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Caso 5 – Abordagem do SINDILEITE sobre a Cadeia Produtiva Leiteira de Goiás

Figura 4 – Delimitação de uma cadeia agroindustrial leiteira genérica Fonte: Jank et al (1999) Adaptado por Zoccal, R – Embrapa Gado de Leite (2000)

5 ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA LEITEIRA GOIANA

5.1 Análise Preliminar da Cadeia Produtiva Leiteira de Goiás a partir de Abordagens das Principais Instituições Atuantes no

5.1.5 Caso 5 – Abordagem do SINDILEITE sobre a Cadeia Produtiva Leiteira de Goiás

O Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás (SINDILEITE) é o legítimo representante dos interesses da indústria laticinista goiana, que compreende cerca de 780 estabelecimentos industriais. O SINDILEITE conta hoje com mais de 500 associados, os quais são responsáveis por 80% da produção do setor. Ele forneceu dados e informações sobre o segmento industrial leiteiro, as quais contribuíram para a formatação de um desenho preliminar da cadeia produtiva leiteira goiana.

Recentemente, as indústrias de laticínios foram acusadas por produtores rurais e líderes formais (Sindicatos, Associações), e pela sua entidade representativa (a Federação da Agricultura do Estado de Goiás – FAEG), de estarem formando cartel e monopolizando o mercado. Tais acusações ocasionaram a instauração de uma CPI pela Câmara dos Deputados do Estado de Goiás, e retratam a atual situação do conflito existente entre a produção primária e a indústria de processamento da cadeia produtiva leiteira goiana. O Anexo 01 apresenta detalhes dos principais fatos apurados pela CPI do leite de Goiás.

A situação crítica vivida pelo setor leiteiro de Goiás permitiu à CPI concluir pela ocorrência de sérias infrações e, até mesmo, crimes contra a ordem econômica. As conseqüências da crise se estenderam pelo meio econômico-social, atingindo diretamente mais de 56.000 produtores, ou seja, cerca de 220.000 pessoas. Indiretamente, este número atinge quase todo o Estado, que vê circular aproximadamente R$ 25.000.000,00 a menos em sua economia (em valores de 2001), o que representa um duro golpe aos municípios goianos, bastante dependentes da produção e comercialização do leite.

Foram relatados à CPI casos de diversos produtores que abandonaram a atividade, realimentando um perigoso ciclo de êxodo rural, desemprego e criminalidade. Levantou-se que as indústrias e supermercados dispõem de estratégias diversas para manterem seus lucros ou compensá-los por meio de outros expedientes. Assim, concluiu-se que as indústrias, abusando de sua posição dominante no mercado, têm procurado forçar a redução do preço do leite, dificultando as atividades das cooperativas e consolidando definitivamente o domínio do mercado.

O SINDILEITE, por sua vez, defende as indústrias de laticínios afirmando que a lei de mercado exige produtores mais especializados e indústrias mais competitivas. Esclarece, ainda, não ser somente o setor de produção que está em crise, lembrando que importantes laticínios que existiam em Goiás desapareceram recentemente, tais como: Laticínios Marajó (3º maior produtor de queijos do Brasil em 1997), Laticínios Borges, Cooperativa Central Rural de Goiás(Leite Go-Go - importante e tradicional cooperativa goiana), e vários outros. Ele ainda enumera dados e registros sobre custos relevantes para as indústrias de laticínios:

- Frete: de acordo com a distância da propriedade, o transporte do leite em latões até a plataforma representava de 10 a 25% do custo total. Hoje, com o leite granelizado, representa em torno de 8% (e muitos laticínios sequer cobram); - Paga-se ao produtor uma taxa de frio e paga-se ao produtor uma taxa de

qualidade;

- As obrigações financeiras com juros para aquisição dos tanques de resfriamento são pagas pela indústria, com custo zero para o produtor;

- Os produtores são constantemente tomadores de valores (empréstimos como adiantamento), com taxa zero de juros da indústria e que é dividido em várias parcelas.

O SINDILEITE procura mostrar que a crise do setor leiteiro não é exclusivamente goiana. A partir da apuração da formação do preço do produto no Estado, que sai do campo a R$ 0,27 e chega ao consumidor a R$ 1,00, ele destaca que não são apenas as indústrias que estão lucrando em cima do preço ao consumidor. Destaca que vários itens compõem o preço final dos produtos, dentre eles os custos de esterilização, embalagem, transporte, mão-de-obra, além de diversos impostos. Os depoimentos a seguir ilustram algumas dessas situações.

“É preocupante, também, vermos e ouvirmos acusações de que as indústrias estão crescendo à custa do produtor. Ora, será que com um parque industrial arcaico (sem modernização), sucateado, teremos como enfrentar um mercado competitivo e acirrado na fabricação de lácteos? O consumidor é o senhor do mercado, busca cada dia mais produtos de qualidade por preços menores. Se nos acomodarmos, deixaremos de ser competitivos e o produto leite deixará o nosso Estado para ser processado em outras Unidades Federativas em detrimento do próprio produtor. A indústria cresce e se moderniza graças aos investimentos próprios e recursos advindos do Fundo

Constitucional do Centro-Oeste, sem os quais a maioria aqui existente não teria condições de prosperar e fazer frente a novos desafios”. Gerente Geral do SINDILEITE

"É ingenuidade imaginar que a indústria iria reduzir a captação de leite se tivesse conseguido colocar todo o produto no mercado, ao contrário, era de se esperar que os laticínios estivessem disputando o leite e até melhorando os preços pagos no produtor, pois é óbvio que quanto maior fosse o volume do produto comercializado, maior seria o lucro das indústrias. Devido à drástica queda de consumo, os estoques de consumo cresceram muito, e as indústrias tiveram que promover várias campanhas promocionais para desovar o produto".

Domingos Vilefort, presidente do SINDILEITE

Percebe-se claramente o conflito existente entre os segmentos produtivo e industrial, e uma luta incessante entre seus representantes na busca de soluções para os problemas que afligem o segmento de lácteos, tais como:

a) Carga tributária elevada: Há uma concorrência desigual quando se comparam as alíquotas praticadas por Estados concorrentes relativamente ao ICMS na saída para produtos de laticínios (Tocantins: 2%; Pará: 4%; Minas Gerais: 7%; São Paulo: 7%; Rio Grande do Sul: 7%, com exceção ao leite longa vida, cuja alíquota é 0%), Paraná: 7%; Goiás: 12%, com crédito outorgado de 3%);

b) Equacionar os demais tributos, principalmente PIS e COFINS; c) Falta de incentivos às exportações;

d) Inexistência de leis pertinentes que impeçam o uso de leite importado em programas governamentais, que deveria utilizar matéria-prima exclusivamente nacional;

e) Falta de mecanismos efetivos de defesa anti-dumping contra o leite importado; f) Necessidade de campanhas institucionais para promover o aumento do consumo de lácteos.

A partir da revisão bibliográfica realizada no capítulo anterior e dos casos analisados neste capítulo, elaborou-se a Figura 5, que apresenta um desenho preliminar da cadeia produtiva leiteira de Goiás, o qual será complementado com a pesquisa de campo apresentada a seguir.

5.1.6 Pesquisa de Campo da Cadeia Produtiva Leiteira, Realizado na