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Conhecimentos e saberes profissionais: uma análise da atividade policial-

N ível estratégico orga nizacional

4.3 Conhecimentos e saberes profissionais: uma análise da atividade policial-

militar

Para abordar os conhecimentos e saberes da atividade profissional policial destacam-se os estudos realizados por Menke; White; Carey (2002) e Bayley (2006), a partir dos quais tais artefatos culturais são pressupostos para profissionalização dos policiais, como assim é em outra atividade, conforme defendem os autores. Ou seja, “[...] para alcançar um status profissional, é necessário haver um conjunto subjacente de conhecimento teórico e técnico” (MENKE; WHITE; CAREY; 2002, p.89).

Por outro lado, na abordagem teórica de Bayley, a profissionalização vai constituir a identidade da polícia moderna, isto é, as instituições policiais que foram criadas ou reorganizadas nos moldes contemporâneos, no final do século XIX, em especial, a europeia (francesa, inglesa, alemã), a norte-americana, entre outras.

De acordo com esse autor, há os aspectos mínimos para que uma corporação policial possa obter e manter o status de uma corporação profissional que são o “[...] recrutamento de acordo com padrões específicos, remuneração alta e suficiente para criar uma carreira, treinamento formal e supervisão sistemática dos oficiais superiores” (BAYLEY, 2006, p.60).

O conhecimento profissional, como o arcabouço intelectual, é estabelecido social, histórico e culturalmente, sendo sistematizado em determinada profissão ou grupo ocupacional.

Os conhecimentos e saberes profissionais que são constructos teóricos e experienciais necessários para desenvolver uma cultura profissional capaz de estabelecer ou instaurar uma identidade profissional são uma construção intelectual de uma categoria profissional, sistematizados, aceitos e validados cientificamente, que são aprimorados no processo constante de profissionalização.

Ramalho; Gauthier e Núñez (2004, p. 30) colocam os saberes no campo do exercício da própria prática profissional. Portanto, saberes profissionais são práticas, construídas e orientadas no exercício de uma atividade ocupacional, que buscam solucionar problemas.

De acordo com esses autores, esses saberes são, consensualmente, estabelecidos em um grupo profissional, pois são resultados da aplicabilidade de uma teoria, legitimamente, aceita em um corpus ocupacional. Mas, também, surgem das práticas e das experiências dentro de uma organização profissional.

As categorias de análise utilizadas pelos autores e atribuídas à profissionalização de um corpo profissional, na perspectiva deste trabalho permitem, mesmo que de forma genérica, conceber que saberes estão relacionados à resolução de problemas, isto é, voltados à prática, portanto, de caráter, eminentemente, prático.

Por outro lado, o conhecimento profissional está intrinsecamente relacionado à cultura profissional, sistematizada academicamente, embasado em preceitos e princípios científicos e filosóficos (RAMALHO; GAUTHIER; NÚÑEZ, 2004, p. 28-9).

A partir dessa proposição, infere-se que o estabelecimento de um conhecimento profissional surge da necessidade ou demanda que uma atividade impõe a um grupo socioprofissional, para contribuir em uma comunidade ou sociedade, em determinado contexto social, em que surge e se estabelece uma profissão. Ou seja, é

[...] um equilíbrio das motivações entre a necessidade que o cliente tem do profissional e a necessidade que este tem de ter clientes, o que é característico das “profissões liberais”. Esta institucionalização deriva também de uma dinâmica de legitimação que pode apoiar-se nesse ajustamento de papéis para definir um corpo de saberes independentemente dos indivíduos, que suscetivelmente deve ser ensinado, testado, controlado com a participação dos próprios

profissionais e o reconhecimento do Estado regulador. (DUBAR. 1997, p.130).

Por outro prisma teórico, pode-se concluir que um conhecimento profissional é um artefato teórico, background cultural sistematizado científica e academicamente, que possibilita ao trabalhador desempenhar uma atividade laboral qualificada. Ou seja,

O trabalho qualificado se distingue do não-qualificado por um critério adicional - o grau em que essas atividades são simples e repetitivas, ou variam de um oficio para outro. Aquilo que Karl Marx chamou “divisão de trabalho parcelar”, um número relativamente pequeno de ações simples, repetitivas e invariáveis, representa o que decidi chamar especialização mecânica. No outro extremo fica o trabalho especializado que não pode ser desempenhado mecanicamente, pois as contingências de uma tarefa em particular variam tanto, em relação a outras, que o trabalhador precisa ter considerável discernimento para adaptar seu conhecimento e sua qualificação a cada circunstância, a fim de trabalhar com sucesso. (FREIDSON, 2016, p.3)

Portanto, é a partir da premissa de uma necessária regulamentação que se enfatiza o papel do Estado e os demais organismos oficiais de fiscalização e controle de profissões e ocupações. Ou seja, a discussão que ora se torna evidente e forçosa é que não apenas no campo sociológico, esse debate deve ser travado, mas, também, na campo legal, econômico, político e até ideológico, visto que uma categoria de classe se utiliza de todos esses parâmetros para adquirir e manter o profissionalismo.

Dubar explica que haveria certo acordo sobre determinar o que seria um “tipo ideal de profissão”, especialmente na perspectiva da abordagem da conduta desse métier e, também, da análise própria organizacional dessa categoria profissional, sendo, portanto, estabelecidos alguns critérios para sua monopolização: uma competência técnica e científica fundamentada; aceitação e utilização de um código de ética que regule a atividade profissional. (DUBAR, 1997, p.130).

Assim, enfatiza-se que esse saber, como instrumento da profissionalização de um corpo ocupacional, obrigatoriamente, não pode ser,

apenas, prático, mas precisa, para sua validação enquanto profissão, ter um saber embasado cientificamente, constituindo-se e institucionalizando-se em conhecimento profissional.

Por conseguinte, o caminho a ser percorrido para que uma categoria adquira o status profissional perpassa pela institucionalização de um código deontológico para que tenha capacidade e legitimidade de regular suas ações conceituais, práticas, técnicas, científicas, filosóficas, entre outras, por meio de questionamentos éticos e morais que, recorrentemente, permeiam uma atividade profissional.

Então, a partir dessa autonomia que é conferida pelo Estado, pela sociedade e, até, pelo mundo/mercado do trabalho que, por exemplo, algum membro da categoria profissional ao atuar em desacordo com os padrões preestabelecidos será/poderá ser responsabilizado.

Para tanto, na perspectiva de adotar um parâmetro das atividades profissionais a serem desenvolvidas por uma categoria profissional, utilizar-se-á a normalização nacional vigente, sistematizada a partir da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que orientam/sistematizam o exercício de atividades, habilidades e competências das ocupações e profissões no país. (BRASIL, 2010a).

A CBO emprega como parâmetro para sistematizar a organização dos grupos profissionais e das ocupacionais a Clasificación Internacional Uniforme de Ocupaciones (CIUO), em sua versão mais atualizada (2008), que, por seu turno é a principal catalogação de profissões e ocupações da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2015). A partir dessas normativas, analisa-se quais são as principais atividades dos Cabos e Sargentos policiais militares.

De acordo com a CBO o Cabo da Polícia Militar deve deter as mesmas competências e habilidades que o Soldado PM, pois ambos estão inscritos na família de Código 0212, identificador do cargo e descritivo das atribuições que deve desenvolver um executor da segurança pública. Entretanto, conforme, está estabelecido na hierarquia militar (BRASIL, 1983); (RIO GRANDE DO NORTE, 1976), o Cabo está, imediatamente, acima, funcionalmente, do soldado.

Para efeito de policiamento ostensivo, considera-se, na perspectiva desta Tese, que ambos devem deter conhecimentos equivalentes, pois de forma genérica desenvolvem:

[...] policiamento ostensivo preventivo fardado e atendem e solucionam ocorrências. Executam atividades operacionais e policiamento reservado. Restabelecem ordem pública, controlam distúrbios civis e garantem cumprimento de mandado judicial. (BRASIL, 2010a).

Contudo, em âmbito geral de competências e habilidades, que devem desenvolver os policiais militares, o superior hierárquico, obrigatoriamente, por imposições legais do cargo, devem deter um nível de conhecimento técnico acima do que detém o seu subordinado.

Para citar as atividades práticas mais correlatas ao objeto de estudo, selecionou-se algumas atividades operacionais elencadas no rol de atividades que o Cabo PM deve desempenhar: “[...] preservar a integridade física dos cidadãos, socorrer vítimas, isolar local de ocorrência, preservar local do crime, proibir entrada e saída de pessoas em locais isolados, conduz infrator ou criminoso à autoridade competente [...]” (BRASIL, 2010a)78.

Por seu turno, os Sargentos estão, hierarquicamente, na pirâmide institucional policial-militar, imediatamente acima dos Cabos. Os primeiros, portanto, têm função de assessoramento aos oficiais e gerenciamento das atividades de policiamento ostensivo.

Apesar de cargos distintos, em se tratando de segurança pública, o conhecimento que ambos devem deter para sua prática profissional, no cotidiano das ruas, precisam ser equivalentes, relativizando-se, entretanto, a hierarquia funcional quando do gerenciamento das ações a desenvolver. Se há um Cabo e um Soldado realizando um policiamento, o Cabo comanda os trabalhos. No caso de haver um Sargento, este deve assumir o gerenciamento das atividades, pelo menos, protocolarmente.

Conforme a CBO os Sargentos PM devem desempenhar, entre outras, as seguintes atividades no policiamento ostensivo:

Comandam o grupo e a guarda do quartel. Assessoram o comando, administram as atividades da unidade e participam na formação de

78 Disponível em:

http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ResultadoFamiliaDescricao.jsf. Acesso 15 jan 2015.

policiais. Supervisionam policiamento ostensivo e organizam processos e procedimentos administrativo-militares. Atendem a ocorrências e as apresentam (sic.) à autoridade competente. Prestam serviços comunitários (BRASIL, 2010a)79.

Por conseguinte, em face dessa normalização, infere-se que todos dessa categoria são profissionais, resguardando-se, entretanto, os graus ou níveis de formação de conhecimento que detêm as responsabilidades funcionais e o conhecimento mínimo de segurança pública para resolução de ocorrências críticas. Assim, pode-se destacar que saberes práticos estariam correlacionados a uma competência dupla. Isto é, teoria aliada à prática.

Para uma melhor compreensão da hierarquia policial-militar, abaixo segue a Figura 6 – Demonstrativo de postos e graduações na PMRN, bem como correlacionado as seus, respectivos cursos de formação inicial ou continuada.

Figura 6 – Demonstrativo de postos e graduações na PMRN, com respectivos cursos de formação/habilitação, especialização ou aperfeiçoamento e capacitação

Postos e Graduações Formação Especialização e Aperfeiçoamento Formação continuada Oficiais Superiores Ceronel CFO CSP Diversos cursos técnicos e em nível de especialização em Instituições Policiais ou Militares e em IES Tenente- Coronel Major Oficial

Intermediário Capitão CAO

Oficial subalterno 1º Tenente - 2º Tenente - Praças Subtenente CHO - Diversos cursos técnicos em Instituições Policiais ou Militares e em IES ou Escolas Técnicas Sargento CFS CAS Cabo CNP - Soldado CFP -

Fonte: Lei Estadual Nº 4.630 de 1982

79 Disponível em:

http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/ResultadoFamiliaDescricao.jsf. Acesso em 15 jan 2015.

Mais uma vez chama-se especial atenção para o termo competência, pois, atualmente, tem sido largamente utilizado. Neste estudo, além das concepções defendidas por Dubar (1997), utiliza-se as definições de Perrenoud (2001), que ressalva não ser razoável delimitar um termo como esse, pois sua essência é polissêmica. Além da conceitualização anterior, competência, também, seria definida como aptidão ou capacidade de mobilizar saberes. Seria um talento ou determinada qualidade que alguém possui para o bom desempenho de uma atividade, portanto, habilidade para executá-la de forma competente e eficaz.

Ainda nessa mesma perspectiva, Núñez e Ramalho (2001) descrevem competência como sendo a capacidade de mobilizar conhecimento e saberes profissionais para resolução de problemas, mesmo que jamais tenha passado por tal contexto.

A competência pode ser mais que um conjunto de movimentos objetivamente contestável. Ela é também a ação sobre o mundo, definida pela sua utilidade social ou técnica [...] tem uma função prático-social: se orienta à solução de situações-problema bem definidas. Visa atender aos objetivos estimados e desejados (sic.) (NÚÑEZ; RAMALHO, 2001, p. 24).

Na perspectiva dos operadores de segurança pública, de acordo com Silva (2007, p.22), ao estudar os saberes profissionais do policial militar no Estado do Rio Grande do Norte descreve que “saber [...] mesmo que no nível potencial [...] é uma construção humana capaz de participar da dimensão prática e, também, da dimensão teórica, do fazer e do pensar como fundamentos da vida humana”. Ou seja, a partir dos conhecimentos específicos da atividade policial-militar, neste estudo são estabelecidos seis modelos de saberes dessa atividade profissional: 1. trabalhar questões relativas à ordem pública; 2. atuar contra a criminalidade; 3. defender pessoas e patrimônios; 4. atuar preventivamente pelo (sic.) policiamento ostensivo; 5. trabalhar problemas de outrem em apoio; e 6. atuar em problemas críticos (SILVA, 2007, p.135).

Os saberes identificados pelo autor foram investigados a partir de questionários aplicados a dezessete Capitães que, em 2006, participavam de um curso de aperfeiçoamento (CAO) na Polícia Militar do Rio Grande do Norte. Os profissionais participantes da pesquisa são policiais formados em uma Academia de

Polícia Militar, em um curso específico de nível superior, os quais têm, em média, dez anos de serviço na corporação.

Esses oficiais de polícia, do cargo de Capitão, obrigatoriamente, realizam o CAO, instituído como mecanismo de capacitação profissional e requisito para ascensão profissional aos postos de Major e Tenente-Coronel, penúltimo cargo da carreira policial-militar (BRASIL, 1969).

De acordo com Silva (2007, p. 110-11), a escolha dos participantes se deu em virtude da sua importância na pirâmide institucional, pela posição estratégica de comandamento de grupamentos, denominados na estrutura policial-militar de Companhias80. O autor realizou sua pesquisa por meio do estudo de quatro casos críticos, que envolviam situações-problema relativas ao serviço policial-militar, abordando conhecimentos teóricos e práticos, orientado para Tomada de Decisão daqueles policiais em casos críticos, típicos de ações policiais em que abrangeriam “[...] o policiamento ostensivo geral; o policiamento reativo e repressivo; e as tarefas policiais não exclusivas de polícia ostensiva” (SILVA, 2007, p.115).

Menke; White e Carey (2002, p.90) a partir de suas pesquisas, especialmente, nas polícias europeias e americana, defendem que há três fontes de conhecimento na atividade policial: “1) experiência no trabalho; 2) julgamentos de valor e opiniões de especialistas da polícia; e 3) teoria e técnica emprestadas de outras disciplinas”.

Destaca, também, que não há um consenso na formulação dessa base de conhecimentos, pois pelo menos três grupos sociais disputam/reivindicam o direito de estabelecer tal base: “os acadêmicos, os líderes da polícia (geralmente os administradores) e os policiais de linha, aqueles que atuam na rua” (MENKE; WHITE; CAREY; 2002 p. 91).

O problema enfático é justamente o conflito existente na definição de quem tem competência e legitimidade para formular e organizar essa base de conhecimento. No entanto, apesar de haver tido um avanço significativo nesse processo de construção consensual, ainda, há muito a percorrer e, que, inclusive, descreve como contínua a profissionalização. Concluindo, os autores defendem

80 As Companhias são subdivisões dos Batalhões, compostas por Soldados, Cabos, Sargentos e Tenentes. Estes últimos, auxiliares direto dos Capitães, tanto no trabalho administrativo, como no trabalho prático de policiamento ostensivo.

esse status profissional não é estanque e depende de uma série de fatores para que seja alcançado e, principalmente, mantido.

Comparando a atividade policial às profissões liberais, como a medicina e a advocacia, Menke; White; Carey (2002, p.92-3) enfatizam que, principalmente, essas têm um período significativo de formação inicial (acadêmica) para o exercício da profissão: em média, dez anos. No caso dos policiais, ratifica que o período é, relativamente, curto, em média 400 horas, e que não há exigência de um nível educacional elevado para os policiais que atuam nas ruas, exceto para ascensão profissional.

É forçoso destacar que no Brasil, a partir de 2003, com a implementação da Matriz Curricular Nacional para os operadores de segurança, esses dados têm mudado, significativamente, tendo em vista a formação básica para os policiais militares e civis ser atualmente de 908 (novecentas e oito) horas (BRASIL, 2014, p. 75).

Na Polícia Militar do Rio Grande do Norte, a formação básica para o cargo de Soldado é de 960 (novecentas e sessenta) horas-aula, assim como para o cargo de Oficiais é de 3.900 (três e novecentas)81.

Ademais, no que concerne ao perfil de escolaridade questionado por Menke; White e Carey (2002), muito embora haja um lapso temporal de mais de dez anos, da pesquisa elaborada por esses autores, bem como as realidades europeias e norte-americanas serem distintas da brasileira, a última pesquisa realizada pelo Ministério da Justiça, por meio da SENASP, demonstra um avanço na qualificação de todos os integrantes da segurança do país, especialmente na dos policiais militares.

A partir de dados estatísticos82 mais atuais, a partir de pesquisas realizadas desde 2004, pelo Ministério Justiça, por meio da SENASP, é possível inferir que se faz necessário um maior acompanhamento do nível de formação e capacitação dos integrantes das corporações policiais para que não se cometa o equívoco de apontar dados que não mais correspondem à realidade do status de qualificação que detêm os policiais do século XXI.

81 Conforme legislação já citadas.

82 A pesquisa está disponível integralmente neste link:< http://www.justica.gov.br/sua- seguranca/seguranca-publica/analise-e-pesquisa/estudos-e-pesquisas/pesquisas-perfil- da-instituicoes-de-seguranca-publica >. Acesso em 1 nov. 2015.

De acordo com a última pesquisa intitulada “Perfil das instituições de segurança pública 2013 (ano-base 2012)”, 1% do efetivo das Polícias Militares brasileiras, pouco mais de 490 mil policiais, têm apenas o Nível Fundamental de escolarização incompleto; 5%, Nível Fundamental; 6%, Ensino Médio incompleto, 45%, Ensino Médio completo, 8% Superior incompleto; 33% Superior completo e 8% já concluíram uma Especialização.

O destaque para esses dados está no nível de Doutorado, com a PMESP liderando com 152 doutores83; o Paraná com 25; a PM de Pernambuco com 14 e Minas Gerais com 11 policiais que cursaram doutoramento (BRASIL; 2014, p. 60-2). A PMRN não respondeu à pesquisa, portanto, não constam os dados da PM potiguar. As informações referentes ao nível de escolarização dos participantes desta pesquisa de doutorado encontram-se no capítulo 1, onde é apresentado o perfil dos participantes da pesquisa e serão discutidos, por ocasião da análise dos dados empíricos, no Capítulo 7.

Evidencia-se, entretanto, que antes da Constituição brasileira de 1988, a seleção, recrutamento e capacitação dos integrantes dessas corporações eram bastante diferentes dos processos atuais.

As legislações das polícias militares país afora têm mudado buscando adequar-se à nova conjuntura político-social do Brasil. Nesse contexto, a PMRN, motivada, fortemente, pelas Associações de Cabos e Soldados e de Subtenentes e Sargentos Policiais e Bombeiros Militares conseguiram aprovar no Poder Legislativo a Lei Complementar nº 515, de 2014, já apresentada neste estudo, que entre outras conquistas da categoria profissional, estabeleceu que os Soldados PM e BM teriam paridade com a carreira dos oficiais. Ou seja, os Soldados e Cabos PM ou BM, precisavam se submeter a novo concurso interno para progressão funcional. Já os Oficiais não, ingressavam por meio de concurso público para realizarem o CFO, conforme descrito no capítulo 1 e, após os cursos regulares de aperfeiçoamento de especialização da corporação, chegavam ao último posto da carreira (Coronel).

Com o advento da LC 515/2014, o ingresso do Soldado PM e BM, após o concurso público, não mais realiza o Curso de Formação de Soldados (CFSD) mas, desta feita, o CFP, também, apresentado no Capítulo 1, o qual lhe habilita a chegar

83 O número elevado na PM de São Paulo pode ser em virtude de em 2008 a corporação atualizou sua legislação, instituindo cursos de pós-graduação lato sensu em seu rol de cursos institucionais, contudo, os seus cursos de mestrado e doutorado em segurança pública ainda não foram reconhecidos pelo MEC.

a graduação de Subtenente, necessitando, contudo, os cursos regulares da corporação, quais sejam, CFS e CAS, os quais não mais demandam de novo concurso, por mérito intelectual, mas será convocado, apenas sua antiguidade84.

A partir do Quadro 11 - Conhecimentos e saberes policiais-militares é estabelecido um rol de conhecimentos e saberes específicos da atividade policial- militar, os quais tiveram como referência, as Bases Curriculares (BRASIL, 2000), a Matriz Curricular Nacional (BRASIL, 2014), a Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, 2010a) e algumas que pesquisas acerca da profissão, cultura e identidade policial-militar no Brasil.

Quadro 11 - Conhecimentos e saberes policiais-militares

Conhecimentos (específicos da atividade policial militar)

Saberes (potenciais para atuação policial- militar)

Legislação Procedimentos de como atuar preventiva e

repressivamente contra a criminalidade

Resoluções de conflitos Estratégias para desenvolver questões relativas à ordem pública

Tomada de Decisão Protocolos rotinizados a serem utilizados em problemas críticos

Armas, equipamentos e munições Procedimentos a serem utilizados quando necessário uso da força legal

Uso legal da força física Juízos moral e ético para defender a integridade sua e de terceiros (vítimas e infratores)

Gerenciamento de crises Estratégias cognitivas e emocionais para atuar em problemas críticos

Fonte: BAYLEY (2006 p.121); SILVA (2007, pp.24 e135); BRASIL (2000; 2010a; 2014); SILVA (2016).

O esquema demonstrado no Quadro 11 não tem o intuito simplificador e/ou reducionista, ao contrário, busca enfatizar, a partir dos pesquisadores estudados que é possível estabelecer algumas categorias-chave para se demarcar uma conduta mais profissional na atividade policial, em especial, a militar.

84 Nas corporações militares, federal e estadual (no caso da PM e BM), a antiguidade é o grau hierárquico que o militar alcançou a partir de seu mérito intelectual depois de avaliado em todas as disciplinas ao término do seu respectivo curso de formação. Neste