economia de escala, seja pelo maior poder político no momento de colocar exigências que lhes são favoráveis nas transações internacionais. Entretanto, em algumas commodities agrícolas o Brasil já é bastante competitivo em nível mundial. Abrir e consolidar este caminho para a cadeia produtiva do leite será fator decisivo para o crescimento e a modernização do setor (Gomes et al., 2001).

Em um mercado competitivo, seja ele interno ou externo, é imperativo que os produtores de leite e a indústria láctea atuem como parceiros, adotando posturas interativas e elevando o nível de compromisso entre os segmentos do agronegócio, bem como promovendo a participação nos resultados de todo a cadeia agroindustrial.

As novas estratégias comerciais devem basear-se na construção de vínculos transparentes e na melhoria do relacionamento produtor/indústria. Este relacionamento deve incluir um sistema de pagamentos que privilegie o produtor especializado, com preços mais estáveis, que valorizem a qualidade do produto e estimulem a regularidade da oferta, de forma a garantir mais segurança e confiança aos agentes envolvidos (Araújo, 1999).

Dentro da atual realidade do mercado brasileiro, um novo hábito adquirido pela população vem provocando uma revolução em toda a cadeia leiteira: o aparecimento e a consolidação do leite longa vida, impondo um novo padrão de consumo e transformando o mercado potencial de leite fluido de regional para nacional.

Além disso, profundas alterações decorrentes do crescimento dos hiper e supermercados na distribuição de lácteos alteraram as características do setor de distribuição, até então dominado pelas padarias e pequenos varejos. Os supermercados, organizados em grandes redes, vêm impondo aos fornecedores condições de comercialização baseadas em altos volumes de venda e reduzidas margens de lucro, o que acaba tendo fortes reflexos sobre a produção primária de leite, impondo aumentos na escala de produção e uma maior especialização das unidades produtivas.

Jank e Galan (1999) e Gomes et al. (2001) classificam o mercado em formal, informal e concorrência.