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Aspectos fisiológicos e subjetivos na Tomada de Decisão na profissão policial-militar

N ível estratégico orga nizacional

COMPETÊNCIAS POLICIAIS-MILITARES

5.4 Aspectos fisiológicos e subjetivos na Tomada de Decisão na profissão policial-militar

Independentemente de qualquer que seja a atuação profissional, o caráter de subjetividade sempre é colocado em segundo plano, sobretudo em face do grau de complexidade que envolve a auferição e análise de tal característica.

A assertiva acima é uma constante, especialmente, nas profissões mais tradicionais. Recorrentemente, ao abordar os critérios que devem constituir uma

formação profissional, esses aspectos não são aprofundados, na maioria das vezes, inclusive, menosprezados e, até, desconsiderados.

De acordo com os principais expoentes, seguidores e desenvolvedores da Teoria Histórico-Cultural, a categoria da subjetividade não foi estudada ou, pelo menos, não foi possível destacar tal abordagem de forma explicita. Entretanto, pode- se fazer algumas deduções, por exemplo, a partir das teorizações do Sentido que é trabalhado, incialmente, por Vygotsky e, posteriormente, por Leontiev, quando tratam do sentido personal, que não deixa de ser uma interpretação da subjetividade humana.

Por outro lado, quando PETROVSKI (1980) sistematiza no livro Psicología General os aspectos emocionais e volitivos da atividade, infere-se que estava abordando a categoria subjetividade, mesmo que tal conceitualização não apareça nas suas teorizações, bem como na de outros seguidores da THC que, explicitamente, não discorreram acerca dessa categoria analítica, mas que, implicitamente, essa discussão estava presente.

Petrovski (1980, p. 336-7) explica que sentimentos e emoções não devem ser identificados como sinônimos, visto que “[...] los sentimentos forman un sistema de sinales que indica caules acontecimientos del mundo exterior son significativos para el indivíduo”. E por [...] emoción solamente la forma concreta en que se desenvolver el processo psíquico de vivencia de los sentimentos”. Ainda, em relação às emoções, segundo este autor, elas apresentam atitudes positivas e negativas, podendo, também, ser classificadas como ambivalentes e indeterminadas (PRETROVSKY, 1980, p. 339)

Por outro lado, destaca, ainda, que os sentimentos são compostos de conteúdos que estão arraigados em pressupostos das necessidades naturais e culturais. Assim, os contextos social e material em que estão inseridos têm contribuição significativa para sua vida sentimental, pois “[...] la actividad conjunta con otras personas em la sociedad, dependen de las relaciones interpersonales fornadas en la sociedad”. (PETROVSKI, 1980, p, 340).

Contundo, é, principalmente, Fariñas (2010) que, explicitamente, destaca e aprofunda a temática da subjetividade humana como categoria epistemológica a ser acrescida aos postulados históricos culturais. Defende a autora que apesar de Vygotsky jamais ter falado acerca de complexidade, é possível inferir por meio de suas teorizações, especialmente, pelas categorias histórico e social que a

complexidade é o oposto ao reducionismo, à simplificação e ao esgotamento às multiplicas possibilidades de compreender o ser humano.

De acordo com a pesquisadora, diferentemente das correntes teóricas contemporâneas da THC, mesmo que a Gestalt tenha dado sua contribuição, especialmente, no Ocidente, a Psicanálise e outras correntes tenham se aproximado dos pressupostos teóricos e filosóficos da Complexidade, nenhuma delas conseguiu avançar mais que a histórico culturalista. Assim sendo, defende a autora que um dos principais pontos de destaque dessa abordagem é o fato de considerar

A situação social do desenvolvimento expressa a conjunção dinâmica das condições interpessoais ou externas e as interpessoais ou internas que produzem o desenvolvimento da pessoa. Por isso, pode-se afirmar [...] que a relação ativa do indivíduo com seu meio, em outras palavras, sua elaboração subjetiva na qual o ambiente é apenas um dos seus pontos de partida. (FARIÑAS, 2010, 72-3).

Fariñas (Op. Cit) não apenas defende que havia pressupostos da Teoria Complexidade quando da criação da Teoria Histórico Cultural, como explicita-os, demonstrando que essa teoria foi a única que conseguiu interação gnosiológica entre filosofia e ciência, especialmente, quando adota a dinamicidade existente entre o geral e o particular, bem como trazendo em seu arcabouço os pressupostos do Materialismo Dialético Histórico.

Outro pressuposto é a concepção da personalidade como sendo uma categoria analítica a ser estudada e compreendida de forma integral, que reúne as unidades dialéticas cognitivo/afetivo, interno/externo, bem como social/biológico.

Portanto, a partir do enfoque interdisciplinar, que é a linha de pensamento defendida pela autora como sendo a continuidade e o desenvolvimento mais coerente com a THC, ela sintetiza explicando que, nesse sentido a Teoria Histórico Culturalista “[...] tem contribuído para o desenvolvimento de uma perspectiva inter e transdisciplinar, pretendendo estudar o desenvolvimento humano e da personalidade a partir da ótica da cultura e de sua história” (FARIÑAS, 2010, p. 79).

Em uma Tomada de Decisão, efetivamente, dependendo da importância sentimental e a frequência que tal ação tem sido realizada por determinada pessoa, essa pode passar ou sofrer alterações no seu processo fisiológico e,

consequentemente, tais acontecimentos, talvez, alterem a forma de execução dessa ação.

No Quadro 12, no item Competências Operativas, estão postas algumas que o policial militar precisa desenvolver/atualizar/potencializar para o desempenho de suas funções. Os aspectos fisiológicos e emocionais teorizados por Petrovski (1980) estão, diretamente, relacionados com as competências, visto que uma interfere/influencia na outra, na forma de desempenho e, sobretudo, nos desdobramentos de uma Tomada de Decisão.

Acerca disso, retrata Petrovski (1980, p. 342) que “quanto más significativos para la persona son los cambios que tienen lugar en torno suyo y en su propio ser, tanto más profundas son las conmociones de los sentimientos”.

Como consequência fisiológica dessa alteração emocional por meio de sentimentos que são significativos para o indivíduo, ele sofre modificações, por exemplo, para respirar, na intensificação dos batimentos cardíacos, nos suores, no rubor em sua face, nas mãos trêmulas, entre outras alterações dessa natureza que podem influenciar no desfecho da ação a ser desenvolvida ou em execução.

A partir desses pressupostos, explica Petrovski (Op. Cit. p. 351), quando as emoções são motivações para alguma atividade humana, esta pode em uma perspectiva positiva, organizar tal atividade, mas pode também contribuir para sua desorganização.

Como defendido na seção anterior, dada às condições sociais e materiais em que a atividade ou ação humana se desenvolve, esta pode sofrer alteração, como explicado no caso hipotético da Tomada de Decisão da equipe de policiais que precisava enquadrar dois jovens infratores, por uso de entorpecentes. Porém, de igual maneira, na mesma situação, policiais se encontravam com realidades objetivas diferentes, em que a ação (Tomada de Decisão) geraria estados de estresse diferenciados.

Acerca dessa análise, tomar-se-á com um exemplo a Tomada de Decisão da ação policial acima exemplificada. Por conseguinte, as ações dos agentes podem ocorrer de forma automatizada, mesmo contra a vontade daqueles que a executam (os policiais). Ou seja, “[...] los hábitos, las formas aprendidas y automatizadas del comportamiento no se inhiben, sino que puede ocupar el lugar de las acciones ejecutas inconscientemente, incluso contra la propia voluntad (PRETROVSKY, 1976, p.353).

A Tomada de Decisão, necessariamente, tem seu componente motivador. Assim sendo, o caráter volitivo sempre está presente em uma Tomada de Decisão. No entanto, é forçoso destacar que há ações involuntárias, ou seja, aquelas que são tomadas inconscientemente.

De acordo com Petrovski (1980, p. 361), são aquelas que acontecem de forma impulsiva ou em outras palavras ocorrem envoltas em um misto de emoções, dificultando o agente executor de pensar. Este, por seu turno, pode agir por impulso, por medo, pelo estresse e/ou por diversas outras emoções. Na atividade policial e, neste estudo específico, tais sentimentos, podem contribuir para ações equivocadas, aumentando o índice de letalidade na atividade policial (BUENO, 2014).

Com relação às ações voluntárias, como as definir? Há uma fórmula para guiá-las, em especial, as tomadas de decisão?

De acordo com o mesmo autor, as ações voluntárias pressupõem que o agente tenha consciência da execução e do resultado que sua ação pode ocasionar. No entanto, adverte que na seara motivacional, há correlação com a personalidade do indivíduo, que por seu turno, estão muito bem representada em estágios hierárquicos na constituição da consciência individual. Por conseguinte, a motivação para Tomada de Decisão não é apenas de interesse da Psicologia, mas perpassa outras ciências, inclusive, com emprego de métodos matemáticos e utilização de programas digitais que auxiliam na Tomada de Decisão.

Destaca, ainda, Petrovski (1980 p.366-7) que para busca da melhor solução a ser tomada, necessário se faz escolher as melhores estratégias, colocando alguns aspectos a serem analisados, tais como custo/benefício, tempo gasto, esforço desprendido, satisfação com o resultado final, entre outros, o que conforme a tese defendida por Pinc (2006), em virtude da especificidade da atividade policial-militar é, praticamente, impossível, pela dinâmica que envolve a intervenção policial, principalmente, o fator tempo e imprevisibilidade, extraordinariedade, urgência e emergência.

Na Tomada de Decisão implica uma luta de motivos, os quais devem ser confrontados para se ter as melhores motivações escolhidas. Nesse sentido para as profissões que, necessariamente, não demandam de decisões rápidas, o confrontamento entre as motivações serão salutares, pois possibilitam uma melhor escolha ou Tomada de Decisão mais bem avaliada.

Por outro lado, decisões que precisam ser tomadas rapidamente, em virtude de suas especificidades profissionais, como a atividade profissional policial- militar, essas motivações só dificultam cada vez mais o processo, sendo, portanto, necessária uma sistematização anterior aos fatos que ensejem a decisão rápida, porém de forma consciente. É forçoso enfatizar que as intervenções policiais podem ser semelhantes, mas não são iguais, pois os aspectos que as motivam e os atores envolvidos são únicos, em cada uma delas, portanto, talvez nem sempre é possível tomar a mesma decisão, ainda que em ocorrências análogas.

Em face desse contexto, a Teoria da Assimilação dos Conceitos e das Ações Mentais por Etapas, criada e desenvolvida por Galperin (1976), aqui, brevemente, apresentada, que, até os dias atuais, vem sendo desenvolvida pelos seus seguidores, apresenta-se como uma perspectiva teórico-científica à resolução desse tipo de problema, visto que possibilita a instrumentalização do agente a ter consciência de todas as etapas da atividade a ser desenvolvida.

6 TOMADA DE DECISÃO: marco teórico e regulatório

Pela ausência de produção científica que adaptasse os pressupostos teóricos da Teoria das Decisões defendidos por Simon (1970), Robbins (2004), Braga (1987), Chiavenato (1999), entre outros, que demonstraram as primeiras sistematizações acerca do processo decisório, às instituições de segurança pública ou profissões análogas, bem como considerando a especificidade que cerca a Tomada de Decisão no campo de estudo e pesquisa da atividade policial-militar, em especial, nas intervenções práticas, far-se-á uma abertura de capítulo mais extensa, descrevendo o que esses teóricos definiram como pressupostos, buscando demarcar a especificidades entre essa Teoria e a atividade profissional policial- militar.

O marco teórico desta Tese é da Teoria Histórico-Cultural (THC), cujos maiores expoentes são Vygotsky (2001) e Leontiev (1978), a partir dos quais busca- se conceber a atividade prática profissional policial-militar como uma atividade consciente que visa atender uma necessidade, seja institucional, social e/ou individual, inserido em dado contexto.

Este capítulo se constitui, portanto, de uma abordagem aos principais referentes teóricos da Tomada de Decisão e quais seus desdobramentos na corporação policial-militar e ao marco regulatório das Bases Curriculares da Segurança Pública no Brasil (2000).

A partir da análise das competências e habilidades necessárias ao desenvolvimento da atividade profissional policial-militar, aborda-se como ocorre o processo de construção desses instrumentos cognitivos que, também, devem ser considerados operativos e atitudinais, sobretudo, por meio das teorizações de Perrenoud (1999) e Sacristán (2011), adotados na Matriz Curricular Nacional, da SENASP/MJ (BRASIL, 2000; 2003; 2009; 2014).

Por fim, por meio dos pressupostos teóricos apresentados e seus desdobramentos na profissão em estudo, define-se o que para esta Tese são considerados “casos críticos” na atividade policial-militar, os aspectos que a circundam, as normativas internacionais e nacionais que orientam a prática da atividade de segurança pública, especialmente, quando da Tomada de Decisão envolve a utilização da força física e/ou da arma de fogo e seus desdobramentos.

O ato da Tomada de Decisão está presente no cotidiano da atividade humana, seja na esfera das relações pessoais e/ou nas atividades profissionais. Desde os tempos mais remotos, a partir do seu engendramento enquanto ser social, o homem decide o que fazer, utilizando as mais variadas estratégias. Engels (2014) esclarece que quando o homem, em meio às mais variadas condições materiais de existência, passa a andar ereto, dá um dos passos mais fundamentais na história da humanidade, pois essa simples decisão, mesmo que inconsciente e, muito mais guiada pelas necessidades biológicas do que sociais, vai ser fator, preponderante, para o estabelecimento do homem enquanto ser social e, assim, instituir-se por meio da sociogênese.

Explicita Engels (Op. Cit. p.14), que na relação simbiótica desenvolvida entre a ontogênese e a filogênese “los hombres en formación llegaron a un punto en que tuvieron necesidad de decidirse algo los unos a los otros”. Ou seja, a Tomada de Decisão, nesse contexto, era por necessidade de sobrevivência, portanto, biológica, mas também social, na medida em que ao longo do desenvolvimento humano se legitima pela necessidade/capacidade de o homem relacionar-se. Essa, portanto, é a forma mais elementar da relação dialética entre os aspectos biológico e cultural que engendrando o ser humano.

Nesse processo de transição o homem sai do estado selvagem, passando pela barbárie até chegar ao período civilizatório que, conforme o autor, durou milênios, a partir do qual o homem criou/inventou instrumentos capazes de subsidiar decisões que serão, doravante, fundantes para constituição da humanidade (ENGELS, 2009, p.37).

Por outro lado, é somente no limiar do século XX que a Teoria das Decisões, efetivamente, surge a partir de uma abordagem científica, sobretudo no campo da Administração e da Economia (SIMON, 1970).

Em meio ao pleno desenvolvimento do Capitalismo e da Revolução Industrial, essas searas da atividade humana necessitava de parâmetros fundados nos preceitos da racionalidade para auferir cada vez mais lucros ao sistema vigente.

Nessa conjuntura, a Teoria das Decisões surge influenciada pelo contexto da maximização dos resultados e a auferição dos lucros, que permeavam a tessitura social vigente, a da produção industrial em série, que se fundava imersa, sobretudo, de forma técnica e mecanicista. Gradativamente, a sistematização do processo

decisório de Simon (1916-2001), que estava intrínseco às organizações privadas, começa a se institucionalizar enquanto teoria.

No setor público, ainda, em desenvolvimento embrionário, o processo decisório vai se inserindo no sistema organizacional, adotando a Teoria da Tomada de Decisão como pressuposto para o planejamento estratégico nas organizações.

De acordo com esses autores, o processo decisório, propriamente dito é classificado em três dimensões de competência: operacional, tático e estratégico. No nível operacional as decisões são de caráter, eminentemente, de execução; as decisões que são tomadas em nível tático, são consideradas intermediárias ou técnico-administrativo e visam atender às demandas em nível gerencial e, por fim, a última instância da Tomada de Decisão, o nível estratégico, em que se decidem quais são as linhas de ação essenciais que norteiam a forma de funcionamento de determinada instituição, sua cultura institucional (SIMON, 1970); (ROBBINS, 2004); (CHIAVENATO, 1999).

O processo decisório abordado por esses teóricos é, primordialmente, um ato administrativo adotado nas organizações privadas e públicas, especificidade essa que o diferencia, essencialmente, da Tomada de Decisão na atividade prática policial-militar, neste estudo específico, da possibilidade do uso da força e/ou de arma de fogo em ocorrências que demandam tais medidas.

De acordo com Chiavenato (1999), uma organização é composta de um sistema de decisões, em que cada membro participa dentro da esfera de sua competência, conscientemente, e de forma racional. Nesse sentido, o processo decisório pode ser entendido como a sistematização da capacidade de planejamento para Tomada de Decisão de um determinado grupo institucional que terá como consequência uma escolha.

A sistematização do processo decisório passa a fazer parte das organizações, como pressuposto filosófico, científico e político e, nesse sentido, também, como instrumento para minimização de escolhas equivocadas, ou insuficientemente satisfatórias à administração desejável, reduzindo, assim, perdas e aumentando ganhos, principal foco das organização privadas.

Ressalva-se, entretanto, que nessa, concepção, alguns aspectos influenciam a Tomada de Decisão, as quais são orientadas, mesmo que implicitamente, a partir de suas percepções e condições de existência social.

Em que pese a filosofia organizacional estar presente, em tese, em todo e qualquer processo decisório institucional, sempre estará inserida nesse contexto uma representação da idiossincrasia de cada funcionário/integrante ou colaborador.

Preocupado com esse objeto de estudo, Simon, em 1949, no Carnegie Institute of Technology, buscou, com outros pesquisadores e colaboradores, estudar o processo de resolução de problemas nos mais variados sistemas organizacionais.

Assim, o profissional em diversas esferas da vida social, em organizações privadas ou sistemas governamentais, simples ou complexos, estabeleciam/estabelecem sua Tomada de Decisão para resolução das questões da vida em sociedade. Esse processo “é um trabalho de escolher as questões que requerem atenção, a definição de objectivos, encontrar ou projetar cursos adequados de ação, avaliar e escolher entre ações alternativas” (SIMON, 1986, p. 01).

Portanto, todos os esforços imbricados em uma Tomada de Decisão visam a melhoria das condições de existência das pessoas, pois se assim não proceder, nem o Estado possibilitará bem-estar social, tampouco os mercados lograrão resultados e lucros a que se destinam.

Simon, em meados do século XX, defende a necessidade de dotar a teoria do processo decisório da máxima racionalidade e, para esse fim, preocupou- se em aliar a inteligência humana à artificial. Dessa maneira estabelece a Theory of Subjective Expected Utility (SEU), traduzida para o português como a Teoria da utilidade subjetiva esperada ou, em outros termos, um modelo matemático sofisticado, que possibilitaria a Tomada de Decisão, contribuindo com informações estatísticas teóricas e operações de investigação. Ou seja, a “[...] SEU teoria lida apenas com a Tomada de Decisão; não tem nada a dizer sobre a forma de enquadrar os problemas, definir metas, ou desenvolver novas alternativas” (SIMON, 1986, p. 02).

Braga (1987), em sua tese de doutoramento defendida na Universidade do Texas (EUA), faz um resgate histórico dos principais estudiosos do comportamento organizacional, analisando “O processo decisório nas organizações brasileiras” que, entre outros aspectos relevantes desse trabalho, considera três dimensões do processo decisório: objetivos, estratégia e comunicação.

No primeiro aspecto, destaca a autora que apesar dos objetivos organizacionais parecerem ser bem estabelecidos, esses precisam ser revistos

pelos gestores, pois na estrutura organizacional por mais que não apareçam, explicitamente, recursos materiais e/ou simbólicos estão em jogo, e são esses os fatores mais considerados quando da necessidade de uma Tomada de Decisão.

O segundo aspecto, a estratégia, “[...] preocupa-se com questões relativas à definição de problemas, avaliação de alternativas e escolha do melhor curso de ação” (BRAGA, 1987, p.17). Nesse sentido, as estratégias destacariam os meios e a maneira pelos quais se deve implementar uma decisão mais adequada que outra.

Outro fator importante que a autora enfatiza é que as corporações podem não parecer, mas são verdadeiras “arenas”, onde vários e diversas perspectivas são os interesses que estão por trás de uma determinada escolha. Às vezes, uma estratégia equivocada, além de provocar danos profissionais pode, também, trazer questões emocionais causadores de muito estresse com desdobramentos inimagináveis dentro de uma instituição.

Nesse sentido, existem vários estereótipos de organizações, umas mais flexíveis e outras mais rígidas. As instituições militares são “[...] de ordem coagida, enquanto que uma organização radical de grupo político ou religioso constitui um exemplo de ordem manipulada” (BRAGA, 1987, p.17). Segundo essa autora, as instituições militares têm sua lógica e sua sistematização próprias de operacionalidade.

Alargando essa perspectiva e adentrando no campo de estudo da administração militar, há dois tipos de corporações militares: as federais (Forças Armadas) e as estaduais (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares), as quais, apesar de análogas, não devem ser consideradas equivalentes. Conforme os artigos 142 e 144 da Constituição Federal de 1988, as primeiras têm funções institucionais distintas das segundas, pois as Forças Armadas têm a missão constitucional de defesa nacional. Já as Polícias Militares, por seu turno, têm como seu maior mister a segurança pública, por meio do policiamento ostensivo, muito